A
razão é responsável por realizar o intermédio entre o processo
cognitivo e as manifestações sensíveis do mundo, viabilizando o
surgimento de interpretações sobre as experiências vivenciadas por
cada indivíduo.
Nesse
sentido, a realidade – para cada ser – é única, visto que sua
construção está intrinsecamente vinculada à carga empírica,
cultural e sentimental que abarca o indivíduo, e, portanto, fruto de
sua história
Isto
posto, as charges de Alexandre Beck protagonizam um fator em
consonância na vida de uma parcela majoritária da população
negra, a discriminação racial. Desse modo, em uma das tirinhas, o
personagem negro se priva de participar de uma brincadeira inocente,
em virtude do medo imposto pela presença policial na área e, em
outra, o mesmo demonstra carregar consigo uma nota fiscal de seus
pertences. As duas ações do personagem não são compreendidas por
seu colega, Dinho, o que nos permite inferir que esse fator de
consonância - presente na realidade de Camilo - não se manifesta
da vida de seu amigo.
Nesse
ínterim, o comportamento de Camilo é proveniente da racionalização
de um compilado de experiências que estão presentes em seu
cotidiano e no da população negra, condicionando sua conduta a
divergir das de seu colega. Ressalta-se que esse comportamento só é
possibilitado a partir do momento em que o indivíduo obtém contato
- de algum modo – à discriminação racial. Assim, em função da
ausência de manifestações sensíveis que, pelo intermédio da
razão, condicionam Dinho a se portar de maneira similar a Camilo,
depreende-se que partilham de realidades sociais diferentes.
Por
fim, o amigo de Camilo não se privou da racionalização do
ocorrido, apenas realizou uma interpretação alternativa da
experiência vivenciada por ambos. Assim, enquanto a resposta de
Dinho se manifesta por meio da indignação, a de seu colega se
manifesta por meio da normalização do autoritarismo, visto que se
trata de um fator recorrente, consonante em sua vida.
Caio Laprano (Direito Noturno)
Nenhum comentário:
Postar um comentário