Na obra “Imaginação Sociológica”, Charles Wright Mills defende a tese de que o ser humano é, fundamentalmente, fruto do contexto histórico em que se insere. Nesse sentido, o pensador alega haver, no imaginário da sociedade moderna, um pensamento falacioso e alienado o qual, na contramão das ciências sociais, desconhece o vínculo entre a vida privada do sujeito e o momento histórico deste.
Embora analise o século XX, Mills discorre sobre tendências que perduraram na sociedade contemporânea, como a recorrente alternância entre ansiedade e indiferença quanto a fugazes mudanças. Ao exemplificar, o autor define a sociedade estadunidense dos anos 60, permeada por instabilidades econômicas e políticas, como marcada por essa dicotomia, a qual culminou em uma “crise da ambição”. Analogamente, o hodierno também tem sido marcado pelos sentimentos de “inquietação e indiferença”, pois o sujeito, mesmo que note a influência direta da crise econômica sobre a própria qualidade de vida, sendo destituído de imaginação sociológica, é incapaz de relacionar a angústia “pessoal” com a conjuntura histórica na qual se insere. Nesse ínterim, vê-se no Brasil atual, no tangente ao labor, não apenas a “demonização” da CLT pelos jovens, mas uma verdadeira “crise da ambição”, em que o trabalho perde, além da valorização, o próprio sentido. Isso pois, o cidadão é permeado, concomitantemente, pelo sentimento de aversão à CLT, ou seja, ao exercício do trabalho registrado, sob as “amarras” da lei, e por discursos neoliberais meritocráticos, dos chamados “coaches”, os quais defendem que o êxito profissional depende exclusivamente de habilidades individuais, cujo desenvolvimento está a cargo do trabalhador. Dessa forma, o proletariado contemporâneo, pressionado ideológica e estruturalmente a ser autônomo, além de ter seus próprios direitos desmantelados, é condicionado, compulsoriamente, à autogestão. Assim, lançado à própria sorte no mercado de trabalho, sob o pretexto de ser livre da subordinação à CLT, o cidadão sente-se inapto ao exercício do tão exaltado empreendedorismo, posto que este exige atributos idealizados pelo sistema neoliberal.
Diante desse cenário, em que a ansiedade perante o mercado de trabalho leva os jovens a repudiarem os ofícios com carteira assinada, é fulcral o fomento à prática da imaginação sociológica e, em contrapartida ao pensamento de Francis Bacon, da filosofia, pela população brasileira. É necessário, portanto, buscar atingir a “qualidade de espírito” defendida por Mills. Essa última, por meio da articulação crítica das informações e do desenvolvimento da razão, promove ao ser a lucidez quanto às realidades tanto externa quanto interna a ele, ou por outra, representa o resultado advindo da imaginação sociológica. Doravante, apenas por intermédio da criticidade sociológica será possível não só evitar a extinção das leis trabalhistas brasileiras como conhecemos no presente, mas também recuperar a visão positiva acerca dessa conquista, a CLT, tão arduamente alcançada pelos trabalhadores e trabalhadoras do nosso país, entre os jovens.
Laura Xavier de Oliveira - 1º ano - Direito (matutino)
Exatamente, Laura. Enxergar tudo isso, especialmente a realidade de que a Consolidação das Leis do Trabalho é derivada de uma conquista, coloca ordem nas coisas e dá um sentido, crítico, aos rumos hoje escolhidos pelos jovens. Abraços, Alliprandino.
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