Era
domingo. Logo cedo o sol já batia quente, a pele ardia. As crianças,
de lá pra cá, corriam como se a juventude fosse o bem mais precioso
dessa vida. Os jornais diriam que ali viviam mais de seis mil
pessoas, centenas de famílias, infinitos universos. As casas,
simples, demonstravam a criatividade a cima de tudo, os noticiários
chamariam favela, submoradias. A falta não é perdição, é
fermento aos genes da criação. Mas os olhos do outro não eram
capazes de ver a beleza de Pinheirinhos. Era domingo. Logo cedo o sol
já batia, junto com a polícia. Cada universo ali presente desabou,
junto com suas casas. O que ocorria chamariam de direito, devido
processo legal, chamariam de justiça. Mas justiça já era uma ideia
velha, nada mais representava. A luta de cada dia tornara-se, naquele
silencioso domingo, a luta de suas vidas, por suas vidas. A vitória
era uma ilusão necessária. A luta era, na verdade, uma tentativa
que em vão sublimava. De um lado a força de um Estado e seu
exército da coerção social, do outro indivíduos desamparados,
esquecidos. Homens lutando contra homens. Alguém escreveu uma vez
que quando um homem mata outro, de fato estaria matando toda a
sociedade. Mas quando destroem toda uma comunidade, do que chamar ?
Muitos
domingos se passaram. As crianças, não mais crianças, não mais
correndo de lá pra cá, suas almas, tão cedo calejadas, marcadas
pelo sol, nunca esquecerão o ocorrido. Mas não importa, não
importa mais. Porque muitos domingos se passaram e o resto da
população esqueceu o… onde mesmo ? Ah, o caso de Pinheirinhos !
Não era um pessoal que invadiu as terras de um empresário ? Um
absurdo, esses vagabundos !
As
pessoas vão assumindo papéis em suas vidas, adotando ideias,
discursos. Acreditam pertencer a algo maior, a uma classe. E consomem
o que a classe deve consumir e falam o que a classe deve falar. E
cada um fica preso a um rótulo e a um preço. E a questão que fica,
então, é por quem os sinos dobram ?
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