A
solidariedade apresenta-se como um valor ético debatido desde o iluminismo.
Este termo é citado nas obras de Rosseau, segundo ele, a solidariedade possui o
poder de manter unido o coletivo, composto por indivíduos isolados. O conceito
será abordado posteriormente por Durkheim na obra “Da Divisão do Trabalho
Social”, classificando-o em dois grupos: Solidariedade Mecânica e Solidariedade
Orgânica. Assim, com o intuito de compreender a diferença dos termos sob a
perspectiva durkheimiana, tratarei de um tema relevante no contexto trabalhista
brasileiro atual; as mudanças nas relações de trabalho, com base na teoria do
sociólogo francês.
As
transformações do trabalho:
“A divisão
social do trabalho é a fonte principal da solidariedade.” Este trecho resume
brevemente a ideia que Durkheim trouxe referente ao trabalho, nota-se que após
a Revolução Industrial a repartição do trabalho tomou outra forma. Enquanto
anteriormente as funções eram semelhantes, e a homogeneidade tanto no
pensamento como nos empregos predominava, a posteriori, com o aumento
exponencial da população nos centros urbanos, a coesão social tomou como
características predominantes a interdependência das funções e a multiplicidade
de opiniões entre os indivíduos. Assim, Durkheim denominou o sistema social
preambular à revolução de Solidariedade Mecânica e o que se destaca na
atualidade, a Solidariedade Orgânica.
A
solidariedade orgânica e a situação brasileira no âmbito trabalhista:
Com o
objetivo de entender a solidariedade orgânica com maior profundidade, pode-se
utilizar o exemplo citado pelo próprio Durkheim assemelhando-a com a de um
corpo biológico, o qual depende de todos os órgãos para manter-se coeso. Assim,
cada um desempenha sua função com base em sua especialidade, sendo conectados
por uma rede de interdependência, porém cada um em sua autonomia individual e dependentes
da coletividade. No cenário brasileiro, com as rápidas transformações
tecnológicas, um termo em alta é a “Uberização” do trabalho, este
conceito tem sido utilizado como tema de pesquisa aos cientistas sociais
contemporâneos. Segundo o sociólogo Ricardo Antunes: “Uberização”, uma derivação do
nome da plataforma de transportes Uber, é empregado como um processo no qual as
relações de trabalho são cada vez mais individualizadas e invisibilizadas,
sendo o assalariamento e a exploração cada vez mais encobertos”. Sob a ótica da
Solidariedade Orgânica, a “Uberização” do trabalho remete a maior
individualidade e autonomia, bem como destaca o quão a interdependência está
presente, pois, o motivo da alta desses serviços é justamente a praticidade ofertada aos
consumidores, sendo um exemplo de como a tese de Durkheim manifesta-se na atualidade. Ademais, cabe ressaltar os impactos negativos da “Uberização”.
Em conformidade a citação de Ricardo Antunes, ressalta-se a precarização do
trabalho decorrente da informalidade que é característica marcante desses
serviços. Os trabalhadores ao não possuírem um contrato formal, não podem gozar
de benefícios, seguros e indenizações por acidentes durante o horário de
trabalho. Outrossim, a dependência das plataformas pode gerar uma pressão
constante para sempre estar ativo e disponível, causando assim, queda na
qualidade de vida.
A natureza informal das relações de
trabalho oriundas da “Uberização”, revisita o quanto é necessária uma
legislação para proteger os direitos dos trabalhadores a fim de trazer maior
segurança e estabilidade emocional. Conclui-se, portanto, a importância de
legitimar leis com o intuito de garantir o equilíbrio entre a autonomia vinda
da solidariedade orgânica e a proteção dos direitos trabalhistas.
Demetrius Silva Barbosa, 1 ano Matutino.
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