Total de visualizações de página (desde out/2009)

3123485

domingo, 6 de abril de 2025

Ordem e Progresso vs. Crise das Democracias: Um Paradoxo Contemporâneo (POSITVISMO)

O Positivismo, corrente filosófica criada por Auguste Comte no século XIX, defende a ideia de que o conhecimento verdadeiro só pode ser alcançado por meio da ciência e da observação empírica, rejeitando explicações metafísicas ou religiosas. Comte acreditava que a humanidade passaria por três estágios — teológico, metafísico e positivo —, sendo este último o ápice do progresso, onde a razão e a ciência organizariam a sociedade. Hoje, em um mundo marcado pelo avanço tecnológico, mas também por crises políticas e culturais, é possível traçar paralelos entre os ideais positivistas e a realidade contemporânea. 

O lema da bandeira brasileira, "Ordem e Progresso", é herança direta do Positivismo. Contudo, a realidade política atual desafia essa visão otimista. Em vez de uma marcha linear rumo ao progresso, vemos a ascensão de autoritarismos, polarização extrema e a erosão da confiança nas instituições. A ideia de que a sociedade evoluiria naturalmente para um estágio mais racional e organizado parece ingênua diante de fenômenos como o negacionismo e a manipulação de massas por algoritmos.

Diante desse cenário, é legítimo questionar se os ideais positivistas ainda têm relevância. A "ordem" parece frágil quando líderes autoritários são eleitos democraticamente, e o "progresso" é questionado quando avanços tecnológicos convivem com desigualdades brutais. No entanto, talvez a lição não seja abandonar o projeto positivista, mas reinterpretá-lo.

A verdadeira ordem democrática não pode ser imposta pela força, mas construída com participação cidadã, transparência e renovação das instituições. O progresso, por sua vez, não pode ser medido apenas pelo crescimento econômico, mas também pela justiça social e sustentabilidade. Se Comte acreditava em uma marcha inevitável rumo ao futuro, hoje sabemos que a democracia exige esforço constante — e que a ordem e o progresso só se sustentam quando incluem, em vez de excluir.

A crise das democracias não é o fim da história, mas um chamado para repensar como conciliar ordem e progresso em um mundo complexo. O desafio é construir uma nova síntese: uma sociedade que preserve a racionalidade e a ciência sem cair no dogmatismo, que valorize a estabilidade sem sufocar a liberdade, e que enfrente as desigualdades sem abrir mão do desenvolvimento.

O lema "Ordem e Progresso" pode até parecer ingênuo diante dos problemas atuais, mas sua essência — a busca por um futuro melhor através da organização social — continua válida. A diferença é que, hoje, sabemos que esse futuro não é garantido: ele depende de escolhas coletivas, éticas e, acima de tudo, democráticas.


Felipe Ferreira Gomes - 1 ano Direito (Noturno)

Nenhum comentário:

Postar um comentário