A suprema consistência do racismo é notória desde o período das Grandes Navegações onde negros eram discriminados e escravizados pelos colonizadores por serem considerados uma raça inferior. No âmbito da contemporaneidade, a sociedade ainda é alvo de tal conceito primitivo, concomitantemente, a mesma sofre uma forte segregação sociocultural que está enraizada nos modelos de sociedade e no cotidiano dos indivíduos. Nessa perspectiva, a obra “Memórias da Plantação”, da escritora Grada Kilomba, traz uma visão interessante acerca do racismo e da falta de poder e voz que os negros possuem nas esferas sociais, econômicas, culturais e políticas.
Em
seu livro, Kilomba aborda questões relacionadas a memória coletiva e ao legado
do colonialismo que sempre buscou inferiorizar o colonizado e exaltar a raça
europeia e a sua branquitude, explorando como as estruturas de poder e as
narrativas dominantes perpetuam formas de opressão e desigualdade até os dias
atuais. Sob esse viés, a corrente filosófica positivista, apesar de não
defender o racismo de forma direta, contribuiu para a disseminação de ideias
discriminatórias, visto que, o pensamento criado por Auguste Comte, propõe uma
abordagem baseada na observação empírica e na aplicação do método científico
para compreender o mundo e suas leis, tendo como uma de suas principais
características a ênfase na objetividade e nas normas universais que regem os
fenômenos naturais e sociais.
Todavia,
essa abordagem muitas vezes levou a interpretações distorcidas e
pseudocientíficas sobre raça e biologia. Ele também alimentou a ideia de
hierarquias raciais, sustentando a crença na superioridade de certas raças em
relação a outras. Essa concepção hierárquica, baseada em critérios científicos
distorcidos, foi utilizada para justificar a exploração, a discriminação e a
opressão de grupos étnicos considerados "inferiores" pelas teorias
racistas. No contexto
colonial, as ideias positivistas foram utilizadas para justificar a dominação e
exploração de povos colonizados. A visão eurocêntrica do positivismo contribuiu
para a legitimação do colonialismo, que se baseava na suposta superioridade
civilizacional e cultural das potências colonizadoras em relação aos povos
colonizados.
Portanto,
fica evidente que as consequências do racismo são profundas e impactam tanto as
vítimas diretas quanto a sociedade como um todo. No âmbito individual, o
racismo pode levar a problemas de autoestima, ansiedade, depressão e traumas
psicológicos. Ele também contribui para a reprodução de desigualdades
socioeconômicas, afetando o acesso a emprego, educação de qualidade, moradia
digna e cuidados de saúde.
Dessa
forma, o positivismo prejudica a visão da sociedade em entender e reconhecer as
pautas raciais como essenciais para a superação da problemática, pois, apesar
do método desenvolvido por Comte buscar eliminar preconceitos e subjetividades,
priorizando a objetividade e a neutralidade na investigação científica, isso
não é possível em uma sociedade desigual onde os privilégios da elite prevalecem
em todos os ramos. Desse modo, o pensamento positivista não se enquadra nas
esferas sociais, visto que, a parte mais evidente da nossa sociedade é a desigualdade,
e adotar um conceito universal de que vivemos em um mundo igualitário e justo
seria como ignorar as lutas sociais e de classes que fazem parte da nossa
história desde os primórdios.
Vitória Maria Brigante Nordi, 1º ano Direito – Matutino, RA: 241223989
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