Contudo, no início do século XX, Max Weber foi capaz de identificar níveis mais profundos do surgimento do capitalismo, concebendo-o como consequência não das necessidades materiais de uma determinada classe social, mas como uma mudança de consciência coletiva, uma mudança cultural. Tal mudança, por sua vez, tem seu início muito anterior às revoluções do século XIX, com a Reforma Protestante do século XVI.
O protestantismo trouxe consigo novas concepções de espiritualidade e valores ético-morais, que acabam por estender o controle religioso a todos os âmbitos da vida por vislumbrar um ethos racional e transferir, assim, o controle dos indivíduos para dentro de si mesmos por meio de sua própria espiritualidade.
A cultura da acumulação, do comedimento e da frugalidade pregada pelo protestantismo como expressões de uma benção divina traz consigo a doutrina da racionalização - no sentido de afastamento das paixões. Essa cultura, essa ética da racionalização, com o passar do tempo e com o seu distanciamento da religiosidade - apesar de inicialmente causar estranhamento e de ser taxativamente considerada irracional e absurda pelos não adeptos a ela - gera consequências para a totalidade social, uma vez que acaba por impossibilitar que aqueles que não compartilhem dela sustentem seus negócios quando confrontados com aqueles que compartilham dessa ética elementar do capitalismo.
Para Weber, a origem do capitalismo, logo, está na transformação social do costume da aquisição do necessário e das demais tradições cristãs para a ética protestante de acumulação, de modo a transformar toda o pensamento da coletividade social - o que faz com que a hegemonia da burguesia se torne possível ao redor de todo o globo.
Laís Machado Ribeiro - Diurno.