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segunda-feira, 16 de abril de 2012

Overdose

Há pouco mais de um ano, Luciane deu entrada em um hospital passando muito mal. Quando os médicos a atenderam, perceberam a gravidade e logo a internaram. Incapazes de descobrir com certeza o que havia de errado com ela, a transferiram para o Hospital da Clínicas em São Paulo, onde ela veio a falecer semanas depois. Ela deixou três filhos de 18, 15 e 10 anos de idade.
Luciane havia contraído malária, mas malária tem cura. O que não deu a ela chances foi a falta de visão geral dos médicos que negligenciaram o fato de que ela morava há meses na África com o segundo marido, um médico, que por vezes ligou pedindo que a testassem para a doença, uma vez que era comum onde eles viviam. Quando saiu o diagnóstico ela já começava a ter falha dos órgãos e isso, nesse caso em específico, é um péssimo sinal.
É muito prático julgar a atitude dos médicos, mas isso seria repetir a atitude deles: negligenciar o contexto enxergando um problema de cada vez. Ao dar-se um passo para trás, pode-se perceber que a forma com que os médicos agiram é, na verdade, um sintoma de uma doença que agride toda a sociedade. A imersão das pessoas em cientificismo cartesiano trouxe à sociedade uma perda da visão universal sobre os fenômenos humanos. Procura-se em tudo uma utilidade e fragmentam-se todos os problemas em prol do raciocínio lógico.
Overdose de cartesianismo. Transformação do ser humano em máquinas lógicas, que analisam os dados e apontam um diagnóstico com altos graus de certeza. Parece funcional a princípio, contudo a realidade globalizada atual não comporta mais esse pensamento. Todas as formas de organização, de qualquer forma, estão interligadas e o número de variáveis presentes são infinitas. É necessário que se enxergue o conjunto como um todo, dentro do seu contexto para que se possa tomar atitudes efetivas, antes que a doença cause falha dos órgãos vitais. Como a malária de Luciane.

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