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sexta-feira, 22 de junho de 2012

O mal do determinismo



Em “A ‘objetividade’ do conhecimento na ciência social e na ciência política”, texto de 1904 que trata da orientação do  periódico “arquivo para ciência social e ciência política”, Max Weber explica sua concepção de como deve se guiar o estudo social. Assim, trata de diversos assuntos, como a utilização dos chamados “tipos ideais” como método para a análise sociológica, os tipos possíveis de ação social (que são quatro: ação racional com relação a um objeto, ação racional com relação a um valor, ação afetiva ou emocional e ação tradicional) e critica os estudiosos que têm como fim a criação de leis que expliquem e prevejam as ações sociais, defendendo que elas devem servir apenas como um dos passos necessários para uma análise sociológica completa.
Mas uma das principais ideias que permeia o texto, e muitas vezes envolve as demais, é a crítica ao dogmatismo nas ciências sociais, especialmente ao “determinismo econômico” da análise marxista, ou do materialismo histórico. Afirma expressamente que é preciso rejeitar a concepção materialista da história, e isso porque essa corrente de pensamento busca explicar todo e qualquer fenômeno social como decorrente de condições econômicas. De acordo com o autor, os defensores dessa concepção “passam a se contentar com as hipóteses mais frágeis e com as formulações mais genéricas, pois já foi satisfeita a sua necessidade dogmática, segundo a qual as ‘forças’ econômicas são as únicas causas ‘autênticas’, ‘verdadeiras’ e ‘ sempre determinantes em última instância’”. E “Às vezes, considera tudo aquilo que, na realidade histórica, não pode ser deduzido a partir de motivos econômicos como algo que, por isso  mesmo, seria ‘acidental’ e, portanto, cientificamente insignificante.”
Um exemplo desse dogmatismo está no pensamento do jurista russo Yevgeniy Bronislavovich Pachukanis, que explica o direito ocidental e sua busca por liberdade e igualdade a partir da lógica capitalista: “Esses dois princípios explicam-se pela estrutura do sistema capitalista. Como as mercadorias são trocadas igual por igual, no capitalismo todos devem ser iguais para poder trocar as mercadorias igual por igual. Além disso, no capitalismo o trabalhador explorado não é constrangido a trabalhar, (...) deve procurar com a própria iniciativa os patrões exploradores, pedindo emprego. Por isso, o direito garante a liberdade de todos”¹. É a esse tipo de explicação que parece absurda que Weber se refere quando afirma que o conceito de econômico é ampliado até a desfiguração. Na verdade, defende o autor, nem todos os fenômenos sociais  são determinados por causas econômicas. Há toda uma variedade de valores que movem as ações das pessoas. Há motivos religiosos, filosóficos, psicológicos, políticos e culturais por trás das mais diversas atitudes, tomadas nos mais diversos contextos.
E dessa forma, defendendo uma visão menos determinista e mais complexa da realidade social, que Weber faz apologia da objetividade nos estudos sociais e políticos, não de modo a despir o estudioso de seus valores e concepções, mas de modo a compreender a realidade social pelo que ela realmente é, e não pelo que se acredita que deveria ser. É um trabalho comparável ao de um antropólogo que faz uma pesquisa de campo com o objetivo de analisar uma cultura diferente de acordo com os valores nela presentes, e não com os seus valores pessoais, mesmo que estes continuem fortes em sua mentalidade.

¹DIMOULIS, Dimitri. Manual de Introdução ao Estudo do Direito. 4° ed. São Paulo; Editora revista dos tribunais, 2011

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