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segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Encíclica papal, As institutas e Weber

Texto 1
“12. Sobre o uso das riquezas, já a pura filosofia pôde delinear alguns ensinamentos de suma excelência e extrema importância; mas só a Igreja no-los pode dar na sua perfeição, e fazê-los descer do conhecimento à prática. O fundamento dessa doutrina está na distinção entre a justa posse das riquezas e o seu legítimo uso.
A propriedade particular, já o dissemos mais acima, é de direito natural para o homem: o exercício deste direito é coisa não só permitida, sobretudo a quem vive em sociedade, mas ainda absolutamente necessária(11). Agora, se se pergunta em que é necessário fazer consistir o uso dos bens, a Igreja responderá sem hesitação: «A esse respeito o homem não deve ter as coisas exteriores por particulares, mas sim por comuns, de tal sorte que facilmente dê parte delas aos outros nas suas necessidades. É por isso que o Apóstolo disse: «Ordena aos ricos do século... dar facilmente, comunicar as suas riquezas» (12).
Ninguém certamente é obrigado a aliviar o próximo privando-se do seu necessário ou do de sua família; nem mesmo a nada suprimir do que as conveniências ou decência Impõem à sua pessoa: «Ninguém com efeito deve viver contrariamente às conveniências»(13). Mas, desde que haja suficientemente satisfeito à necessidade e ao decoro, é um dever lançar o supérfluo no seio dos pobres: «Do supérfluo dai esmolas» (14). É um dever, não de estrita justiça, excepto nos casos de extrema necessidade, mas de caridade cristã, um dever, por consequência, cujo cumprimento se não pode conseguir pelas vias da justiça humana. Mas, acima dos juízos do homem e das leis, há a lei e o juízo de Jesus Cristo, nosso Deus, que nos persuade de todas as maneiras a dar habitualmente esmola: «É mais feliz», diz Ele, «aquele que dá do que aquele que recebe» (15), e o Senhor terá como dada ou recusada a Si mesmo a esmola que se haja dado ou recusado aos pobres: «Todas as vezes que tenhais dado esmola, a um de Meus irmãos, é a Mim que a haveis dado» (16). Eis, aliás, em algumas palavras, o resumo desta doutrina: Quem quer que tenha recebido da divina Bondade maior abundância, quer de bens externos e do corpo, quer de bens da alma, recebeu-os com o fim de os fazer servir ao seu próprio aperfeiçoamento, e, ao mesmo tempo, como ministro da Providência, ao alívio dos outros. «E por isso, que quem tiver o talento da palavra tome cuidado em se não calar; quem possuir superabundância de bens, não deixe a misericórdia entumecer-se no fundo do seu coração; quem tiver a arte de governar, aplique-se com cuidado a partilhar com seu irmão o seu exercício e os seus frutos» (17)”. Encíclica papal de 15 de maio de 1891

Texto 2
"Ah, quão proveitoso será para o homem que, reconhecendo que não é dono de si, negue à sua razão o senhorio e o governo de si mesmo e o confie a Deus! Porque, assim como a pior praga, capaz de levar os homens à perdição e à ruína, é se comprazerem a si mesmos, assim também o único e singular porto de salvação não está em o homem julgar-se sábio, como tampouco em querer nada de sua vontade própria, mas em seguir unicamente ao Senhor [Rm 14.7,8]”. João Calvino, As Institutas, Vol 4

O texto 1 evidencia a concepção tradicional, católica, do trabalho, a qual perdurou até o final do século XIX, da não acumulação e do trabalho como meio de garantir a subsistência. O modo de vida católico condenava a usura, e pregava a salvação por meio de indulgências, confissões e presença aos cultos. Dessa forma, não se coibia o usufruto das riquezas geradas pelo trabalho, o que acarretava na não acumulação de bens e capital.

Todavia, para que possamos entender a ótica protestante, poder-nos-íamos recorrer ao texto 2. Nesse ínterim, fica evidente que a ideia de predestinação. A concepção do trabalho como fim absoluto, protestante, que enxerga o trabalho como o próprio existência humana, exteriora a ideia de que a salvação é alcançada através da providência Divina. Assim sendo, a ética protestante abre caminhos para a acumulação e, por conseguinte, contribui com a difusão do capitalismo.

A fim de sintetizar o exposto, nada mais precisa, mesmo que clichê, que a seguinte expressão: O católico trabalha para viver, o protestante vive para trabalhar.

Gabriel Chiusoli Ruscito 1 ano Direito noturno 

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