Considero esta pergunta um tanto quanto interessante, fato é que o mundo parece estar em um completo caos, guerras, tensões entre potências, ascensão de uma extrema direita, negacionismo, luta por direitos, mudanças climáticas. Tudo isso nos induz a pensar que vivemos em um mundo fora de ordem, mais que isso, talvez nos leve ao pensamento de que estamos vivendo o fim do mundo. Entretanto, me entrego a licença poética de discordar dessas premissas.
Partirei da concepção de que a logística atual, é por formação, pensada para ser assim, uma realidade conflitante e desordenada, que acaba por manter o status quo e, por conseguinte, manter a elite no topo e os demais em “seus devidos lugares”. Antes de qualquer continuidade de raciocínio, deve se questionar a própria frase motivadora, “ordem” é por si só um termo passível de questionamentos, entendendo que tem sua origem muito pautada no positivismo. Feito esse breve comentário provocativo, retornemos a premissa anterior. Um mundo pautado em conflito pode ser interessante para a manutenção de um status quo, pois este direciona a atenção das massas justamente para essas pautas, enquanto os interesses reais são movidos com mais tranquilidade, na política é a famosa cortina de fumaça.
Quanto ao fim do mundo, tema presente na palestra, é possível notar que divide opiniões, mas consenso é que a esperança não se esvai, talvez por nosso instinto natural de sobrevivência, mesmo nas piores situações, tendemos a nos apegarmos em pequenas melhoras para seguirmos acreditando. Ao afirmarmos que estamos no fim do mundo, somos incrivelmente tendenciosos, pois se algum mundo está acabando é o nosso mundo social a forma que o conhecemos, o planeta em si, transcende a humanidade e continuará até depois de nós, mas um mundo realmente digno e passível de se viver, pode estar sim seriamente ameaçado, de fato a esperança deve seguir, mas não é com esse sentimento que se reverte um caminho natural de catástrofe. As mudanças climáticas são naturais e a humanidade não se ajuda ao acelerar esse processo, quase como que pedindo para ser extinta.
Exposto isso, digo de forma um tanto quanto excêntrica que o mundo não está acabando, porque se aceitarmos isso ele de fato terá se findado. Quanto a ordem… partirei de uma visão semelhante a Achile Mbembe com sua necropolítica, estamos sim em ordem, uma ordem feita para nos deixar morrer quando preciso, visando mudar o foco, nos alienar daquilo que é relevante para que, detém o poderio econômico ou político.
(Ulisses Merli, texto Um mundo fora de ordem ou uma ordem fora do mundo?)
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