Para Descartes, todo ser humano tem igual
capacidade de pensar racionalmente e, sendo assim, a pluralidade de conclusões
provêm do fato de consideramos diferentes coisas e caminhos. No entanto- tal
qual na Escolástica- na maioria esmagadora das escolas brasileiras o professor
se apresenta como detentor dos saberes, cabendo ao aluno a assimilação passiva
das informações. Existe, portanto, uma hierarquia entre professor e aluno, onde
o educador é colocado como ‘’o mais racional’’.
Ademais, os alunos também são hierarquizados entre ‘’bons’’ e ‘’ruins’’
através de critérios de avaliação pautados na memorização de conteúdo. Isso
fica claro nas reuniões de pais e nas entregas de avaliações, quando os alunos
que obtêm as maiores notas são tratados como ‘’exemplares’’.
Nesse cenário
antipedagógico, não há estimulo aos diversos tipos de inteligência, como a
musical ou artística e nem as ''diversas razões''. Devido à perda de dúvidas preciosas- dado o escasso
espaço para o debate- formamos indivíduos com uma visão unilateral de mundo,
acríticos- por exemplo- ao teor eurocêntrico do currículo escolar. Além de ofuscar o princípio
cartesiano da dúvida, as escolas costumam ocultar a aplicação prática do
conhecimento: ‘’para que serve essa matéria? Como posso aplica-lo no meu dia a
dia?’’. As respostas para essas perguntas desanimam o estudante, pois as fórmulas
de física, as equações matemáticas, as unidades de relevo e os fatos históricos servem aparentemente apenas para passar na prova e não como bases para a inovação do saber.
Do colégio à universidade,
o cenário não se altera tanto. Na faculdade também nos deparamos com os alunos ‘’geniais’’ que, em diversos casos, apenas reproduzem discursos de senso comum. Com relação
ao princípio da dúvida, o meio acadêmico se polariza: marxistas de um lado e
neoliberais de outro, sem que haja um diálogo entre eles, posto que ambos os
lados possuem a convicção de que detêm a verdade absoluta. Já a aplicação prática
do conhecimento fica, muitas vezes, em segundo plano pois o saber é colocado a serviço da vaidade de alguns. Trata-se, claramente, do conhecimento especulativo
semelhante à Escolástica e tão criticado no ‘’Discurso do método’’.
Diante das linhas gerais do panorama brasileiro de ensino, percebe-se que a consequência de dialogarmos mais com um modelo autoritário e padronizador de construção do conhecimento não é apenas a formação de uma menor quantidade de cientistas do que temos potencial, mas também a formação de sujeitos avessos a realidade social. Isto é, nos traz prejuízos em termos de transformações técnico- científicas e, principalmente, político- sociais.
Juliana Inácio- 1 ano direito (noturno)
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