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domingo, 24 de março de 2019

Razão e experiência: uma articulação com fins emancipatórios


Francis Banco em “Novum Organum’’ e René Descartes em sua obra “Discurso do Método’’ apresentam métodos de adquirir o verdadeiro conhecimento utilizando das faculdades da razão e da experiência.Os autores do século XVII se revelam como essenciais no desenvolvimento de uma filosofia e de uma ciência detentora de fins práticos.São considerados os pais da ciência moderna ao introduzirem uma ciência  neutra,guiada pela racionalidade e preocupada em visualizar a realidade do mundo e de suas relações, construindo um conhecimento condizente com essa ordem.
Descartes acreditava na capacidade da ciência de transformar mundos e o espaços ao redor, de alterar a realidade vigente. Para Bacon essa realidade denominada como vontade do mundo seria passível de mudanças, porém se sobreporia a vontade pessoal a qual pode ser interpretado como o agente dessa mudança.
Essa relação entre razão e experiência assim como, seu uso para modificar o status quo da sociedade constituem reflexões que não se bastam no campo teórico e reflexivo.Como intencionava Descartes, a busca por distinguir o falso do verdadeiro, o injusto do justo se embasa na racionalidade.Todavia nem sempre o que a razão nos revela é de fato posta em prática.
A razão é  inerente ao ser humano, compreendida como sua essência- definida por Descartes ,no inicio do Discurso do Método, como comum e igualmente distribuído entre os homens:

O bom senso é a coisa mais bem distribuída  do mundo:pois cada um pensa estar tão bem provido dele, que mesmo aqueles mais difíceis de se satisfazerem com qualquer outra coisa não costumam desejar  mais bom senso do que têm.Assim, não é verossímil que todos se enganem; mas, pelo contrário, isso demonstra que o poder de bem julgar e de distinguir  o verdadeiro do falso, que é propriamente o que se denomina bom senso ou razão, é por natureza igual em todos os homens; [...]

Deste modo todo ser humano é essencialmente igual, independente de particularidades da forma ou matéria, possuem razão e  partilham da mesma espécie. Por outro lado a experiência assevera que socialmente os homens não são entendidos como iguais. Na prática, em sociedade o tratamento direcionado a pessoas de pele brancas se difere excessivamente da abordagem de pessoas negras ou pretas.Na vontade do mundo, ou seja naquilo que o é de fato, encontram-se práticas de racismos e discriminação contra a população negra- uma pessoa negra inocente sente receios perante autoridades que uma pessoa não negra dificilmente sentirá.
Pessoas negras tem a muito sofrido violências por serem quem são, isso indica que nem sempre a ciência consegue atingir inteiramente os fins práticos para qual foi designada-como o caso da dialética apresentada por diversos pensadores de que todo ser humano é por essência idêntico.Diante disso, nos cabe questionar se é possível que um dia exista a vontade pessoal dentro de cada indivíduo, capaz de unificar e articular a razão e experiência, a verdadeira ciência cuja finalidade seja emancipatória apta a transformar o presente cenário de desigualdade e alcançar a emancipação do ser humano.
Lívia Aguiar (Direito Matutino)

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