“Ordem e Progresso”, lema da corrente filosófica positivista do século XIX, fundamenta a condição existencial da civilização moderna, que visa, por meio da operacionalização e do ordenamento da razão, da ciência e do conhecimento, gerar lucro- sinônimo de progresso em um contexto marcado pela expansão do modelo neoliberal. No entanto, vive-se em um cenário no qual os efeitos da mercantilização dos diferentes aspectos da vida, promovidos pela lógica capitalista, repercutem em mudanças climáticas, escassez de recursos naturais e guerras, por exemplo. Nesse viés, subverte-se a ideia de “ordem e progresso”, visto que o mundo contemporâneo encontra-se em “desordem e regresso”.
Sob essa ótica, os avanços técnicos e científicos tornam-se instrumento de dominação dos mais frágeis. De acordo com o conceito de “razão instrumental”, desenvolvido e proposto pelos filósofos Theodor Adorno e Max Horkheimer, a razão, na era moderna, é constantemente utilizada como ferramenta para a ascensão e o progresso da sociedade aos moldes capitalistas, de forma a manter desigualdades, injustiças e privilégios. Por conseguinte, toda a crença no ideário iluminista de que a razão libertaria a humanidade e, consequentemente, permitiria o seu desenvolvimento ordenado e o seu progresso científico, desfaz-se em vista da supressão da subjetividade humana, devido à padronização mercadológica dos corpos, que perdem sua autonomia, e da dominação e da destruição da natureza para a obtenção de lucro pela classe dominante, detentora do maquinário de poder. Logo, é notório o desordenamento do mundo promovido pela extrema direita, refletido por um cenário caótico e violento, marcado pela proliferação de doenças endêmicas, como a malária, por quadros climáticos extremos, com altas temperaturas médias e graves enchentes, bem como pela ascensão e consolidação de figuras políticas neofascistas no poder, por exemplo.
Por outro lado, ainda que o pensamento institucionalizado e demasiadamente racionalista, sob moldes neoliberais prevaleça no cenário atual, ainda há indivíduos dispostos a transformar tal realidade hostil e desigual. Em sua obra “Pedagogia dos Sonhos Possíveis”, Paulo Freire, patrono da educação brasileira, defende que a práxis, ação do ser humano sobre o mundo para transformá-lo, permite a superação da condição opressor-oprimido, ou seja, o sujeito, conscientizando-se de sua condição de oprimido, a partir de uma prática pedagógica não apenas ao nível da escola. Dessa maneira, para Freire, o conhecimento é o ponto de partida para a relação com o mundo e com as pessoas e, portanto, deve ajudar a formar sujeitos capazes de transformar o corpo social, aliando-se a valores humanizadores, como o respeito e a solidariedade.
É perceptível, portanto, que o mundo contemporâneo encontra-se fora de ordem, em consequência de um racionalismo exacerbado e da errônea ideia de progresso. Entretanto, através do conhecimento e da união de indivíduos em prol da mudança, pode-se enfrentar e resistir a esse cenário global desordenado com esperança.
Será que é assim mesmo, Isabella? Não haveria uma ordem na desordem? O regresso é algo sempre ruim? Talvez haja uma engenhosidade por detrás de tudo isso, ainda não encontrada. E pode ser que a desordem que propugna não tenha como responsáveis apenas aquilo tudo que citou. Com respeito, Alexandre.
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