quinta-feira, 20 de agosto de 2020

As explorações do trabalho no novo capitalismo e a superficialidade das relações: uma análise sob a ótica do materialismo histórico dialético

O materialismo histórico dialético desenvolvido pelos sociólogos Karl Marx e Friedrich Engels diante da Revolução Industrial da qual o mundo via-se mergulhado e que modificou profundamente tanto as relações de trabalho quanto as relações pessoais, ao evidenciar a estrutura capitalista fundamentada nas novas configurações de classe entre o proletariado e a burguesia, ainda apresenta-se pertinente na análise da organização social contemporânea diante da dominação e luta de classes. Assim, pretende-se, nesse método, propor a revolução social de forma a subverter a ordem de exploração da mão de obra do proletariado, pois, assim como defendeu Karl Marx: “as revoluções são a locomotiva da história”.

Nesse sentido, para os sociólogos, em uma sociedade pautada sob o viés da produção material diante do trabalho, a classe operária determina-se como a grande responsável por essa produção, mas que se vê excluída de garantias básicas como a saúde e a educação, sendo usufruída pela burguesia detentora dos meios de produção e da força do trabalho. Portanto, ao se considerar a realidade atual, pode-se tomar como exemplo o movimento de paralisação da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas dos Correios e Similares (FENTECT), na qual os grevistas reivindicam por direitos, principalmente trabalhistas, negligenciados no atual contexto pandêmico e que, segundo a visão de Marx e Engels, representam as relações de dominação impostas aos trabalhadores, impossibilitados de deter o que é de seu direito, mas que, de certa forma, buscam a revolução.

Ainda, Richard Sennett, sociólogo contemporâneo, trata a partir de sua obra “A corrosão do caráter: consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo” uma análise do materialismo histórico dialético de Marx e Engels em razão das novas estruturas de organização social diante das relações de produção na atualidade. Assim, na visão dos dois sociólogos, a concepção dos indivíduos tal como eles são é resultado das formas de manifestação da vida e dependem, também, das condições materiais de produção, o que fundamenta a ideia de Sennett diante das modificações sofridas em um contexto de mundo globalizado.

Por isso, as relações de produção na contemporaneidade passaram por um processo de flexibilização diante das novas estruturas da globalização, que facilitaram a readequação industrial e a dinamização produtiva, por exemplo, marcadas pela hiper competitividade do novo capitalismo. Entretanto, como consequência desse modelo tem-se a descontinuidade do trabalho, do qual os indivíduos deslocam-se de trabalho muitas vezes durante a vida, o que proporciona o esvaziamento das relações pessoais já que não se torna mais possível criar laços intensos e duradouros em períodos de aceleração e flexibilidade.

Dessa forma, diante de um contexto da pandemia do novo coronavírus em que é necessário readequações a nova realidade que necessita do distanciamento social, o home office é uma das alternativas a continuidade do trabalho, sendo que, segundo pesquisas da Fundação Instituto de Administração (FIA), 46% das empresas adotaram essa iniciativa na pandemia o que evidencia ainda mais as possibilidades de flexibilizar as relações, mas, ainda, a falta de raízes. Entretanto, nesse novo modelo, apesar da perda do contato e da substituição das rotinas padronizadas, a dominação e centralização mantêm-se diante da facilidade de comunicação nas tradicionais “cadeias de comando”.

Portanto, partindo-se da análise do materialismo histórico dialético percebe-se a constante luta de classes que ainda permeiam a realidade atual e que se espelham nas relações sociais e de trabalho que se alteram a partir da forma de produção da vida cotidiana. Ademais, ainda evidenciam a influência exercida pela classe dominante, responsável pelo controle tanto da produção material quanto intelectual da sociedade. Assim, tanto para Sennett quanto para Marx e Engels, os indivíduos são o espelho das condições materiais de sua produção, mas que essas, hoje, tem modificado a construção do caráter sob um vínculo fugaz.

 

Ana Carolina de Campos Ribeiro – 1º ano Direito matutino

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

G1. Funcionários do Correio entram em greve em todo o país. G1, 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2020/08/17/funcionarios-dos-correios-entram-em-greve-em-todo-o-pais.ghtml. Acesso em: 19 ago. 2020.

 

MELLO, Daniel. Home office foi adotado por 46% das empresas durante a pandemia. Agência Brasil, 2020. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2020-07/home-office-foi-adotado-por-46-das-empresas-durante-pandemia. Acesso em: 19 ago. 2020. 

O socialismo utópico e o mito do ativismo capitalista

      O materialismo histórico de Karl Marx e Friedrich Engels sofreu influência da teoria do socialismo utópico, desenvolvida por filósofos burgueses, dentre os quais cabe destacar Henri de Saint-Simon, Robert Owen e Charles Fourier. O socialismo utópico acreditava na entrega dos meios de produção para o proletariado por meio da iniciativa de homens burgueses que, elucidados por solidariedade repentina, tomariam a frente na transição do modelo político, desconsiderando qualquer possibilidade de organização e mobilização da própria classe operária para esse fim.

    A lógica desse pensamento, hoje, nos parece tola. A possibilidade de uma classe favorecida pelo sistema abrir mão de seus privilégios de bom grado com o propósito de proporcionar justiça social, sabidamente, é remota, para não dizer inexistente. Mas me parece que o conhecimento da impossibilidade desse acontecimento e da ineficácia da insistência da fé nele não são perfeitamente assimilados por grande parte da população.

     A sociedade, e aqui me refiro à brasileira, por não ter conhecimento suficiente acerca de outras para inferi-las a mesma acusação, continua comemorando e se enganando por manifestações vazias de legitimidade e cheias de interesse comercial provenientes de grandes empresas, que fingem comemorar conquistas das classes sociais marginalizadas quando, na verdade, são agentes da opressão que dizem, para fins midiáticos e econômicos, serem contrários. O termo ‘pink money’ é um termo que exemplifica essa relação, sendo representativo do poder de compra da comunidade LGBT+, que é disputado por grandes marcas devido à sua expressividade. Essas marcas que atraem a atenção e o dinheiro do público ao lançarem produtos relacionados e enfeitarem suas fachadas em datas comemorativas são as que se calam diante de escândalos de homofobia em seus estabelecimentos e não aplicam esforço prático algum para beneficiar as pautas da causa.

    Outro exemplo, e esse muito mais sério, é o de empresas que manifestaram publicamente apoio ao movimento Black Lives Matter, mais cedo neste ano, ao mesmo tempo que não possuem políticas que busquem colocar seu apoio em prática e exploram a mão de obra da população negra em condições análogas à escravidão em suas fábricas.

      É contraditória a celebração e exaltação de marcas que expressam apoio à lutas sociais na mídia quando este não é acompanhado de medidas reais que defendam, de fato, os protagonistas dessa luta. É como se, assim como os teóricos do socialismo utópico, esperássemos que a solução viesse de cima, nos contentando com migalhas estrategicamente distribuídas para assegurar a manutenção do status quo. Atualmente, para muitos, é preferível, ao se referir às opressões estruturais, omitir o nome da estrutura.

A exploração do trabalhador por trás da inovação dos aplicativos na contemporaneidade

 Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 41,4% da população brasileira estão em informalidade. Com base nesse paradigma, no contexto contemporâneo de pandemia ocasionada pelo Covid-19 e a importância de quarentena, houve a ascensão e maior necessidade de motoboys e entregadores de comida, serviços e produtos que compõem grande parcela dessa porcentagem de pessoas praticantes do trabalho informal. Para tanto, esses meios de informalidade não garantem nenhuma lei trabalhista e segurança, ainda no caso de pessoas filiadas a aplicativos, os apps sequer tomam responsabilidade pela integridade física e psicológica dos trabalhadores, fazendo com que esses indivíduos submetam-se grandes cargas horárias, desgastes e condições que violam a dignidade da pessoa humana, e obtendo pouco lucro da produção de entrega durante o dia.

Sob tal perspectiva, essa realidade encaixa-se com a análise proposta por Marx e Engels no materialismo histórico dialético em que é defendido que as relações de produção condicionam o funcionamento social. Isso por que, esses indivíduos que tiram sua renda como entregadores e motoristas de aplicativos estão imersos na ótica neoliberal do capitalismo, que molda a construção do pensamento da sociedade voltada à economia e a desburocratização do estado para facilitar que as atividades que geram lucro a grupos dominantes – nesse caso as empresas por trás de tais aplicativos- sejam efetuadas sem uma regulamentação que garanta os direitos dos trabalhadores, e esses muitas vezes, aceitam por enxergar aquele meio como uma forma de subsistência.

Ademais, um aspecto bem representado na obra “A Corrosão do Caráter” de Sennet que se relaciona com o respectivo assunto, é a questão da nova adoção pelo sistema capitalista de flexibilidade e da divisão do trabalho em formas de redes. Ainda, essa característica de empresa flexível é o que abre margens para as condições fragilizadas que esses motoboys e a própria terceirização enfrenta hodiernamente. Desse modo, com esse formato “frouxo” de organização de como a mercadoria é produzida e distribuída, as relações sociais dos trabalhadores envolvidos nesse processo são afetadas. Diante de tanta tecnologia e a implementação de novas formas de operacionar, a presença dos direitos que esses indivíduos deveriam ter não alcança a dinamização que o mundo globalizado produz a todo instante, além de lucro para uma elite, ocorre à exploração de uma majoritária população já presente em situações de vulnerabilidade.

Outrossim, é fundamental destacar que a sociedade não se rebela para a mudança desse cenário e nem para que medidas sejam criadas a fim de efetivar os direitos de modo que haja segurança e leis para esses motoboys e entregadores, por que o grupo dominante assim como a burguesia - criticada por Marx e Engels – criou a conscientização de que essa forma facilita e geram renda e “empregos”, além de garantir comodidade as pessoas. Em outras palavras, o modo dessa flexibilização que traz maiores benefícios para o grupo dominante, é a forma de pensamento da maioria da população por construção da elite. Assim, toda a ideia de “full time” em que um trabalhador se submete a transitar pelas ruas mais de 12h por dia para os aplicativos ficarem com maior parte do lucro gerado, na visão social amplifica o acesso, é visto como algo inovador do mundo globalizado.

Portanto, o individualismo gerado pelas frágeis relações de produção construídas a partir dessa modernidade que valoriza a rapidez, o curto tempo de entrega, o acesso por meio de aparelhos eletrônicos e não mais, por relações interpessoais, de maneira negativa, contribui para a exploração da camada mais pobre da população, que se sujeita a péssimas condições em que a legislação trabalhista sequer alcança. Logo, os motoboys, motoristas e entregadores de aplicativo, são exemplos de indivíduos afetados por essa nova forma de divisão, e de maneira análoga, as próprias relações sociais da contemporaneidade que se expressam de forma rasa e fácil de romper são resultados dessa flexibilidade gerada pelo neoliberalismo.


1° ano de direito noturno- Vitória Dayube Barbosa

REFERÊNCIAS 

https://censo2020.ibge.gov.br/2012-agencia-de-noticias/noticias/25534-desemprego-cai-para-11-8-com-informalidade-atingindo-maior-nivel-da-serie-historica.html

Uma análise do impacto das relações de trabalho nas relações sociais com base em Industria Americana (2019).

 

Industria Americana foi o filme vencedor do prêmio de Melhor Documentário de Longa – Metragem no Oscar 2020 e em outras premiações de cinema. O filme é sobre os funcionários de uma montadora de peças automotivas nos Estados que, depois de sofrer com a crise financeira de 2008, foi reaberta por uma empresa chinesa. No decorrer da história é possível assistir o conflito de culturas entre os empregados chineses e norte-americanos e como esses dois grupos lidam com o trabalho, com o chefe e com as diferentes questões que envolvem essas relações.

Diante da crise que atingiu o mundo em 2008, o mercado passou por mudanças e teve que se readequar a uma nova realidade, uma dessas mudanças foi o crescimento chinês. A classe trabalhadora é a mais afetada com essas mudanças, já que são eles que vendem sua força de trabalho para manter suas vidas e de suas famílias e se o mercado vai mal, as ofertas de emprego decaem. É então que algumas pessoas aceitam ofertas absurdas para poder manter sua qualidade de vida.

Um exemplo concreto no documentário em análise é o uso de equipamentos de proteção por trabalhadores de fábricas, que é primordial para manter a segurança e é garantido por lei em diversos países, mas é deixado de lado em várias situações do trabalho na fábrica: peças de vidro são operadas com um equipamento que não protege 100% da integridade dos trabalhadores.

Por essa razão e outras, os integrantes da fábrica decidem abrir um sindicato. Essa ideia é desprezada pelo dono da empresa que quer autonomia sobre os funcionários, afinal, sem a interferência legal, os limites são impostos pelo dono da fábrica, muitas vezes sem pensar no bem estar dos funcionários. Os trabalhadores chineses também se mostram contra essa iniciativa. A flexibilização das relações de trabalho impacta também os direitos desses trabalhadores.

As relações de trabalho são determinantes na evolução social. É possível observar esse pensamento em toda a obra de Marx e Engels e sua veracidade é comprovada no documentário em análise. Na cultura ocidental em que estão inseridos os trabalhadores americanos, o lazer e as horas que eles passam fora do trabalho são essenciais para o bem estar e para as conquistas pessoais, enquanto para os orientais essas conquistas se dão através do trabalho. Um trabalhador chinês afirma que se mudou para os Estados Unidos e não pensa em levar a família consigo, se limitando a algumas visitas por ano, assim fica explicito no filme que os empregados chineses estão acostumados a sacrificar outras partes de seu convívio social para se dedicar ao trabalho, chamando inclusive os americanos de “preguiçosos” ou “ineficientes”.

Esse choque cultural da maneira de lidar com as horas de trabalho e com as horas de lazer também tem consequências em outras áreas da vida dos trabalhadores, tal como a família. Uma americana conta aos documentaristas que com a redução no salário e o aumento da carga horária ela tem dificuldades para cuidar e dar atenção aos filhos.

A necessidade de superprodução que causa tanto estresse nos operários é consequência do modelo chamado de cadeia produtiva e da divisão do trabalho, as pessoas contratadas pela fábrica não são donos de sua produção, são apenas peças do sistema de rede formado pela indústria.

Uma das partes mais memoráveis do documentário é quando alguns empregados americanos vão até a China, em uma filial da fábrica e percebem a diferença entre sua forma de trabalhar e a forma daqueles outros empregados. A rapidez e a falta de interação pessoal com colegas de trabalho é até assustadora para os estadunidenses, acostumados a se reunir nos horários de almoço, por exemplo.

A empresa fornece aos empregados que estão na China uma comemoração e apesar do contraste de culturas que acontece é possível perceber que as pessoas envolvidas nesse trabalho existem e se relacionam apesar de suas diferenças culturais e éticas.

As histórias contadas no filme mostram como as relações empregatícias moldam a vida de cada pessoa e como as diferenças de mercado afetam cada um de uma maneira diferente. O que não muda é a condição desses empregados como parte de uma só classe trabalhadora, que deve se unir para conquistar avanços e melhorias no trabalho e na vida particular, como bem afirmou a documentarista em seu discurso vencedor no Oscar.

Beatriz Araujo Gomes (201223066) – 1o ano matutino  

Referências:

INDÚSTRIA AMERICANA. Direção:  Julia ReichertSteven Bognar. Netflix, 2019.

Discurso dos documentaristas:  https://www.youtube.com/watch?v=WE2bYIkk8PE


As mudanças da vida

Marx e Engels em sua obra “Ideologia Alemã” tem como base o Socialismo Utópico, que propõe um socialismo vindo de “cima” e através de um “homem iluminado”; o Idealismo Alemão, que defende a existência de ideias que não podem ser materializadas e a economia política inglesa, com teses materialistas. Assim, os autores sustentam o método materialista histórico-dialético, o qual consiste em compreender o passado para entender o que acontece no presente e o que acontecerá no futuro, sendo essa uma transformação contínua.

A História tem um papel importante nisso, permeando a existência de diferentes propriedades, dentre elas a tribal, a comunal e a feudal. Além disso, se instaura a família, a linguagem, a divisão do trabalho e conforme o homem cria mais necessidades, ele produz mais para satisfazê-las. Até o momento em que surge a classe burguesa e a discussão a respeito do proletariado na sociedade. Chega-se à conclusão de que a classe dominante da sociedade determina a forma de ser, a ideologia, os valores etc. Porque sempre há uma perspectiva de classe, que nem sempre condiz com a sua realidade, é possível – e muito provável – que um proletário tenha a perspectiva de classe de um burguês.

Isso ocorre na história relatada na obra “A Corrosão do Caráter” de Richard Sennett, Enrico é um trabalhador que vislumbra a vida de um burguês. Assim, ele passa a vida trabalhando, juntando dinheiro, contando as moedas, para conseguir comprar uma casa em um bairro suburbano e educar o filho, Rico. Há essa dualidade entre o mundo burocrático do pai e o mundo flexível do filho, que permite a ele uma melhor condição financeira, acesso à faculdade, mas também o deixa a mercê de projetos profissionais, em vez de um trabalho.

            Em ambos os textos a divisão do trabalho entre material e intelectual é importante, revelando a realidade do trabalhador, que não usufrui de seu trabalho. A questão a se pensar é: Quem usufrui e quem produz? Outro ponto importante é a questão das minorias, Enrico era racista, homofóbico e, inclusive, xenófobo – escapando apenas os italianos, que eram de sua mesma origem. Em contrapartida, no tempo presente, Rico representa o respeito ao diferente e a inclusão social de pessoas vulneráveis. Essas questões são muito presentes atualmente na sociedade, as pessoas estão avançando em direção a vários projetos, a mudanças, a aceitação da pluralidade etc.

            A atuação dos movimentos sociais é muito importante nesse contexto, eles surgem cada vez com mais demandas de grupos minoritários e vulneráveis, expondo injustiças e chamando atenção para problemas da sociedade que antes eram invisíveis. Por fim, é preciso ressaltar a relação entre a mudança para o método marxista, a mudança entre Enrico e Rico em seus trabalhos e as mudanças presentes na sociedade contemporânea, que estão relacionadas entre si, uma vez que ao longo da história transformações ocorrem e mudam as relações na sociedade.

Bruna Neri Mendes – 1 ano Direito Noturno

Febre trabalhista

O final do século XX e início do século XXI é caracterizado como um período de transformações rápidas e intensas. Transformações essas que impactaram profundamente o mundo capitalista e suas formas de organização de trabalho. Esse novo e atual cenário é pesquisado pelo sociólogo e professor Jacob Carlos Lima, de acordo com ele o capital se reinventa continuamente para aumentar sua lucratividade. A terceirização, a dispersão da produção e as manobras para a quebra da burocracia trabalhista como os trabalhadores que atuam como pessoas jurídicas mostram essa nova perspectiva de pensar e agir do capitalista. Porém para os trabalhadores essas mudanças representam a precarização do seu trabalho.

Devido ao atual contexto pandêmico essa fragilidade do conflito das relações trabalhistas brasileiras é exposta ao extremo. Isso é agravado com o iminente colapso da economia, devido à baixa taxa de produção industrial, a alta taxa de desemprego e o subconsumo. Diante desse panorama os direitos são os primeiros a serem atacados, mostrando o falecimento da nossa estrutura de regulação publica trabalhista.

Com isso as relações trabalhistas estão no enfoque das discussões processuais. Visando esse panorama o site Consultório Jurídico elaborou o “Termômetro Covid-19 na Justiça do Trabalho” que se usa de pesquisas e análises baseadas em dados públicos de processos trabalhistas publicados desde janeiro de 2020 tendo como objetivo demostrar casos que tem ligação direta ou indireta com a crise relacionada a pandemia. Observando o termômetro é visto que a maior incidência de causas ocorreu a partir do mês de março, ocasionando até o final de agosto 88 mil processos totalizando 5,43 bilhões de reais.

Assim, vemos uma crescente judicialização das questões tangíveis ao laboral. Desemprego, condições de trabalho, redução de trabalho, suspensão de contratos e o reconhecimento da Covid-19 como doença ocupacional assim como a insegurança jurídica estão entre as questões com maior frequência nos tribunais. Isso mostra um novo aspecto das relações trabalhistas, onde a imposição da flexibilização do espaço a busca de direitos pelos trabalhadores.

Paola Santos de Lima

Direito - Noturno

1°Período - UNESP

 

A inversão de valores no capitalismo exploratório: lucro ou vida?

   O pensamento marxista pode ser considerado um divisor de águas na história da humanidade. Ao analisar a sociedade capitalista, marcada pela luta de classes e acumulação do capital por parte da burguesia, e construir o método que mais tarde foi chamado de Materialismo Histórico, Marx e Engels revolucionaram o estudo das Ciências Humanas. Assim, inspiraram outros não apenas no pensamento e estudo da sociedade, mas acontecimentos como a Revolução Russa e a Revolução Comunista Chinesa.

   A proposta de um novo modelo econômico, que superasse as desigualdades causadas pelo capitalismo incomoda a burguesia desde o início da popularização da teoria de Karl Marx. Por outro lado, a exploração desenfreada do proletariado é incontestável, tanto ao longo da história como atualmente, um exemplo disso é o caso do representante de vendas que morreu enquanto prestava serviços em uma unidade do hipermercado Carrefour. A loja continuou as atividades normalmente, prezando pelo lucro enquanto o corpo do trabalhador apenas foi escondido por guarda-sóis.

   Nessa lógica, se perpetua a visão de que o dinheiro é mais importante que o esforço humano empregado na produção de bens e na prestação de serviços, bem como os riscos a que o trabalhador é exposto em seu ambiente de trabalho. Era assim nos dias de Marx, quando funcionários das fábricas perdiam membros do corpo pela situação insalubre desses locais, e é assim atualmente, quando milhares de brasileiros precisam se expor diariamente a um vírus pois, de acordo com o presidente, uma quebradeira na economia traria efeitos muito piores que o Covid-19. Afinal, "o Brasil não pode parar".

   De fato, a contribuição do pensamento de Marx e Engels é cada vez mais evidente. Independente de ideais políticos, toda crítica feita com base na realidade social mostra a fragilidade (para dizer o mínimo) do sistema capitalista. Logo, sendo de esquerda ou não, é necessário entender que as chagas de um modelo econômico explorador estão presentes na cultura, nas relações sociais e no meio ambiente ao redor do mundo.

 

Fontes:

PE: Trabalhador morre em supermercado e corpo é coberto por guarda-sóis. Isto é, 19 de ago. 2020. Disponível em: <https://istoe.com.br/pe-trabalhador-morre-em-supermercado-e-corpo-e-coberto-por-guarda-sois/>. Acesso em 20 de ago. 2020.

BOLSONARO: “Não vi no mundo quem enfrentou a pandemia melhor do que nós”. Correio Braziliense, 19 de ago. 2020. Disponível em: <https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2020/08/4869697-bolsonaro---nao-vi-no-mundo-quem-enfrentou-melhor-a-pandemia-do-que-nos.html>. Aceso em 20 de ago. 2020.

 

Lívia Mayara de Souza Rocha – 1º ano Direito - Matutino


Capitalismo (des)humanista.

                   Jornal alemão publica charge que mostra Bolsonaro aplaudido pelo ...


"É tudo histeria e conspiração", diz Bolsonaro, enquanto aplaudido por coronavírus e a morte.
 Arte publicada no jornal Stuttgarter Zeitung,
na edição do dia 27 de março de 2020.

            As ideias do importantíssimo pensador Karl Marx surgem no séc. XIX, um momento incrivelmente conturbado no quesito social. Com o advento do capitalismo e do poder da burguesia, os trabalhadores foram deixado cada vez mais marginalizados no sistema, abusados, obrigados a trabalhar em condições horrendas, com salários ínfimos e ninguém para proteger seus interesses. Eram analogamente escravos, servos de seus “senhores” burgueses. É nesse cenário que surge o filósofo Karl Marx, tecendo seus pensamentos principalmente sobre esse assunto operário. Mas diferentemente do conceito fixado em nossas mentes sobre o papel do filósofo, cuja importância é de “pensar” e refletir a sociedade, Karl não se conteve perante esse conceito, ele, diferentemente do usual filosófico, propôs mudanças baseadas em seus pensamentos, tinha em si o aspecto inquieto e revolucionário. Como ele mesmo colocou, “Os filósofos não fizeram mais do que interpretar o mundo de diferentes maneiras; A questão, porém, é transformá-lo.”
            Não lutando somente para evidenciar os aspectos depreciativos do capitalismo, como também lutando para mudar o cenário no qual se encontrava, Marx tece diversas críticas ao modo de produção capitalista e também apela para a união da classe trabalhadora, como evidenciado em sua obra “O Manifesto Comunista”, de 1848. Dentre suas críticas, encontram-se a situação precária dos trabalhadores, a exploração sem limites por parte dos burgueses, na qual se encontra a exploração da “mais-valia” – força de trabalho fornecida pelo trabalhador era proporcionalmente maior em relação à sua remuneração – e também, tece suas críticas à classe trabalhadora, considerando-os alienados, pois, de acordo com todo o rumo da história, o potencial revolucionário está nas mãos da classe oprimida. Como por exemplo, no feudalismo, onde a classe burguesa era a “oprimida” em relação à nobreza, e quando essa classe se fortificou, provocou uma implosão dentro do sistema e originou um novo, o capitalismo, que por sua vez, ao criar a sua própria “classe oprimida” (operários), também criou o seu próprio extermínio, pois a classe trabalhadora é a força motriz desse sistema, portanto, está intrínseco o potencial revolucionário.
            Por mais que já tenha se tornado um pensamento secular, as críticas tecidas por Marx ainda se encontram assustadoramente atuais, trabalhadores explorados, burgueses buscando lucro à todo custo, e ainda podemos anexar outra discussão à esse roll, a desumanização no sistema capitalista. Quanto mais o tempo decorre, mais “normal” se torna esse tipo de abuso. Só nesse ano podemos evidenciar algumas notícias que exemplificam como a busca por dinheiro já se tornou mais importante que a vida humana alheia. Primeiramente, com essa notícia do dia 14 de agosto de 2020, onde um representante de vendas que se encontrava trabalhando em um supermercado da loja Carrefour, é acometido de um mal súbito e o mercado se recusou a fechar o estabelecimento para não perder horas de lucro. O corpo ficou estirado ali por horas, coberto parcialmente por guarda-sóis enquanto diversas pessoas faziam suas compras normalmente. Segundamente, temos o caso mais evidente do ano, com o presidente Jair Bolsonaro que batalha arduamente para “flexibilizar” o isolamento social, pois, de acordo com o próprio, “A economia não pode parar.” e também “A crise é temporária, mas o Brasil é permanente”. Seguindo esse isolamento flexibilizado, sem devidos avisos à população, instigando que o vírus é somente uma “gripezinha” e atribuindo cura à um remédio cientificamente ineficaz, chegamos na aterrorizante marca de 100 mil mortos, e a reação do presidente foi “Vamos seguir a vida”.
            Essa busca incessante, sem limites, imoral, por dinheiro já custou milhões de vidas, e quanto maior o número, menor vai ser a indignação humana. O capitalismo já levou vidas, sonhos, esperanças e agora está levando a humanidade.


REFERÊNCIAS

1. FOLHA DE SÃO PAULO. Fauci projeta até 200 mil mortos nos EUA e some das manchetes, 29 mar. 2020. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/nelsondesa/2020/03/fauci-projeta-ate-200-mil-mortos-nos-eua-e-some.shtml. Acesso em: 20 ago. 2020.

2.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã (1845-1846). São Paulo: Martin Fontes, 1998.
3.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista, 1848. Porto Alegre: L&PM, 2009.

4. HUGO GLOSS BRASIL. Colaborador morre dentro de Carrefour, corpo é escondido com guarda-sóis e loja continua funcionando; Supermercado se pronuncia, 19 ago. 2020. Disponível em: https://hugogloss.uol.com.br/brasil/colaborador-morre-dentro-de-carrefour-corpo-e-escondido-com-guarda-sois-e-loja-continua-funcionando-supermercado-se-pronuncia/. Acesso em: 20 ago. 2020.

5. “Vamos tocar a vida”, diz Bolsonaro sobre 100 mil mortos por covid-19 no Brasil, 6 ago. 2020. Publicado pelo canal UOL. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Y-nyxW-5mGY. Acesso em: 20 ago. 2020.

Felipe Zaniolo de Oliveira, 1° ano diurno.

Diário crítico-moral (?)

 22/09/2035 

Querido diário,


     Hoje faz uma semana que estou na casa do meu irmão, desde que tive aquela briga. Infelizmente, hojealguns acontecimentos me deixaram muito pensativa, e levaram a um desabafo com meu irmão, esse desabafo de nada me agradou, pois acredito que ele tenha se perdido nesses últimos anos, assim como eu. 

Eu estava na sala com a Bia, e ela estava assistindo a um desenho chamado Cindy, a garota do hotel, basicamente era mais um daquele inúmeros enredos consumistas que são despejados goela abaixo nas crianças. Pois bem, falei para a Bia que conhecia desenhos mais legais e ajudei ela a escolher outra animação, mas uma coisa ficou na minha cabeça, como o Pedro a deixava assistir esse tipo de conteúdo, se quando eu era pequena, ele se quer permitia que eu assistisse animações fúteis e consumistas (como por exemplo a conhecidíssima Polly)?. 

Sei que parece paranoia da minha cabeça, mas pra minha formação, determinados conteúdos que ele não queria que eu visse e diversos dos sermões sobre consciência começaram a formar o pensamento crítico que tenho hoje, e quando vejo que ele simplesmente abandona a Bia nesse sistema capitalista abusivo, fico preocupada.  

As treze horas levei ela para a escola e continuei pensativa ao voltar para a casa, ele a deixou sucumbir por total em um sistema exploratório, a Bia é uma criança alienada, fútil (não por culpa dela, obviamente), estava me falando hoje mesmo que precisava do celular de última geração, sendo que ela ganhou um a seis meses atrás, quando eu a questionei do por que, ela não me dava motivos plausíveis, só sabia dizer que os amigos dela tinham, que era legal e ela queria. Fiquei mais preocupada, decidi falar com o Pedro a noite. 

As vinte horas, depois do café e da Bia estar vidrada em seu celular, chamei o Pedro pra conversar na varanda. Perguntei o que estava acontecendo naquela casa e principalmente o que estava acontecendo com ele, ele passava o dia sendo escravo de uma empresa (cujo modelo ele sempre criticou), chegava em casa e dava dinheiro a Bia pra qualquer coisa que ela pedisse, depois deitava, dormia e começava tudo de novo. Eu disse a ele que estava extremamente perplexa e preocupada com aquela situação, disse que não enxergava mais nele o garoto que me criou que me dizia que que eu jamais poderia fechar os olhos para a realidade do mundo, que eu precisava ter consciência da classe à qual eu pertencia mas que precisava lutar pelos direitos daqueles que não tinham aquilo que eu tinhao que ele me disse, no entanto, me baqueou mais que qualquer coisa. 

Ele me disse que não tinha mais tempo para isso, que mesmo crescendo criticando nosso pai por se matar no trabalho, havia se rendido ao mesmo sistema. Ele sentia que esquecera tudo que o formou, ele disse que não tinha controle sobre o tempo, o tempo controlava ele, e esse tempo era controlado pelo capital, que logo controla a criação moral da Bia, ele sentia que não era permitido a auxilia-la nessa caminhada. Enquanto ela não causasse problemas, tudo bem pra ele deixá-la ser engolida por um sistema que a enfia dentro de uma bolha e a cega pro mundo, tudo bem, pra ele, essa alienação pouparia sofrimentos, faria eles seguirem em frente. Ele não conseguiu depois disso me explicar o que sentia, começou a chorar. Eu o abracei, disse que o amava e que não queria causar dor a ele, ele me deu um beijo na testa e ainda chorando, foi se deitar. 

Talvez eu também seja culpada, explicitei pra ele que ele não é para Bia tudo aquilo que foi pra mim, mas o quanto eu também não contribui pra esse abandono crítico dela, eu só aparecia nos aniversários para lhe dar presentes, era só isso que ela conhecia de “afeto”, o que era material.  

Talvez todos nós sejamos culpados pela criação da Bia, não só eu e ele, como nossa família e todo mundo.  

Desde pequenos, somos levados a ver o dinheiro como o maior símbolo de desejo, queremos todos os brinquedos que são anunciados na TV, todos os aparelhos eletrônicos que outras pessoas tem, e ai ouvimos que tal coisa é cara, e não podemos comprar agora, ou ganhamos e não vemos o valor real dele, existem sempre dois extremos mas que chegam a um mesmo resultado: o dinheiro é o mais importante de tudo, precisamos dele, cada vez mais. 

E assim crescemos, e começamos a trabalhar em empregos que odiamos pra comprar coisas que não precisamos, simplesmente pra satisfazer algo que o capitalismo cravou na gente. 

E quanto mais e mais consumimos, mais esquecemos daqueles que não podem consumir nada, e ainda, quando lembramos que o mundo tem uma desigualdade absurda, “sofremos” por alguns minutos e continuamos a vida como se estivesse tudo bem. 

E aí temos filhos, e idealizamos um mundo perfeito pra ele, e fazemos de tudo para dar um mundo perfeito pra ele, e o enchemos de coisas materiais, que o levam a dar atenção só pro dinheiro e repetimos o ciclo (a história é cíclica né, já dizia Marx). E assim nunca mudamos, deixamos o mundo ser cada vez mais desigual, nos “escravizamos modernamente” por algo que sequer se importa.  

O sistema não liga pra criação moral da Bia, ela só precisa ser um boneco mecanizado pra ele, mais nada. 

Eu preciso conversar com ela, preciso estar do lado do Pedro, agora que vou passar um tempo aqui, preciso ser realmente útil, a Bia precisa ter consciência, precisa enxergar além da relação sujeito-objeto, ela precisa ver o mundo de verdade, precisa sim sentir a dor dos fatos, porque não é de ilusões que o mundo é feito 

Eu preciso ajudar a Bia e o Pedro, para que a Bia cresça, ajude os colegas dela a pensar fora dessa bolha(que repassarão esse pensamento aos pais), para que futuramente não se perca como o Pedro, pelo contrário, que lute e resista para que um dia, haja um mundo, onde o capitalismo insustentável não é realidade. 

A Bia e o Pedro me ajudam tanto, queria retribuir ao máximo, quem sabe auxiliando-os aos poucos, não aprendo muito mais. 

A gente e o mundo só mudam, quando a resistência e o debate existem. 


Isabel Borderes Motta - 1° ano noturno