No capítulo II, denominado “O espírito do capitalismo”, do livro “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, Max Weber busca analisar o capitalismo e algumas de suas nuances, passando por aspectos do capitalismo tradicional e do capitalismo moderno.
Para definir o que seria a primeira feição deste modo de produção (a tradicional), o autor relembra alguns ensinamentos de Benjamin Franklin, tais como: tempo é dinheiro, crédito é dinheiro (juros), o dinheiro tem natureza prolífica e geradora, “o bom pagador é dono” ou “o bom pagador é dono da bolsa alheia”.
Por outro lado, contrastando com essa visão de simples audácia comercial e inclinação pessoal moralmente imparcial, aparece a figura do capitalismo moderno, do lucro entendido como que por si só, detentor de “um caráter ético de uma regra de conduta de vida”, como dizia Weber.
E esta segunda expressão do modo capitalista é justamente a de nossos dias. É o enriquecer por enriquecer, sem visar qualquer tipo de objetivo maior. É uma verdadeira obrigação imposta pelo coletivo, um poderoso fato social bastante difundido em nossa sociedade ocidental. Para Max, “do ponto de vista da felicidade ou da utilidade para o indivíduo, parece algo transcendental e completamente irracional”. Porém, uma análise mais aprofundada é capaz de mostrar que esta forma de geração de riqueza se constitui num “evidente guia do capitalismo”. Simultaneamente, Weber aponta o paralelismo entre este tipo de raciocínio com algumas ideias religiosas, como as da igreja protestante. Enquanto que a Igreja Católica pregava, e ainda prega, a condenação da usura, os protestantes entendiam o sucesso nos negócios como uma recompensa divina.
Em nossos dias, percebe-se uma intensificação dessa visão de premiação divina. Vemos a globalização cada vez maior, a comunicação em altíssimas velocidades, o dinheiro especulativo a cada momento mais voraz. A cada dia, há menos espaço para o entendimento religioso contrário aos objetivos capitalistas, ao passo que as crises econômicas mundiais são cada dia mais frequentes. É a crescente relação mutualística entre o capitalismo moderno e a fé, misturados e compreendidos dentro de um mesmo modo de pensamento, de estilo de vida moderno e de futuro completamente incerto.
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