Vivemos tempos em que discussões que deveriam ser apenas do âmbito político fundamentado no conhecimento científico, acabam se desviando também para o campo religioso. É o que tem-se evidenciado há algumas décadas em relação a questão da legalização do aborto no Brasil, pois uma parcela da população repudia a legitimidade deste ato visando sua própria crença.
Recentemente, ocorreu um caso onde uma menina de 10 anos, foi violentada sexualmente pelo tio desde os 6 anos, o que ocasionou em uma gravidez precoce e indesejada. Com isso, o caso foi aclamado pela mídia e alguns religiosos acharam um absurdo essa menina realizar o aborto, tanto que a humilharam em frente ao hospital onde ocorreu o ato e culparam ela e sua mãe pela decisão judicial da retirada do feto.
Atitudes como essas são percebidas cotidianamente na nossa sociedade. Muitas pessoas desconsideram a ciência em detrimento de questões morais e doutrinárias, e simplesmente julgam o outro pelo senso comum.
No entanto, o filósofo e matemático Descartes, criou um método científico baseado na razão, portanto livre da doutrina e do senso comum, a fim de adquirir conhecimento legítimo. Baseado neste método, é possível entender que o que não contém explicação racional, não tem legitimidade como conhecimento, ou seja, crenças não foram formuladas pelo método científico, então não são válidas em uma decisão para a sociedade de um país laico.
Dessa forma, entendemos que a legalização do aborto é uma questão de saúde pública que deve ser pensada no todo e não no individual. Para entender se é importante ou não legalizar o aborto, devemos questionar as estatísticas e dados: Não legalizar o aborto diminui o número de mulheres que o fazem? Quantas mulheres morrem por abortarem clandestinamente? Legalizando o aborto, essas mortes poderiam ser evitadas? O método científico deve ser baseado em questionamentos até levar a um conhecimento não questionável. Legalizar o aborto proporciona liberdade de escolha para as mulheres e é exatamente sobre isso que se trata.
Maria Vitória Santos Belarmino
1° ano de direito - matutino
2022
Nenhum comentário:
Postar um comentário