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domingo, 6 de abril de 2025

O Positivismo é incompatível com “Desenvolvimento Social” - Uma análise a partir da perspectiva das Cotas Trans

Pedro Duarte Silva Sinicio Abib - DIREITO NOTURNO

Augusto Comte em sua teoria positivista trata da Física Social, inaugurando a sociologia, analisada como uma ciência natural, com metodologias empíricas e organizada em princípios das ciências biológicas. Com sua teoria ele pretendia encontrar e entender as leis universais e invariáveis da sociedade, estabelecer uma ciência “imparcial” e “neutra”, e criar uma racionalidade única, pautada nos lemas da Ordem e do Progresso, mas qual seria essa ordem?, a quem ela serve?, e o que é realmente esse ideal de progresso? 

A partir da análise de Kilomba, sobre o racismo e a exclusão dentro do meio acadêmico, podemos chegar a importantes conclusões e assimilações. A verdade é que essa ordem estabelecida por Comte serve a um projeto claro e estabelecido, o projeto político Burguês, visando a manutenção estagnada dos privilégios por eles adquiridos e o ataque a qualquer um que fuja à normalidade. O progresso deve ocorrer dentro de um determinado equilíbrio e círculo, sem fugir às regras ditadas pela classe dominante, que não se importará de ir contra seus próprios lemas e ser reacionária caso esse “progresso” fuja de seu controle. Nesta sociedade, a que vivemos hoje, o anormal é constantemente hostilizado e silenciado por sair da “ordem”, ignorando qualquer luta em uma tentativa conservadora e nada desenvolvimentista de manter o “equilíbrio”, abandonando a “ciência imparcial", e classificando qualquer interpretação, tema ou metodologia diferente como parcial ou subjetiva, e consequentemente inválida, uma vez que não se enquadra dentro da racionalidade única imposta por sua base epistemológica.

Partimos então para uma análise mais empírica, a partir do anúncio de que seria adotado o sistema de reservas de vagas, as cotas, para pessoas Trans e não-binárias na UNICAMP, fato que rendeu enorme repercussão na internet e na política, com numerosas críticas preconceituosas. Ao analisar o ocorrido, percebemos alguns fenômenos derivados dessa visão positivista. De início, percebemos a associação do fenômeno a problemas exclusivamente biológicos - historicamente, sempre que fenômenos sociais foram reduzidos a biologia,como prevê o Positivismo, o resultado foi invariavelmente o Racismo, e agora, nesta nova associação, resulta em Transfobia -, ignorando por exemplo, ao alegar que a causa seja apenas “biológica”, o fato de 90% da população trans sobreviver da prostituição, escrachando o caráter claramente social do problema e da medida, que provavelmente criará acadêmicos e os tirará deste futuro marginalizado. A última frase, nos leva ao outro ponto levantado por Kilomba, que é a intenção do academicismo de não aceitar em seus centros a população marginalizada e que foge da “normalidade” imposta por seu projeto projeto, impedindo que o subalterno seja de fato ouvido, silenciando sistematicamente suas vozes e impedindo medidas reais de resistência, classificando o seu possível acesso ao centros de estudo, como “injusto”, ou alegando a falta da famosa “meritocracia”, que nunca de fato existiu e apenas serve para a manutenção da produção de conhecimento branco e excludente.

Percebe-se, então, que os métodos científicos não contêm qualquer neutralidade e que a sociologia positivista, pautada em uma ideia desenvolvimentista, não tem qualquer intenção de caminhar ao lado do desenvolvimento social, e na verdade apenas serve como desculpa para que a ordem posta ignore outras realidade, ataque aqueles que fogem de sua dita “normalidade” e continue a impedir qualquer avanço real da população marginalizada em todas as suas esferas.


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