Em “A ‘objetividade’ do conhecimento na ciência social e na
ciência política”, texto de 1904 que trata da orientação do periódico “arquivo para ciência social e ciência
política”, Max Weber explica sua concepção de como deve se guiar o estudo
social. Assim, trata de diversos assuntos, como a utilização dos chamados “tipos
ideais” como método para a análise sociológica, os tipos possíveis de ação
social (que são quatro: ação racional com relação a um objeto, ação racional
com relação a um valor, ação afetiva ou emocional e ação tradicional) e critica
os estudiosos que têm como fim a criação de leis que expliquem e prevejam as
ações sociais, defendendo que elas devem servir apenas como um dos passos
necessários para uma análise sociológica completa.
Mas uma das principais ideias que permeia o texto, e muitas
vezes envolve as demais, é a crítica ao dogmatismo nas ciências sociais,
especialmente ao “determinismo econômico” da análise marxista, ou do
materialismo histórico. Afirma expressamente que é preciso rejeitar a concepção
materialista da história, e isso porque essa corrente de pensamento busca
explicar todo e qualquer fenômeno social como decorrente de condições econômicas.
De acordo com o autor, os defensores dessa concepção “passam a se contentar com
as hipóteses mais frágeis e com as formulações mais genéricas, pois já foi
satisfeita a sua necessidade dogmática, segundo a qual as ‘forças’ econômicas são
as únicas causas ‘autênticas’, ‘verdadeiras’ e ‘ sempre determinantes em última
instância’”. E “Às vezes, considera tudo aquilo que, na realidade histórica,
não pode ser deduzido a partir de motivos econômicos como algo que, por
isso mesmo, seria ‘acidental’ e,
portanto, cientificamente insignificante.”
Um exemplo desse dogmatismo está
no pensamento do jurista russo Yevgeniy Bronislavovich Pachukanis, que explica
o direito ocidental e sua busca por liberdade e igualdade a partir da lógica
capitalista: “Esses dois princípios explicam-se pela estrutura do sistema
capitalista. Como as mercadorias são trocadas igual por igual, no capitalismo
todos devem ser iguais para poder trocar as mercadorias igual por igual. Além
disso, no capitalismo o trabalhador explorado não é constrangido a trabalhar,
(...) deve procurar com a própria iniciativa os patrões exploradores, pedindo
emprego. Por isso, o direito garante a liberdade de todos”¹. É a esse tipo de
explicação que parece absurda que Weber se refere quando afirma que o conceito
de econômico é ampliado até a desfiguração. Na verdade, defende o autor, nem
todos os fenômenos sociais são
determinados por causas econômicas. Há toda uma variedade de valores que movem
as ações das pessoas. Há motivos religiosos, filosóficos, psicológicos,
políticos e culturais por trás das mais diversas atitudes, tomadas nos mais
diversos contextos.
E dessa forma, defendendo uma
visão menos determinista e mais complexa da realidade social, que Weber faz
apologia da objetividade nos estudos sociais e políticos, não de modo a despir
o estudioso de seus valores e concepções, mas de modo a compreender a realidade
social pelo que ela realmente é, e não pelo que se acredita que deveria ser. É
um trabalho comparável ao de um antropólogo que faz uma pesquisa de campo com o
objetivo de analisar uma cultura diferente de acordo com os valores nela
presentes, e não com os seus valores pessoais, mesmo que estes continuem fortes
em sua mentalidade.
¹DIMOULIS,
Dimitri. Manual de Introdução ao Estudo do Direito. 4° ed. São Paulo; Editora
revista dos tribunais, 2011
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