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sábado, 29 de março de 2025

Positivismo, uma problemática, mas totalmente incorreta?

 Auguste Comte é considerado o primeiro sociólogo, foi responsável por classificar a Sociologia enquanto ciência, ainda que como tradicional positivista que é, propôs também uma única forma de se produzir ciência sociológica. O Positivismo de Comte se pautava principalmente em sua Teoria dos 3 Estados e na ideologia “ordem e progresso”.

Quanto a famigerada frase, presente na bandeira brasileira, Auguste entendia que o progresso era algo natural da sociedade e que esta só poderia atingir tal objetivo por meio do progresso, de uma harmonia social. Unido ao conceito da naturalidade do progresso, desenvolveu a Teoria dos 3 Estados, que postulava uma sequência fixa e certa para atingir justamente aquilo que se considerava progresso.

Notável a problemática de uma sequência obrigatória para o desenvolvimento de cada sociedade, ao assumir essa noção como verdadeira, se entenderia que certas sociedades são superiores a outras, em especial, ao contexto de Comte, isso seria uma forma de legitimar uma dominação na América, na qual os povos originários teriam um “menor grau de desenvolvimento”. Entretanto, ainda que se note a incoerência desse pensamento, as formas de pensar de cada Estado de fato existem, mas ao invés de pensá-las como sequenciais, as 3 formas existem e se mantem concomitantemente.

“Ordem e Progresso”, por sua vez, é passível de grande reflexão, inicialmente pela concepção de ordem estabelecida pelo sociólogo, que é deveras estamental, atribuída a uma harmonia social, porém o que fica implícito nessa forma de pensar, é que não haveria a possibilidade de qualquer ascensão social, que por si só é uma das postulações do modo de produção capitalista. Por mais que se possa questionar a forma que o capitalismo promove ascensão social, inegável que em poucos casos ela existe, mas para Comte, isso implicaria em uma sociedade doente e, portanto, incapaz de seguir ao progresso. Outra problemática é a própria ideia de progresso, o que seria o progresso? Para a concepção positivista, novamente surge a problemática de uma ideia muito enraizada e dotada de extremismo. 

Observando com um olhar um tanto quanto mais contemporâneo e reinterpretando essa frase (ordem e progresso), ainda que com o risco de anacronismo, me arrisco a dizer que nem tudo é de fato errôneo. O progresso sequer precisa ser entendido, deve ser um ideal a ser alcançado, não necessariamente um ideal comum para todas as pessoas do mundo, mas assim como a Constituição de 1988 se pauta em um “deve ser”, o que impediria o progresso de representar o mesmo, ainda que de forma menos extrema. Quanto a harmônia social e quando ela se quebra o caminho para o progresso, me dou a licença de concordar discordando, discordo de sua concepção de harmônia, creio que algo harmônico não é estamental, mas fluído, principalmente a se tratar de pessoas. Mas concordo com partes como a ausência dela impede o progresso, os 3 Poderes são fundamentais no sistema estatal brasileiro, imaginemos por um instante que algum dos 3 poderes passe a extrapolar sua competência ao ponto que os demais não possam regulá-lo, assim, estaria posta a corrupção do sistema e carrega consigo a impossibilidade de atingir um ideal posto pela sociedade, de qualquer forma, assim como também defendido por Comte, apenas a própria sociedade pode se curar quando se encontra doente. Portanto, cabe a nós mesmos nos regularmos enquanto pessoas sociais e políticas.


Um comentário:

  1. Ulisses, acho que você absorveu o que se quer nestes textos: reflexão sobre os postulados clássicos (Comte, entre eles), observação da realidade contemporânea e a medida daquilo que pode ou não aproveitar aos nossos tempos. Siga firme nesta jornada. Um abraço, Alexandre.

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