Na obra “1984” de George Orwell, fica evidente a crítica à implementação de uma ordem totalitária, na qual o domínio absoluto da vida dos indivíduos suprime a autonomia individual e estabelece uma ordem artificial que se encontra "fora do mundo". A constante supervisão e a regulação da linguagem e do pensamento demonstram uma distorção da realidade e uma desumanização da sociedade. Seguindo esse viés, o autor usa como base o totalitarismo para exemplificar a imposição de uma ordem que nega a complexidade e o livre-arbítrio dos seres humanos.
Apesar
de essa obra ter sido escrita a décadas atrás, ainda reflete de forma atemporal
na atualidade. Em um mundo onde as relações socias e econômicas estão cada vez
mais moldadas pela busca incessante da ordem, a realidade frequentemente se
choca com as necessidades humanas. Ademais, essa imposição pode ser
exemplificada pelo sistema capitalista, cuja minoria é favorecida e a maioria
da população enfrenta as precariedades e desigualdades do sistema. Além disso,
essa concentração de riqueza nas mãos de poucos cria uma desconexão no que é
idealizado e o que é vivido pela grande maioria da população, principalmente no
setor econômico. Por ventura, essa “ordem” é fragmentada e desarmônica,
promovendo o caos e a falta de recursos básicos.
A
princípio, ao longo da história da humanidade, a tensão entre um “mundo fora de
ordem” tem sido evidente em diversos momentos. Um exemplo é o Império Romano
que buscou estabelecer uma ampla ordem política e territorial, dominando grande
parte do mundo conhecido. Contudo, o aumento da corrupção, a pressão das
invasões bárbaras e a divisão interna do império levaram ao seu desmoronamento
no século V, demonstrando que mesmo as maiores estruturas de poder podem ruir
quando não satisfazem as demandas e realidades dos indivíduos.
Similarmente,
a Revolução Industrial ocorrida no século XIX provocou uma mudança drástica nas
sociedades, prometendo prosperidade e avanço. Contudo, ela resultou em grandes
disparidades sociais e condições laborais inumanas para a classe trabalhadora,
demonstrando que a ordem estabelecida através de uma industrialização acelerada
desconsiderava as realidades humanas.
Por
meio desses episódios históricos, fica claro como a falta de compreensão
populacional e dos efeitos que o controle absoluto causa, muitas vezes resulta
em situações menos favoráveis a um contexto global, levando a revoltas e
mudanças drásticas que podem ser boas ou não a depender do beneficiário.
Voltando
aos tempos atuais, as alterações climáticas emergiram como uma das principais
ameaças para a ordem mundial nas últimas décadas. De acordo com o Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a média da temperatura
global já cresceu 1,1°C em relação aos níveis pré-industriais. Se as emissões
de gases de efeito estufa não forem reguladas, a elevação pode ultrapassar
1,5°C até 2030, resultando em consequências desastrosas. Fora isso, as crises
políticas e sociais têm demonstrado claramente o descompasso entre as normas
estabelecidas pelos sistemas governamentais e as necessidades genuínas dos
cidadãos.
Outrossim,
a crise migratória, que atingiu proporções preocupantes com a guerra na Síria e
os conflitos no Afeganistão, resultou em um recorde de refugiados, com uma
estimativa de 110 milhões de indivíduos deslocados forçadamente até 2023, de
acordo com a UNHCR. Essas crises demonstram como a ordem política e econômica
atual frequentemente não consegue assegurar justiça e estabilidade, gerando
divisões aprofundadas, desigualdades e conflitos sociais que questionam as
estruturas de poder já estabelecidas.
Por fim, os dilemas ambientais, sociais e políticos evidenciam que as estruturas consolidadas frequentemente falham em atender às verdadeiras demandas das comunidades e ao equilíbrio ecológico, gerando desordem e desigualdade. Embora a intenção de construir um mundo mais organizado e justo seja válida, fica claro que a imposição de uma ordem rígida, sem considerar a complexidade das sociedades humanas e dos ecossistemas, tende a amplificar a ineficiência e as disparidades. Alcançar uma verdadeira harmonia entre a natureza e os sistemas sociais exige mais do que a revisão das ordens estabelecidas; requer uma reconciliação com o ambiente natural e um compromisso genuíno com a justiça social, a sustentabilidade e a equidade. Assim, o verdadeiro desafio não está em preservar uma ordem a qualquer custo, mas em desenvolver uma organização adaptável, capaz de respeitar a diversidade e as limitações do mundo em constante transformação.
Maria Eduarda Siqueira Alves dos Santos - Direito - 1° ano - Matutino
Maria Eduarda, há anos estas perguntas que fez são feitas, e refeitas. Porventura seja uma consequência do fato de que não há neutralidade em qualquer decisão humana e mesmo na circunstância de que somos diferentes uns dos outros, seja como indivíduos, seja como sociedades. Talvez seja por isso que vivemos sempre estes atropelos todos que mencionou. A saída deve ser mesmo a criação de mecanismos de adaptação. Porque não há ponto final nisso tudo. Com respeito, Alexandre.
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