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segunda-feira, 17 de março de 2025

Das Verdades Reais sobre as Verdades Aceitas

 “O medo se aninha no colo da incerteza,
  E as ‘certezas’ preenchem o mar da ignorância.
  Mas é compreensível que, onde se perdura vacância,
  As mentiras façam ode à plena clareza. 

  É certo que no fraquejo da firmeza 
  Desvaneçam os olhares da resiliência 
  Perante os engodos proferidos sem diligência, 
  Perante as falácias recitadas com destreza.
 
  Não sou violentada, sou uma vagabunda. 
  Não estou desempregada, sou preguiçosa.
  Não sou preta, sou da cor errada. 

  Mas nada tenho além de uma esperança moribunda, 
  Pois, ante à irreflexão e à mente ociosa,
  A verdade anuída é aquela que fora fabricada.”

- Da Verdade sobre a “Verdade”. 
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  “O homem livre […] não compreendia que fazia parte de um sistema econômico, que seu bem-estar dependia da estrutura dos mercados externos e do pagamento das dívidas dos industrias americanos com outros países”. - Charles Wright Mills. A sentença proferida pelo pensador coaduna aquilo que corresponde a um dos maiores óbices alicerçados à humanidade: a indiferença. Seja reflexo de uma atitude voluntária ou de uma reprodução comportamental profundamente banalizada - tendo em vista a ascensão do modo de vida individualista -, a ataraxia é factual, uma vez que o ato da reflexão mediante a incumbência humana aplicada às transformações históricas esteve cada vez mais exíguo. Ao se apartar do que constitui o corpo social, o reconhecimento de que, à medida em que fomentamos o motor histórico, somos condicionados por este, é lesado. Esse raciocínio é atestado em ordem de eventos como a negligência para com a saúde durante a pandemia de Covid-19, a ascensão do antifeminismo frente à crescente onda de feminicídio, a negação do racismo no Brasil, país em que cerca de 70% da população carcerária é negra, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. São fatos como esses que desmistificam a ideia de que a indiferença emula conforto; pelo contrário, ao se afastar das máculas sociais, é obstruída a chance de promover quaisquer diferenças positivas. 
 
 Apesar de o meio técnico científico informacional - conceito engendrado pelo geógrafo Milton Santos -, agraciar uma universalidade de estudos e avanços nos âmbitos da tecnologia e da comunicação, esta indubitavelmente facilitada na contemporaneidade, seus efeitos norteiam consequências menos honoráveis, bem como o intenso fluxo informacional. Em consonância com a difusão do acesso aos meios de comunicação, soerguem brechas aliadas à produção da denominada “desinformação”, isto é, a construção de sentenças pautadas em definições ilógicas veementemente defendidas por aqueles que compactuam com blasfêmias não fundamentadas em termos científicos. Aprender a discernir o factual do absurdo é relevante e, outrossim, imprescindível, a fim de que se desmantele a chamada “infodemia”: disseminação exponencial de informações sobre um assunto específico, tornando quase inviável a diferenciação de uma falácia e de uma notícia veraz.

 Sob o pretexto de justificar o fato de, constantemente, ser atribuída menor responsabilidade à sociedade moderna, Charles W. Mills analisa o emprego dos termos da “psiquiatria” para ensombrecer as questões públicas, como se a matriz estrutural do problema estivesse atrelada única e exclusivamente a uma perturbação pessoal e individual. Esse levantamento viabiliza o entendimento do porquê é crucial desenvolver a chamada “imaginação sociológica”, isto é, o potencial de se encontrar não só no contexto histórico da transformação social, mas de reconhecer o seu envolvimento direto nela. Destarte, conclui-se que o pensar sociológico é determinante à mitigação da apatia.  

 A validação do conhecimento é um processo que, inexoravelmente, intitula as principais teses de pensadores insignes, bem como Francis Bacon e René Descartes. Enquanto aquele abarcou a corrente epistemológica empirista ao longo de seus estudos, avultando a experimentação como meio de condução à descoberta científica - interpretação da natureza -, este fez do racionalismo sua principal fonte do conhecimento, reavivando o fato de que os sentidos são enganosos e de que o conhecimento verdadeiro deve sobreviver à dúvida. Não obstante, Mills, ao discorrer sobre a “imaginação sociológica”, principia um novo método de atestar o conhecimento: o pensamento crítico. Muito maior do que uma construção, o posicionamento crítico é indissociável à humanização e à empatia, uma vez que indica a participação do ser humano na estrutura social em que vive, podendo ser transformado por esta e, concomitantemente, transformá-la, admitindo como escopo a retração da passividade para com as questões públicas.

ENYA SOUZA DOS SANTOS - 1º ANO - DIREITO (MATUTINO)

 

Um comentário:

  1. Olá, Enya. Você nos brindou com conceitos importantes e nos mostrou o quão importante é buscarmos a ação propositiva em um mundo que, voluntária ou involuntariamente, se faz apático. Parabéns! Alexandre.

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