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sexta-feira, 4 de abril de 2025

O AVESSO DO CAPITAL

A palavra “utopia”, que, em latim, significa “não lugar”, lugar inexistente, é usada para se referir a um cenário quimérico, a um futuro idealizado o qual se encontra deveras distante da realidade na qual é ansiado. Tal conceito é vulgarmente usado para se referir aos sistemas econômicos alternativos que vão de encontro ao vigente, o capitalista, cujo cerne consiste na expropriação do humano pelo humano. Contudo, seja pela falta de “imaginação sociológica”, preconizada por Mills, seja pela influência da ideologia, parte da “infraestrutura”, definida por Marx, poucos se permitem imaginar a seguinte proposição: Como seria um mundo cuja finalidade é a defesa do bem-estar coletivo?

Imagine um mundo voltado não para a busca incessante pela riqueza econômica, mas para a máxima evolução do conforto e do intelecto humanos. Nesse cenário “idealizado”, o trabalho seria uma vertente da arte, pois sua prática objetivaria o exercício das potencialidades criativas de cada um, não apenas o lucro. A produção, por sua vez, de forma autossustentável e com o uso universalizado da tecnologia, seria apenas dos recursos necessários a uma vida digna e ao progresso desta, exigindo menos horas de labor. Assim, sucumbida a necessidade de produzir capital a todo instante, os sujeitos poderiam usufruir do próprio tempo de vida. Desse modo, além do tempo necessário à manutenção da própria moradia e saúde, garantindo a sobrevivência mínima, seria possível desfrutar do lazer, do esporte e até do ócio, cuja importância é salientada pelo filósofo Byung-Chul Han. Ainda, as relações interpessoais se dariam com maior frequência, estreitando os laços afetivos familiares e fraternos, porquanto, além do tempo, dispor-se-ia de mais energia para investir em atividades comunitárias, as quais resultam na socialização. Já no âmbito educacional, o letramento crítico no ensino básico seria ampliado, enquanto no superior, a formação e a pesquisa se ocupariam com a resolução de questões a fim de aprimorar a vida social e a experiência humana no planeta. Esse último, por fim, expurgada a lógica exploratória de seus recursos, seria preservado por nossa raça, cuja perpetuação resultaria da harmonia com o meio ambiente.     


É coerente concluir que vislumbrar dias melhores não é apenas justo, mas também possível. Exemplo concreto disso é a tradição originária, do Brasil e do mundo, a qual, insubordinada à arrolação do tempo e ao estilo de vida capitalistas, sobreviveu ao genocídio a à pressão civilizatória, vivendo em conjunto e em harmonia com a natureza.


Texto extra (Palestra do Afronte): Um mundo fora da ordem ou uma ordem fora do mundo? 


Laura Xavier de Oliveira - 1º ano - Direito (matutino)


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