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sábado, 21 de maio de 2022

Uma quinta de verão

         Esbarrando num mar de gente, tento encontrar espaço para dançar nesta noite de quinta-feira. Não sei por que danço, mas me parece que é assim que fazem nas festas. Eu tinha uma saia linda que queria estar usando, mas coloquei uma blusa decotada e um shorts curto, não me sinto à vontade assim, no início, mas ver que estou vestida como minhas amigas me traz conforto. 

Pintaram meu rosto quando cheguei, estragando a maquiagem que eu havia feito. O que me impediu de ir embora, com medo do julgamento daqueles na festa, foram minhas amigas. Se elas estavam lá, era lá que eu deveria estar. 

Ao olhar ao redor, depois de encontrar o pequeno espaço na roda de dança, me deparei que todos também estavam com o rosto pintado. Ainda bem que pintaram meu rosto, não sei o que faria se eu fosse a única de cara limpa.

“Vamos buscar bebida, você vem?” Perguntou minha amiga. Eu nunca bebi, mas me parece que todos bebem em festas. “Vamos sim!” Respondi. O gosto amargo não me agradou, mas elas continuavam bebendo, então eu também continuei, não sei por que eu ainda bebia, mas sim, continuei bebendo.

Depois de 4 canecas um menino não tão bonito começou a flertar comigo, ele não fazia meu tipo, nem ao menos me tratou bem enquanto conversávamos. Ao fundo eu só ouvia as vozes delas: “Vai lá amiga! Beija ele!” “É isso aí! Vai lá!” E eu o beijei. Não sei por que eu o beijei, mas se elas beijam, e me falaram para beijar, acho que fiz a coisa a se fazer. 

A festa foi esfriando, tal qual como me encontro agora. Minhas amigas queriam ir embora, então concordei. “Vamos levar uns meninos pra casa, você não vai levar ninguém?” Eu não queria levar ninguém, mas também não queria ser a diferente, não sei qual era o meu problema de precisar ser como todos, então busquei o menino mal educado e o levei comigo.

Em casa, cada uma achou seu quarto e para lá foram, então entrei no meu e comigo, o garoto. Ele começou a me beijar demais, e eu não queria mais estar ali com ele, mas se minhas amigas foram para seus quartos com os meninos, penso que era o que eu achava que deveria fazer também. 

O garoto tentava me beijar cada vez mais violentamente, então eu pedi para ele parar, e ele não parou. Eu não queria mais que ele me beijasse, ou algo mais, e naquele momento pensei que tudo bem se eu não agir como o resto dos jovens. Insisti mais rispidamente no pedido e ele se estressou comigo, ele não ia parar. Então tentei empurrá-lo para longe de mim, e foi aí que naquela madrugada de verão meu coração virou um eterno inverno. 

Eu percebi que não precisava mais ser como todos, não precisava ser coagida o tempo inteiro, não precisava atingir um padrão social. E parece que enfim eu era a diferente, todos os vivos lembram de mim como a garota morta, e não como uma garota viva como as demais.


Henrique de Carvalho - 1º ano Direito (Noturno)

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