A vida de Friedrich Engels pode ser considerada uma grande contradição, pois sendo filho de um rico industrial alemão, passou a se interessar pela classe dos menos favorecidos, e chegou a ser um dos principais pensadores que inaugurou um conceito fundado na idéia de que as sociedades sempre foram marcadas pelo conflito de classes, e dividiam-se em dois grupos: de um lado a burguesia, detentora dos meios de produção; e de outro, o proletariado, que vendia sua força de trabalho ao burguês em troca de um salário que o sustentasse.
Em meio ao contexto da primeira metade do século XIX, Engels, juntamente com Karl Marx, ofereceram novas doutrinas socialistas contendo uma perspectiva inovadora sobre a sociedade capitalista e a condição do trabalhador contemporâneo. Segundo elas, a forma com que as riquezas eram distribuídas, originava a luta de classes, formando, então, maneiras de pensar e agir norteadas pelas condições materiais de uma sociedade.
O modo de produção feudal foi superado a partir do momento em que ele não é mais capaz de produzir o suficiente, ou seja, a partir do advento da modernidade, ele torna-se evidentemente improdutivo. Este momento histórico da superação do feudalismo pelo capitalismo persistiu por quase cinco séculos, e foi pautado não pela violência ou coerção política, e sim, pela ciência. Com isso, há o aumento da produtividade sem que se coaja a classe de trabalhadores. Daí a importância daquilo que Descartes e Bacon disseram, já que havendo o aperfeiçoamento dos meios de produção, que possibilitam uma produção sem fim, não se chega ao esgotamento, pois adquire característica sutil e gera uma impressão de distribuição da riqueza. Isso é o que se chamaria de alienação, uma idéia falsa que atenuou o caráter exploratório do sistema.
Quando se pensa na perspectiva do materialismo histórico, diz respeito à necessidade de se observar o fenômeno em seu processo de nascimento e caducidade. A partir do momento em que as classes dos trabalhadores vão ganhando um terreno de destaque, ou seja, uma antítese que faz uma negação da ordem estabelecida e da normatividade, o Direito é obrigado a incorporar preceitos e demandas próprias da classe dominada, acabando por ser um dos veículos dessa dialética e produzindo uma nova síntese.
Tal dialética marxista inova em relação à dialética de Hegel, já que esta pensa a história como superação de uma civilização pela outra. Engels diz que isso pode levar a uma falsa idéia da realidade, sendo uma conexão artificial, que só se forma no plano das idéias. Já a dialética marxista entende a história como uma sucessão de culturas que alternam entre declínio e apogeu de uma e outra.O materialismo tem a missão de desvendar as leis do desenvolvimento histórico, buscando no real a solução para as patologias dos homens, sendo que “a pesquisa fornece à ciência os materiais positivos correspondentes”.
No caso da sociedade capitalista, a burguesia se utilizava de meios para a exploração da classe proletária, como a teoria da mais-valia, demonstrando que os trabalhadores não recebiam um pagamento equivalente ao valor das riquezas por eles produzido. Esse seria o motor da produção capitalista, feito também pela alienação dos trabalhadores por meio da especialização do sistema de produção, já que no capitalismo, o mais importante é o produto e não o produtor, estando este alheio a todo o processo, não tendo o conhecimento amplo do produto final, sendo apenas uma peça do processo de produção.
Vemos também, no sistema capitalista, os mesmos mecanismos de contradição de outros modos de produção, tendo a burguesia o objetivo libertar as forças produtivas, e o proletariado a função de potencializar essa produção social, transformar a associação privada em coletiva, e converter o produto do trabalho em uma apropriação coletiva e não de uma única classe, rompendo com o processo de expropriação. A superabundância seria um movimento de afirmação da riqueza, e por outro lado a sua negação permanente, o que resultaria num próprio enfrentamento do capitalismo, e sua consequente derrubada, um elemento de perecimento, uma dinâmica de criação e, ao mesmo tempo, destruição. De tal modo, é necessária a ideia de compreensão perfeita para que se consiga converter as forças produtivas em instrumento gerador de riqueza coletiva, ou seja, transformá-la em uma força miraculosa para produzir a riqueza geral, não mais submetendo o homem, e sim o produto.
Apesar de tudo, com o legado deixado por Marx e Engels, o socialismo passou a configurar uma nova forma de enxergar a condição do homem e sua historia. Por meio de suas propostas, novos pensadores deram continuidade ao desenvolvimento de diversas teorias. E ainda hoje, podemos nos deparar com partidos e movimentos que lutam cada um a seu modo, pelas ideias um dia elaboradas por esses teóricos.
Este é um espaço para as discussões da disciplina de Sociologia Geral e Jurídica do curso de Direito da UNESP/Franca. É um espaço dedicado à iniciação à "ciência da sociedade". Os textos e visões de mundo aqui presentes não representam a opinião do professor da disciplina e coordenador do blog. Refletem, com efeito, a diversidade de opiniões que devem caracterizar o "fazer científico" e a Universidade. (Coordenação: Prof. Dr. Agnaldo de Sousa Barbosa)
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