Em uma análise à sociedade atual com
base nos estudos de Durkheim, nota-se que devido à sua maior complexidade e
interdependência de seus ofícios, a solidariedade orgânica é a predominante. A
sociedade funciona em analogia a um organismo, que se encontra em estado de
equilíbrio quando todas as suas funções – interdependes – funcionam em
harmonia.
Para Durkheim, a consciência
coletiva pertencia às sociedades pré-modernas, nas quais predominou a solidariedade
mecânica devido à sua união por crenças comuns, que norteavam a preservação social
de acordo com respostas a impulsos externos. Na sociedade moderna, as
diferenças se sobressaem, e são responsáveis pelos conflitos que põem em risco
o bom funcionamento do organismo social. Mas será que a consciência coletiva, estudada
por Durkheim, permanece no passado?
Não é preciso folhear muitos
jornais para encontrar casos de linchamentos, ou de qualquer violência por
parte de uma turba enfurecida, sedenta por justiça, que não a dos tribunais. Há
poucos dias a nossa faculdade foi o palco de uma grande demonstração da força
da consciência coletiva tomada pela cólera da contradição. A atitude de uma
parcela de alunos mostrou que a consciência social estudada por Durkheim nos
círculos sociais primitivos ainda tem grande expressão em uma sociedade que se
diz desenvolvida. Essa sociedade contemporânea que supostamente deveria se
guiar pela racionalidade, ainda abre espaço para a passionalidade de alguns indivíduos.
A consciência coletiva é movida
pelas paixões, pelo sentimento de defesa da coesão social frente ao que se
posiciona contrariamente ao equilíbrio local. Analisando o ocorrido da última
semana, a manifestação tomou proporções indesejadas por se munir das paixões,
por se fortalecer pela consciência social que lutava contra um ideal potencialmente
ofensivo à ordem defendida pelos manifestantes. O que a sociedade racional
moderna não pode permitir são as proporções atingidas pelo manifesto. Aqueles
que lutavam tem razão pelos seus ideais à medida que defendem as minorias
oprimidas, mas perderam a razão ao clamar por liberdade de expressão e
democracia e, contraditoriamente, calar um indivíduo e suprimir a exposição de
ideias. Seguindo a lógica da visão durkheimiana, uma turba tomada pelas paixões
agiu conforme a consciência coletiva do grupo que se identifica e impôs suas
paixões aos demais como uma forma de restaurar o equilíbrio social anterior.
Quando o equilíbrio do organismo é ameaçado, a sociedade se une para reprimir a
ameaça, eliminando a patologia.
É evidente, assim, que a
consciência coletiva estudada por Durkheim ainda se faz presente atualmente, e
os exemplos não são tão distantes. Apesar de as sociedades modernas conservarem
esse aspecto da sociedade primitiva, a solidariedade existente nos dias de hoje
é predominantemente a orgânica, e isso ocorre devido às diferenças que compõe
os círculos sociais. São essas diferenças que enriquecem as culturas, dinamizam
a sociedade e unem os indivíduos pela interdependência. Durkheim se enganou ao
acreditar que as sociedades modernas estavam livres da consciência coletiva: não
que ela seja um mal, só precisa ser melhor administrada – ou racionalizada - para
evitar repressões tão ou mais violentas quanto os atos repreendidos.
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