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domingo, 30 de março de 2025

Entre o caos e o controle: A tensão de viver um mundo fora de ordem

                        Na obra “1984” de George Orwell, fica evidente a crítica à implementação de uma ordem totalitária, na qual o domínio absoluto da vida dos indivíduos suprime a autonomia individual e estabelece uma ordem artificial que se encontra "fora do mundo". A constante supervisão e a regulação da linguagem e do pensamento demonstram uma distorção da realidade e uma desumanização da sociedade. Seguindo esse viés, o autor usa como base o totalitarismo para exemplificar a imposição de uma ordem que nega a complexidade e o livre-arbítrio dos seres humanos.

Apesar de essa obra ter sido escrita a décadas atrás, ainda reflete de forma atemporal na atualidade. Em um mundo onde as relações socias e econômicas estão cada vez mais moldadas pela busca incessante da ordem, a realidade frequentemente se choca com as necessidades humanas. Ademais, essa imposição pode ser exemplificada pelo sistema capitalista, cuja minoria é favorecida e a maioria da população enfrenta as precariedades e desigualdades do sistema. Além disso, essa concentração de riqueza nas mãos de poucos cria uma desconexão no que é idealizado e o que é vivido pela grande maioria da população, principalmente no setor econômico. Por ventura, essa “ordem” é fragmentada e desarmônica, promovendo o caos e a falta de recursos básicos.

A princípio, ao longo da história da humanidade, a tensão entre um “mundo fora de ordem” tem sido evidente em diversos momentos. Um exemplo é o Império Romano que buscou estabelecer uma ampla ordem política e territorial, dominando grande parte do mundo conhecido. Contudo, o aumento da corrupção, a pressão das invasões bárbaras e a divisão interna do império levaram ao seu desmoronamento no século V, demonstrando que mesmo as maiores estruturas de poder podem ruir quando não satisfazem as demandas e realidades dos indivíduos.

Similarmente, a Revolução Industrial ocorrida no século XIX provocou uma mudança drástica nas sociedades, prometendo prosperidade e avanço. Contudo, ela resultou em grandes disparidades sociais e condições laborais inumanas para a classe trabalhadora, demonstrando que a ordem estabelecida através de uma industrialização acelerada desconsiderava as realidades humanas.

Por meio desses episódios históricos, fica claro como a falta de compreensão populacional e dos efeitos que o controle absoluto causa, muitas vezes resulta em situações menos favoráveis a um contexto global, levando a revoltas e mudanças drásticas que podem ser boas ou não a depender do beneficiário.

Voltando aos tempos atuais, as alterações climáticas emergiram como uma das principais ameaças para a ordem mundial nas últimas décadas. De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a média da temperatura global já cresceu 1,1°C em relação aos níveis pré-industriais. Se as emissões de gases de efeito estufa não forem reguladas, a elevação pode ultrapassar 1,5°C até 2030, resultando em consequências desastrosas. Fora isso, as crises políticas e sociais têm demonstrado claramente o descompasso entre as normas estabelecidas pelos sistemas governamentais e as necessidades genuínas dos cidadãos.

Outrossim, a crise migratória, que atingiu proporções preocupantes com a guerra na Síria e os conflitos no Afeganistão, resultou em um recorde de refugiados, com uma estimativa de 110 milhões de indivíduos deslocados forçadamente até 2023, de acordo com a UNHCR. Essas crises demonstram como a ordem política e econômica atual frequentemente não consegue assegurar justiça e estabilidade, gerando divisões aprofundadas, desigualdades e conflitos sociais que questionam as estruturas de poder já estabelecidas.

Por fim, os dilemas ambientais, sociais e políticos evidenciam que as estruturas consolidadas frequentemente falham em atender às verdadeiras demandas das comunidades e ao equilíbrio ecológico, gerando desordem e desigualdade. Embora a intenção de construir um mundo mais organizado e justo seja válida, fica claro que a imposição de uma ordem rígida, sem considerar a complexidade das sociedades humanas e dos ecossistemas, tende a amplificar a ineficiência e as disparidades. Alcançar uma verdadeira harmonia entre a natureza e os sistemas sociais exige mais do que a revisão das ordens estabelecidas; requer uma reconciliação com o ambiente natural e um compromisso genuíno com a justiça social, a sustentabilidade e a equidade. Assim, o verdadeiro desafio não está em preservar uma ordem a qualquer custo, mas em desenvolver uma organização adaptável, capaz de respeitar a diversidade e as limitações do mundo em constante transformação.

Maria Eduarda Siqueira Alves dos Santos - Direito - 1° ano - Matutino 

Um comentário:

  1. Maria Eduarda, há anos estas perguntas que fez são feitas, e refeitas. Porventura seja uma consequência do fato de que não há neutralidade em qualquer decisão humana e mesmo na circunstância de que somos diferentes uns dos outros, seja como indivíduos, seja como sociedades. Talvez seja por isso que vivemos sempre estes atropelos todos que mencionou. A saída deve ser mesmo a criação de mecanismos de adaptação. Porque não há ponto final nisso tudo. Com respeito, Alexandre.

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