O espírito do capitalismo está muito além do consumo em
excesso, o que, na verdade, nem o define axiologicamente. A inovação desse
sistema foi uma comunhão de aspectos diversos que racionalizaram a vida e
principalmente a economia- termo que antes nem poderia ser utilizado como o é
hodiernamente por simplesmente ser muito mais um sistema de trocas do que
monetário. O mercantilismo, berço do capitalismo, é que traz a moeda, a ideia
de moeda.
Como o sistema dinâmico e “caleidoscópico” que é- no sentido
de conseguir combinações variadas agradáveis aos olhos, agradáveis superficialmente-, o capitalismo acaba
desfigurando estigmas sociais, e um milênio de costumes e crenças. Transfigura
papéis sociais, cria a instituição familiar (a faz um mercado consumidor) e
prioriza a racionalidade. E este é o ponto culminante do sistema: a vida passa
a ser analisada alienada do ser, como se os sentimentos trouxessem uma carga
negativa, que afetaria a realidade, a produtividade e a ética. Desse modo foi
criada uma nova atmosfera, onde houve uma reestruturação e nova compreensão da
vida e de seus vieses. Surgem então os maiores entraves ao desenvolvimento da
sociedade como “ser humano”, “ser
pensante”, “ser vivo”. A doença, a justiça, a felicidade e o amor passam
para o segundo plano de importância, transmutam-se em coisas concretas,
inexistentes, inalcançáveis e inexplicáveis pelo fato de serem abstratos por excelência.
O homem passa a perder sua essência, suas paixões, em troca de
bugigangas tecnológicas, gasta seu tempo trabalhando em coisas que detesta para
comprar coisas que não precisa. Perde-se da poesia do dia-a-dia, os pequenos
prazeres, e se não os temos pra que vivemos? A arte distancia-se cada vez mais,
a superficialidade nas relações permeia por todos os lados. A felicidade é
alcançada com produtos.
Brota uma dialética dentro do homem: a emoção e a razão estão
em combates intermináveis, enquanto a razão propõe esse engessamento social,
esse distanciamento que nos faz esquecer que todas as pessoas e inclusive nós
mesmos não somos robôs, somos vivos.
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