segunda-feira, 18 de março de 2024

Compreensão do mundo por um olhar sociológico

  A inserção do meio informacional de comunicações nos conjuntos de produção, junto a integração política, econômica e cultural mundial, referente ao fenômeno da globalização, permitiram a formação de um contexto social nunca antes testemunhado. Este quadro diz respeito a uma nova época em que as relações são frágeis e maleáveis, tal como os líquidos. O sociólogo Bauman aponta que as instituições e as conexões sociais passaram a ser cada vez menos sólidas, isto é, se constroem ou desconstroem com facilidade.

Diante disso, a Teoria da Modernidade Líquida, desenvolvida por Bauman, busca descrever as atuais relações entre indivíduos e instituições consequentes da composição conjuntural proporcionada pela globalização em uma sociedade que se mostra encoberta por mudanças constantes. O indivíduo nunca presenciou tanta incerteza em meio a inconstância e as rápidas transformações que se modelam continuamente. Nesse cenário, a angústia passa a ser comum e presente nos sujeitos que não compreendem o atual funcionamento das relações sociais e estruturais.

Nesse contexto, a imaginação sociológica expressa por C. Wright Mills, permite compreender essas relações entre a sociedade e os sujeitos, identificando que, muitas vezes, problemas pessoais não são apenas questões individuais, mas resquícios de adversidades sociais e estruturais. O desemprego, como prova, pode aparentar geralmente ser uma questão pessoal de engajamento profissional, no entanto, se esse estiver se tornado estruturado, o desemprego não se posiciona mais em âmbito individual, mas influenciando todo o coletivo. Com a imaginação sociológica, os sujeitos passam a ter maior capacidade de compreensão para tomar decisões e agir nos limites e possibilidades impostos pela estrutura precedente de agentes sociais e históricos vastos.

A discriminação racial, por exemplo, é um agente estrutural social que afeta a vida de minorias étnicas. A compreensão individual e coletiva deste, porém, pode ser usada para combatê-las e buscar mudanças sociais relevantes. É nesse sentido que a introdução ao letramento racial reproduz um processo de conscientização sociológica do indivíduo sobre a estrutura e do funcionamento do racismo na sociedade. Discurso este, defendido por Grada Kilomba, ao referir que o letramento viabiliza a formação de indivíduos críticos sobre a realidade que os cerca.

Em suma, discute-se a introdução de um olhar sociológico crítico no estudo das ciências sociais humanas e na formação dos sujeitos contemporâneos analíticos e autoconscientes do período histórico em que eles se encontram. A perspectiva social aguçada pela imaginação sociológica permite a compreensão de um mundo cheio de mudanças e transformações, e agir sobre elas de maneira mais ativa pelo entendimento do seu funcionamento.


Fernanda Finassi Merlini de Sousa - 1° Ano, Direito N
oturno.

Diferentes métodos, diferentes objetivos, ambas ciências.

 Ainda no século XVI, Rene Descartes revolucionou o saber científico ao identificar uma problemática recorrente entre os pesquisadores da época: a falta de sistematização na organização e apresentação das ideias, oque dificultava a síntese das ideias que poderiam ser utilizadas para futuras pesquisas. Em busca de solucionar tal barreira, ele deu origem ao método científico inicialmente em sua obra “Discurso sobre o método”, na qual entende o conhecimento como objeto da racionalidade. Tal ideia complementa a conclusão de Francis Bacon, empirista que anos antes em sua produção “novum organum” defende a ideia de que a ciência poderia ser muito aprimorada e evidencia suas limitações da época. 

Separada por séculos dos filósofos europeus, a escritora portuguesa Grada Kilomba, faz uma interpretação sociológica em seu livro “Memórias de plantação” no qual dedica o segundo capítulo para demonstrar seus estudos sobre os efeitos do racismo estrutural, principalmente no meio científico. Com base em constatações recorrentes, Kilomba relata que como acadêmica é comum ouvir que seu trabalho acerca do racismo é interessante, porém não é científico. Admitem que acadêmicos negros que tratam sobre o racismo são muito imparciais e colocam muita pessoalidade e sentimentalismo. Contudo, isso ocorre porque ao estudar um fenômeno social deve-se ter por base que ele atinge determinado lugar na sociedade, portanto métodos científicos como aqueles estabelecidos pelos desenvolvedores da ciência moderna não podem ser aplicados.


Em congruência com Kilomba, o sociólogo americano Mills C. Wright em “A imaginação sociológica” discorre no

primeiro capítulo sobre a impossibilidade das ciências sociais estarem apartadas da realidade vivida. Ou seja,

deve-se analisar um problema social levando em consideração que a parcela que enfrenta essa questão pertence

a um determinado espaço social, seccionado em interseções de gênero, classe e raça. 


Paralelamente a Bacon, essas convergências explicitam a dificuldade das barreiras científicas, porém no campo das ciências sociais, diferentemente das preocupações do início da ciência moderna, essa, focada nas forças da natureza. Assim, deve-se apreender que o estudo da sociologia exige uma flexibilidade da metodologia que não ocorre em outros campos de conhecimento, pois diferente deles, o estudo das sociedades necessita abarcar diferentes visões de mundo e desse modo defender melhorias destinadas à diferentes esferas sociais geralmente excluídas, marginalizadas e/ou com pouca visibilidade, como Kilomba faz ao defender o ponto de vista de mulheres negras e buscando a descolonização do conhecimento. 


Jessica Baesteiro, 1º Ano direito noturno

O positivismo e o racismo estrutural presente no Brasil

O positivismo foi uma corrente sociológica do século XIX, influenciada pelo iluminismo, onde Auguste Comte apostava no progresso moral da sociedade por meio do desenvolvimento das ciências e da ordem social. No Brasil, o positivismo influenciou fortemente a política na república da espada, onde Marechal Deodoro da Fonseca implantou uma política baseada no positivismo, visando a ordem social para se chegar ao progresso. Atualmente, o positivismo é utilizado como organizador da vida social contemporânea, que em seus preceitos, formam sociedades conservadoras, que mantêm a ordem e o progresso em uma visão arcaica e religiosa. 

O racismo estrutural presente no Brasil vem de um processo histórico, associado ao colonialismo e à exploração dos nativos e africanos. Entretanto, não se conserva apenas a esse momento, visto que com a abolição da escravatura, por meio da Lei Áurea em 1888, os negros e indígenas, antes escravizados, não tiveram direito a políticas públicas para a inserção social dessa comunidade, sem acesso à terra, a trabalho remunerado e geralmente analfabetos, essa população ficou sujeita a qualquer tipo de preconceito. 

Desse modo, na contemporaneidade do tecido social brasileiro, o positivismo ainda influencia diretamente no modo de agir da população, associado ao pensamento de quem pode utilizar de cada lugar social e da hierarquização da fala, que se reflete nos questionamentos da escritora Grada Kilomba, que diz: “O sujeito branco é assegurado de seu lugar de poder e autoridade sobre um grupo que ele está classificando como ‘menos inteligente’ “ [Kilomba, p. 55], sua fala demonstra que, mesmo na sociedade atual, “inconscientemente”, o indivíduo branco é tratado com privilégios. Nesse sentido, o pensamento positivista aplicado politicamente na sociedade brasileira não passa de uma falácia, visto que é apenas aplicado a aqueles que atendem a demanda de ser branco, religioso e conservador, excluindo as demais minorias e alavancando cada dia mais o racismo estrutural na sociedade brasileira.


A influência do positivismo de Comte nos lemas políticos brasileiros.

    De acordo com o filósofo irlandês Edmund Burke, “Aqueles que não conhecem a história estão fadadas a repeti-la”. Sob essa perspectiva, é válido ressaltar que o contexto político-social dos escritos positivistas de Comte foi de agitação e fervilhamento revolucionário, mesmo contexto visto durante a bipolarização das eleições de 2022. Sendo assim, é notável que a história se repetiu por estar inserida no mesmo cenário em épocas distintas, o que pode ser exemplificado inclusive pelo 8 de janeiro.

      Desse modo, é necessário primeiramente a compreensão do positivismo como uma corrente que prevê a primazia da sociedade sobre o indivíduo, sociedade esta que é a emoldurada pelos moldes conversadores com conceitos enraizados como o de família e o de pátria. Tal pensamento se dissolve ate mesmo em lemas políticos, como por exemplo “Deus, pátria, família” ou “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, formulados pela campanha política de 2018 do ex-presidente do Brasil. Ademais, os mesmos traduzem o sentimento da fé do povo ao tocar no íntimo com a referência a algo religioso, buscando comoção nacional através do sentimentalismo presente em assuntos de religião, família e patriotismo.

     Contudo, tal primícia é antiga, visto que o próprio lema da bandeira brasileira “Ordem e Progresso” foi originado de bases positivistas. Sob esse viés, o trecho “Não somente a ativa procura do bem público será, sem cessar, considerada como o modo mais próprio de assegurar comumente a felicidade privada graças a uma influência ao mesmo tempo mais direta e mais pura e, finalmente, mais eficaz” [Discurso sobre o Espírito Positivo, p. 77] traduz bem a noção e o porquê de assumir esse papel de vincular felicidade ao bem público sobre o parâmetro pessoal de felicidade. Correlacionando com a bandeira, manter a ordem em virtude do progresso é a maneira de manter o estado bem e manter a felicidade do povo, segundo o positivismo.

       Portanto, é nítido como a sociedade enfrenta problemas atuais que possuem raízes em preceitos antigos, mesmo após décadas. Não apenas perpetuou-se o mesmo pensamento, mas o mesmo não se atualizou e manteve-se no imaginário popular. Diante disso, o positivismo no Brasil atualmente andou ao lado de atitudes antidemocráticas e discursos que propagam o conservadorismo, influenciados por Comte. Por fim, uma parte da população, dominada pela comoção, finge não enxergar essa questão e apenas reproduzir tais discursos e atos.

Francielle Arruda Tinti 1°semestre Direito (Matutino)

Imaginação Sociológica: Uma trajetória particular circulada pela amplitude das coisas.

 Segundo Charles Wright Mills, os homens comuns, que levam uma vida cotidiana, estão limitados pelas órbitas privadas em que vivem e que isso traz uma sensação de estarem encurralados. Em contraponto, as mudanças na estrutura da sociedade estão acontecendo simultaneamente, e raramente os homens possuem a consciência da ligação entre suas vidas e o curso da história mundial.

  Observa-se as transformações, de um sistema feudal que virou moderno; de revoluções e sociedades totalitárias até o capitalismo, visto por Mills como um processo de modificação do povo em um aparato industrial, todas as mudanças citadas influenciam diretamente a vida privada de um indivíduo.

  Nessa incapacidade do homem de enfrentar horizontes mais amplos surge a imaginação sociológica, que capacita o possuidor a compreender o cenário histórico de forma vasta, permitindo entender como o lado pessoal é influenciado por isso. E conseguindo passar de uma perspectiva a outra, desde a política até a psicológica, de uma população global até uma única família.

  Dado o exposto, a forma de um indivíduo comum usar a imaginação sociológica nos dias atuais é através da pesquisa, que graças a tecnologia é algo que pode ser feito dos próprios smartphones. É ficar ligado sobre o que está acontecendo no mundo, nas notícias, na política, até mesmo no lado ambiental buscando captar como essas proporções estão atuando no modelo pessoal de viver.

 

Racismo

 

Embora legalmente todas as pessoas, independente de sua raça, tenham os mesmos direitos, não é preciso estudar muito para chegar à conclusão de que esta afirmação é uma falácia.

A realidade é que mesmo nos dias de hoje o racismo que nos assola desde séculos atrás ainda permanece ativo na sociedade, cabendo a nós a responsabilidade de mitigá-lo e posteriormente erradicá-lo.

Apesar da palavra racismo ser frequentemente atrelada à raça, a verdade é que a própria palavra racismo tem cunho racista, pois é incorreto o pensamento de que há raças de seres humanos. O racismo é então o preconceito contra um indivíduo por conta de sua cor, características físicas ou étnicas.

O racismo tem suas origens com o colonialismo, onde os europeus usavam a cor como justificativa para a colonização, usurpação, assassinato e apropriação cultural, usando como motivação estarem “civilizando” pessoas de outras cores e para eles “raças”. Inclusive, a ideia de que existiam raças de seres humanos foi muito apoiada pela igreja católica, que afirmava que havia “raças” que podiam ser exploradas pela “raça dominante”.

E qual a melhor maneira de se combater o racismo? Não apenas não sendo racista, mas sendo antirracista, não compactuando com falas e atitudes racistas e ainda mais investindo em educação, permitindo o acesso de pessoas negras a ela. Um exemplo de atitudes que ajuda esse acesso é o sistema de cotas, onde pessoas pretas, pardas e indígenas tem um determinado número de vagas em faculdades de ensino público.

Em suma, o racismo é um mau que nos aflige faz séculos, e que ainda assombra a sociedade atual, entretanto com muita luta e suor, a sociedade está caminhando para um pensamento antirracista, e portanto, caminhando para um mundo onde há uma real igualdade entre as pessoas, independentemente de sua cor ou etnia.

Mills e o trabalho escravo contemporâneo

 

Comparando os pensamentos de Charles Wright Mills e o fenômeno do trabalho escravo contemporâneo, podemos lançar luz sobre questões sociais relevantes. Mills, um sociólogo renomado, enfatizou a importância da "imaginação sociológica", que é a capacidade de conectar a experiência pessoal com estruturas sociais mais amplas. Para ele “[...] tudo aquilo de que os homens comuns têm consciência direta e tudo o que tentam fazer está limitado pelas órbitas privadas em que vivem. Sua visão, sua capacidade, estão limitados pelo cenário próximo: o emprego, a família, os vizinhos; em outros ambientes movimentam-se como estranhos, e permanecem espectadores” (MILLS, 1965).

 

Aplicando essa perspectiva ao trabalho escravo contemporâneo, podemos entender como as relações de poder, desigualdades econômicas e falhas institucionais perpetuam essa prática. A exemplo disso, pode-se citar o caso atual de uma juíza que aceitou a denúncia do Ministério Público Federal contra uma mãe e um filho que eram patrões da dona Maria de Moura. A família virou réu na Justiça e é acusada de trabalho análogo à escravidão, coação e apropriação de cartão magnético de idoso. Segundo a matéria veiculada pelo Fantástico, a Justiça informou que as visitas de dona Maria à própria família eram controladas e o celular ficava com o patrão. Eles apontam também que, para a promotoria, o caso representa um recorde negativo no Brasil: "é o mais longevo, em que a pessoa permaneceu mais tempo nessa situação, 72 anos", e assentam que o Ministério Público do Trabalho resgatou a vítima, que atualmente tem 87 anos, a partir de uma denúncia anônima.

 Vale salientar que a defesa alegou que Maria era parte da família e que, no dia do resgate, na frente dos fiscais, André segurou o braço da vítima antes dela ser ouvida disse: "você não diga que trabalhou para a minha mãe, senão você vai..." e disse um palavrão. Esse ato expõe com clareza a concepção de Mills (1985) quando ele expõe que: "Quando as pessoas estimam certos valores e não sentem que sobre eles pesa qualquer ameaça, experimentam o bem-estar. Quando os estimam mas sentem que estão ameaçados, experimentam uma crise – seja como problema pessoal ou como questão pública. E se todos os seus valores estiverem em jogo, sentem a ameaça total do pânico”.

 Ao examinar histórias como essa, as quais envolvem o trabalho escravo contemporêneo, podemos ver como as experiências são moldadas por estruturas sociais mais amplas, como políticas trabalhistas deficientes, corrupção e impunidade. Essa perspectiva destaca a necessidade de não apenas abordar esse assunto como um problema individual, mas sim como um sintoma de injustiças sociais mais profundas. Portanto, aplicando a "imaginação sociológica" de Mills a essa questão, pode-se desenvolver uma compreensão mais profunda das raízes e consequências dessa temática nos dias atuais, buscando soluções mais eficazes e justas para combatê-lo.

 REFERÊNCIAS:

 

MILLS, C. Wright. A imaginação sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1965.

 'Minha tia perdeu uma vida inteira', diz sobrinho de idosa resgatada após 72 anos de trabalho análogo à escravidão. FANTÁSTICO, 11 de março de 2024. Disponível em: <https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2024/03/11/minha-tia-perdeu-uma-vida-inteira-diz-sobrinho-de-idosa-resgatada-apos-72-anos-de-trabalho-analogo-a-escravidao.ghtml>. Acesso em: 17 de março de 2024.


O indivíduo, o mundo e seu preconceito

 

Entre todas as frases ditas por Wright Mills a que mais me chamou a atenção é a seguinte “tudo aquilo de que os homens comuns têm consciência direta e tudo o que tentam fazer está limitada pelas órbitas privadas em que vivem.”. Diante dessa frase é possível tirar conclusões sobre as razões que motivam as ações humanas. A sociologia em sintase busca demostrar como o ser humano tem suas atitudes influenciadas, se não ditadas, pela esfera social em que vivem.

Perante tal fato, fica simples entender o conceito de racismo estrutural, isto é, o preconceito naturalizado em uma sociedade. Nesse caso ações não são vistas como racismo pelas pessoas que o praticam em razão da conduta ser internalizada pelo grupo social. Basicamente, as pessoas têm suas atitudes governadas por um pensamento hegemônico da sociedade que deduz que um raça que qualidades superior a outra.

 Como exemplo de uma conduta motivada pela naturalização social do preconceito, temos o caso de racismo ocorrido neste domingo na partida entre juventude e internacional pela semifinal do gauchão. No caso em questão “torcedores’ do juventude tiveram ações racistas para provocar a torcida do internacional. Esse é só um dos inúmeros casos de racismo no futebol, porém, se fosse feita uma pesquisa certamente a maior parte da sociedade gaúcha não estaria preocupada com a situação, afinal, “isso é normal no futebol” e “e assim mesmo’.

Isso demostra que por mais que muitas pessoas digam o contrário, suas opiniões, crenças e ações são, no mínimo, influenciadas pela sua “órbita privada” de consciência, isto é, o meio em que a pessoa está inserida, seu grupo social.

O questionamento e suas possíveis consequências

 

Ao analisar a visão apresentada no texto “Quarta Parte”, do filósofo René Descarte, relacionada há ideias de percepção, conhecimento, dúvida, reflexões e outras coisas, é nítido como atualmente com os excessivos números de informações desse mundo globalizado nos faz em muitos momentos ficarmos confusos e partirmos para os questionamentos, tentando através disso conseguir uma reflexão dessas ideias e ter ou não suas confirmações. Levando em consideração essa visão, tenho em mente que é de suma importância duvidar de determinadas questões e descobrir se elas estão enquadradas como verdadeiras em nossa perspectiva e na do mundo cientifico, porém que também é preciso antes de sair com um pensamento fechado apenas de dúvidas, tentar conhecer aquilo verdadeiramente e depois tirar conclusões, seguindo a ideia de Descarte, na qual diz que “o conhecer é perfeição maior que o duvidar”.

Após essa reflexão, pode-se observar a estrutura da sociedade e sua composição repleta de inovações, conceitos, culturas e outros elementos e como muitos indivíduos em algum momento da sua vida questionarão esses aspectos, pois são humanos e junto a necessidade de ter uma opinião sobre aquilo vem o instinto de duvidar. Partindo desse raciocínio, algo que fica perceptível ao se tratar do mundo contemporâneo, é a desigualdade e os preconceitos existentes, que em muitos momentos surgem desse exercício de duvidar sem o esforço de conhecer, em específico de coisas que fogem do padrão determinado pelos preceitos que aquele individuo está seguindo. Onde uma sociedade que se defende evoluída e igualitária, pratica atos como o racismo, que está estruturado nos meios sociais, acadêmicos e muitos outros, como cita a escritora e psicóloga Grada Kilomba, em seu texto chamado “Quem pode falar?”.

Considerando essa linha de pensamento  que está relatando uma realidade vivida por muitas pessoas, nota-se que esse racismo se manifesta de forma sistemática e enraizada na sociedade, podendo ser exemplificado no fato de mulheres pretas serem a grande maioria nos trabalhos inferiorizados e mal remunerados, juntando com a falta de representatividade desses indivíduos em cargos públicos e acadêmicos, além das porcentagens mostrando que o número de pessoas pretas mortas nas comunidades carentes serem sempre a maior parte e até a forma de tratamento opressora e preconceituosa que recebem por conta do seu tom de pele, existem muitos outros exemplos que acontecem e ao saber dessas situações ou até mesmo ao passar por elas, nos surge o sentimento de refletir e perguntar se esses acontecimentos já não deveriam ter sidos extinguidos, levando-nos a pensar que no meio dessas constantes repressões sempre haverá o surgimentos de formas de resistências, pois essa marginalização não deve ser naturalizada e nem aceitada, pensamento defendido também pela escritora Grada Kilomba.

Por fim, é possível concluir que há realmente uma necessidade de certos momentos ter dúvidas do mundo e dos conceitos para não sermos enganados e termos plena consciência das informações e ideias em que estamos acreditando e defendendo, porém sempre ao realizar esses questionamentos levar determinados aspectos em consideração, como emprenhar-se a realmente entender aquilo, pois ao pensar na construção do nosso conhecimento, temos que ter a consciência que experiências sociais que são individuais ou não podem influenciar essa constituição do pensar, além de moldar questionamentos e percepções que cada um tem da realidade, tornando-se claro que esse assunto é complexo, visto que existe uma grande ligação entre a elaboração do conhecimento e pensamentos com a identidade, posição social, experiências e questionamentos de cada um.

Ciclos repetitivos e a pós-verdade

 A filosofia e a sociologia buscaram, durante séculos, estabelecer a racionalidade como base para a ciência, visto que, por muito tempo, foi regida pela visão teológica. E apesar de ter sido um esforço bem sucedido, e hoje os campos do conhecimento serem guiados pelas comprovações científicas, observa-se, o crescimento de um preocupante fenômeno: a pós-verdade. 

A pós-verdade é uma crescente onda que aos poucos está se infiltrando em nosso cotidiano: tanto nas esferas interpessoais quanto em âmbito público. 

A pós-verdade caracteriza um discurso que é regido não pelos fatos, e sim pelas emoções. Onde a razão e a objetividade, tornam-se menos importantes. Isso é favorecido pelo contexto sócio político atual: a polarização política e um acesso em massa a fontes de informação alternativas e redes sociais possibilitam o desenvolvimento de bolhas sociais, onde indivíduos fecham-se para todo o resto, levando somente a opinião de seus semelhantes em consideração. Sem a devida fiscalização, verdades são distorcidas, ideais são vendidos como fatos e narrativas são alimentadas em prol de certos valores, sem compromisso com a verdade e a transparência. 

Desta forma, é possível de observar a repetição de antigos erros: há 400 anos atrás Descartes defendia o pensamento racional e a busca pela verdade, enquanto Wright Mills defendia uma visão para além do pessoal, mas sim uma visão estrutural e social. Mas a tendência é justamente um afastamento desses ideais. E por que? Essas bolhas tendem a alimentar o medo e a insegurança, insinuando que os valores estão sendo ameaçados, além de intensificarem a partir de ciclos viciosos, uma vez que alguém passa a consumir com regularidade certos conteúdos, a tendência a ficar mais submerso neste meio e as chances de ter contato com opiniões e visões exteriores só diminui. Portanto, essa é a sina do homem moderno, aquele que não conhece seu passado, não pode evitar repeti-lo.


Compreensão do mundo por um olhar sociológico

  A inserção do meio informacional de comunicações nos conjuntos de produção, junto a integração política, econômica e cultural mundial, referente ao fenômeno da globalização, permitiram a formação de um contexto social nunca antes testemunhado. Este quadro diz respeito a uma nova época em que as relações são frágeis e maleáveis, tal como os líquidos. O sociólogo Bauman aponta que as instituições e as conexões sociais passaram a ser cada vez menos sólidas, isto é, se constroem ou desconstroem com facilidade.

Diante disso, a Teoria da Modernidade Líquida, desenvolvida por Bauman, busca descrever as atuais relações entre indivíduos e instituições consequentes da composição conjuntural proporcionada pela globalização em uma sociedade que se mostra encoberta por mudanças constantes. O indivíduo nunca presenciou tanta incerteza em meio a inconstância e as rápidas transformações que se modelam continuamente. Nesse cenário, a angústia passa a ser comum e presente nos sujeitos que não compreendem o atual funcionamento das relações sociais e estruturais.

Nesse contexto, a imaginação sociológica expressa por C. Wright Mills, permite compreender essas relações entre a sociedade e os sujeitos, identificando que, muitas vezes, problemas pessoais não são apenas questões individuais, mas resquícios de adversidades sociais e estruturais. O desemprego, como prova, pode aparentar geralmente uma questão pessoal de engajamento profissional, no entanto, se esse estiver se tornado estruturado, o desemprego não se posiciona mais em âmbito individual, mas influenciando todo o coletivo. Com a imaginação sociológica, os sujeitos passam a ter maior capacidade de compreensão para tomar decisões e agir nos limites e possibilidades impostos pela estrutura precedente de agentes sociais e históricos vastos.

A discriminação racial, por exemplo, é um agente estrutural social que afeta a vida de sujeitos de minorias étnicas. A compreensão individual e coletiva deste, porém, pode ser usada para combatê-las e buscar mudanças sociais relevantes. É nesse sentido que a introdução ao letramento racial reproduz um processo de conscientização sociológica do indivíduo sobre a estrutura e do funcionamento do racismo na sociedade. Discurso este, defendido por Grada Kilomba, ao referir que o letramento viabiliza a formação de indivíduos críticos sobre a realidade que os cerca.

Em suma, discute-se a introdução de um olhar sociológico crítico no estudo das ciências sociais humanas e na formação dos sujeitos contemporâneos analíticos e autoconscientes do período histórico em que eles se encontram. A perspectiva social aguçada pela imaginação sociológica permite a compreensão de um mundo cheio de mudanças e transformações, e agir sobre elas de maneira mais ativa pelo entendimento do seu funcionamento.


Fernanda Finassi Merlini de Sousa - 1° Ano, Direito N
oturno.

Positivismo e vacinação, entre a ideologia e a crença popular

 É fato que o positivismo influencia a política brasileira de modo geral como visto sua adoção pela República brasileira em 1889 com a ascensão de Marechal Deodoro da Fonseca e os militares ao poder. Exemplificando-se, está a frase estampada na bandeira do Brasil: Ordem e progresso. Contudo, em meio às discussões em sala de aula, um tópico me gerou uma dúvida maior em relação a outros, porque os positivistas de extrema direita não são a favor da vacinação contra a Covid-19?

Em uma primeira análise, é meio contraditório pensar que, embora o positivismo pregue que a ciência e o desenvolvimento humano devam ser o foco da sociedade, os mesmos “positivistas” não defendam a vacinação. Vários fatores contribuem para essa contradição, como a falta de interesse no assunto e a valorização de “meias verdades”, mas um argumento se sobressai: o de que está escrito na bíblia em Apocalipse que o diabo, no final dos tempos, teria uma marca nas pessoas, essa marca seria a da vacina segundo os evangélicos pentecostais brasileiros e norte-americanos.

Ademais, governos de extrema direita usaram dessa crença para o fazer político, expressando-se contra vacinação em suas campanhas e colocando em risco a saúde da população para atrair votos do centrão político. Essa estratégia fica evidente nas campanhas de Donald Trump e Jair Bolsonaro, esse último por sua vez, alegou que não tomaria a vacina e argumentava contra ela.

Portanto, entende-se que o positivismo influenciou, de certa forma, o pensamento político contemporâneo. Contudo, nem todos os aspectos dessa ideologia foram adotados pela população, apenas as partes as quais concordavam com as suas crenças prévias. Dessa forma, conclui-se que o positivismo, assim como qualquer ciência social, sofre mutações ou mudanças no seu uso para corroborar com o pensamento da sociedade na qual se encontra.

 

Ao longo da história, momentos de caos social foram berço de diversos pensamentos preconceituosos, assim como o nazifascismo no período entreguerras. Não diferente disso, após a revolução industrial, momento em que a sociedade se fragilizou devido às relações de exploração entre burguesia e operário, surgiu o pensamento Positivista de Augusto Comte.

Para muitos, principalmente no Brasil, esse pensamento é bem-visto devido a sua contribuição com a Proclamação da República e do fim da escravidão. Porém, essa é uma visa distorcida da verdade, já que as premissas de “ordem e progresso” estão carregadas de preconceito. Explorando a questão do “progresso”, percebe-se a facilidade de apoiar ideais discriminatórios e predatórias nesse lema. Como exemplo de práticas “validadas” pelo pensamento Comteano temos o “Darwinismo Social” e, além disso, práticas de exploração da natureza podem ser baseadas no lema que inspirou a bandeira brasileira.

O tema sobre discriminação social envolvida no positivismo já é algo que, mesmo que longe do conhecimento da maioria, é majoritariamente tema dos debates sobre as mazelas da corrente comteana e por consequência “clichê”. Logo, outro ponto negativo e pouco explorado é a questão do desmatamento. Como o progresso tecnológico e material é objeto de valor nesse pensamento, a natureza é colocada de lado em relação ao desenvolvimento econômico, como exemplo a devastação de áreas verdes para a instalação de fabricas ou terras agricultáveis. Além do mais, a exploração predatória da fauna e flora é bem vista no âmbito positivista, para, por exemplo, desenvolver novos remédios ou cosméticos, algo intriseco a ciência.

Theo Della Negra Gaya - 1 ano direito

Demanda do pensar

 

No atual cenário da sociedade, em meio a tanta disponibilidade de informação, ocorre-se também a propagação de falsas informações, as chamadas fake news. Tendo isso em vista, fica ainda questionável a confiança de fato, pois mesmo em meio a ampla tecnologia, fica-se este perigo. Pode-se assimilar a esta questão uma reflexão sobre a busca da verdade, no ambiente opulento de dados, quando paramos para nos perguntar se algo é realmente verídico? E por que nos perguntaríamos se aquilo é verdade? No que implica?

Destarte, vale ressaltar a ideia de dúvida fundamental do francês René Descartes, evidenciada na frase “penso logo existo”. Na prática, a teoria do filósofo é sedimentada justamente sem verdades, pois é a dúvida direcionada que nos fará destrinchar a verossimilhança de determinado objeto. Dessa forma, é critério para compreender a vivência, o pensamento e o ato de duvidar, assim sendo, também é necessário atualmente ocorrer essa dúvida focalizando as informações modernas.

Outrossim, mesmo com a ideia do pensar evidenciada, ainda não se torna um método popular, o que resultaria em menores abas para desinformação. Porém, a impopularidade do método há sistematização, ocorre de maneira estruturada, pois como se sabe, há desigualdade social no presente contexto, o que resulta em carência educacional para determinadas classes. Dessa maneira, a desqualificação causada é questão pública, nicho administrativo, o que pode ser verificado no conceito de “imaginação sociológica” proposto pelo sociólogo Charles Wright Mills.

Logo, a temática abordada pelo sociólogo estadunidense retrata o pensamento de influência da sociedade para as pessoas que a compõe. Ou seja, com problemas estruturais na organização social, será obrigatoriamente refletido nos cidadãos, estes, que devido a carência informacional correta, estarão sujeitos inconscientemente ao que for lhes apresentado, sem uma devida noção sobre o contexto que se ocorre e a posição histórica da sociedade que estão inseridos. Portanto, trata-se de uma base científica social que deveria ser mais bem composta, integrando o saber da dúvida e a noção social histórica, para que o povo não seja prejudicado em cenário com falsas ideologias.

A pinça sociológica contra as fake News

 Após o advento da internet e das redes sociais, devido a muitos dependerem dessas redes para obter informações, especialmente os mais velhos, o mal uso da liberdade de expressão para a postagem de fake News costuma implicar consequências sociais desastrosas, que não são consideradas no momento da postagem por aqueles sem “imaginação sociológica”.

De forma semelhante ao que os generais chamam de “ataque de pinça”, a sociologia e a filosofia são capazes de tratar o assunto das fake News por 2 frentes, a da responsabilização dos indivíduos que não compreendem o impacto de suas ações no coletivo, e a da prevenção do engano por meio da dúvida metódica.

A capacidade de ver além do indivíduo, ou seja, ver os impactos coletivos de ações individuais, foi tratada por Mills no livro “imaginação sociológica”, no qual ele explica que ações individuais carregam um impacto em algo muito maior que o indivíduo, e há uma grande responsabilidade por trás dos atos que ele pratica. Portanto, a visão sociológica evita que as fake News sejam postadas inicialmente.

Além disso, o método cartesiano da dúvida, quando aplicado, evita que o leitor dessas noticias acredite nelas rapidamente, e o leva a verificar se a notícia é real antes de a compartilhar ou tomar como real. Logo, o método cartesiano tem um importante papel de controle de danos dessa prática social maliciosa.

Por fim, é correto afirmar que a filosofia e a sociologia são capazes de atacar as causas e as consequências das fake News, e resolve o problema enquanto atenua as consequências.

 

Elite do poder e burocratização limitante: entre a desigualdade social e a manutenção de poder

 

Na contemporaneidade, o povo vive um crescente desconhecimento das leis e do regime econômico vigente – neoliberalismo-. Sob tal perspectiva, o sociólogo norte americano Wright Mills teoriza que tal cenário é para solidificar o privilégio das elites e sua manutenção no poder seja ele político ou econômico, uma vez que tal cegueira burocrática impede as camadas populares de reivindicarem projetos que apenas atendem à determinado grupo. Portanto, no panorama atual, identifica-se as teses de uma elite do poder e, consequentemente, a instrumentalização da legislação para assegurar a desigualdade social.

É iniludível a existência de um coletivo de poucos que concentram uma influência significativa sobre as decisões e direções da sociedade. De acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), pessoas brancas representam uma maioria de 83,8% nos magistrados da Justiça brasileira, com apenas 1,7% sendo juízes pretos(as). A vista disso, é notório a persistência do racismo estrutural - o qual há uma elite branca que pautava leis racistas, baseado em preconceitos históricos desde o período o colonial – perpetuado pelos brancos até os dias de hoje. Destarte, evidencia-se a manutenção do poder político de seleto grupo por meio da hegemonia racista no sistema político, confirmando a existência da elite do poder e sua reprodução nas instituições de poder como o judiciário.

Por conseguinte, a presença desses grupos implica no uso egoísta do legislativo a fim de atenderem seus privilégios em detrimento da igualdade. O sistema tributário de diversos países é marcado com notório grau de complexidade. O Brasil, por exemplo, é considerado o mais complicado do mundo de acordo com o Complexity Tax Index -índice compilado por duas universidades alemãs que mostra a complexidade tributária. Sob essa óptica, isso ocorre para limitar o povo do real entendimento por meio do uso de jargões e frases rebuscadas – linguagem acadêmica elitista -, assim, evitando que as camadas populares tenham o conhecimento das formas de exploração que apenas beneficiam a elite do poder. Nesse ínterim, análogo ao parnasianismo que segregava a arte para os ricos através do preciosismo linguísticos, a legislação elitista vigente utiliza dos mesmos artifícios para determinar o poder na mão de poucos. Desse modo, garantindo a manutenção da desigualdade social.

Em suma, na sociedade contemporânea, as proposições de Wright Mills são visíveis na configuração política. Dessa forma, entende-se os dados do CNJ, os quais representam uma elite de poder que aumenta constantemente a burocratização e complexidade das leis com o objetivo de manutenção de poder para os poucos e em segundo plano o cumprimento da igualdade social prevista na Constituição brasileira atual.


A Parcialidade Acadêmica

 

O pensar científico, desenvolvido majoritariamente durante o movimento iluminista, propagava uma ideia de ciência imparcial, onde o objetivo sempre deveria ser a verdade, para isto desenvolveu-se o método científico, o qual sistematizou o conhecimento, através da dúvida e da observação, desse modo trazendo uma confiabilidade às informações trazidas.

Todavia, percebe-se que o método científico defendido por Bacon não provém completa imparcialidade, visto que um grupo seleto de pessoas definem quais são os saberes valorizados na sociedade. Dessa forma, enquadra-se as falas de Grada Kilomba, que se sentia um “corpo sujo” no ambiente acadêmico, a sensação de não pertencimento causada pelo julgamento da elite branca presente nas universidades, a qual acredita que corpos negros devem ser vitimas silenosas do racismo e colonialismo, sem articulação própria para sua defesa. Dessa forma as pesquisas de Grada não são vistas como fatos científicos e sim como opiniões, sendo consideradas parciais apesar de seguirem o mesmo método defendido por séculos, pelo fato de abordarem o tema do racismo e colonialismo, temas que foram negligenciados durante todos esses séculos.

Nesse contexto, nota-se o mito da objetividade, abordado por Grada, demonstra como os conhecimentos e interesses da academia refletem os interesses de uma sociedade branca, que não apenas deixou, porém colocou os corpos negros as margens desta sociedade. Assim, é necessário ouvir a voz nativa, em todos os meios, a fim que os conhecimentos tornem-se verdadeiramente imparciais e todos ouvidos, onde os ensinos da história da África serão tão valorizados quanto a história europeia .

Os grupos anti-vacinas e sua cultuada irracionalidade : pela perspectiva de Descartes

 

Durante o período da pandemia da Covid-19, iniciada em 2020, as incertezas a respeito de que medidas deveriam ser tomadas perante a ameaça da doença mortal assombrou o mundo. Nesse contexto, o Brasil, que desde 2018 passava por uma administração governamental instável, se encontrava no meio de um colapso social, porque diante do cenário nacional desconhecido, muitas pessoas, em meio a tantas dúvidas se tornaram frágeis a discursos ilógicos, como os de caráter negacionistas do próprio presidente e seus aliados, que se aproveitaram desse momento delicado da população para disseminar seu ódio a ciência, já que eles negavam a existência de um real perigo para a sociedade e minimizavam a periculosidade da doença, enquanto centenas de brasileiros morriam por mês em decorrência do vírus. No entanto, apesar dos absurdos ditos por eles, sua autoridade diante da crise fez com que muitos, com o bom senso prejudicado, se apegassem a esses discursos como válidos.

Toda essa realidade se tornou mais crítica e perigosa quando diante do início da produção da vacina, esses ideais governamentais fortaleceram os grupos “antivacina”, os quais questionavam a eficiência do método de imunização a partir de argumentos sem embasamento científico e racional, visto que acreditavam em superstições e ideias do senso comum. No entanto essas noções deveriam ter “caído por terra” ou serem nacionalmente rejeitadas, porque como é defendido por Descartes o que não possui explicação racional e cientifica não tem legitimidade como conhecimento, haja vista que a evidência racional deve ser usada como critério da verdade para esse pensador. Logo conclui-se que esses movimentos negacionistas não fazem uma compreensão verídica da realidade, em virtude do fato de que para essa ser feita é necessário, como diz o filósofo, fazer uso do método científico, que é orientado pela racionalidade e observação como forma de superar o supersticioso e o imaginário na construção do conhecimento, o que se contrapõe ao que é dito por esses grupos.

Portanto, ao analisar a sociedade atual (com base nesse momento em específico) a partir do ideário de René Descartes, percebe-se a forma como as pessoas em meio a crise deixaram-se ser guiadas pela imaginação e pelos sentidos, fazendo com que elas se afundassem cada vez mais na ignorância do “não saber” e da incerteza, já que sem a intervenção da racionalidade científica nada jamais pode ser garantido. Desse modo, evidencia-se como esses movimentos que se erguem com o objetivo de negar e questionar a ciência moderna, nada entendem sobre a mesma, uma vez que como foi dito por Descartes “a ciência moderna nasce sob o signo de um conhecimento que deveria ser neutro, guiado pela razão e pela experiência, liberto de sentimentos (cívicos, religiosos, etc.) e pré-noções.” , assim não a nada a se duvidar e nem negar, a não ser que o questionamento se inverta e seja sobre o real objetivo desses movimentos, o qual ai sim deve ser gerar desconfianças.

O racismo na esfera pública e privada

 

   O sociólogo americano Charles Wright Mills diz que todas as ações e pensamentos que os homens têm estão limitados às órbitas privadas que os mesmos habitam, exemplo esses sendo cenários próximos, como família e emprego, fora disso são apenas observadores e quanto mais tomam noção desse fato, mais presos se sentem. Durante a história da humanidade, esses cenários foram moldados por guerras e revoluções, transformando assim os ofícios dos homens na sociedade, e durante esses períodos os homens pouco têm consciência sobre suas posições no curso da história mundial, assim sendo incapazes de transformá-las.

   A partir disso, a imaginação sociológica consegue perceber o que acontece no mundo e compreende os minúsculos detalhes da história dentro da sociedade Nesse aspecto surgem as perturbações dentro do caráter do indivíduo e limitadas a vida social, de que o mesmo tem consciência direta e pessoal. Tal perturbação é um assunto privado, o qual está sendo ameaçado.

    Nesse âmbito observa como ambientes de pequena escala transformam-se uma parte da estrutura ampla da sociedade quando por exemplo, um problema pessoal como o desemprego vira um problema público, dessa forma sendo necessário que as maneiras de lidar com o problema sejam transformadas para resolver esse problema, agora considerando também instituições econômicas e políticas da sociedade.

    Diante disso, a escritora Grada Kilomba disserta sobre a falta de acesso de pessoas pretas em universidades, ao passo que tal fato ligasse a ideia dita por Mills na questão de problemas privados atingindo a esfera pública ao se perceber o racismo estrutural integrado em uma dessas instituições, no caso, a faculdade.

   A partir disso, Kilomba relata sua experiência no meio acadêmico, esse, afetado por episódios de racismo, como quando a mesma é questionada sobre suas habilidades e até sobre sua posição quando lhe é exigido um conhecimento sobre a língua alemã.

  Essas e outras experiências foram responsáveis para que Kilomba começasse a questionar quem pode e quem é silenciado no meio universitário e perceber como o seu caso, esse sendo privado, reflete-se na esfera pública ao passo que esse problema não é algo individual mas sim um reflexo do Brasil e suas raízes racistas.

A era virtual e o conhecimento científico na contemporaneidade

 Na era da virtualidade, da globalização e da ciência – ao passo que as doutrinas teológicas e metafísicas encontram-se com sua força mitigada pelo conhecimento e descobertas científicas –, era de se esperar que o momento atual representasse o auge da informação e do conhecimento científico na sociedade global. Entretanto, as redes sociais e o seu ambiente pouco monitorado, no qual a liberdade de expressão é ilimitada, propiciou a difusão, na verdade, da desinformação, bem como de fake news e de “opiniões” que são tratadas como fatos, além de comentários de cunho fascista, preconceituoso e ilegal, que acabam por se sobrepor ao vasto conteúdo legítimo de conhecimento cientifico e racional que há disponível hoje.

Graças aos grandes estudiosos do século XVII é que a ciência se estabeleceu como método e que possui atualmente tão vasto repertório de conhecimento e pesquisa, tendo sido capaz de superar as teorias teológicas e metafísicas que dominavam o pensamento humano em tempos anteriores. O filósofo empirista Francis Bacon acreditava que o conhecimento científico e verdadeiro poderia ser obtido através da interpretação da natureza, como experiência sensível e prática; enquanto o senso comum se dava pela antecipação da mente, um labor apenas intelectual e que não conduzia à verdade. Já o filósofo racionalista René Descartes acreditava que o conhecimento poderia ser alcançado através de um método científico racional que supera a superstição e ideias de magia ou alquimia, rejeitando todo tipo de informação que possa ser minimamente questionada. Assim, apesar de defenderem filosofias aparentemente dicotômicas – a empirista e a racionalista-, seus estudos se complementam e fundamentam os caminhos para a ciência e o conhecimento.

Contudo, os estudos imprescindíveis dos filósofos e cientistas Francis Bacon e René Descartes, juntamente com acontecimentos históricos marcantes que precederam o século XXI, como a Segunda Guerra Mundial e a Terceira Revolução Industrial, processos de inegável evolução nos ramos tecnológico e cientifico, e de aprendizado à humanidade quanto ao modo com que ela deve se relacionar consigo mesma, após esses casos de extermínio – da população judaica – e de exploração – da classe trabalhadora -, não foram suficientes para que se consolidasse a priorização da ciência, como um método legítimo tanto racional quanto empírico, frente ao censo comum, que possui origens duvidosas e sem embasamento teórico e, como afirma Bacon, é uma antecipação da mente, ou seja, antecipa um suposto conhecimento e não se configura de modo algum como verdade.

Em suma, em uma conjuntura tão explicitamente rica em saberes científicos e metodologias que guiam à esse conhecimento, em uma era sucessora a experiências históricas das quais deveria se aprender lições, e seguida dos estudos grandiosos de fundadores da Revolução Científica; o senso comum ainda se destaca devido aos meios pelo qual se difundem milhares de informações, sem haver um compromisso com a veracidade: a internet e as mídias sociais. Desse modo, a praticamente absoluta liberdade de expressão no meio virtual notoriamente prejudica o desenvolvimento intelectual e científico da humanidade na contemporaneidade, bombardeando-a de desinformação à todo momento, e desvinculando-a da busca pelo conhecimento científico e pelas verdades do planeta e do universo nos quais estamos inseridos.

Senso comum: Reflexo do retrocesso social

 Em tempos de constantes mudanças sociais, políticas e tecnológicas, a busca e produção de conhecimento como forma de análise social se faz inerente à todas as sociedades. Dessa forma, revisitando os ensinamentos de Francis Bacon e René Descartes, torna-se possível lançar um olhar crítico sobre a realidade que nos permeia.

Bacon, em sua obra “Novo Organum”, tece duras críticas ao conhecimento produzido apenas pela observação, nos convidando a duvidar das “imagens” preconcebidas, que por natureza obscurecem a verdade. Em seu livro, Bacon evidencia a necessidade de experimentações metódicas, com rigorosas observações para que possamos alcançar conhecimentos úteis ao progresso da humanidade, o que é fundamental para analisarmos os problemas sociais de forma abrangente e identificar suas raízes.

Descartes, por sua vez, ao propor o método cartesiano como caminho para o conhecimento na obra “O Discurso do método”, enfatiza a importância da razão e da lógica na busca pela verdade. Através da dúvida metódica e da análise racional, podemos discernir o verdadeiro do falso e construir um conhecimento sólido e confiável, de forma a garantir o questionamento de ideologias dominantes e narrativas que perpetuam desigualdades, injustiças e conhecimentos infundados.

Durante séculos, os conhecimentos produzidos por estes pensadores, concomitantemente com diversos outros nomes, foram a fundação para a produção de conhecimento científico, conhecimento esse que hodiernamente é constantemente negado pelas mesmas sociedades, grupos e instituições que se valeram do legado construído por esses cientistas, optando por viver sob um “manto” de ignorância, se valendo de senso comum para pautar decisões em diversos graus de importância.

Um dos maiores exemplos desse fato na sociedade moderna é a propagação de notícias falsas, muitas vezes com cunho calunioso, difundidas principalmente durante as últimas eleições presidenciais no Brasil. O não aferimento da veracidade de tais informações foi capaz de influenciar o julgamento de milhares de cidadãos, de forma muito semelhante ao ocorrido durante a pandemia de Covid-19, o que evidencia uma forte precarização e negação ao verdadeiro conhecimento científico.

A Imaginação Sociológica como fomentadora da desnaturalização da realidade social

 A história não aceita coincidências, muito menos explicações superficiais das relações sociais que proveram certo sentido nas tomadas de decisões do mundo. A tese hegeliana de que as ações sociais são consequências do idealismo, ou seja, de que a razão determina a realidade objetiva, cai no esquecimento quando a materialidade é observada como fator principal das condutas comunitárias vigentes. Ora, o colonialismo racial não foi fruto apenas de um imaginário coletivo que resultou no esforço de invadir, roubar e sequestrar pessoas na África ao bel prazer dos colonizadores, mas sim porque a realidade material possibilitou que os mesmos poderiam enriquecer e chegar ao topo da pirâmide do poder. Desta forma, observando a realidade como proposta, cria-se o imaginário do colonialismo caracterizado como racista, patriarcal e aristocrático.

 Partindo deste pressuposto, Wright Mills enfatiza a realidade social por meio do afastamento do objeto a ser analisado. Logo, com uma visão mais ampla partindo do particular para o geral, entende-se os conceitos rotineiros não como efeitos banais do corpo social, mas como um arranjo de comunicação que se torna complexo com o aprofundamento das análises dos rituais preestabelecidos. Assim, nota-se uma correlação com método indutivo de Francis Bacon, já que em sua obra, Novo Organum, a crítica aos axiomas são realçados ao longo do discurso, pois nenhuma verdade pode ser considerada concreta ao ponto de se transformar em base para o entendimento posterior. Desta forma, voltando-se ao exemplo citado anteriormente, a escravização no continente africano não pode ser entendida como mera aquisição moral já estabelecida pelo europeu antes da prática em si, mas como ferramenta capaz de transformação deste povo em potência político-econômica que, após realizada, sintetiza no imaginário coletivo como algo normal e natural.

 Portanto, a desnaturalização das relações sociais é de suma importância para a compreensão da formação da realidade como ela se apresenta. Observa-se, como exemplo, a obra “Memórias da plantação” da autora Grada Kilomba, a qual retrata em seu texto a rotina enfrentada por pessoas negras através do viés do racismo estrutural. Para Grada, a objetificação do corpo da mulher preta, juntamento com o lugar que é estabelecido para a ocupação deste mesmo corpo, são formas de retratar a violência encarada pela comunidade negra e feminina ao longo da história, já que, partindo da imaginação sociológica, tal violência é expressada como produto do colonialismo europeu e pelo conseguinte ato de escravização, os quais criaram lugares para que as mulheres negras ficassem e vivessem de acordo com a norma padrão. No entanto, a desnaturalização deste procedimento sintetiza o questionamento do porquê isto ocorre, causando uma revolução no modo de pensar e agir para com o processo preconceituoso que rege as relações sociais atuais.

A imaginação sociológica como forma de abater a doutrinação

 

Na obra “ A Imaginação Sociológica", de C. Wright Mills, é refletido sobre a capacidade de entender as relações sociais entre os indivíduos e a sociedade, de maneira a perceber como as questões pessoais de cada um se interliga com questões sociais mais amplas. Na perspectiva da imaginação sociológica, a doutrinação vai contra a corrente, visto que, essa refere-se à imposição de regras, valores, ideais e crenças a um grupo específico de pessoas, não permitindo questionamentos e análises críticas.

No que tange a doutrinação, ela pode ocorrer em diversas esferas da sociedade como, instituições políticas, religiosas, educacionais e culturais. Por exemplo, em regimes autoritários, a doutrinação política pode ser utilizada para controlar e manipular a opinião pública, restringindo o pensamento crítico e promovendo uma única narrativa ideológica e impondo uma visão de mundo única e muitas vezes dogmática. Algo que de certa forma ocorreu no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, onde houve uma imposição de valores conservadores e nacionalistas que juntamente com a instituição religiosa passou a criticar e condenar visões divergentes e menos arcaicas. Essa forma de doutrinação no contexto bolsonarista gerou intensos debates e críticas, com argumentos sobre a limitação da liberdade de expressão, o enfraquecimento das instituições democráticas e a polarização exacerbada na sociedade brasileira.

Ademais, esse sistema acaba por afetar o âmbito educacional, dado que, em março de 2024, o livro “ O Avesso da Pele”, do autor Jeferson Tenório, foi alvo de censura por grupos bolsonaristas, após a diretora de uma escola no Rio Grande do Sul fazer um post nas redes sociais discorrendo sobre como o vocabulário era de nível baixo para ser discutido com os alunos do ensino médio. Além disso, casos de parentes reclamarem sobre o conteúdo contido nos livros ensinados na esfera educacional foi uma grande discussão nesses últimos anos. Isso pode prejudicar o desenvolvimento intelectual dos estudantes, limitando sua capacidade de analisar criticamente o mundo ao seu redor e de formar opiniões independentes.

É de extrema importância ressaltar que a doutrinação muitas vezes utiliza de métodos manipulativos e persuasivos buscando influenciar o comportamento dos indivíduos sem que eles percebam, limitando a liberdade do pensamento, a aptidão de questionamento das pessoas e a autonomia intelectual.

Depreende-se, portanto, que a imaginação sociológica é fundamental para os tempos atuais, sendo uma ferramenta valiosa para compreender as dinâmicas sociais de forma crítica e reflexiva sempre indo a favor de uma abordagem que corrobore para que os indivíduos identifiquem como suas experiências são influenciadas por fatores históricos, políticos, culturais e sociais, procurando assim, enfraquecer uma forma dogmática e alienada de pensar.

A Fé Incrédula de Descartes (ou de uma folha)

 

Aquela folha amarronzada, talvez avermelhada, se solta daquele galho fino e fraco que a segurava e percorre longo caminho através do vento. 

     Aquela folha amarronzada, talvez avermelhada, encontra-se confundida pela imensidão de sensações que percorrem sua superfície. O frescor? A velocidade? O medo? Talvez porque uma vez lhe disseram que os sentidos são enganosos, que nada nos garantem e, por isso, decidiu duvidar de tudo o que lhe recorresse. 

     Aquela folha amarronzada, talvez avermelhada, aproveita a viagem para admitir sua pequenez, e reflete sobre sua incapacidade de ser do jeito que é sem a existência de alguém mais perfeito, que a possa ter formado, criado e que costumava nutrir sua vida. 

     Aquela folha amarronzada, talvez avermelhada, admite sua ignorância, e chega à conclusão que até essa sua reflexão não é fruto seu, mas fruto desse alguém mais perfeito que lhe permite tais indagações exteriores a sua natureza.

     Aquela folha amarronzada, talvez avermelhada estaciona e repousa entre o solo frio e uma estrutura alta, larga, marrom e, ali, encontra algo além de toda a experiência sensível que teve na última hora. 

     Aquela pequena folha, por fim, sente-se próxima de casa, volta para onde tudo começou e, depois de uma longa viagem, sente que encontrou aquilo que chamam de alma, aquilo que a torna pequena, comum, mas existente, e aquela estrutura grande e marrom que protege outras folhas ainda saudáveis a envolve, e a pequena folha avermelhada encontra a paz de sua alma.

A compreensão é necessária para a transformação

A ignorância na sociedade moderna manifesta-se em diferentes formas e contextos. Seja na intensa propagação de fake News nas redes sociais, manifestações antidemocráticas, e movimentos antivacinas, o atual pensamento acrítico é um obstáculo para o progresso individual e social. Em meio a velocidade da informação e da complexidade das relações na sociedade contemporânea, a habilidade de pensar sociologicamente se torna ainda mais necessária. Nesse contexto, no livro “A imaginação sociológica”, Wright Mills propõe para o individuo o ato de questionar ao examinar questões como a desigualdade a globalização, a tecnologia e as mudanças sociais, compreendendo como as trajetórias individuais são ajustadas por forças sociais e estruturais.

Posto isso, sob a perspectiva de Mills, questões como o fenômeno da polarização política e a cisão social, que trazem consequências danosas a democracia, devem ser compreendidas através da investigação dos princípios estruturais dessas divisões, explorando como os veículos midiáticos e as redes sociais contribuem para influência das massas, ao invés de somente atribuir esses problemas a diferenças individuais ou ideológicas. A exemplo disso, durante a pandemia do Covid-19, houve um crescente uso das redes sociais para manifestações políticas, escalonando a violência, com cada vez mais brasileiros sendo agredidos verbalmente por causa de suas opiniões políticas e, consequentemente, promovendo uma sociedade segmentada e intolerante.

Ademais, na obra “Memórias de Plantação”, Grada Kilomba utiliza suas experiencias pessoais e coletivas para analisar o racismo estrutural na sociedade e compreende-se que as experiencias individuais da violência racial se conecta com o passado do colonial, contribuindo com a atual configuração racista da nação. Então, é fundamental que a sociedade desenvolva uma consciência crítica, um pensamento além do dominante, para compreender as injustiças e promover transformações sociais.

Em suma, é notório que o ato de questionar é um desafio perante a ignorância que permeia a sociedade contemporânea, no entanto é somente com o desenvolvimento do pensamento crítico que será possível compreender as falhas sociais e possibilitar uma nação mais justa.


Construção de ideal familiar no positivismo político

  Em uma sociedade brasileira que tem o lema em sua bandeira o lema de "Ordem e Progresso", é notória a evidente interferência do ideal positivista escrito por Auguste Comte. Porém, isso é prejudicial, visto que cria um conceito tóxico de positividade e busca pelo progresso, que não tem sequer uma explicação real do que seria esse "progresso"

  Nesse ínterim, é visível como essa caçado ao ideal de progresso se intensificou no governo passado - eleito em 2018 - que criou um novo mantro "o Brasil a cima de tudo e Deus acima de todos". É fato que a noção positivista de busca pela ordem está inteiramente amarrada a frase dita em todos os momentos pelo ex presidente, mas a pergunta que não se cala é: Que ordem é essa? Visto que, em sua presidência ele deixou seu país sem proteção nenhuma contra uma pandemia avassaladora que foi a do covid-19, deixando o Brasil em completa desordem.
  Ademais, a outra parte do mantra insiste no conceito de um Deus, que não é seguido por toda a população. O que não faz sentido, pois o estado brasileiro é em sua organização, laico e não deveria se submeter à divindade de uma só religião. Isso ocorre pois, o catolicismo carrega em sí os ideais de família e ordem que o positivismo político carrega. 
  Em suma, esse conceito de família entra no contexto da guarda de capital, que o capitalismo promove, pois os grupos familiares mantém suas reservas e bens em seu sangue. Por isso, um governo que focou tanto no bem das classes mais altas focou tanto em proteger a tal "família brasileira" e deixou de fora as outras formas de construção familiar diferentes do comum que temos hoje no Brasil.

Negacionismo e o Pensamento Científico

  Nos últimos anos, vivemos a maior crise sanitária de nosso tempo: a pandemia do novo coronavírus, causador da covid-19. Num primeiro momento, não causou alarde. Afinal, muitos de nós não havíamos passado por experiência similar em nossas vidas. À medida em que começaram a circular notícias sobre a letalidade da nova doença e a facilidade com que se propagava, amparadas por constatações da comunidade científica, muitos de nós começamos a nos preocupar. Outros, não.

  Com a mesma intensidade em que foram tomados todos os veículos de informação (jornais, televisão, rádio, internet) com as notícias que apontavam para o rápido avanço do contágio da doença e da gravidade da situação em termos globais, surgiram movimentos que, ou negavam a existência de uma epidemia, ou tentavam minimizar seus riscos, principalmente quando começou-se a considerar a necessidade de uma quarentena em todo o mundo. Esses movimentos foram fomentados e atiçados, ironicamente, por diversos líderes políticos, notadamente os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e do Brasil, Jair Bolsonaro. Ora, se a perspectiva já não era boa, e demandava ação coordenada dos Estados para conter tão séria ameaça às nossas vidas, nos víamos agora em situação de desespero!

 Com o fim de evitar a paralisação das atividades econômicas e uma consequente recessão, propagaram-se as mais diversas mentiras: especulou-se sobre a eficácia e a segurança das vacinas, criticou-se o uso de máscaras de proteção, questionou-se a necessidade do isolamento social. Enfim, todo o trabalho dos pesquisadores, todas as recomendações de prudência de órgãos como a Organização Munidal da Saúde, baseadas em evidência científica, foram atacadas. Além disso, inércia, má gestão e má fé na condução das políticas públicas de saúde em relação à pandemia, especialmente no Brasil, culminaram em centenas de milhares de mortes que poderiam ter sido, em parte, evitadas.

  O fenômeno do negacionismo, como já observamos, foi preponderante na má condução de uma crise sanitária. Cabe a nós nos perguntarmos: o que leva uma pessoa a negar a realidade que está posta diante de seus olhos, por mais que se tente explicá-la com evidências e argumentos? Para Wright Mills, o homem comum se vê preso às limitações da vida cotidiana (emprego, família, vizinhança), e portanto não tem consciência de como os fatores externos ao seu meio - como a política e a economia - afetam sua vida. Em um mundo em rápida transformação, o homem comum se vê incapaz de se orientar de acordo com os valores que ama. Ao se deparar com o colapso das velhas maneiras de pensar e sentir, e sem compreender as novas, torna-se moralmente insensível. Esta perspectiva se relaciona com o reacionarismo que leva apoiadores de certos movimentos políticos a corroborar ideias estúpidas na contramão da evolução do pensamento científico baseado na observação da realidade e na evidência empírica, defendido por Francis Bacon em seu Novum Organum. Tal pensamento é de extrema relevância nos dias atuais, pois, como pudemos testemunhar nos últimos anos, negar a ciência pode ser catastrófico.