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quinta-feira, 9 de setembro de 2021

A MORTE DO GATO PERIFÉRICO

 

“Eu volto antes da chuva”, parecia que mesmo ali, diante de seu cadáver, ela acreditava que logo ele chegaria em casa com sua cara melosa e seu olhar terno dizendo que a cidade já não era mais um bom lugar para se viver, que a vigilância sanitária tinha dizimado com os ratos mais gordos e que mesmo ele, um legitimo gato angorá, tinha que se contentar com restos encontrados no lixo, e que um dia desses ele a pegaria e os dois se mandariam para o campo. Ela sorriu, pois conhecia de cor aquele monólogo e também sabia que ele jamais deixaria aquela cidade por que ela era tanto parte dele, quanto ele era dela.

Ela relembra quando eles se conheceram, ele um lindo gato dourado, com os olhos mais doces e azuis do mundo, ele era bem jovem, porém muito decidido e convicto, disse a ela que a amaria todos os dias de sua vida, e assim o fez. Naquela época ele dizia que a cidade conversava com ele e que os dois teriam um futuro maravilhoso, cheio de mordomias e com luxo de sobra, “gato maluco”, a vida dos dois sempre foi muito difícil e as vezes suas tolices de gato ainda tornavam as coisas mais difíceis, contudo a cidade nunca lhes negou comida ou mesmo um teto.

Certa vez um garoto rico o pegou no parque e disse que ele seria seu gato, sua mãe logo consentiu por se tratar de um animal tão belo, quando partiu, acenou para sua amada e disse que a noite voltaria para busca-la, naquela noite ele não apareceu, mas ela não se preocupou, pois sabia que seu amado jamais a deixaria só, mas o pobre gato somente apareceu no dia seguinte completamente assustado e colocou-se a explicar o ocorrido, disse que ao chegar na casa, o garoto o meteu em uma gaiola, como se ele fosse um canarinho e começou a joga-lo para cima, na hora do almoço, o garoto deixou a gaiola no sol, aquilo quase matou o gato, após do almoço, do qual o gato não participou, o peste amarrou uma linha na gaiola e começou a abaixa-la dentro da piscina, torturando assim o gato por toda tarde, neste momento o gato viu que iria se dar mal, então girou, mordeu e arranhou o garoto e correu como nunca fizera, correu tanto que ficou até meio roxo e quando chegou em seu pobre ninho e viu sua amada, agradeceu aos céus e jurou nunca mais se meter a gato de madame.

Que triste desfecho a vida lhe reservou, agora estava ali, espatifado em uma esquina qualquer, todos que passavam pareciam sentir a dor e angustia da pobre gata, pois ninguém ousou toca-la dali, nem mesmo o dono do açougue com quem ela tinha uma bronca gigantesca.

Seu coração estava magoado, destruído, ela sentia uma dor tão sincera, tão amarga, parecia que também morreria, sua alma estava dilacerada, só de imaginar a ausência de seu amado suas vistas embaralhavam por completo. O dia estava chuvoso e logo a marginal transbordaria, ela não queria que seu belo gato fosse levado pela enxurrada, seria pavoroso que seus restos mortais se perdessem naquelas águas imundas, e como se o açougueiro ouvisse aquelas magoas, foi aos fundos de seu açougue e pegou uma caixa vazia de farinha e dentro dela colocou o cadáver daquele gato que um cliente com pressa atropelara ainda a pouco, uniu-se a viúva num breve cortejo até o terreno baldio ao lado de seu comercio para enterrar o pobre bicho, enquanto cavava pensava que seria bom ter um gato, pois não tinha família e gatos são excelentes companhias para solitários desse tipo.

Durante todo enterro a gata ficou paralisada por uma sensação torpe que corria por seu corpo, quando o enterro terminou, quase por impulso, ela tomou o caminho do campo e partiu, partiu sem olhar para trás, partiu para nunca mais voltar...


NOME: ANTONIO JAIR DE SOUSA JUNIOR

TURMA MANHÃ

PRIMEIRO ANO


quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Plot twist sociológico - a ética protestante e o espírito do capitalismo

 Uma das minhas primeiras leituras sociológicas foi "A ética protestante e o espírito do capitalismo". No auge dos meus 15 anos esse título me soou muito bem aos ouvidos e até hoje é um dos meus livros preferidos, não necessariamente pelo conteúdo, que também é ótimo, mas pela metodologia incrível que Max Weber conseguiu entregar nesta obra. Além da linguagem acessível, o livro nos entrega uma explicação do que é o capitalismo, através da concepção de Weber e qual a relação do protestantismo no desenvolvimento desse sistema, claro, também apartir da concepção do filósofo mas muito bem embalada a partir de dados e pesquisas.


Até então, todo meu conhecimento era pautado, de maneira não muito profunda, nas concepções de Marx. Conhecer essa outra linha de raciocínio me fez enxergar além de um muro que eu já julgava alto o bastante. Hoje, ainda pendendo mais ao lado marxista, enxergo as concepções de Weber essenciais pra compreender a raiz do viés mais liberal do sistema. O que nos é de extrema importância, uma vez que o liberalismo é, de fato, sedutor e romantizado, compreender da onde vem a sustentação e o ar de sobriedade dos que o defendem, é um ponto chave.

Weber define que a busca pelo lucro nada tem relação com o capitalismo, pois se configura em diversas sociedades e em tempos distintos, até mesmo antes do seu surgimento. Para weber, o que vai definir o capitalismo como um modo de produção que se diferencia de todos os outros momentos em que buscavam lucro, é a sua complexidade por meio da empresa racional, que vai conceituar o espírito do capitalismo.

A partir disso, Weber parte para pesquisas que visam compreender como esse espírito se fundamenta. Observa diversas nações ao redor do mundo e busca qual delas melhor desenvolve esse sistema e o que elas tem em comum. Weber passa a pesquisar sobre os principais sujeitos e instituições que o fazem desenvolver desde o século XVI. Assim, encontra o protestantismo, que esteve presente nas regiões mais avançadas do sistema. Comparado ao catolicismo, enquanto modelo empregado que regula todos os âmbitos da vida pessoal e social, o protestantismo influencia de maneira muito mais severa a vida das pessoas.
Weber notou que em países de maioria puritana Calvinista, devido a própria doutrina da predestinação de João Calvino, que se diferencia da salvação pela fé, de Martinho Luteri, o Espírito do capitalismo tende a se desenvolver. Assim, aqueles que são predestinados, devem se sujeitar às restrições e evitar a vida mundana. Por isso, um dos fatores que contribuem com o desenvolvimento do capitalismo, se encontra nas severas regras e disciplinas puritanas, como ocorreram na Inglaterra, países baixos e Estados Unidos da América.

Sendo assim, a partir da leitura da obra pude compreender o quanto a cultura influencia no modo de produção. E para além disso, o quanto o capitalismo necessita de uma cultura específica, de mecanismo que o sustentem através da disciplina do povo. Compreender a questão do espírito como peça fundamental do capitalismo, diferencia-lo da busca indiscriminada por lucro, me fez enxergar os entraves e a complexidade de bater de frente com essa complexa instituição e me fez construir novas perspectivas em cima disso, possibilitando rearticular luta, cultura e resistência somado aos ideais já adquiridos.

*Marcella Peixoto - 1° ano/ noturno 

QUERO UM PAÍS QUE NÃO TÁ NO RETRATO

A realidade brasileira é difícil de adentrar

Aqui gente pobre, preta e periférica morre sem lugar

Enquanto os ricos comem caviar e querem debochar

Não adianta reclamar, se você tem dinheiro 

O Brasil definitivamente é o seu lugar 


Do monstro que se constrói com ódio e rancor

O Brasil é um país que não sofre com a nossa dor

Tente vê e vai enxergar: 80 tiros nos levam a crer

Que nada vai mudar 

A nossa única lei é corromper e matar


O grito dos excluídos não reverberou

Arrisco dizer que a força popular não se potencializou 

Mas calma, vamos nos reorganizar

A gente é brasileiro e não pára nunca de lutar 

O nosso sonho é comemorar enquanto vê o Ilê passar


Contar a história que eles querem apagar 

É um dever e obrigação, quero libertar um a um

Mesmo que isso signifique viver na contramão 

É hora de cobrar com juros, sem perdoar

Não quero ser a carne viva que só serve para sangrar




*Pedro Oliveira / Direito - Noturno  

O desencantamento do Brasil

 Vivemos em um país dificílimo de ser entendido. Para tentarmos criar algo que se assemelhe a uma ideia de país, de povo, devemos entender o que nos move e nos relaciona uns aos outros. Essa análise é possível com um olhar atento às ideias de Max Weber.

Weber é um dos mais completos autores para entendermos o modelo econômico no qual vivemos, assim como para o entendimento do papel da cultura e da ação social, que segundo ele preexiste o capitalismo, sendo esse um resultado do desencantamento do mundo e das mudanças na forma que nos relacionamos com o divino e com a existência espiritual, a partir das reformas ao cristianismo e a ética de trabalho, no mundo ocidental.

Partindo de suas análises acerca da cultura, da relação dos governantes com seus governados e da propensão do indivíduo a ilusões e relaxamentos sob líderes carismáticos, vemos que o seu pensamento é imprescindível para entendermos a crise política, institucional e de ideário em que vivemos.

Exemplo dessa crise é o fato de grupos organizados, sendo capitaneados pelo presidente da república, saírem às ruas acirrando ataques à democracia e a instituições de estado, incitando golpe e planejando ataques aos poderes da república.

O que move grande parte destes movimentos civis e políticos, especialmente neste 7 de setembro, é uma relação quase religiosa de crença em uma salvação em vida, uma mudança radical, na qual os demônios – figuras burocráticas, reguladoras, judiciárias –, que estariam colocando o líder em uma jaula de ferro (que se assemelha e essa ideia weberiana, neste suposto estado globalista, super burocrático, que inibe as ações legítimas de uma força representativa), são expurgados e o líder carismático então poderá tudo.

Os movimentos são contraditórios, as alianças são condicionadas a fatos escondidos, nada é o que parece, tudo parece não ser coisa alguma, ao mesmo tempo que é algo que nem sequer imaginamos.

Vivemos um momento único desde a redemocratização, obscuro. As instituições ficam inertes, sob a justificativa da fraqueza e inabilidade do inimigo. Porém a corda se estica, dia após dia. E não será tarde demais até que seja.


*Miguel F. C. Rodrigues - Direito NOTURNO - 1° Semestre

O monstro de Frankenstein tupiniquim

 Cada indivíduo é um universo em expansão, pensando, agindo, recebendo ou dando, cada

pessoa é por si um agente modificador do meio. Uma das maiores questões de diversas áreas

do conhecimento é; porque as pessoas fazem o que fazem? E algumas decisões tomadas por

indivíduos em posição de destaque são difíceis de se compreender. que diabos se passa na

mente de um presidente da república que nega a vacina? Ou qual motivo leva um parlamentar

de escala federal a achar que colocar altas taxas no refrigerante vai fazer da nação um país

melhor?

Se tentar compreender um único individuo já é complexo, agora pense em compreender um

aglomerado de centenas de milhões de pessoas, vivas, mortas (talvez até as que vão nascer)

que compõem um país tropical, com dimensões continentais, que além de tudo ainda é um

Frankenstein ideológico. O nosso monstro de Frankenstein, essa colcha de retalhos chamada

Brasil é demasiadamente difícil de se entender. “o brasil não é para principiantes” disse Tom

Jobim, o maior musico da maior república de bananas da América. Desde a “elite” até a mais

carente favela, nada aparenta fazer sentido. Historicamente nossa elite sempre foi mesquinha,

podendo se dizer que até 1930 a nossa “elite” estava próximo do que se pode chamar de um

“partido feudal”. O grupo mais poderoso em termos econômicos nunca se preocupou em dar

rumos a pátria, no século XIX escolheram continuar no modelo escravista ruralista, do que

entrar de vez no capitalismo industrial, até mesmo quando as industrias apareceram, a classe

num geral permaneceu retrograda, mesquinha, rastaquera. O pior de tudo, até a ideologia da

elite, que é uma mera importação e retalhos de várias outras ideologias também é atrasada,

alguns membros da classe A brasileira se dizem liberais, mas o dito liberalismo dessa classe é

apenas fazer acordo para mamar no governo.

A classe mais poderosa do Brasil, a classe política, essa eu diria que é a mais problemática é

essencialmente peculiar. dentro do debate brasileiro, enganasse quem pensa que o vencedor

dos duelos é direita ou esquerda ou liberais vs socialistas. O grande nome da política

brasileira é um fenômeno típico das republicas de bananas, chamado centrão. Esse grupo

bizarro, que reúne desde Ciro Nogueira até a família Collor e família Sarney é a grande

colcha de retalhos que atrasa o brasil, tal grupo canceroso se colocar como o paladino da

verdade e moral, acima da moral liberal ou socialista. “nem esquerda nem direita, pelo

Brasil” é um dos grandes lemas dessa casta que tem como objetivo continuar se perpetuando

no poder. O dito centrão é a grande ponte entre a elite rastaquera e a massa de manobra que

são a maioria dos 210 milhões de brasileiros. A casta política enganar a população e faz


acordos com os membros da elite para continuarem a apoiar os grandes esquemas que

mantém o monstro carimbado com as palavras “ordem e progresso” caminhando.

A população que no geral é tosca, essencialmente uma população bovina, que ou muge para

um pseudo conservador que irá libertar o país das garras do fantasma comunista ou segue a

manada quando um político com ideias bonitas e fala mansa vocifera que irá resolver os

problemas dos pobres ao livrar a nação do chicote capitalista. A massa brasileira não aprende

com erros, continua a fazer preces a um redentor sebastianista que de salvador não tem nada.

Os diversos sebastiões brasileiros, tem perfis parecidos, geralmente é um típico caudilho

latino ou um populista retrogrado que mal sabe ler. Enquanto as massas não se desprenderem

do centrão nunca vão entender que o verdadeiro agente promovedor de bem estar são eles

mesmos, não um estamento burocrático ou uma elite semi feudal.

A causa de todas essas escolhas feitas pelos grupos brasileiros pode variar com o tempo,

entretanto considero que um fator predominante presente em muitos momentos históricos e

atuais é o fator que as classes no geral sempre tiveram medo das responsabilidades. Tanto a

elite quanto o povo no geral sempre foram muito estagnados, com medo de colocar a mão na

massa, seja a elite que sempre foi medrosa em se ariscar e na maioria das vezes preferem

mantem seu egoísmo a operar mudanças na sociedade. Seja a população medrosa de ter de

pedir a responsabilidade para si, considera que é mais vantajoso colocar as decisões nas mãos

de burocratas que operam o corpo estatal, os políticos ou interessados na política perceberam

o discurso perfeito. Fazer um populismo barato para prometer sonhos de melhoras para o

povo e prometer estabilidade para a elite do atraso. Essa conjuntura das classes brasileiras

forma esse Frankenstein, que não sabe para onde ir, não tem forma definida, quer ser tudo,

mas na realidade não é nada. Weber teria que se esforçar muito para entender um país no qual

o povo levanta em pleno feriado nacional para ovacionar um chefe de estado que de nada

opera para aumentar a virtude do seu povo.

*João Vitor Pereira de Oliveira- direito diurno

ANOMIA SOCIAL E A CARIDADE COMO AÇÃO SOCIAL

 Max Weber fora contemporâneo à República de Weimar, um período difícil da

história da Alemanha, que compreende o período entre o fim do poder do Kaiser na

Primeira Guerra Mundial em 1918 e a ascensão do nazismo em 1934. O pensador chega

inclusive a ser um parlamentar presente na comissão redatora da Constituição da República

de Weimar. A Alemanha fora muito punida pelos países vencedores da Grande Guerra, o

que fez com ela mergulhasse num verdadeiro caos generalizado, e foi neste contexto que

Weber faz suas análises sociológicas.

Weber sequer apresenta uma definição de sociedade, se limitando a refletir sobre

suas particularidades, entendendo que é inexistente uma oposição entre a sociedade e o

indivíduo. Ele via a sociedade como emergida a partir da subjetividade das ações sociais.

Uma ação é social quando se leva em consideração outras pessoas na sociedade, ou seja,

não é necessário que toda ação em sociedade seja social, mas às vezes simples fenômenos

naturais. Uma ação social, por exemplo, é quando um aluno que não joga lixo no chão da

sala de aula, levando em consideração o fato de que outra pessoa posteriormente teria que

limpá-lo.

E é nesse escopo que gostaria perscrutar a relação da caridade e das crises, como a

de Weimar. Ora, sabemos que as ações sociais procedem das motivações, tendo, portanto,

sempre elas um sentido e significado específico. E, como explicava Max Weber em

Economia e Sociedade, cabe à sociologia interpretar e compreender esses sentidos da ação

social, para assim, explicar causalmente seus efeitos sociais. Sabemos que os indivíduos

agem socialmente motivados pela tradição, por um interesse racional ou por algum motivo

emocional, onde os nexos da ação social podem ser de ordem política, econômica ou

religiosa.

Sobre nexos de ordem religiosa, vale ressaltar a Igreja Católica, que sempre

administrou obras de assistência e caridade às pessoas em situação de pobreza ou qualquer

tipo de necessidade. Lembremos dos mosteiros e dos conventos, que funcionaram como os

primeiros hospitais, leprosários e orfanatos, algo que é pertinente até os dias de hoje. Não

somente, a Igreja lança um documento, a Encíclica Rerum Novarum, que embasa suas

práticas caritativas e reforça valores morais como referência para o enfrentamento da pobreza.

Mas não somente nesse sentido, a caridade não se resume unicamente ao ato de ceder um

umas moedas em benefício de alguém que delas precisa. Creio ser algo bem mais profundo

que isso. Quando você cede um lugar no ônibus lotado para uma senhora, você está fazendo

caridade para com ela, mesmo não tendo você cedido nenhum bem concreto propriamente

dito. Assim, creio que a caridade é toda a ação social motivada pelo amor ao próximo, que

faz-te sacrificar algo que te é bom, em bom detrimento de terceiros. E é inegável a

importância da religião para o aperfeiçoamento das virtudes humanas, aperfeiçoamento este

que é voluntário e espontâneo (isso é importante).

Assim sendo, como podemos interpretar a ação social da caridade senão pelo nexo

voluntário da religião e consequente motivação tradicional e emocional? Não que eu esteja

dizendo que o arreligioso é necessariamente sujo, mas é uma realidade que à medida que as

crises surgem e a sociedade se mergulha num estado de anomia social, o capital humano se

degrada e as pessoas passam a se perverter virtuosamente – ainda mais sem total ou parcial

epíteto da religião na equação – voltando sua preocupação não para com o próximo, mas

para si mesmo em meio ao caos social – o que destruiria as redes de subsidiariedade que

compõem o caleidoscópio das comunidades, gerando desarmonia social. Seria difícil de

compreendermos os tipos de ações sociais desse tipo de sociedade. Ou seja, todas as boas

ações sociais calcadas no carĭtas para com o próximo passam a ficar menos frequentes, o

que agravariam as instabilidades socias, porque tornaria as pessoas mais arrogantes,

ignorantes, gananciosas, de poucas virtudes, e é em meio este contexto, que o governo

entra.

Concluindo, meu ponto é que senão pela religião, nosso aperfeiçoamento moral não

se daria de maneira espontânea e voluntária, como devem ser ações morais, mas sim via

violência governamental. Ora, é inevitável que valores que promovam interdependência

harmônica entre indivíduos promovam independência para com o Estado, e uma vez eles

lesados, acabaremos dependendo cada vez mais do governo, o que é terrível para nossa

liberdade! Creio que nossa sina enquanto humanidade é ter nossa cabeça pisada contra o

chão pela bota estatal.


*Fernando Carvalho da Silva. Direito – Noturno.

Weber e a realidade carioca “limabarretiana”

 Poucos escritores brasileiros captaram com precisão as transformações

socioeconômicas da antiga capital federal no início do século XX. Lima Barreto, que

viveu somente 42 anos, vivenciou as transformações que arrombavam a retina de uma

belle époque regada à canastrice bastante restrita à região central do Rio de Janeiro de

início de República. O crítico e escritor João Antônio definia Lima Barreto com um dos

grandes escritores humanistas, com permanente espírito de luta, assim como Dickens,

Gogol e Gorki. Azucrinava, do subúrbio, os abastados de Botafogo com vistas ao Pão

de Açúcar. O subúrbio nada mais era do que seu reduto social e inegavelmente

sanguíneo, marcado na cor da sua pele e na pele de seus parentes mais distantes.

Alcoólatra, deprimido, suas crônicas em jornais cariocas por quase vinte anos

satirizavam os beneficiados pela excludente transformação urbana da cidade, criticava a

administração pública da corte, desdizia a necessidade de ensino superior e valorizavam

os esquecidos pelo establishment, a periferia da corte. Entre bebedeiras e internações em

sanatórios, revelou um Brasil urbano, cujas elites se europeizavam com a mesma

voracidade que dava pontapés aos suburbanos descendentes de escravizados.

É possível tentar compreender Lima Barreto, seu universo por intermédio de

Weber e Jessé Souza? Para tanto, tomemos dois textos: “Carroça dos cachorros” e “A

Universidade”.

“Carroça dos Cachorros” é uma crônica publicada em 1919 na revista

Marginália. Nela, Lima Barreto faz uma delicada descrição da relação humana com

cachorros. No texto há uma crítica ao serviço da cidade de recolher os cães de rua e dos

moradores (especialmente femininas) de recolher os animais, impedindo o recolhimento

e morte dos bichinhos. E compara a carrocinha à caleça de ministros do Estado

imperiais, com pomposos cavalos à frente. O autor bendiz as mulheres que protegem os

animais das polícias e dos guardas. A lei está no direito de perseguir e as mulheres

pobres estão no direito de proteger.

Em tempos de Revolta de Vacina e de proliferação de cortiços na cidade,

percebe-se a preocupação do autor em tentar compreender ações sociais (neste caso,

reativas de proteger uma fonte de afeto) de seus mais comuns – pretos e pobres. A causa

– a administração pública que, de acordo com o autor, acha que entende o que é

importante para o povo sem consultar este último. As personagens do texto são pobres

de dinheiros, mas são carinhosas e afetuosas, que nutrem suas crias humanas e não

humanas. Revela-se, assim, ao esconder os cães, a expressão cultural do subúrbio: o

direito à alegria de cuidar dos cães, e tal direito não deve ser tolhido pela administração

municipal. Percebe-se, assim, a expressão Weberiana do poder e da imposição da

vontade de quem o detém de forma oficial. Pergunta-se: as carrocinhas seriam os

estímulos externos e a dominação se materializava nas atitudes dos guardas públicos?

No caso dos cães escondidos não capturados pela força pública, venceu o povo. O ato

de esconder os cães revelou a não aceitação de um modo de vida de fora, não sendo

caracterizada a legitimação weberiana.

Na crônica “A Universidade”, publicada na revista Feiras e Mafuás em 1920,

critica a criação de universidades no Brasil. Entende que o mundo “moderno” exige

profissões técnicas e que a criação de centros de estudo seriam palacetes de pompas

decorativas. A crítica é contundente pela desnecessidade de universidades, estas como

extensões das casas de privilegiados, com o adendo de que tais privilégios agora, teriam

o alicerce da lei. Seria a produção de diplomas para rapazes sem vocação, perpetuando o

contorno de parte da tolice popular de convocar mais um “doutor”.

Lima Barreto defende que os estudos de medicina, engenharia e direito deveriam

ser bancados por quem quisesse fazê-los. E doutrinas gerais e espirituais, para melhor

compreensão do mundo, deveriam estes serem oferecidas pelo Estado. Critica que o

professor brasileiro quer pompa e luxo e posição.

Seria a universidade do texto de Lima Barreto um retrato weberiano da realidade

brasileira do início da República? As instituições não são externas aos indivíduos. Ao

contrário: criam hierarquia de valor comportamental. Em instituições de ensino em que

brancos e ricos em sua grande maioria tem acesso, o status de doutor é restrito. A

inutilidade da universidade preconizada por Lima Barreto pode ser interpretada de

forma weberiana pela desigualdade de acesso a bem educacional, caracterizando caráter

de classe. E a própria instituição seria perpetuadora de desigualdade social.

Jessé Souza cita Weber em “A Ralé Brasileira”: “durante toda a história

humana, os ricos, charmosos, saudáveis e cultos não querem apenas saber-se mais

felizes e privilegiados, eles precisam se saber como tendo “direito” à sua felicidade e

privilégio. Para se compreender porque existem classes positivamente privilegiadas,

por um lado, e classes negativamente privilegiadas, por outro, é necessário se

perceber, portanto, como os “capitais impessoais” que constituem toda hierarquia

social e permitem a reprodução da sociedade moderna, o capital cultural e o capital

econômico, são também diferencialmente apropriados. O capital cultural, sob a forma

de conhecimento técnico e escolar, é fundamental para a reprodução tanto do mercado

quanto do Estado modernos.”

Lima Barreto critica de forma veemente o embelezamento europeizado do Rio

de Janeiro, e a “modernização” do Estado republicano adere-se à tentativa de criação de

universidades. E a ralé de Jessé Souza é útil para a sociedade ao desempenhar

subempregos.



CURSO: DIREITO – Período Noturno

Disciplina: Introdução à Sociologia


*Ricardo Camacho Bologna Garcia – Número UNESP: 211221511

A implantação do privilégio na sociedade.

     Levando em consideração os aspectos e as relações sociais, fica claro o quão importante

é o papel da sociologia em relação a coletividade, pois a sociologia, nos apresenta

diversas linhas de pensamento, que muitas vezes possuem características opostas, mas

que ainda contribuem para a evolução do cenário coletivo. Interpretando e debatendo

situações que muitas vezes não passam da superfície, de forma mais objetiva e

competente.

    Através dessa linha de pensamento objetiva, Max Weber apresenta uma forma de

pensamento social interpretativo, que busca, valorizar e interpretar as questões sociais

de maneira ampla, considerando que cada aspecto público sempre necessita de mais

atributos para que o esclarecimento do problema, esteja o mais próximo do correto.

    Evitando lidar com os fenômenos de maneira isolada, pois o isolamento das questões

dificulta a visão geral do problema.

Por meio do conceito da ligação de ideias para a compreensão da sociedade, podemos

até mesmo aprender um pouco mais sobre o nosso próprio país, que já é tão complicado.

Visto que herdamos diversas de nossas características, de acontecimentos históricos

marcantes do nosso país como a escravidão e a ditadura, que fixaram diversos valores

prejudiciais para a sociedade brasileira.

    Dessa forma, a questão da sistematização do pensamento de forma isolada parece muito

mais simples do que realmente é, pois enxerga o direito de maneira isolada, melhor

dizendo, não leva em consideração como a cultura, local e contexto histórico podem

contribuir para o uso da lei a favor da maioria. Existem diversos fatores que tornam esse

tema muito mais complexo. Como por exemplo a hierarquia da lei, que mantém o

controle das regras nas mãos de uma classe dominante, que graças a normalização de

padrões estabelecidos historicamente, coloca uma pequena parte da população no

comando e no gerenciamento de questões essenciais para a humanidade, e coloca as

minorias num papel de observadores, ou seja, a parcela da população que se encontra

nesse cenário de extremo privilégio, defende e valoriza apenas questões que são

vantajosas para eles, prejudicando o restante da população que não se vê representada e

tampouco sente que a sua ascensão seja um verdadeiro objetivo.

    Graças a essa visão de sociedade isolada e rígida, ainda existe a tendencia pela

manutenção desses benefícios para essa parte dominante da população. Portanto, de

acordo com Jessé Souza, é necessário valorizar as características individuais do ser

humano, uma vez que essas reflexões confrontam os valores conservadores, justamente

por valorizar a capacidade individual do cidadão, pois a sociedade possui diversas

características que distinguem situações que possam parecer iguais, melhor dizendo,

sempre existem fatores externos que alteram a narrativa de determinado caso. Por isso é

inviável isolar um tema que depende tanto da ligação entre diversos outros atributos.

*Vinícius Barboza Felix dos Santos -Direito-1° Semestre- Diurno

De onde surgem certos comportamentos?

 A frase do Tom Jobim “o Brasil não é para principiantes” representa o sentimento de muitos quanto à tentativa de compreender o país, como movimentos que ganham força e certas ações dos brasileiros. No entanto, essa dificuldade foi, na verdade, construída, pois o Brasil está adentrado na mesma lógica que rege o resto do mundo. A sociedade está totalmente inserida nas relações de produção do capitalismo e nas suas instituições. Deste modo, não é possível compreender a sociedade sem antes entender o papel do capitalismo como uma influência nos comportamentos. Para essa compreensão, Weber fundou um método baseado na teoria da ação social. 


Weber diz que a sociologia é a ciência das ações, pois em todas as sociedades pode-se perceber comportamentos iguais entre os indivíduos. Mesmo que suas ações sejam motivadas por milhares de razões, existem motivos semelhantes aos dos outros e, é portanto, a interpretação desse sentido da ação social que Weber define como o objeto de estudo. Deste modo, essa ciência aplica-se no entendimento de um país no qual muitas ações são consideradas incompreensíveis e até absurdas, em que não se sabe por que um grupo age e pensa de uma certa forma, ou por que apoia tal candidato. 


Para lidar com isso, pode-se juntar evidências e criar um tipo ideal. Essa é uma ferramenta que Weber fundou para tentar interpretar as ações das pessoas, a criação do tipo ideal é nada mais do que conceitos criados sobre um grupo para entender o que o move, quais as motivações e os valores. No entanto, é importante frisar que esse tipo ideal garante um caráter universal, tornando-se apenas uma hipótese, assim, muitas vezes não corresponde com a realidade de fato. Contudo, esse método não deve ser descartado, uma vez que é um ponto de partida para confrontar a realidade. 


No momento que percebe-se que são os valores e ideais que guiam a ação social, é necessário se atentar às instituições. Estas foram edificadas no Ocidente e se tornaram  responsáveis por racionalizar a conduta da massa, sendo as principais: o Estado e o Mercado. Os dois estão interligados, pois na sociedade que está dentro das relações de produção capitalista, o Mercado competitivo se torna o centro, e o Estado, o ente que responde aos seus interesses.


Em suma, tem-se as instituições com os seus valores e ideais enquadrando a ação social, dando a razão para determinados comportamentos. E por outro lado, as relações de produção capitalista engendram nas Instituições, organizando-as mediante as suas ferramentas. Por isso, Weber acreditava que o capitalismo originava-se como um ideal, e a partir dele, o sistema ia sendo construído.


Deste modo, o que acontece no Brasil não é típico ou isolado, mas sim é o mesmo que em outros países onde vigora esse sistema. Segundo Jessé Souza, “é a sociedade, com suas instituições específicas, que cria os indivíduos como eles são, e não o contrário.” A partir disso, entende-se que a dificuldade de enxergar com clareza o que acontece ao nosso redor diz respeito à cegueira que temos de encarar os fatos, cegos pela ideologia que nos é imposta. Destarte não só acabamos achando que o Brasil é difícil de se compreender, que não é um país para principiantes, como também ficamos sujeitos a reproduzir os comportamentos regidos pelo sistema. 


*Luisa K. Herzberg 

1º semestre Direito matutino 

Turma XXXVIII


O Mercado com as rédeas da vida

 Tomando como perspectiva de análise o materialismo histórico, podemos concluir que

as relações de trabalho estão sendo levadas para um único ponto extremo. O ponto da lógica

liberista de mercado, “neoliberal”, entendendo que o liberismo ou “neoliberalismo” está

acima das microrelações cotidianas das pessoas e acima dos Estados, ou seja, a logica

liberista, é uma lógica supranacional, que exerce coerção de cima para baixo, fazendo com

que todos se adaptem a essa força mercadológica abstrata.

Entendido que esse sistema no qual as leis de mercado se mostram quase absolutas, as

normas internas dos países, como as trabalhistas, tem cada vez mais que se metamorfosearem

para serem mais uteis ao liberismo (quem sabe até abrindo mão da soberania nacional em

prol da soberania do mercado) nesse ponto é que Sennet e Marx se aproximam, ambos

rejeitam que as relações humanas devam ser geridas pelas relações mercadológicas, o

mercado não deve ser tratado como deus, todavia os pensadores vão se distanciar da resposta

do que deve ser feito.

Marx analisa e propõe a solução para o capitalismo de forma radical, visando abolir os fatores

que engendram a lógica mercantil de se viver. Divisão do trabalho, mercado e especialização

serão dissolvidos, a ideia de produção será outra, os trabalhadores terão tudo aquilo que

produzem, e a alienação deixará de existir, alienação esta que evidentemente é mais forte hoje

no capitalismo flexível do que nos tempos de Marx, dado a nova forma de se viver (a forma

liberista) tal molde se extremou, e todos os trabalhadores, os mais simples apertadores de

botões, alá Chaplin, tem que viver sendo o homem perfeito para o mercado. O homem

shumpeteriano, o homem empreendedor, logo o homem dos riscos permanentes. Nesse

sistema unicamente gerenciado pelo mercado, as relações se esvaziam, mas ganham o

eufemismo de flexíveis, dinâmicas...

Sennet não faz menos críticas ao modo “neoliberal” de se dar o mundo, apenas trabalha seu

ponto com outro olhar. O capitalismo “flexível” deve ser mudado, entretanto mudado para

um “capitalismo social”, Sennet defende que a ideia da produtividade atual além de corroer o

caráter, faz liquido o que deveria ser solido e também é menos produtivo que se pensa.

Capitalismo social seria uma forma de se mitigar as questões defeituosas do modo atual, os

trabalhadores teriam ações das empresas, assim fazendo a motivação para produzir muito

maior, além de que a problemática da flexibilização do trabalho, pessoas que vai e vão em

vários empregos acabaria, o vínculo com a empresa seria muito maior, os ganhos dos

funcionários também seriam muito mais democráticos nessa lógica.

** João Vitor Pereira de Oliveira, direito diurno

O jeitinho brasileiro

A maneira peculiar de os brasileiros resolverem seus problemas (o jeitinho brasileiro), é um problema muito complexo de ser resolvido e vai além de ser uma mera cultura do Brasil e passa a ser uma instituição cultural do país e ,assim, permeia todas as esferas sociais e se torna aqui que Weber define de um fenômeno social. De acordo com a Analogia da Refração do facho de luz, escrita por Ramos, o Brasil se enquadra como uma sociedade prismática, na qual os exemplos de Formalismo são vastos e os regramentos são quase sempre definidos ou adaptados por elites pensantes, de modo a favorecer interesses de uma classe dominante em detrimento das classes abaixo dela. Dessa forma, pode-se dar o exemplo de trabalhador rural que se muda para a cidade e, consequentemente, para não ser rejeitado pela comunidade urbana, tenta se adaptar o mais rápido possível às regras formais e informais das elites pensantes das relações sociais. Desse modo, há favorecimento de certas pessoas da classe dominante na ocupação de cargos públicos e essa característica tem uma grande relação com o patrimonialismo e faz parte da cultura política do Brasil. Dessa maneira, se tornou comum o descumprimento de normas e regras por parte dos brasileiro às quais eles estão submetidos. Tal fenômeno pode ser observado, em situações do cotidiano, como na fila de um banco, ou seja, é comum ver uma pessoa ocupando o lugar de outra na fila ou, no vocabulário brasileiro “furando fila”, com o objetivo de obter vantagens em termos de tempo sobre o outro. Similarmente, tem aqueles que pedem para serem atendidos primeiro, sob as mais variadas “desculpas”, dizendo que estão atrasados para um certo tipo de compromisso ou até mesmo por motivos de saúde e, fora isso, existem uma várias maneiras desse “jeitinho brasileiro” de resolver as coisas.  

Esse “jeitinho brasileiro” se encaixa, também, na tipologia da identidade brasileira, que consoante Marx Weber, “são caminhos construídos de forma puramente racional  para  aproximação  do  fenômeno  (ideal  da  pureza  da  razão)  com a realidade (essência subjetiva), assim, todos os desvios devem ser detectados e considerados como influências irracionais (conexões irracionais, afetos, erros)”. Dessa maneira, a sociedade brasileira confunde o conceito de cidadania com o de favores e ,assim como, a mesma população se depara com vários deveres que devem ser cumpridos e poucos direitos para usufruírem. E quando tais direitos são negados a eles, eles procuram uma maneira para poder ter de qualquer forma esses direitos, por mais que seja considerado ilegal, e desse viés surge o “jeitinho” que é considerado por muito como uma “massa cinzenta moral” entre o que é certo e o que é errado. Posto isso, o sujeito fica em um choque moral e acredita que resolver uma situação por meio da “malandragem” é certo e justo pra ele mesmo, enquanto, quando outro indivíduo usufrui disso é um ser imoral e corrupto. Pode-se dar o exemplo de uma pessoa que manipula informações para pagar uma menor quantidade de imposto de renda ao governo federal e ao mesmo tempo se sente indignado pela tamanha corrupção que existe no Brasil e pela enorme quantidade de políticos corruptos.


A dominação afetiva literalmente nas ruas

 

     Desde 2016, sabemos das várias manifestações políticas que se materializam nas ruas, em que pessoas almejam algo, lutam por esse algo e exigem-no dos governantes eleitos que, em tese, deveriam representar os anseios da maioria a qual lhes confiou o poder. Sabemos dessas manifestações e, por vezes, participamos delas. O que nos leva a isso?

     Ao analisarmos tal questão sob o olhar daqueles que prezam a sociedade sobre o indivíduo, tal como Durkheim, afirmaríamos que a ação individual surge da coerção social.

     Se, no entanto, analisarmos essa questão sob o olhar daqueles que, como Weber, preza o caráter individual sobre a sociedade, identificaríamos a ação social como um fruto do próprio indivíduo: “[o indivíduo] pondera e escolhe, entre os possíveis valores em questão, aqueles que estão de acordo com sua própria consciência e sua cosmovisão pessoal”. Assim, por causa das várias informações e notícias que chegam até nós, formamos uma opinião, um juízo de valor, baseado em nossa cultura e formação intelectual (política, histórica, sociológica, filosófica e antropológica) e, então, tal juízo de valor nos conduzirá à nossa ação social.

     Tal ação, que pode nos guiar às ruas em prol de algo que defendemos e que, de acordo com as nossas opiniões, deve ser garantido, pode ser de quatro naturezas: racional,com relação a um objetivo; racional com relação a um valor; afetiva ou emocional (esta é a típica ação do fanatismo político e da total defesa de um certo grupo político); tradicional (a ação dos patriotas, por exemplo, encaixa-se nessa classificação).

     Assim, cada um movido por sua ação social, a qual é, primeiramente, individual, mesmo que esteja focada em um ideal coletivo, vão às ruas para defender algo.

     Já em momentos que o olhar coletivo da massa popular não resume toda a imensa engrenagem organizacional dessa sociedade, afinal o indivíduo é muito mais que um coletivo, que uma classe ou que uma relação entre opressores e oprimidos. A sociedade agora é uma construção íntima, interligada e repleta de peculiaridades, que outros não foram capazes de notar. 

     Contudo, não é possível esquecer as relações sociais como determinantes diretos da constituição do aparato social, pois são estas que permitem a mutação dos sentidos e motivações dos atos, ao ponto que sempre constituem o novo e arrastam a história para novos caminhos. Mesmo sob o pensar racional, agora não só com a preocupação de lutar pelos meios de produção, mas pelo contrário, entendê-lo e positiva-lo, a fim de se alcançar a possibilidade de se realizar o dever ser.



Pedro Henrique Barreiros Hivizi - 1° semestre - Noturno 

Ação social da moral vira-lata bolsonarista.

     


    A imagem, que mostra o presidente da quarta maior democracia do mundo batendo continência para a bandeira de outro país, demonstra como o estigma de vira-lata do brasileiro se tornou um fato extremamente forte dentro de sua sociedade. O bolsonarismo, um tipo de ação social que vem crescendo no brasil desde o impeachment da Dilma, tem tornado o país um lugar caótico e dotado de ações e falas antidemocráticas, como também tem tirado o poderio do Brasil como nação soberana. Mas por que tal fato ocorre com tanta força e com tanto apoio social? O problema do Brasil, como aponta Jessé de Souza (2009), é pensar que o Brasileiro possui uma cultura vira-lata, uma cultura de não valorização do seu próprio país e de suas sociedades,  que pensa que deve seguir a estrutura de outros Estados (como no caso da imagem acima) para se tornar uma Nação poderosa. Mas é ai, segundo o mesmo autor, que o brasileiro erra, pois  "o que nos separa de nações mais avançadas não é o PIB econômico, como para o liberalismo economicista como o que nos domina, mas o fato de que aqui, entre nós, existem classes gigantescas sem qualquer acesso às vantagens de um PIB expressivo e sem qualquer acesso às possibilidades efetivas de competição econômica 'justa" (SOUZA, 2009, p.121), ou seja, o país possui características próprias, e acrescento, não só econômicas, mas também culturais,  fato que torna quase que impossível a transformação do Brasil em um novo EUA. 

    Tendo isso em vista, se percebe que as propostas do movimento bolsonarista, são quase que impossíveis de serem encaixadas aqui. E isso fica ainda mais claro quando se adentra ao movimento, pois se percebe que ele é formado (em sua grande maioria) por um padrão único de pessoas, homens brancos de meia idade, cristãos e pertencentes a classe média da sociedade, fato que exclui a grande maioria do povo brasileiro, que é formado por pardos e pretos que pertencem, na sua maioria, as classes mais baixas.  Esse plano socioeconômico do bolsonarismo, baseado nos EUA, nunca servira de fato para o Brasil, e longe de ser uma discussão de direita e esquerda, pois o erro dele é metódico, para se ter uma nação grande é preciso se desenvolver planos a partir de políticas públicas que compreendem o povo brasileiro e suas diversidades culturais, sociais e econômicas, o que o governo Bolsonaro está longe de fazer. Por outro lado, Jessé de Souza, que escreveu "A ralé brasileira" em 2009, mostra que o esquecimento e opressão dessas classes mais marginalizada acontece desde aquela época, sempre sendo tratada como caso de "polícia" e não de "política" (SOUZA, 2009, p.122),  ou seja, isso é uma ação social weberiana no Brasil a muito, antes mesmo dos movimentos que beiram o fascismo existir.

    Esse estigma de vira-lata brasileiro tende somente a prejudicar a Nação. Mesmo que tal seja formada por várias culturas e por várias realidades, é necessário se resolver os problemas sociais do Brasil a partir da própria realidade brasileira, e não seguindo uma ação que uma minoria  que crê que para resolver tais problemas se deve trazer estruturas de outras realidades sociais. Essa ação social, do "viralatismo" brasileiro, serve unicamente pra trazer discórdia e problemas ao país.

    Por conclusão, ainda pensando o bolsonarismo, se percebe que esse movimento quer obter o poder de controlar o país a partir de suas realidades (do homem branco, cristão, de meia idade e heterossexual) e podendo se concluir, através do pensamento weberiano, de uma forma ilegítima,  pois se parte do pressuposto que muitos não o aceitam como presidente, mas mesmo assim, o mesmo utiliza de meios coercitivos e violentos para tentar impor seus dogmas e cultura a todos.

  

 

Lá vem o Brasil

 


  Lá vem o Brasil descendo a ladeira! País de difícil compreensão esse! Afinal, como imaginar milhares de pessoas indo às ruas no dia sete de setembro de dois mil e vinte e um, em uma manifestação favorável a uma elevadíssima taxa de desemprego, a uma conta de luz altíssima, ao dólar acima de cinco reais, à gasolina a sete reais e a todas as milhares de mortes ocorridas durante a pandemia, que poderiam ter sido evitadas se não fosse por um governo negligente?
  Cabe então tentar entender a situação e os brasileiros por uma prisma sociológico. Na tentativa de compreender o ser brasileiro, diversas teorias já foram concebidas, a exemplo do homem cordial, que precisa expandir o seu ser na vida social, não suportando o peso da individualidade, de acordo com o sociólogo Sérgio Buarque de Holanda, em seu clássico livro de 1936 "Raízes do Brasil". Apesar dessa e de outras teorias de vários pensadores importantes, como Gilberto Freyre e Florestan Fernandes, remontarem ao conceito de patrimonialismo - que se desdobra em clientelismo, nepotismo, populismo, etc. - de Weber,  há quem faça outras interpretações do porquê o Brasil ser assim para além do patrimonialismo.
  Para o sociólogo Jessé Souza, atribuir todo o jeito de ser dos brasileiros ao patrimonialismo é um erro, uma vez que seria afirmar que a corrupção, por exemplo, é um traço inerente e indissociável dos brasileiros, proveniente dos primeiros portugueses que aqui pisaram em 1500. Jessé centraliza a principal causa da crise que o Brasil enfrenta justamente na desigualdade e na patologia que ele descreve como: "o Brasil é um país doente, patologicamente doente pelo ódio de classe [...] o ódio patológico ao pobre". Ele diz que os brasileiros nunca fizeram a autocrítica de que são filhos da escravidão e de tudo que ela traz: a desigualdade, a humilhação e o abandono da maior parte da população.
    E de fato, o que explicaria a ascensão de Jair Bolsonaro se não o desejo de uma classe privilegiada de reproduzir os seus privilégios em meio a uma sociedade desigual? Para Jessé, o tema da corrupção ou melhor, de combate à corrupção, que Bolsonaro tanto pregou, serve apenas para esse fim, de reprodução de privilégios e da manutenção de um falso moralismo (que Bolsonaro e seus seguidores bem compreendem). Eu, sinceramente, mera estudante, continuo confusa e sem respostas... pior que tá... fica.

Laura Ruas - Matutino, 1° Ano


O duelo entre diversidade e dominação na sociedade brasileira

Dentro de um contexto histórico de formação da sociedade brasileira, percebe-se que o pais desde o princípio apresentou uma grande diversidade sociocultural. Assim como Darcy Ribeiro alegava que o Brasil era uma “colcha de retalhos" pela miscigenação brasileira, até hoje há uma gama de raças que compõem o país (pretos, pardos, indígenas, amarelos, mestiços, brancos...). Além disso, a questão cultural é colocada em evidência pela variedade de religiões, costumes, sotaques, estilos musicais, entre outras formas de expressão. 

Diante desse panorama social, algumas barreiras e discriminações foram criadas com o tempo, de modo que grupos minoritários ainda sofrem uma marginalização. Sob essa perspectiva, a interpretação da realidade brasileira contém aspectos a serem analisados tanto dos grupos que exercem dominação, quanto às minorias que são dominadas.

Em primeiro lugar, de acordo com Weber, em sua obra “Economia e Sociedade”, o conceito de dominação está vinculado a um exercício de poder, na qual uma força externa tenta impor a própria vontade em uma relação social. Nesse sentido, é possível identificar na sociedade brasileira aspectos de dominação cultural em muitas esferas. Vide a discriminação regional sofrida por nordestinos pelo seu sotaque; a discriminação religiosa sofrida por devotos de religiões de matriz africana; ou então a própria discriminação racial sofrida por pretos, pardos e indígenas, por exemplo. Em todas essas problemáticas, há por trás uma parcela que exerce essa dominação, podendo ser identificada com a imposição de “padrões” por indivíduos das grandes cidades, pelos fiéis de religiões de tradição europeia e pelo racismo velado ou não de uma parcela branca.

Em segundo lugar, a dialética weberiana aborda sobre a relação entre cultura e as instituições. Segundo o filósofo, “não se pode separar a “cultura" das “instituições” e das práticas institucionais e sociais que lhes correspondem”. Com isso, observa-se que as principais instituições de poder desde o período de colonização brasileira foram o Estado e a Igreja. Ambos contribuíram para a formação de uma maioria social, seja nas percepções ideológicas, seja nas percepções na defesa de uma cultura “ideal”. Tendo em vista a formalização de Constituições outorgadas, ditaduras e a manutenção de líderes pouco adeptos a atender as minorias, a população sempre presenciou, foi influenciada e contribuiu para a manutenção de padrões culturais homogêneos, mesmo em um Brasil tão heterogêneo.

Infere-se, portanto, que uma das dificuldades em se compreender e interpretar a sociedade brasileira está em seu âmbito cultural. Há uma dicotomia entre a dominação das camadas que impõem valores e uma variedade de camadas minoritárias que sofrem uma discriminação histórica. Além disso, a ideia de Weber que relaciona cultura e instituições contribui na identificação de um processo histórico injusto, na medida em que o Estado brasileiro sempre prezou pela continuidade de padrões culturais que prejudicam determinadas parcelas sociais, que também fizeram parte da construção do país. Desse modo, é importante que essas minorias tenham voz e que a dominação dê lugar a um espaço plural, no campo das ideias e da cultura.

Gabriel Drumond Rego - Direito matutino - Turma XXXVIII.

Weber e os desvios de conduta nas instituições.

 

À primeira vista, diferente de Durkheim, Max weber acreditava que não era possível se afastar dos fatos sociais ao analisar a sociedade, visto que as mesmas pessoas que estudam os fatos são as que os produzem. Ademais, weber também considerava impossível uma análise da cultura das sociedades sem a observação conjunta das instituições.

A partir deste modo weberiano de pensar a sociedade, é possível trilhar um caminho para entender como surgem as atitudes individuais negativas caracterizadas pelo famoso jeitinho brasileiro. Apesar do nome, este jeito não é tão brasileiro quanto se pensa (ao menos os aspectos negativos desse modo de agir), visto que desvios de conduta como peculato, corrupção ativa e passiva, concussão e outros crimes desta espécie podem ser identificados em diversas partes do mundo, tanto na esfera pública, quanto na esfera privada. O que houve foi a importação das instituições e as práticas de outros países para o Brasil. Ou seja, antes de acontecer em nosso país, este “jeitinho” teve e tem até hoje diversas nacionalidades, até a de países que são de primeiro mundo, como Japão Alemanha e Bélgica.

Outra característica do pensamento de weber é o chamado “Tipo Ideal”, que busca focar nos pares de “tipo”, ao invés da pluralidade de tipos visando compreender a sociedade. De acordo com o weber a dupla estado e mercado conseguem influir nas percepções individuais e coletivas de bem e mal, de certo e errado e de superior e inferior. Nesse quesito, no Brasil também se aplica essa racionalização das instituições visto a valorização das práticas e morais que privilegiem a eficiência, disciplina autocontrole e a o uso da racionalidade pelo mercado e pelo estado.

Em suma, fica evidente que existem pessoas no Brasil que desejam levar vantagem indevida no estado e na iniciativa privada, mas é importante ressaltar que este modo de agir não é inerente ao brasileiro. De modo avesso, o "jeitinho" tem origem nas instituições, sejam elas do Brasil ou do exterior.

Matheus Oliveira de Carvalho. 1º semestre, direito, noturno.

A influência das emissoras de televisão nas ações individuais no Brasil

Max Weber foi um intelectual, jurista e economista alemão que compreendeu a Sociologia como a ciência da realidade que busca compreender o mundo. Nessa perspectiva, Weber terá como objeto de estudo a ação social”colocando o indivíduo como ponto de partida e com a intenção de demonstrar que as ações individuais são resultadas dos valores que cercam as chamadas “instituições”. Desse modo, farei uma interpretação acerca da influência das emissoras de televisão nas ações dos indivíduos no Brasil.  

Weber retrata que a ação social sempre é movida por valores que são estipulados pelas instituições. Paralelamente, na obra “A ralé brasileira: quem é e como vive” do Jessé de Souza retrata que o indivíduo moderno é composto por duas instituições sociais, que são: o mercado competitivo capitalista e o Estado moderno centralizado. Logo, Jessé vai retrata que sem essas duas instituições não é possível a formação da sociedade moderna, consequentemente, impossibilitaria entender as ações sociais que moldam os indivíduos.  

Colocando as perspectivas que foram abordadas por esses dois autores podemos pensar que uma grande organização social moderna são as emissoras de televisão, coordenadas pela elite brasileira, que utilizam dos meios de comunicação para impor valores sociais e moldar comportamentos na sociedade. Um grande exemplo de meio de comunicação disseminador de valores são as novelas, que demonstram: o conceito de família, as tendências da modainferiorização da pessoa periférica, a colocação do trabalho exaustivo como sendo o alicerce para o sucesso, o cristianismo como a única religião, corpos que são considerados bonitos, etc. 

  Dessa forma, a influência das emissoras formou valores que são chamados por Max Weber como representação do “tipo ideal”, que basicamente é o instrumento que move a ação social e não corresponde a algo que realmente acontece, mas o que seria objetivamente possívelNessa perspectiva, é quase utópico pensar que todas as pessoas que assistem as novelas vão se enquadrar naqueles estereótipos, porém a influência exercida nas ações individuais são o que fazem permanecer enraizado os valores dissipados pelo capitalismo e por essa classe centralizadora de poderna medida que as pessoas vão passar ao longo da vida tentando ser a personificação desses valores.  

Portanto, quando Max Weber e Jessé de Souza tentam entender a ação social a partir dos valores propagados pelas instituições sociais colocando o “tipo ideal” como instrumento para compreender o objeto, dessa forma, trago o exemplo das emissoras de televisão brasileira que demonstram esses valores considerados intrínsecos ao indivíduo e na sociedade moderna.  




João Vitor Cunha Pereira - Direito noturno