Em 31/12/2019 tivemos o primeiro caso de Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus. Desde então, a doença se alastrou pelo mundo todo, ganhou o status de pandemia e até 16/08/2020, o vírus já acometeu 21 milhões de seres humanos, causando a morte de mais de 770 mil deles. Muitos são os desafios enfrentados no combate à Covid-19: falta de prudência, ignorância, maus exemplos dados pelos governantes e políticas ineficientes de combate talvez sejam os principais. Nesse contexto, é possível estabelecer uma análise do panorama da pandemia segundo a luz de Karl Marx (1818 - 1883) e Friedrich Engels (1820 - 1895), os fundadores do socialismo científico ou marxismo.
Em uma primeira análise, é nítido o fato de que as pessoas mais pobres são as mais atingidas pela doença. Seja porque não possuem, no Brasil, acesso à saúde pública de qualidade ou porque não podem realizar devidamente o isolamento social devido a motivos de trabalho, é inegável a diferença entre o impacto sofrido pelos mais abastados e pela classe trabalhadora. Segundo as ideias marxistas de uma sociedade ideal, onde o Estado cuida da saúde dos cidadãos e não a iniciativa privada (privatização da saúde), haveria um sistema de saúde gratuito, acessível a todos e de qualidade aceitável. Ou seja, algo pronto para lidar com os problemas decorrentes de uma pandemia como é a Covid-19. No Brasil podemos contar com o SUS, que apesar de ser gratuito e universal, não conta com a qualidade necessária, pois rivaliza com o modelo capitalista de saúde (convênios médicos) e acaba sucateado pelos governos atrelados aos grandes empresários que ganham muito dinheiro com esse modo privado de acesso à saúde.
Em uma segunda análise, as ideias de Marx e Engels também são aplicáveis ao analisar os diferentes modos de afetamento da pandemia sobre as pessoas. Embora tenha atingido nível global, o coronavírus afeta diferentemente os seres humanos. Por óbvio, aqueles que detém o controle dos meios de produção, no sistema capitalista, como é o do Brasil, possuem plenas condições de permanecer sãos em suas casas, isolados e protegidos dos perigo do vírus. Enquanto isso, a classe trabalhadora se encontra realizando suas atividades laborais de sempre, expondo-se ao risco da doença no transporte público e no ambiente de trabalho, por exemplo. A parte mais triste é que a burguesia possui esse privilégio justamente porque pode contar com o proletariado que, explorado através da mais-valia, garante o sustento ao patrão e não pode deixar de fazê-lo, ou perderá sua própria fonte de sustento e o que já está ruim, ficaria pior.
Ainda sob a ótica marxista, pode-se analisar a propagação do vírus. Em um mundo globalizado, intimamente conectado e ligado pelas relações capitalistas, a propagação de um vírus é facilitada. As relações comerciais abundantes entre os países capitalistas certamente foram fator determinante na disseminação do novo coronavírus. Há aqueles que culpam a ideologia socialista pela pandemia, uma vez que o vírus surgiu na China. Acontece que a China é talvez o pior exemplo de país socialista e se Marx ou Engels vivessem o bastante para presenciar o modo capitalista como a China instaurou o socialismo, certamente seriam os maiores opositores do Partido Comunista Chinês e do governo de Xi Jinping.
Diante disso, conclui-se que as vidas perdidas e famílias destruídas em decorrência da pandemia podem ser colocadas na conta do sistema capitalista de produção. O tempo vai se encarregar de evidenciar os culpados e as soluções que poderiam ser tomadas.
Mateus Restivo de Oliveira
Direito - Diurno - UNESP
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