Temos como bastante evidente serem os indivíduos distintos entre si, não completamente, mas essencialmente, visto que suas formações não podem jamais coincidir por completo. Desse modo, a individualidade é esculpida de maneira única. Daí deriva que os pensamentos dos homens divergem entre si, pelo menos em parte. Segundo Descartes: "Dirigimos nossos pensamentos por caminhos diferentes".
Diante disso, diferentes homens têm como evidentes opiniões diferentes, e as consideram tão corretas que assim nos parece imperativo não considerar nehuma delas correta. Contudo, é estranho pensar que nehuma opinião seja, de fato, correta. Pode ninguém saber qual. de fato é a vertente correta, mas ela existe. E o método de Descartes se propõe a encontrá-la.
Nota-se que o método é voltado para o próprio indivíduo, istó é, a apreensão de mundo e resoluções acerca de suas verdades derivam da própria razão, e não da crença ignorante nos sentidos, que "corrompem" a realidade. Há que se dizer, a razão nem sempre é imparcial e, não raro, está sujeita às paixões humanas. Por isso, é sensato buscar primeiro uma verdade que seja evidente por si mesma, para depois estender-se em demais buscas, gradativamente mais complexas. Descartes chega à seguinte: "Penso, logo existo".
Ocorre que essa verdade parece, sim, evidente. Contudo, esse sentido de "existo", para ele, é essencialmente imaterial, ou seja, não depende de corpo ou lugar para "acontecer". E é daí que Descartes nos expõe sua ideia de que a alma é distinta do corpo. Ora, consideremos esses fatos mais detalhadamente. A capacidade de pensar, tal como a entendemos como a faculdade de elaborar raciocínios os mais sofisticados é, até agora, uma exclusividade humana. Ela deriva de um cérebro mais bem constituído, onde ocorrem reações químicas que possibilitam esse fenômeno. Esse "existo" precisa, então, ser material. O cérebro de um animal outro não é capaz disso. Tampouco uma pedra é capaz de raciocinar. Se, por acaso, o que acabo de dizer for uma inverdade, então começarei a ter sérias desconfianças em relação àquele peixinho que está logo alí, no aquário. Ele saberia como disfarçar sua inteligência superior. Quem sabe a Revolução dos Bichos não seja tão utópica assim. E ficaria até mesmo constragido, pois já disse muitas coisas idiotas perto de pedras. Devem ter feito chacota de mim.
Vê-se por aí que Descartes concebeu um método que, é certo, pode ser muito útil, mas necessita ser visto e revisto, por que, veja bem, para ser um método perfeito, ele mesmo deveria ser uma verdade. E isso faz pensar que ele deveria ter passado pelo crivo de outro método, e assim sucessiva e infinitamente. Então, parece de uma arrogância e presunção tremenda querer chegar à verdade.
Um outro enfoque, um tanto empolgante, sobre o pensamento cartesiano: a tentativa de provar a existência de Deus. Descartes parte do pressuposto de que o conhecimento é mais perfeito que a dúvida e que, por isso, não pode derivar da imperfeição humana, mas sim necessita ser inculcado em nossa mente por um ser superior. Parece óbvio que a perfeição necessita derivar da própria perfeição. Mas, se considerarmos que a dúvida é um meio segundo o qual o conhecimento, que é o fim, deve ser ser atingido(pois, se não há dúvida, não se pode conhecer nada mais), então temos que a própria dúvida deve ser perfeita, tal como foi concebida para uso de criaturas inteligentes. Sendo tanto a dúvida quanto o conhecimentos duas perfeições, o ser humano torna-se pleno, em termos de intelectualidade, em si mesmo. Essa é apenas uma refutação ao pensamento cartesiano.
De qualquer forma, entender o método de Descartes como uma tentativa de se chegar à verdade e a aceitá-la como tal sem fazer nenhuma contenstação parece uma estupidez tremenda. O cérebro humano possui capacidades que se esgotam e, por isso mesmo, existe um limite de complexidade para os pensamentos. Um homem pode pensar com mais clareza do que o outro, isso sabemos. E se sabemos isso então não há porque não acreditar que nosso entendimento acerca de determinado assunto estende-se até um limite que, a partir daí, não pode ser pensado, apenas especulado. Há que se observar que todas as considerações feitas até então em relação a determinado assunto podem cair por terra em vista de uma nova descoberta(e descoberta essa que pode permanecer oculta para todo o sempre). Podemos simplesmente considerar que a perfeição seja, humanamente, inatingível.
Haja vista o que foi dito, o método de Descartes parece ser mais uma ferramente para, de maneira bem fundamentada, estabelecer um paradigma decente para guiar a própria vida do que um modelo a ser utilizado no sentido de provar verdades absolutas.
Este é um espaço para as discussões da disciplina de Sociologia Geral e Jurídica do curso de Direito da UNESP/Franca. É um espaço dedicado à iniciação à "ciência da sociedade". Os textos e visões de mundo aqui presentes não representam a opinião do professor da disciplina e coordenador do blog. Refletem, com efeito, a diversidade de opiniões que devem caracterizar o "fazer científico" e a Universidade. (Coordenação: Prof. Dr. Agnaldo de Sousa Barbosa)
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