quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Uma análise do impacto das relações de trabalho nas relações sociais com base em Industria Americana (2019).

 

Industria Americana foi o filme vencedor do prêmio de Melhor Documentário de Longa – Metragem no Oscar 2020 e em outras premiações de cinema. O filme é sobre os funcionários de uma montadora de peças automotivas nos Estados que, depois de sofrer com a crise financeira de 2008, foi reaberta por uma empresa chinesa. No decorrer da história é possível assistir o conflito de culturas entre os empregados chineses e norte-americanos e como esses dois grupos lidam com o trabalho, com o chefe e com as diferentes questões que envolvem essas relações.

Diante da crise que atingiu o mundo em 2008, o mercado passou por mudanças e teve que se readequar a uma nova realidade, uma dessas mudanças foi o crescimento chinês. A classe trabalhadora é a mais afetada com essas mudanças, já que são eles que vendem sua força de trabalho para manter suas vidas e de suas famílias e se o mercado vai mal, as ofertas de emprego decaem. É então que algumas pessoas aceitam ofertas absurdas para poder manter sua qualidade de vida.

Um exemplo concreto no documentário em análise é o uso de equipamentos de proteção por trabalhadores de fábricas, que é primordial para manter a segurança e é garantido por lei em diversos países, mas é deixado de lado em várias situações do trabalho na fábrica: peças de vidro são operadas com um equipamento que não protege 100% da integridade dos trabalhadores.

Por essa razão e outras, os integrantes da fábrica decidem abrir um sindicato. Essa ideia é desprezada pelo dono da empresa que quer autonomia sobre os funcionários, afinal, sem a interferência legal, os limites são impostos pelo dono da fábrica, muitas vezes sem pensar no bem estar dos funcionários. Os trabalhadores chineses também se mostram contra essa iniciativa. A flexibilização das relações de trabalho impacta também os direitos desses trabalhadores.

As relações de trabalho são determinantes na evolução social. É possível observar esse pensamento em toda a obra de Marx e Engels e sua veracidade é comprovada no documentário em análise. Na cultura ocidental em que estão inseridos os trabalhadores americanos, o lazer e as horas que eles passam fora do trabalho são essenciais para o bem estar e para as conquistas pessoais, enquanto para os orientais essas conquistas se dão através do trabalho. Um trabalhador chinês afirma que se mudou para os Estados Unidos e não pensa em levar a família consigo, se limitando a algumas visitas por ano, assim fica explicito no filme que os empregados chineses estão acostumados a sacrificar outras partes de seu convívio social para se dedicar ao trabalho, chamando inclusive os americanos de “preguiçosos” ou “ineficientes”.

Esse choque cultural da maneira de lidar com as horas de trabalho e com as horas de lazer também tem consequências em outras áreas da vida dos trabalhadores, tal como a família. Uma americana conta aos documentaristas que com a redução no salário e o aumento da carga horária ela tem dificuldades para cuidar e dar atenção aos filhos.

A necessidade de superprodução que causa tanto estresse nos operários é consequência do modelo chamado de cadeia produtiva e da divisão do trabalho, as pessoas contratadas pela fábrica não são donos de sua produção, são apenas peças do sistema de rede formado pela indústria.

Uma das partes mais memoráveis do documentário é quando alguns empregados americanos vão até a China, em uma filial da fábrica e percebem a diferença entre sua forma de trabalhar e a forma daqueles outros empregados. A rapidez e a falta de interação pessoal com colegas de trabalho é até assustadora para os estadunidenses, acostumados a se reunir nos horários de almoço, por exemplo.

A empresa fornece aos empregados que estão na China uma comemoração e apesar do contraste de culturas que acontece é possível perceber que as pessoas envolvidas nesse trabalho existem e se relacionam apesar de suas diferenças culturais e éticas.

As histórias contadas no filme mostram como as relações empregatícias moldam a vida de cada pessoa e como as diferenças de mercado afetam cada um de uma maneira diferente. O que não muda é a condição desses empregados como parte de uma só classe trabalhadora, que deve se unir para conquistar avanços e melhorias no trabalho e na vida particular, como bem afirmou a documentarista em seu discurso vencedor no Oscar.

Beatriz Araujo Gomes (201223066) – 1o ano matutino  

Referências:

INDÚSTRIA AMERICANA. Direção:  Julia ReichertSteven Bognar. Netflix, 2019.

Discurso dos documentaristas:  https://www.youtube.com/watch?v=WE2bYIkk8PE


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