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domingo, 16 de março de 2025

A tentativa de golpe a partir da imaginação sociológica

 

No dia 8 de janeiro de 2023 o Brasil enfrentou uma brusca e repentina tentativa de golpe, também conhecida como Intentona Bolsonarista. Nesta data, indivíduos influenciados pelo movimento iminente da extrema direita se juntaram em Brasília e vandalizaram parte do patrimônio público, como o Palácio do Planalto. Não é surpresa que o Brasil seja um país que flerte com iniciativas e regimes autoritários, logo, não podemos reduzir este acontecimento como um fato isolado ou uma mentalidade bolsonarista.

Segundo Charles Mills, devemos desenvolver uma imaginação sociológica – conceito que defende que é necessário que relacionemos problemas ditos como pessoais de uma perspectiva mais ampla, observando a influência de forças históricas e das estruturas que moldaram nossa sociedade. A partir disso, podemos compreender que essa tentativa de golpe definitivamente não foi algo repentino, mas sim calculado e desenvolvido com a ajuda das redes sociais e de uma mentalidade coletiva.

Durante o período anterior à tentativa de golpe, houve a disseminação em massa de teorias conspiratórias, as quais acarretaram o surgimento de fake news nas redes sociais de que as eleições haviam sido fraudadas. Tais inverdades foram tomadas como realidade por parte dos ditos “cidadãos de bem”, que desenvolveram uma mentalidade de justiceiros e foram atrás da “verdade concreta”. Portanto, julgando que faziam parte de “algo maior”, um movimento coletivo, resolveram vandalizar as sedes do governo nacional como forma de “protesto” para alcançarem a almejada justiça – mudar o resultado das eleições e trazer Jair Bolsonaro de volta ao poder.

Em síntese, é possível concluirmos que o movimento do 8 de janeiro não foi uma ação realizada por movimentos individuais e motivações próprias, mas sim uma trama complexa de interações sociais e políticas, influenciadas diretamente pelas redes socias, disseminação de inverdades e manipulação das emoções pessoais dos indivíduos. Nesse sentido, a imaginação sociológica mostra-se como uma ferramenta imprescindível para a reflexão e criticidade dos cidadãos, assim como para compreender fenômenos que podem soar à primeira vista como ações individuais, mas são movimentos coletivos liderados pelo contexto histórico, tecnológico e político de uma nação.


GEOVANA MARTINS DE MORI - 1º ANO - DIREITO - MATUTINO 

Um comentário:

  1. Texto muito bem escrito, Geovana, com uma visão à esquerda sobre o que se verificou em 08 de janeiro de 2023, com um juízo, repetido por mais de vez, de que teria havido um golpe. De fato, muito do que disse é possível ser constatado, objetivamente (manipulação de coletivos, vandalismos, desejo de se fazer justiça com as próprias mãos etc.). O que me parece bem estranho, e também detectei objetivamente, foi a publicação de um decreto de intervenção no Distrito Federal, em articulado cuidadosamente redigido, lido a partir de Araraquara, onde estava o Presidente da República, tudo de forma tão rápida, e antes, por assim dizer, do término daquilo tudo. No contexto dos propalados extremos (à direita e à esquerda), difícil saber o que de fato hoje, bem assim o que é mentira e o que é verdade nisso tudo. Estamos, como disse um professor certa vez, "encalacrados". Bem por isso precisamos continuar analisando tudo, sem precipitações, e com base nos registros históricos, científicos. Imagino que teremos ainda uma resposta mais próxima da verdade. Um abraço, Alexandre.

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