quinta-feira, 20 de agosto de 2020

As explorações do trabalho no novo capitalismo e a superficialidade das relações: uma análise sob a ótica do materialismo histórico dialético

O materialismo histórico dialético desenvolvido pelos sociólogos Karl Marx e Friedrich Engels diante da Revolução Industrial da qual o mundo via-se mergulhado e que modificou profundamente tanto as relações de trabalho quanto as relações pessoais, ao evidenciar a estrutura capitalista fundamentada nas novas configurações de classe entre o proletariado e a burguesia, ainda apresenta-se pertinente na análise da organização social contemporânea diante da dominação e luta de classes. Assim, pretende-se, nesse método, propor a revolução social de forma a subverter a ordem de exploração da mão de obra do proletariado, pois, assim como defendeu Karl Marx: “as revoluções são a locomotiva da história”.

Nesse sentido, para os sociólogos, em uma sociedade pautada sob o viés da produção material diante do trabalho, a classe operária determina-se como a grande responsável por essa produção, mas que se vê excluída de garantias básicas como a saúde e a educação, sendo usufruída pela burguesia detentora dos meios de produção e da força do trabalho. Portanto, ao se considerar a realidade atual, pode-se tomar como exemplo o movimento de paralisação da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas dos Correios e Similares (FENTECT), na qual os grevistas reivindicam por direitos, principalmente trabalhistas, negligenciados no atual contexto pandêmico e que, segundo a visão de Marx e Engels, representam as relações de dominação impostas aos trabalhadores, impossibilitados de deter o que é de seu direito, mas que, de certa forma, buscam a revolução.

Ainda, Richard Sennett, sociólogo contemporâneo, trata a partir de sua obra “A corrosão do caráter: consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo” uma análise do materialismo histórico dialético de Marx e Engels em razão das novas estruturas de organização social diante das relações de produção na atualidade. Assim, na visão dos dois sociólogos, a concepção dos indivíduos tal como eles são é resultado das formas de manifestação da vida e dependem, também, das condições materiais de produção, o que fundamenta a ideia de Sennett diante das modificações sofridas em um contexto de mundo globalizado.

Por isso, as relações de produção na contemporaneidade passaram por um processo de flexibilização diante das novas estruturas da globalização, que facilitaram a readequação industrial e a dinamização produtiva, por exemplo, marcadas pela hiper competitividade do novo capitalismo. Entretanto, como consequência desse modelo tem-se a descontinuidade do trabalho, do qual os indivíduos deslocam-se de trabalho muitas vezes durante a vida, o que proporciona o esvaziamento das relações pessoais já que não se torna mais possível criar laços intensos e duradouros em períodos de aceleração e flexibilidade.

Dessa forma, diante de um contexto da pandemia do novo coronavírus em que é necessário readequações a nova realidade que necessita do distanciamento social, o home office é uma das alternativas a continuidade do trabalho, sendo que, segundo pesquisas da Fundação Instituto de Administração (FIA), 46% das empresas adotaram essa iniciativa na pandemia o que evidencia ainda mais as possibilidades de flexibilizar as relações, mas, ainda, a falta de raízes. Entretanto, nesse novo modelo, apesar da perda do contato e da substituição das rotinas padronizadas, a dominação e centralização mantêm-se diante da facilidade de comunicação nas tradicionais “cadeias de comando”.

Portanto, partindo-se da análise do materialismo histórico dialético percebe-se a constante luta de classes que ainda permeiam a realidade atual e que se espelham nas relações sociais e de trabalho que se alteram a partir da forma de produção da vida cotidiana. Ademais, ainda evidenciam a influência exercida pela classe dominante, responsável pelo controle tanto da produção material quanto intelectual da sociedade. Assim, tanto para Sennett quanto para Marx e Engels, os indivíduos são o espelho das condições materiais de sua produção, mas que essas, hoje, tem modificado a construção do caráter sob um vínculo fugaz.

 

Ana Carolina de Campos Ribeiro – 1º ano Direito matutino

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

G1. Funcionários do Correio entram em greve em todo o país. G1, 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2020/08/17/funcionarios-dos-correios-entram-em-greve-em-todo-o-pais.ghtml. Acesso em: 19 ago. 2020.

 

MELLO, Daniel. Home office foi adotado por 46% das empresas durante a pandemia. Agência Brasil, 2020. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2020-07/home-office-foi-adotado-por-46-das-empresas-durante-pandemia. Acesso em: 19 ago. 2020. 

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