“Ordem e
progresso”. O lema da tradicional bandeira brasileira remete aos ideais da
corrente filosófica conhecida como positivismo, sendo Augusto Comte o criador
dessa linha de pensamento. Apesar de sua criação ter se dado na França, essa
teoria acabaria por se impregnar na história brasileira até os dias de hoje,
seja de maneira direta ou indireta, acabando por ter parte de suas ideias
perpetuadas por ideologias conservadoras do século XXI.
A sociologia,
de acordo com Comte, seria uma “Física Social”, isto é, uma área do
conhecimento que visa compreender a humanidade e as suas relações através de
noções pontuais, sem muita interpretação. Diante disso, da mesma maneira que há
leis inalteráveis no ramo das ciências exatas, elas também existem nas
estruturas sociais, uma vez que é entendido que a existência da sociedade é
pautada em fatores que servem como alicerce para o seu funcionamento.
Apesar de
parecer cabível em primeiro momento, a teoria começa a ser distorcida a partir
do instante em que a família e a estrutura de classes passam a ser tidos como
fundamentais para a existência da sociedade e, portanto, torna-se essencial a manutenção e a proteção desses
elementos. Com isso, surgem, ao redor do mundo, interpretações que defendem um
certo modelo de família e que repudiam qualquer união que não seja
heterossexual, junto de visões preconceituosas sustentadas pela noção de “lugar
na sociedade”.
No que diz
respeito ao Brasil, o positivismo, em primeiro momento, pode ser considerado
progressista, em certa medida. A
influência dessa corrente filosófica viria a se expressar, principalmente, na
ideologia militar, havendo a defesa de ideais de “evolução social” através dos
avanços científicos e tecnológicos, de modo que o período brasileiro conhecido
como República da Espada (1889-1894) – momento em que Deodoro da Fonseca e
Floriano Peixoto foram presidentes - defenderia a implantação da indústria no
Brasil, que, na época, seria o ápice dessa evolução.
Já em segundo momento,
saltando para o Golpe Militar de 1964, fica evidente que o positivismo é
utilizado para a construção de uma ideologia conservadora. Através da distorção dessa
filosofia francesa, há a construção de uma mentalidade que utiliza do
nacionalismo como ferramenta, explorando a ideia de bem comum. Por meio desse
discurso, é entendido que, para o bem do povo brasileiro, a intervenção militar
se tem como necessária, uma vez que há, juntamente, a luta contra uma “ameaça
comunista” de João Goulart. “Perigo” esse que é considerado um comportamento subversivo,
visto que teria como fundamento a extinção das diferenças entre classes, contrariando
uma das "leis fundamentais" para o funcionamento da sociedade.
Por fim, nos dias de
hoje, com a eleição de Jair Bolsonaro no ano de 2018 e com a expansão do discurso
de extrema direita, fica evidente que houve a perpetuação do mesmo pensamento
que existia há 60 anos. Através de discursos de “família tradicional” e
de contestação às cotas, fica claro que ainda existe o medo quanto à quebra das “leis
universais da humanidade”, havendo, desse modo, a influência da corrente de
Augusto Comte, mesmo que seja de maneira indireta.
Diante disso, infere-se
que o positivismo no Brasil acabou por se afastar de sua essência de avanços científicos e tecnológicos e acabou por se tornar um caminho para atitudes antidemocráticas,
seja em 1964, seja nos atos terroristas de 8 de janeiro de 2023. Mesmo com as décadas
de diferença, vê-se a mesma fórmula de construções no imaginário popular, que acaba
por sempre ser utilizada como ferramenta enquanto os controlados acreditam estar contribuindo
para a “Ordem” e o “Progresso”.
Augusto Ferreira Viaro - 1º ano de direito (matutino) / RA: 241224268