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quarta-feira, 26 de março de 2025

As falhas do positivismo

 Auguste Comte, considerado o “pai da Sociologia”, propôs a criação de um método capaz de delimitar os estudos dos fenômenos sociais a partir da elaboração de uma ciência social. Para isso, Comte teorizou o conceito de Física Social, que seria responsável por organizar e estruturar o desenvolvimento da humanidade, regida por leis tais quais o conhecimento categorizado pelas ciências exatas e biológica.

A princípio, vale ressaltar que para o sociólogo, o curso da Filosofia Social, referente à teoria positivista, se dá pela sucessão de três estados do conhecimento humano, em uma ordem linear. O primeiro, “Teológico”, no qual prevalece as explicações sobrenaturais, o segundo, “Metafísico”, fundamentado nas noções da Filosofia, e o terceiro, “Positivo”, estado científico. Nesse viés, Comte sugere o acontecer histórico como uma evolução linear natural e necessária, sendo que o estado positivista definido pelo filósofo trataria do estágio final do progresso humano, retratada por meio de uma visão hierárquica e progressista a respeito das diferentes formas de organização social.

Por outro lado, a proposta de Comte, inicialmente interpretada como única forma de conhecimento verdadeiro , pautado pelos ideais de ordem e progresso social, legitimava, entretanto, a manutenção do status quo. Por conseguinte, ao determinar os traços  culturais e as tradições de diferentes grupos sociais como subjetivas, e, portanto, pertencentes a estágios inferiores da condição humana, sob um viés elitista e eurocêntrico, a lógica positivista buscava, diretamente, ditar leis e padrões de conduta considerados adequados à conservação da classe dominante no poder, bem como do seu viés  ideológico e cultural.

Diante desse cenário, visando manter o seu poderio, os grupos dominantes perpetuam em seu cotidiano, por diferentes meios, as atribuições positivistas que aprisionam e delimitam os espaços de atuação de grupos minoritários, como observado, por exemplo, nos relatos de Grada Kilomba em seu livro “Memórias da Plantação: Episódios de Racismo Cotidiano”, no qual a autora, mulher negra, é inferiorizada por um ambiente acadêmico predominantemente branco e elitista, que a vê como uma ameaça ao subverter a ordem por eles imposta e perpetuada socialmente, segundo a qual o acesso à informação e às estruturas de poder deveriam ser limitadas a grupos seletos, tidos, erroneamente, como aqueles pertencentes ao estágio final do desenvolvimento socioeconômico.

Logo, é notório que o positivismo, antes visto como símbolo de progresso e evolução humana, contribui, no entanto, para difundir, por aqueles que possuem maior poder social, valores e crenças que podem ser usados para dominar e excluir minorias sociais, oprimidas pela interação de diferentes marcadores de exclusão e de desigualdade estruturados a partir do falso ideário linear de sociedade criado pelo pensamento positivista, o qual gera, inevitavelmente, estigmas em relação aos saberes e crenças de povos que não se enquadrem aos padrões de conhecimento perpetuados pela classe dominante.

Isabella Providello Lencione- Direito matutino, 1º ano

Um comentário:

  1. Excelente texto, Isabella. Talvez precisemos alargar as bases de incidência do positivismo de Comte, apropriando-nos de sua organização, sistematização e progresso, modificando os conceitos daquilo que seria a "organização", "sistematização" ou "progresso", de forma a torná-las mais universais, e não apenas "propriedade" de alguns. Será que isso seria possível? Com respeito, Alexandre.

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