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sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Por quem os sinos dobram ?


Era domingo. Logo cedo o sol já batia quente, a pele ardia. As crianças, de lá pra cá, corriam como se a juventude fosse o bem mais precioso dessa vida. Os jornais diriam que ali viviam mais de seis mil pessoas, centenas de famílias, infinitos universos. As casas, simples, demonstravam a criatividade a cima de tudo, os noticiários chamariam favela, submoradias. A falta não é perdição, é fermento aos genes da criação. Mas os olhos do outro não eram capazes de ver a beleza de Pinheirinhos. Era domingo. Logo cedo o sol já batia, junto com a polícia. Cada universo ali presente desabou, junto com suas casas. O que ocorria chamariam de direito, devido processo legal, chamariam de justiça. Mas justiça já era uma ideia velha, nada mais representava. A luta de cada dia tornara-se, naquele silencioso domingo, a luta de suas vidas, por suas vidas. A vitória era uma ilusão necessária. A luta era, na verdade, uma tentativa que em vão sublimava. De um lado a força de um Estado e seu exército da coerção social, do outro indivíduos desamparados, esquecidos. Homens lutando contra homens. Alguém escreveu uma vez que quando um homem mata outro, de fato estaria matando toda a sociedade. Mas quando destroem toda uma comunidade, do que chamar ?
Muitos domingos se passaram. As crianças, não mais crianças, não mais correndo de lá pra cá, suas almas, tão cedo calejadas, marcadas pelo sol, nunca esquecerão o ocorrido. Mas não importa, não importa mais. Porque muitos domingos se passaram e o resto da população esqueceu o… onde mesmo ? Ah, o caso de Pinheirinhos ! Não era um pessoal que invadiu as terras de um empresário ? Um absurdo, esses vagabundos !
As pessoas vão assumindo papéis em suas vidas, adotando ideias, discursos. Acreditam pertencer a algo maior, a uma classe. E consomem o que a classe deve consumir e falam o que a classe deve falar. E cada um fica preso a um rótulo e a um preço. E a questão que fica, então, é por quem os sinos dobram ?

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