No tocante ao pensamento centrado em como avaliar os métodos de se conhecer o mundo em sua essência o mais verdadeira possível, como puder o ser humano, apresenta-se a nós aquilo que costuma-se chamar “fato social”. E a partir desse conceito Durkeheim expande sua idéias relativas ao estudos empíricos.
Está mais do que claro ser o homem alvo de estímulos diversos provenientes de tudo o que há ao seu redor. Sejam eles visíveis ou não. Entretanto, alguns desse estímulos são completamente discerníveis por se tratarem de fenômenos tipicamente humanos, e é esses que compõe o “fato social”. Visto ser o homem um ser tipicamente social , está inserido num contexto onde relaciona-se intensamente com seus semelhantes, e por isso existe uma espécie de influência mútua que por vezes parece ser muito sutil, mas é muito poderosa. Essa é a influência do grupo. Como se nota, grupos diferentes tendem a ter características diferentes. As influências, portanto, são também diferentes. Podemos entender essas manifestações como parte do conjunto cultural do grupo.
Se consideramos a cultura desse grupo como seu elemento mais poderoso, é imperativo também inferir que um indivíduo que se insira no contexto onde prevalece essa cultura, com o tempo, virá a ser por ela dominado. Seria quase impossível que assim não o fosse. Determinados elementos de um conjunto social são imprescindíveis de ser assimilados por todos para que haja uma convivência razoável. Uma convivência possível, acima de tudo. Com efeito, alguém que se aventurasse em falar uma língua desconhecida entre os seus não lograria muito êxito...
Contudo, podemos pensar que existe outra ordem de fenômenos que decerto podem ser “manipulados” pelo indivíduo, que decidiria servir-se deles ou não. Mas eis que surge um entrave a tal idéia. Imagine-se o caso da moda, que serve bem de exemplo por ser geral o bastante. Apesar de a pessoa poder acreditar-se no pleno domínio do que veste, ela não ousa diferir muito daquilo que comumente se veste em sua sociedade. Raras são as exceções, que ainda assim, mesmo sendo rebeldes em alguns pontos, submetem-se em outros. Daí que podemos concluir não existir propriamente dita uma vontade totalmente individual, alheia a quaisquer influência exteriores. Um indivíduo em sociedade necessariamente partilha das idéias dela. São os “fatos sociais” que determinam como um indivíduo será modelado.
Mas então, para que a pessoa não seja tragada pela avalanche de influências que a cercam, deve ela tentar ser mais ativa quanto aquilo que ela deixa-se assimilar. E isso pode ser feito pela análise criteriosa dos fenômenos que a rodeiam. É nesse momento que torna-se imprescindível o abandono de suas próprias idéias em favor da observação fria. Será necessário o abandono daquilo que até então ela entendeu como correto, pois que esse entendimento deriva de uma educação social generalizada e não raro equivocada. Precisará ela despir-se do substrato passional que carrega, execrar suas pré-noções como se fossem espectros de um mundo há muito esquecido. É necessário a capacidade de reinventar-se. E fazendo isso, estará fazendo ciência, a sua própria ciência, aquela que aplicará em sua vida com proveito próprio, e não uma ciência embasado numa retórica estúpida, eloqüente em sua própria ignorância. O indivíduo, para não ser cego, deve criar para si uma ciência que lhe sirva de luz quando a escuridão o ameaçar.
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