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domingo, 16 de março de 2025

Entre a Imaginação Sociológica e o Racismo

A "Imaginação Sociológica", prática criativa desenvolvida pelo sociólogo norte-americano Wright Mills, fundamenta-se na compreensão, pelo ser, da relação indissociável entre sua individualidade e a sociedade em sua integralidade, bem como as questões sociais enfrentadas ao longo da história. Dessa forma, por meio da internalização de tal perspectiva, cria-se sujeitos conscientes e críticos, conectados aos diferentes problemas sociais, mesmo que esses não os afetem. Nesse viés, discussões acerca de diversos cenários históricos são ampliadas, permitindo refletir sobre temáticas presentes e enraizadas socialmente, como a questão da discriminação racial.

A princípio, é valido ressaltar o racismo como uma forma de opressão estruturada socialmente. Em sua obra "Memórias da Plantação: Episódios de Racismo Cotidiano", Grada Kilomba explora a associação entre o conhecimento e o poder social, enfatizando o âmbito acadêmico como um espaço destinado ao privilégio branco e, consequentemente, à subalternização do conhecimento e da identidade negra, a partir de relatos de preconceito sofridos durante o seu ingresso no ambiente universitário alemão. Diante desse cenário, é notária a influência do lugar social ocupado pelo indivíduo e as oportunidades de acesso a diferentes instituições sociais, a exemplo do ensino superior, visto que dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, do ano de 2024, mostram que cerca de 70% dos pretos e pardos entre 18 a 24 anos não concluíram o ensino superior, evidenciando, dessa maneira, a sub-representação das instituições.

Além disso, é importante destacar a naturalização e a distorção do racismo como uma pauta a qual se estende ao longo da sociedade brasileira. O "mito da democracia racial", termo elaborado pelo sociólogo Florestan Fernandes, trata da propagação popular e midiática de uma falsa ideia de que, no Brasil, tem-se um cenário político-ideológico de harmonia e de igualdade entre as etnias. No entanto, esse discurso contribui diretamente para mascarar as violências fundantes do Brasil e dificultar a criação de uma resistência, uma vez que atribui normalidade a ações violentas contra a população negra. Por conseguinte, a isenção popular e governamental quanto a medidas combativas é agravada pela ideia incorreta e atual de que o racismo não existe e é, portanto, fruto de uma perturbação pessoal, a exemplo do pronunciamento do então vice-presidente Mourão ao descrever o assassinato de João Alberto Freitas, homem negro morto brutal e injustamente por seguranças brancos, alegando não considerar o crime racismo, porque "não há racismo no Brasil".

Logo, é perceptível a perpetuação da desigualdade racial no corpo social brasileiro e contemporâneo. Em face a essa realidade, é necessário, como defendido pelo sociólogo Mills, a ampliação e o reconhecimento do racismo como uma questão pública, a qual deve, com urgência, ser combatida estruturalmente.

Isabella Providello Lencione - 1º Ano Direito (Matutino)


Um comentário:

  1. Interessante sua visão, quando ressalta a necessidade de o racismo, objetivamente, ser alçado a uma questão pública urgente. Concordo. O que me preocupa, entretanto, é a confrontação de raças, tal como temos visto. Fico a pensar se a luta (no sentido de embate mais brutal) seria necessária, em comparação com uma concreta tomada de consciência e produção de ações de igualdade. Haveria espaços de coexistência de interesses raciais no Brasil? Um abraço, Alexandre.

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