As mais diversas formas de relacionamentos no século XXI, chamadas de "superficiais", como muitas amizades e relacionamentos amorosos, são assim adjetivados devido a falta de procurar aquilo que vai além do que é mostrado pelos olhos, ou seja,o que há por trás das ações. Todavia, diferentemente da crença espalhada pelas sociedades, incluindo a brasileira, essa superficialidade não é algo recente e proveniente sobretudo da disseminação das redes sociais, mas sim algo antigo, com suas raízes no pensamento positivista, de Auguste Comte.
Para o pai do positivismo, o superficial não é pejorativo; é fruto do reconhecimento pelo homem de que é impossível descobrir a profundidade dos acontecimentos e, portanto, é dessa forma que torna-se possível encontrar a fórmula imutável de tudo. Entretanto, esse raciocínio é suscetível a fortes críticas, tendo em vista que é responsável pela solidificação do conservadorismo social, que se manifesta, inclusive, no tratamento dado às minorias, ou a todos aqueles que fogem de um determinado padrão de "normalidade". Assim, mesmo que não se auto denominem positivistas, pensamentos e atitudes como a de políticos e demais cidadãos que não aceitam a existência de transexuais e artistas de rua, por exemplo, apesar de ser injustificável, carrega um fruto do pensamento positivista, pelo fato dessas pessoas simplesmente não aceitarem que alguns indivíduos não se encaixam em uma regra imposta por certos grupos sociais.
Entre os outros aspectos do positivismo Comteano, nota-se a busca pelo progresso social, que nesse caso, é representado pelo industrialismo e, para isso precisa-se da ordem, por isso o lema da bandeira do Brasil "Ordem e Progresso", porém, a ordem compreendida pelos positivistas nem sempre é a mesma pelo qual o restante das sociedades procuram, da mesma forma ocorre com o progresso.
O pensamento de Auguste Comte também difere-se do pensamento de outros pensadores tanto da atualidade quanto de séculos passados, como o de Descartes, no que diz respeito a crença em divindades, metafísica, pois, enquanto para Descartes a crença em Deus era associada a ciência, servindo a busca pelo saber científico até mesmo como um agrado ao Divino, para Comte a teologia e a metafísica, embora tenha sua importância, são apenas etapas a serem percorridas até que se chegue a um estágio maior, ideal, que é o pensamento positivista. Com isso, é perceptível a variação de pensamentos ao longo do tempo, bem como o grande número de adeptos de cada um deles, o que é uma evidência da importância do estudo do passado para compreensão dos eventos atuais que tem implicações jurídicas e sociais, pois, através desse estudo, apesar de nem sempre possibilitar a justificativa de determinados atos cometidos por incontáveis pessoas, ao menos torna possível que se compreenda o embasamento teórico por trás desses atos e discursos de ódio e por fim, desfazer os preconceitos que existem inclusive no meio dos "intelectuais" de que tendências como o superficialismo e negação de minorias são atitudes típicas de pessoas que não estudam e que ignoram a ciência, ou seja, que o conservadorismo não tem grau de escolaridade.
Izabelle de Freitas Custodio- 1º ano Direito Noturno
Este é um espaço para as discussões da disciplina de Sociologia Geral e Jurídica do curso de Direito da UNESP/Franca. É um espaço dedicado à iniciação à "ciência da sociedade". Os textos e visões de mundo aqui presentes não representam a opinião do professor da disciplina e coordenador do blog. Refletem, com efeito, a diversidade de opiniões que devem caracterizar o "fazer científico" e a Universidade. (Coordenação: Prof. Dr. Agnaldo de Sousa Barbosa)
Nenhum comentário:
Postar um comentário