O positivismo e o ensaio sobre a coesão social
Após a superação do Antigo Regime, a Europa
viveu um momento de consolidação do capitalismo, da industrialização acelerada
e da urbanização pulsante. Em meio à Belle Époque, o otimismo quanto aos
avanços da ciência tomou conta da burguesia, a qual era dominante enquanto
classe social. Nesse contexto, no qual tudo era relativamente recente, uma nova
ciência foi exigida para explicar os problemas e as questões emergidas. Surge,
então, a sociologia e a sua primeira corrente: o positivismo. Seu autor,
Augusto Comte, influenciado pelo cientificismo da época, defendia uma física
social caracterizada pela objetividade e pela exatidão, tal como os fenômenos
naturais, para estudar e compreender a comunidade, buscando sempre um padrão
para a realidade social.
Tal tese se mostrou problemática ainda na
época em que foi elaborada e difundida, visto que, como partia do pressuposto
de que as sociedades deveriam atingir determinados estágios, os quais eram
baseados em concepções europeias e estabelecidos de maneira semelhante a regras
físicas precisas, para serem consideradas dignas do progresso; compreendia tudo
o que se distanciava da Europa como atrasado e distante da evolução. Dessa
forma, construiu um raciocínio no qual a história seria concebida linearmente,
sendo que aquilo que se classificava como diferente dos padrões europeus era
inferiorizado. Assim, a ideia de um darwinismo social foi solidificada e
sequestrada para justificar o imperialismo das potências e aniquilar as
diferenças socioculturais e, consequentemente, manter a uniformidade e a coesão
entre os povos.
Contudo, é preciso ressaltar que o
positivismo não ficou preso ao século XIX, uma vez que, na contemporaneidade,
se observa a ascensão de pensamentos que incitam a estandardização
conservadora. A fim de se alcançar um modelo ideal de sociedade, segundo o qual
se obedece a um padrão e a uma moral superiores, exclui-se, das mais diversas
maneiras, todos que defendem ideais que vão ao sentido diametralmente oposto ao
do sugerido pelo tradicionalismo. Prova de tal questão é o aumento considerável
de discursos xenofóbicos e anti-imigração na Alemanha e na França, por exemplo.
Diante de um cenário de crises e de instabilidades internas, os países
aproveitaram-se de atentados cometidos por pessoas com histórico migratório,
para formular narrativas extremistas que condenassem, em especial, pessoas do
Oriente Médio e para endurecer as políticas de imigração. Tudo isso para
garantir a coesão entre essas culturas e para afirmar a reorganização do que
estaria desregulado.
Conclui-se, pois, que o positivismo, outrora
empregado para embasar o fardo do homem branco, na atualidade, é operado com
outros fins, mas a base e o âmago de seu raciocínio – a ordem e o progresso -
ainda permanecem. Independentemente da finalidade com a qual é empregado, um
grupo sempre buscará a coesão para preservar a sua hegemonia.
Isadora
Cardoso Peres - 1º Noturno
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