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sexta-feira, 22 de março de 2024

A corrente positivista no âmbito racial

A suprema consistência do racismo é notória desde o período das Grandes Navegações onde negros eram discriminados e escravizados pelos colonizadores por serem considerados uma raça inferior. No âmbito da contemporaneidade, a sociedade ainda é alvo de tal conceito primitivo, concomitantemente, a mesma sofre uma forte segregação sociocultural que está enraizada nos modelos de sociedade e no cotidiano dos indivíduos. Nessa perspectiva, a obra “Memórias da Plantação”, da escritora Grada Kilomba, traz uma visão interessante acerca do racismo e da falta de poder e voz que os negros possuem nas esferas sociais, econômicas, culturais e políticas.

Em seu livro, Kilomba aborda questões relacionadas a memória coletiva e ao legado do colonialismo que sempre buscou inferiorizar o colonizado e exaltar a raça europeia e a sua branquitude, explorando como as estruturas de poder e as narrativas dominantes perpetuam formas de opressão e desigualdade até os dias atuais. Sob esse viés, a corrente filosófica positivista, apesar de não defender o racismo de forma direta, contribuiu para a disseminação de ideias discriminatórias, visto que, o pensamento criado por Auguste Comte, propõe uma abordagem baseada na observação empírica e na aplicação do método científico para compreender o mundo e suas leis, tendo como uma de suas principais características a ênfase na objetividade e nas normas universais que regem os fenômenos naturais e sociais.

Todavia, essa abordagem muitas vezes levou a interpretações distorcidas e pseudocientíficas sobre raça e biologia. Ele também alimentou a ideia de hierarquias raciais, sustentando a crença na superioridade de certas raças em relação a outras. Essa concepção hierárquica, baseada em critérios científicos distorcidos, foi utilizada para justificar a exploração, a discriminação e a opressão de grupos étnicos considerados "inferiores" pelas teorias racistas. No contexto colonial, as ideias positivistas foram utilizadas para justificar a dominação e exploração de povos colonizados. A visão eurocêntrica do positivismo contribuiu para a legitimação do colonialismo, que se baseava na suposta superioridade civilizacional e cultural das potências colonizadoras em relação aos povos colonizados.

Portanto, fica evidente que as consequências do racismo são profundas e impactam tanto as vítimas diretas quanto a sociedade como um todo. No âmbito individual, o racismo pode levar a problemas de autoestima, ansiedade, depressão e traumas psicológicos. Ele também contribui para a reprodução de desigualdades socioeconômicas, afetando o acesso a emprego, educação de qualidade, moradia digna e cuidados de saúde.

Dessa forma, o positivismo prejudica a visão da sociedade em entender e reconhecer as pautas raciais como essenciais para a superação da problemática, pois, apesar do método desenvolvido por Comte buscar eliminar preconceitos e subjetividades, priorizando a objetividade e a neutralidade na investigação científica, isso não é possível em uma sociedade desigual onde os privilégios da elite prevalecem em todos os ramos. Desse modo, o pensamento positivista não se enquadra nas esferas sociais, visto que, a parte mais evidente da nossa sociedade é a desigualdade, e adotar um conceito universal de que vivemos em um mundo igualitário e justo seria como ignorar as lutas sociais e de classes que fazem parte da nossa história desde os primórdios.

 

Vitória Maria Brigante Nordi, 1º ano Direito – Matutino, RA: 241223989

 

 

 

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