domingo, 13 de agosto de 2017

Normalidade em detrimento de “monstros” sociais.

Quatro minutos se passaram e ninguém viu
O monstro que nasceu em algum lugar do Brasil
Talvez o mano que trampa debaixo do carro sujo de óleo
Que enquadra o carro forte na febre com o sangue nos olhos
O mano que entrega envelope o dia inteiro no sol
Ou o que vende chocolate de farol em farol
Talvez o cara que defende o pobre no tribunal
Ou o que procura vida nova na condicional...”

      Os versos acima, provenientes da música “Capitulo 4, versículo 3” do grupo de rap Racionais mc’s, colocam como “monstros” todos os exemplos de pessoas nele citadas. Muitos podem não admitir, mas existe socialmente uma repulsa a essas pessoas, e essa acontece independentemente de exercerem um trabalho legal (“o que vende chocolate de farol em farol”) ou ilegal (“Que enquadra o carro forte na febre com o sangue nos olhos”).  Dessa forma deve se questionar qual o motivo dessa repulsa e do olhar de desgosto aos pedintes na rua e todos os outros exemplos na música.
      Ao ignorar os preconceitos vinculados ao senso comum, pode-se perceber que todas as pessoas citadas na música têm algo em comum. O papel social de todas elas fogem a norma, isto é, são disfuncionais à sociedade, por isso geram incomodo geral, afinal, enquanto alguns estudam a vida inteira para conseguir um trabalho “digno” e assim ganhar seu próprio dinheiro e ajudar a coletividade, esses indivíduos destoam de toda a normalidade com sua forma de vida, quebrando toda a harmonia social existente. Contudo, essa suposta normalidade não existe de fato.
      A lógica positivista, projetada por Augusto Comte, vigente na contemporaneidade pressupõe um ideal de normalidade, e essa foi formada conjuntamente com a ascensão do ideal capitalista e da classe burguesa, portanto, consequentemente, aquilo que é normal e segue os “padrões sociais”, não é naturalmente dessa forma, mas sim forjou-se como tal no decorrer da história, e principalmente naquela que aconteceu após a primeira revolução industrial. Sendo assim, existe, a partir do padrões e normas citadas, uma ordem social que deve ser mantida a todo custo, isto é, o indivíduo, mergulhado nesses ideais, busca sempre a harmonia social, doando parte de seu tempo à coletividade, trabalhando de maneira honrosa e seguindo a moralidade. Assim, nota-se que as pessoas citadas pelo Racionais não contemplam o sistema capitalista e desrespeitam a ordem social e a moralidade forjada a partir desse sistema, por isso geram aversão às pessoas que não conseguem ver além das normas que lhes foram impostas.

      Esse conceito de normalidade aqui citado se encaixa na teoria de Foucault sobre a microfísica do poder, onde o mesmo é uma parte do controle social, haja visto ao influenciar no cotidiano dos indivíduos, e interferir em sua mentalidade faz com que estes passem a participar do controle social. A aversão existente àqueles que não contemplam a ordem social é um grande exemplo da participação da coletividade no controle social. Desta forma a própria sociedade passa a combater os supostos “monstros”, como dito pelo Racionais, em prol da “harmonia social” e, infelizmente, em detrimento de tudo aquilo que é definido como anormal.




Catherine Recacho Loricchio - 1° Ano, Diurno

Positivismo Que Nega

Eu, intenção,
Ciência, ação.
O "Eu" não cabe na ciência.
Eu não caibo na ciência
Que acha que causa não é consequência,
Que prevê sem ver
A complexidade que simplifica complexamente, 
Que nasceu na mudança da relação com a terra,
Que esqueceu da relação com a Terra.

O pensamento não tem valor
Se não valoriza o sistema
Que prega clareza de visão,
mas não vê além da ciência,
Que vê cérebros e mãos como instrumentos de Progresso,
Que vê o Direito como algo que é,
E não como algo que pode ser
Que prevê o espírito humano como algo que pode ser
E não como algo que é.

A vida não cabe nesse pensamento.
Porque vida é intenção, 
é causa.
Vida causa espanto, 
Porque não pode ser observada.
Vida não é Ordem
E nem algo a progredir, 
Mas não deixa de ser,
Porque Vida é.


Débora Graziosi Ferreira Ramalho
Diurno

A ditadura da ordem

A influência da teoria positivista pode ser facilmente observada em diversos momentos da história política do país, como por exemplo a escolha do lema da bandeira: ordem e progresso e no Estado da ditadura militar.
Nestes vinte e um anos de ditadura, o Estado manteve esforços em combater quaisquer atos que ele e parte da população conservadora consideravam “anormais”, “más condutas”. Tais condutas eram rotuladas de maneira maniqueísta a partir de ideais passados de gerações para gerações através da família, ideais que definiam determinada moral a se seguir, determinada hierarquia para se obedecer, determinada religião a se praticar, determinadas condutas a se tomar. Tudo isto em prol da manutenção da ordem social, para a manutenção da “moral e dos bons costumes”. Com esta desculpa, várias atrocidades foram cometidas, como a prisão de pessoas homossexuais e transexuais, que segundo a opinião das pessoas conservadoras (que se auto intitulavam “pessoas de bem”) iam contra os ideais de família; censuras aos canais de informação e produção cultural que apresentassem ideias contrárias as que regiam o regime.
O Estado tentando a qualquer preço manter a ordem interna não se importou de desrespeitar os direitos humanos da população, assim permitiu que os militares torturassem e matassem pessoas contrarias ao regime, consideradas “subversivas”, pessoas cujo “crime” que cometeram foi o de não abrir mão de suas individualidades em detrimento de um governo abusivo que aniquilava tudo que não fosse coerente a sua ideia de “progresso”.
Infelizmente as ideias de Comte, ainda se fazem altamente presentes da sociedade atual, pessoas valorizam o que consideram a ordem para a manutenção de um suposto progresso. Um progresso que é contrário a quaisquer condutas consideradas “anormais”, um progresso que não tem lugar para individualidades.

Brenda S Guimaro - 1° ano de Direito Diurno
Nos meados do século XIX as consequências da revolução industrial já estavam fortemente manifestadas na sociedade. Aumento excepcional da violência, trabalhadores em condições de miséria, revoltas, entre outras crises sociais abalaram a Europa. Vendo isso, Auguste Comte sugeriu criar, segundo ele, a “física social” que, assim como a física de Isaac Newton, através de observações, entenderia as leis da sociedade e com isso poderia ser resolvido os males que afligiam a sociedade de seu tempo.
Segundo Comte, o conhecimento humano teria três estágios: o teológico, o metafísico e o positivista, sendo que Descartes e Bacon teriam começado a dar a manifestação deste último estagio. A filosofia positivista interviria estatalmente na sociedade e na educação e afastaria a teologia e metafísica que atrapalham o desenvolvimento da sociedade. Com isso, tinha-se em mente também manter uma identidade nacional una, mantendo assim o status quo.
O positivismo foi muito importante ao Brasil, principalmente no período da proclamação da república, sendo o lema de nossa bandeira, “ordem e progresso”, enviesado com as ideias positivistas. Houve muitos episódios em que soluções da parte do estado foram impostas de forma violenta a população, como a revolta da vacina, mostrando o descaso do governo com a população.


João Pedro Monferdini - 1º ano Direito (Diurno). 

Educação positivista

Filosofia e Literatura, pra quê?
Não ensina a produzir,
Não habilita a trabalhar,
Não ajudar a progredir.

Pensar e escrever não rende,
É preciso seguir a ordem que se aprende.
O negócio é calcular,
Ser a máquina que ajude a lucrar.

Reforma Trabalhista e Previdenciária,
O trabalhador precisa aprender o seu lugar.
Aposentar já não é mais opção,
O seu trabalho você deve honrar,
E se o seu fim nele encontrar,
É seu dever se orgulhar.   



MARIA CLARA TEIXEIRA AGUIAR - 1º ANO/NOTURNO

O Advogado do Diabo

Auguste Comte é, indubitavelmente, o alicerce primeiro da sociologia como ciência. Cidadão de uma sociedade recém-industrializada, no desabrochar de uma novíssima organização socioeconômica, marcada pela substituição dos mecanismos políticos de controle pelos interesse de uma nova entidade soberana: o mercado. Comte, ao discorrer sobre o progresso unidirecional do conhecimento humano rumo ao pináculo da razão e, destarte, da organização social, o qual chama “estado positivo”.
É proposta, nesse contexto, a elaboração da física social, a qual, sob a égide da racionalização suprema do estudo científico. A partir de teses empiristas, propõe que as inter-relações sociais sejam estudadas, fundamentalmente, pelos ditames da observação e experimentação, o que levaria, inevitavelmente, a um construto exato e ideal de comunidade, marcado pela ordem e pelo pleno progresso científico. O alcance de um construto rígido e estável seria a única possibilidade de futuros passos adiante.
Em tempos maculados por incertezas e conflitos rasos, ausenta-se a busca pelo progresso uno, pela coletivização do saber. O mundo tornou-se múltiplo, as culturas tornaram-se inimigas e o diálogo do contexto “multipolar” já há muito é coadjuvante na tomada de decisões. O indivíduo sobrepôs-se à comunidade, o interesse do “eu” é regra quando deveria ser exceção. Em tal contexto em que a desordem é soberana, muito parece fruto do delírio de mentes pouco comprometidas com a verdade coletiva, com o bem-estar do “nós”; o limiar do terceiro milênio arrasta consigo a opacidade dos tempos em que o metafisico era o real.

A ausência de pragmatismo e realismo na tomada de decisões afasta as comunidades humanas da estabilidade necessária ao progresso. As doutrinas comteanas, em demasia autoritárias, não são adequadas à complexidade da organização hodierna; não obstante, o cerne do estudo de – agora tido persona non grata – Comte revela uma possível saída para o caos. A definição de um único objetivo, de uma universal utopia, pode, com efeito, reverter em parte a corrosão dos elos entre culturas. Em uma peça de múltiplos atores, a ausência da razão torna-os todos protagonistas; estabelecer – como na teleologia de Comte – um propósito real e exato transmuta a confusa competição em mútua e coesiva cooperação.


Fernando Peres - 1º ano Direito (Noturno). 
Atenção


Ordem e Progresso

Verdes matas

Amarelo ouro

Azul do céu

A paz em branco


A Ordem mata

E o Progresso ouro

Mata pelo retrocesso

Progride a manutenção

O amarelo cada vez mais amarelo

(E sempre vermelho)


O Progresso é regresso

Não se ordene

Pela Ordem estampada na bandeira

Que não te vê


Atenção,

A Ordem é feminina!

Corpos dispostos

Aborto ilegal

Feminicídio de Estado

O progresso é masculino


Atenção,

A Ordem é feminina!

Aborto é crime

Homofobia não

Progresso sem tolerância
é menos que regresso

Gabriela Rangel Eduardo Silva- 1° ano Direito Matutino

Medicalização da vida: o novo pneumotórax


- Diga trinta e três. 
- Trinta e três... trinta e três... trinta e três... 
- Respire. 
- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado. 
- Então, doutor, o que me resta é tocar um tango argentino? 
- Não.

- Não?
- Você vai viver.
- Ufa...
- Mas... haverá algumas complicações. 
- Que complicações?
- Infelizmente a natação acabou para você.
- Mas, doutor, eu sou um atleta, nadar é o que sou,  É minha motivação, minha individualidade, minha vida, anos de trabalho, não posso jogar fora. 
- Sinto muito, mas você terá que se adaptar a uma vida comum. Não se sinta mal, são os ofícios da vida.

Chega de água
Chega do colorido abissal
O certo é ser normal
E o normal, o que é? 

Maria Júlia Paschoal Minto
Direito- 1º ano- Matutino 
2+2=5
Em um dia nublado, antes mesmo de nascer o sol, um homem, casado e com cinco filhos, caminha até a fábrica onde trabalha, por onde ficará mais dezesseis horas. O ano é 1840, é o decorrer da Revolução Industrial, milhares de famílias sofrem as consequências do êxodo rural e agora a sobrevivência não é mais exclusividade da terra, mas sim do suor desse ‘homem de bem’. Contudo, ao chegar em seu local de trabalho, este homem descobre que diversos trabalhadores foram substituídos por máquinas, inclusive ele. Sem emprego, sem esperança, sem direito trabalhista algum, porém ainda com seis pessoas para alimentar. O que fazer? Como contar a família que hoje não haverá janta e saber-se-á quando haverá comida novamente em suas mesas? Todavia, ao olhar para uma grande residência em seu trajeto de volta, nota uma galinha e pensa que tal animal, poderia servir a ele e não faria falta para um lugar com tantas dessas. Sem pensar muito, pega a mesma e move-se o mais rápido possível para sua casa.
Tal homem, é um infrator? Se for pego, merece ser encarcerado? As circunstancias que levaram o mesmo a tomar tal atitude não devem ser considerados?
Para Comte, a resposta de tais perguntas é sim.

Comte, com sua filosofia positivista, foi o pensador que deu origem a sociologia, em meados do século XIX, no mesmo período em que viveu o homem da história contada a cima. Aliás, foi tal situação que levou Comte a analisar a sociedade e os desvios que nela ocorrem. Para o sociólogo, crimes fogem à normalidade e a lei deve existir para transformar um infrator em um indivíduo normal (que segue as normas). Todavia, o mesmo defende que a sociedade deveria ser analisada como qualquer outra ciência exata, não mencionando porém, que a comunidade é composta por homens, e nunca poderá ser posta em uma fórmula, esperando que seus resultados sejam exatos, da mesma maneira que dois mais dois são quatro. Logo, não posso concordar com a filosofia comtiana que busca exatidão em um contexto inexato. E a condenação do homem que infringiu as normas, para roubar uma galinha e dar de comer a sua família é errada e injusta, uma vez que o direito a subsistência é sempre superior a propriedade privada, deste modo não deve ser preso quem furtou para garantir seu direito á vida.
Marina Domingues Bovo 1º ano direito matutino  
O VÉU

A formação intelectual brasileira foi indubitavelmente influenciada pelo positivismo, porém seu alcance prático é discutível. Mesmo o Brasil tendo expresso em sua bandeira o lema “ordem e progresso”, este só foi levado em consideração por suas autoridades  parcialmente. A história nacional demonstra um forte interesse em repressão social por parte dos governantes, porém não encorajado pelo desejo de se manterem as condições mínimas para a existência de uma sociedade mas somente para a manutenção do status quo de uma fração rica .
Outro aspecto negligenciado é o do progresso, referente ao desenvolvimento técnico científico, quase nulo no país devido à falta de incentivo governamental. Prefere-se investir em grandes eventos, produção industrial (através da importação de tecnologia) e agropecuária (desenvolvendo-se sementes transgênicas e potencialmente prejudiciais à saúde) enquanto se criam barreiras burocráticas para as pesquisas voltadas para a cura de doenças e para o aprofundamento das informações sobre a extensa biodiversidade nacional. E mesmo quando se tem o conhecimento necessário para melhorar a qualidade de vida da população, ainda sim são tomadas decisões contrárias a isso, que visam apenas o benefício próprio daqueles que as tomam (corrupção).
Percebe-se que, na realidade brasileira, o positivismo não é abordado como ideologia mas, distorcido, transformou-se em marketing, sendo utilizado para mascarar um modo de se governar completamente oligárquico, como véu que esconde a verdade e impede que a penúria cesse.

Aline Ferreira do Carmo      1º ano Direito- Diurno

Religião, Religiosidade e Filosofia Positiva



            Ao expor o pensamento de Comte, o texto aborda uma série de ideias que, mais de cento e cinquenta anos após a morte desse filósofo, ainda são passíveis de discussões e reflexões. Dentre tais ideias é possível, por exemplo, destacar a extrema convicção do filósofo quanto à assimilação do positivismo pela sociedade como caminho único e seguro à obtenção da verdade e ao progresso humano. Essa convicção levou Comte a se dar ao trabalho de fundar uma religião cuja finalidade era firmar de modo absoluto os preceitos dessa teoria na sociedade.
            O debate acerca desse tipo pensamento é especialmente relevante no contexto contemporâneo. Isso ocorre, por exemplo, na “santificação” (ainda que não assumida) de figuras e regimes políticos. Ora, embora seja possível distinguir expressões como religião, religiosidade e comportamento religioso, é indiscutível que existem fortes vínculos entre as ideias associadas a tais conceitos.
            Dessa forma, pode, por exemplo, uma postura ideológica se transformar em um dogma, que prontamente rejeita todos os pensamentos e argumentos a ele contrários. Trazendo ao plano concreto: a ditadura comunista vivenciada pela Coreia do Norte, onde esse comportamento não só é marcante e incentivado, como também imposto.
            Os prejuízos que esses fenômenos trazem ao progresso do pensamento humano são notáveis, tendo em vista que buscam simplesmente uma estagnação ideológica, cega aos seus próprios problemas e contradições.
2017
Higor Caike Jordão Zanzarini
1º ano – Direito


Turno: noturno

                

Autoconhecimento

Aos olhares atuais o positivismo de Comte soa conservador e limitado, entretanto, para época de sua fundação, ele representou um grande avanço no conhecimento científico da humanidade. A teoria positivista, e a organização estatal pautada nela, prevê a observação de fenômenos a fim de entende-los enquanto fatos sejam eles universais ou não. Dessa forma, não importa quais os fatores que levaram a tal acontecimento, uma vez que será necessária uma providência imediata a qual preserve o bem-estar da sociedade estabelecida.
Partindo desse pressuposto, é possível analisar a sociedade atual e traçar a presença do positivismo, julgando qual seu papel nos problemas sociais. Ao procurar estabelecer a ordem e o progresso, não por acaso estampados na bandeira, a teoria comtiana adentrou as terras tupiniquins e ainda possui traços muito fortes. Mas, ao julgar pelas estruturas presentes no país, pode-se observar: a não realização de uma análise histórica é prejudicial.
Destarte, é possível ponderar qual o papel do judiciário no que cerne a manutenção de estruturas ao adotar uma postura positivista. Quando a lei se propõe a não distinguir pessoas, por exemplo, de raças diferentes, ela não considera o peso da racialização e da vulnerabilidade a qual pessoas negras estão expostas diante do processo histórico e cultural de marginalização. Diante disso, ao considerar todos como sujeito de direitos, a lei não permite um olhar para as fragilidades e reforça toda a estrutura de desigualdade racial, como bem explicitou Angela Davis na obra A democracia da abolição.

Sendo assim, diversos setores da composição civil e política precisam ter um conhecimento que vá além da abstração e solidificação de leis e preceitos morais previamente estabelecidos, buscando soluções que sejam realmente duradouras e mais efetivas. Mesmo que a organização e o bem-estar social que a teoria de Comte prevê seja necessária, os caminhos que ele sugere não são tão efetivos quanto o esperado. Desmantelar preconceitos e edificar uma sociedade saudável requer conhecimento das nossas próprias construções sociais. 

Daniela Cristina de Oliveira Balduino, 1º Direito - diurno

Positivismo e o relativismo cultural

Em 1830, Auguste Comte em seu "Curso de Filosofia Positiva" estabeleceu os paradigmas para uma nova visão sociológica, unindo o racionalismo e empirismo de Descartes e Bacon à ideia de "física social", almejou o conhecimento das leis gerais do corpo social a fim de determinar suas relações invariáveis, para assim basear a reorganização da sociedade moderna.
A filosofia positiva, acima de tudo, considera-se ciência por excelência, ou seja, a expressão máxima da ciência humana. Justamente por causa dessa noção de cientificismo, tal filosofia acaba por denotar um caráter inerentemente universalista, acabando assim por ignorar as diversas implicações que essa ideia poderia causar. A universalização de padrões socioculturais menospreza, inconsequentemente, a diversidade de momentos, condições e histórias das civilizações, promovendo injustiças quanto às tão conhecidas por nós brasileiros noções de "ordem e progresso" de cada sociedade.
O antropólogo alemão Franz Boas é responsável por articular uma importante ideia também do ramo da sociologia e da antropologia: o relativismo cultural. Por essa denominação compreende-se a ideia de observar uma cultura ou elemento cultural sem uma visão etnocêntrica, sem julgar-se com base em preceitos já consolidados. Tendo essa concepção em vista, podemos estabelecer uma conflituosa relação entre o relativismo cultural e a filosofia positiva, uma vez que as duas concepções, uma universalista e a outra relativista, aparentam excluir-se mutuamente.
De um lado, os três estados progressivos do conhecimento humano, para Comte, o teológico, o metafísico e, finalmente, o positivo, representam a ideia de que o mais evoluído dos sistemas de pensamento é o científico. Por outro lado, a relativização das culturas nos mostra que não pode-se conceber parâmetros de evolução, de melhor ou pior, no que diz respeito às formas de conhecimento. Não é porque o conhecimento de xamanismo, ou a cultura animista de uma determinada tribo não tem bases empíricas que pode-se considerá-la menos civilizada, como se a sociedade ocidental fosse a detentora de todo o processo civilizatório.
Além disso, em sua obra Comte versa incansavelmente sobre uma "moral universal", sobre o "progresso", sobre o positivismo ser o "estado viril da inteligência humana". No entanto, como é possível falar em tais conceitos universalizantes, sendo que as percepções de bom, mal, evolução, progresso, inteligência, são construídas socialmente?
Por final, ao avaliar a produção do filósofo frânces Auguste Comte, nota-se que seu trabalho foi uma importante ruptura com as dogmáticas de sua época, porém ao transplantá-lo para a contemporaneidade, como muito é feito atualmente, seu julgamento mostra-se em vários aspectos antiquado e carente de discernimento diante das diversas mazelas e iniquidades do mundo moderno.

Gustavo Lobato Del' Alamo - 1º Ano - Diurno

É o fim

É o começo do fim. Os sinais estão claros. Não há mais trabalho honesto, não há família, não há dignidade. Vejo miseráveis que invadem escolas, prédios e fazendas, atrapalhando o curso natural da vida. Vejo cretinos defendendo bandidos, ladrões e outras aberrações desse mundo moderno,  envergonhando suas mães, que tanto sofreram. 
São serpentes que ferem nossos filhos, envenenam com suas mentiras, seus pecados e suas heresias sociais. Abortam, drogam-se, sodomizam-se, corrompem a tradição do bom e do justo. 
Mulheres abandonam seus maridos e filhos e se jogam no mundo, um mundo que não foi feito para elas, frágeis e histéricas. 
Homens que não batalham para crescer como muitos outros, que começaram do nada e hoje têm o mundo aos seus pés.
Normalidade. Será que eles não enxergam? Eles não vêem? É tão difícil acatar as leis imutáveis que regem o universo? Essas leis mantêm a ordem e garantem o progresso do homem. Essas leis são a verdade do mundo. 
Meu mestre é Deus nas alturas, não venha me dizer o que é verdade. Verdade é aquilo que vejo, aquilo que eu provo, é aquilo que eu sei. 
Escutem! Mundo velho já não endireita mais.

Rafael Pedro - 1° ano - Matutino

Progresso Seletivo, Conservadorismo & Escolaridade

  As  mais diversas formas de relacionamentos no século XXI, chamadas de "superficiais", como muitas amizades e relacionamentos amorosos, são assim adjetivados devido a falta de procurar aquilo que vai além do que é mostrado pelos olhos, ou seja,o que há por trás das ações. Todavia, diferentemente da crença espalhada pelas sociedades, incluindo a brasileira, essa superficialidade não é algo recente e proveniente sobretudo da disseminação das redes sociais, mas sim algo antigo, com suas raízes no pensamento positivista, de Auguste Comte.
  Para o pai do positivismo, o superficial não é pejorativo; é fruto do reconhecimento pelo homem de que é impossível descobrir a profundidade dos acontecimentos e, portanto, é dessa forma que torna-se possível encontrar a fórmula imutável de tudo. Entretanto, esse raciocínio é suscetível a fortes críticas, tendo em vista que é responsável pela solidificação do conservadorismo social, que se manifesta, inclusive, no tratamento dado às minorias, ou a todos aqueles que fogem de um determinado padrão de "normalidade". Assim, mesmo que não se auto denominem positivistas, pensamentos e atitudes como a de políticos e demais cidadãos que não aceitam a existência de transexuais e artistas de rua, por exemplo, apesar de ser injustificável, carrega um fruto do pensamento positivista, pelo fato dessas pessoas simplesmente não aceitarem que alguns indivíduos não se encaixam em uma regra imposta por certos grupos sociais.
  Entre os outros aspectos do positivismo Comteano, nota-se a busca pelo progresso social, que nesse caso, é representado pelo industrialismo e, para isso precisa-se da ordem, por isso o lema da bandeira do Brasil "Ordem e Progresso", porém, a ordem compreendida pelos positivistas nem sempre é a mesma pelo qual o restante das sociedades procuram, da mesma forma ocorre com o progresso.
  O pensamento de Auguste Comte também difere-se do pensamento de outros pensadores tanto da atualidade quanto de séculos passados, como o de Descartes, no que diz respeito a crença em divindades, metafísica, pois, enquanto para Descartes a crença em Deus era associada a ciência, servindo a busca pelo saber científico até mesmo como um agrado ao Divino, para Comte a teologia e a metafísica, embora tenha sua importância, são apenas etapas a serem percorridas até que se chegue a um estágio maior, ideal, que é o pensamento positivista. Com isso, é perceptível a variação de pensamentos ao longo do tempo, bem como o grande número de adeptos de cada um deles, o que é uma evidência da importância do estudo do passado para compreensão dos eventos atuais que tem implicações jurídicas e sociais, pois, através desse estudo, apesar de nem sempre possibilitar a justificativa de determinados atos cometidos por incontáveis pessoas, ao menos torna possível que se compreenda o embasamento teórico por trás desses atos e discursos de ódio e por fim, desfazer os preconceitos que existem inclusive no meio dos "intelectuais" de que tendências como o superficialismo e negação de minorias são atitudes típicas de pessoas que não estudam e que ignoram a ciência, ou seja, que o conservadorismo não tem grau de escolaridade.

Izabelle de Freitas Custodio- 1º ano Direito Noturno

A desordem social e a divisão do conhecimento na atualidade

    Observando o progresso do intelecto humano, Comte identificou a seguinte lei: cada área do nosso conhecimento passa necessariamente e sucessivamente por três estágios: o teológico, em que se investiga a natureza íntima das coisas e os fenômenos resultam das ações de agentes sobrenaturais, o metafísico, ocorrendo a substituição dos agentes anteriores pelas forças abstratas, como a natureza, e por fim o positivo, em que o espírito humano rejeita a intimidade e as causas dos fenômenos e busca descobrir suas leis através da observação e do raciocínio, por exemplo: o espírito empenha-se em desvendar as leis da termodinâmica em vez de saber a essência do calor, pois aquelas interferem na sua vida, e o conhecimento sobre o calor não é essencial. Cada ciência percorre o caminho com uma velocidade diferente, sendo mais lenta a destinada ao estudo dos fenômenos sociais devido às particularidades e dependências que possuem. Apesar de algumas das inteligências mais avançadas ainda conter traços primitivos, falta a positivação da fisica social para a consolidação do último estágio.
    Aproximadamente um século depois, a humanidade ainda não alcançou plenamente a filosofia positiva, coexistindo os três estágios da inteligência humana, e umas das mais relevantes consequências desse fato, sob a concepção de Comte, é o caos social presente nas sociedades existentes, exemplificado pela homofobia, violência, preconceito racial, étnico e econômico, divergentes opiniões, condenação da desigualdade social, instituições provisórias, etc. e na própria sociedade global, como a ampla discussão acerca da defesa dos direitos humanos entre países ocidentais e orientais genericamente, resultante da profunda discrepância entre um grande número de crenças, costumes e culturas. Como o filósofo francês defende, as divergências presentes entre os homens causam essa desordem e a sua eliminação só seria possível através da construção de uma moral universal, em que se valorizaria a sociedade e não o indivíduo, o bem comum seria associado à felicidade, o trabalho significaria honra e as posições socias seriam aceitas, restaurando dessa forma, a harmonia social. 
    O positivismo torna o conhecimento incompleto e excessivamente específico por julgar desnecessário entender as causas dos fenômenos, importando-se apenas com a utilidade do conhecimento, tendo controle sobre os acontecimentos para beneficiar e proteger o gênero humano e estabelecer áreas de conhecimento artificiais, criando muitas particularidades e desconsiderando o sistema como um todo. Nos estágios primitivos, o mesmo espírito atuava em todas as ciências. No entanto, o desenvolvimento provocou a divisão e como consequência, poucos dominam uma inteligência totalmente, abrangendo apenas secções. Questões importantes só podem ser resolvidas com a combinação de diferentes pontos de vista, e a especialização dificulta e atrasa suas resoluções. Outro problema gerado é o sistema de ensino, que precisa ter uma base geral e apresentar apenas os principais métodos e descobertas de cada parte da filosofia positiva. Como solução, o escritor sugere fazer do estudo das generalidades uma especialidade, mantendo a integridade do estágio final. Analogamente a essa divisão do conhecimento, encontra-se a divisão do trabalho no processo de produção capitalista, que embora eficiente, prático e financeiramente válido, gera a mecanização e a estatização do ser humano, fato que motiva profundas criticas ao sistema capitalista e foi abordado por Karl Marx.
    Como foi mostrado, o positivismo tem sua relevância e seu papel no avanço intelectual da humanidade, mas ele não abrange importantes aspectos do ser humano e do mundo, além de apresentar consequências negativas como seu próprio criador mostra, carecendo portanto de total efetividade e abrangência.

Eloáh Ferreira Miguel Gomes da Costa/Direito-diurno

Crônica de um progresso positivista

     Eram 6:00 da manhã, os funcionários de uma manufatura de sapatos acordavam, levantavam de suas camas e iam trabalhar. Ao chegarem à fábrica todos foram para seus respectivos postos de trabalho, exceto um, esse continuou andando, atravessou toda a fábrica até chegar na sala do diretor.
     Avisou a secretário que queria falar com o diretor, e ficou sentado esperando. Durante esse tempo viu um quadro na sala com a seguinte frase “não poderia haver qualquer conhecimento real senão aquele baseado em fatos observáveis”, contudo não entendera direito a frase, e antes de refletir mais, o diretor chamou-lhe para entrar, eram 9:00.
     O funcionário começou a falar que tinha uma nova técnica para aplicar na fábrica, que permitiria aumentar a produção, mas para essa técnica funcionar era necessário reformular toda a estrutura da fábrica, era necessária uma revolução da hierarquia social existente na fábrica, que traria mais benefícios para produção, defendendo por fim uma divisão do controle da fábrica entre o diretor e alguns funcionários e uma distribuição de recursos de melhor forma. Imediatamente, o diretor disse não, ele achava um absurdo essa ideia, pois aquilo acabaria com diversos valores importantes na fábrica, valores como a hierarquia tradicional, superioridade do diretor e aceitação dos “lugares sociais” e seus papéis definidos na fábrica, aquilo para o diretor era inaceitável.
     A discussão continuara, mas a cada minuto o funcionário via que nada seria aceito pelo diretor, quando o relógio bateu 10:00, o diretor mandou o funcionário retornar para o trabalho.
     Quando o relógio bateu 12:00, os funcionários se preparavam para almoçar quando o diretor chamou todos para fazer um anúncio, ele dissera que devido a uma conversa com o funcionário ele decidiu mudar algumas coisas na fábrica, ele falou que a partir de agora a ordem deveria ser reestabelecida, e reforçou também a importância do trabalho prático e mecânico que era realizado por eles para permitir o progresso da fábrica, defendendo que o trabalho significa honra e qualquer trabalho deve ser digno de reconhecimento. E para terminar seu discurso falou que todos presentes poderiam alcançar a felicidade real igual ele, mesmo que existam diversas posições sociais, a felicidade é compatível com todas, desde que sejam desempenhadas com honra e aceitas convenientemente.
     Após o término do horário de almoço os funcionários voltavam a trabalhar, o relógio marcava 13:00, o funcionário que fora falar com o diretor no começo do dia, ficou feliz porque viu que o diretor mudou algo na empresa, sentiu-se mais disposto porque vira que teria condições de alcançar a felicidade real que o diretor falava. 
     O relógio marcou 18:00 e os funcionários batiam o ponto e voltavam para suas casas. Às 23:00, o funcionário deitou e preparou-se para um novo dia de trabalho.
     O pensamento do diretor mostra-se muito alinhado com o pensamento positivista do Augusto Comte, afinal Comte era um grande defensor de uma reestruturação intelectual nos indivíduos para reformular a sociedade. Seguida dessa reorganização intelectual, ele defendia a reorganização da moral e, por fim, da política. Com seu discurso, o diretor estava fazendo uma doutrinação positiva, para assim mudar o pensamento intelectual dos funcionários e reestabelecer a ordem. 
Comte também criticou a Revolução Francesa, pois ela havia destruído uma série de valores importantes da sociedade tradicional europeia e não impôs novos valores permanentes. Assim, como Comte criticou a mudança trazida pela Revolução Francesa, o diretor criticou a mudança que o funcionário queria trazer, só que o diretor depois fez ele acreditar que tinha mudado algo, sendo que apenas reforçou a ideia industrial capitalista.
     Betina Rodrigues Yagi- 1° ano diurno

Confronto ao poema do positivismo


“Eis a diversidade
Complexa, incompreensível
Ah, a normalidade!
Simples, inteligível
É pelo descomplicado
Que uma sociedade tão complicada
É que deve ser orientada
Ah, que adequado! ”

Normalidade? NORMAS?
Fechar os olhos para a diversidade
Que existe SIM!
É ser uma sociedade normativa

Normal não é ser descomplicado
Normal é apenas admitir-se à alienação
Não enxergando a realidade
O significado de “normal” é tão preso
Que me sentiria ofendidx em ser “normal”

Se é ser diferente que me apetece
SIM vou ser diferente SIM!
Normatividade é aprisionadora, retraída
Quero ser livre!
Diversidade, pluralidade, liberdade!
Esses sim são os substantivos adequados

Emily Caroline Costa da Cunha - Direito - 1º ano (Diurno)

Uma relação entre Positivismo e Religião

O positivismo de Comte traz uma proposta inovadora no que diz respeito ao olhar dado ao conhecimento. Diferenciando os estágios da forma de observação do ser humano em: Teológico, Metafísico e Positivo, Comte tece sua teoria que possui centro no uso da observação e da forma científica do pensar para atingir ao real conhecimento do mundo, o estagio Positivo. Nesta ideia pode-se pensar num primeiro momento que o Positivismo diferencia-se brutalmente do pensamento religioso, porem com o passar dos tempos o positivismo tem sido defendido praticamente da mesma forma que a religião, sendo blindado por algum tipo de força superior que paira o ser humano, e portanto cada vez mais sua aplicação torna-se dogmática.

De acordo com o Positivismo de Comte, a Religião seria apenas um estagio da humanidade que tem como função explicar fenômenos aparentemente sem explicações terrenas e tangíveis. Com a evolução do pensamento, a humanidade passa por uma transição, o estágio Metafísico. Este estágio apenas serve de passagem para o terceiro e principal estágio do pensamento, o Positivo. Seguindo o raciocínio de que quanto mais o pensamento da humanidade evolui, menos preso aos dogmas religiosos eles ficam, uma vez que são apenas explicações criadas pelos homens sem qualquer tipo de método científico ou amparo na realidade, o terceiro estagio deveria ser essencialmente científico e amparado na observação do mundo real.

O grande problema dessa questão está no fato de que muitos seguidores do Positivismo, ao longo dos anos, têm feito de tal escola do pensamento um verdadeiro dogma, aplicando-o em variadas situações de forma categórica. Quando alguma teoria tenta explicar qualquer situação, se não todas, ocorre um serio problema neste sentido, sua aplicação passa a ser de certa forma dogmática, assim como no que os positivistas criticavam a religião. Isso ocorre pois a teoria aplicada não deixa que a própria razão explique a situação presente, ou seja, esta forma categórica e incisiva acaba por ser usada de forma análoga a um preceito religioso.

Esta aparente hipocrisia relatada tem algumas explicações. Augusto Comte quando começou a propagar o Positivismo, acabou por criar uma verdadeira adoração por parte de seus seguidores. Começou-se a serem criados templos para a discussão das ideias e eventualmente algo similar a uma religião. Até mesmo no Brasil ainda hoje existem templos positivistas que podem evidenciar essa certa semelhança no que no inicio pareciam totalmente dicotômicos, o positivismo e a religião.




Gabriel Martins Raposo............................. Direito - Noturno 1ano









































































 

Progredir e/ou conservar?

O Positivismo, fundado por Augusto Comte, exerce uma forte influência ainda hoje, uma das provas disto é a frase “Ordem e Progresso” estampada na bandeira brasileira. Apesar da absorção de valores positivistas em nossa sociedade e grande reconhecimento dessa doutrina, é impossível negar certas contradições e hipocrisias, seja com seu próprio fundador, seja com os que se apropriam dela. Das quais notei, destacarei duas a seguir.
A primeira é que Comte propõe uma reorganização completa da sociedade, com uma reestruturação intelectual, mas não toca na revolução das instituições sociais, legitimando a exploração e a divisão de classes, ou seja, ele acreditava no progresso e na mudança, mas parcialmente, pois continuava com uma visão dogmática e conservadora.  A segunda é que ele fala sobre uma evolução histórica e cultural da humanidade, com três estados, dos quais o teológico ou fictício seria o inicial e consequentemente menos avançado, e o científico ou positivo seria o mais desenvolvido, no entanto, em certo estágio de sua obra ele dá traços religiosos a sua teoria, criando até mesmo uma seita, a Religião da Humanidade.

Quanto a primeira crítica, é notável que ela não desapareceu com Comte, na verdade,  parece ter prosperado com aqueles que se utilizam de sua corrente teórica para pregar ideias conservadoras progressistas. Porém, uma preocupação social apareceria mais intensamente em correntes posteriores a Comte, logo, podemos reconsiderar, até certo ponto, esta questão em sua obra. A respeito dos pregadores do positivismo atualmente, é admirável, e triste, a devoção nessa teoria.

A repercussão do Positivismo na atualidade

O Positivismo foi uma corrente filosófica que surgiu durante o século XIX, em meio a emergência de uma elite burguesa às luzes do Iluminismo. Podemos dizer que, basicamente, essa corrente usava dos pilares lógicos das ciências exatas para uma análise da sociedade. Assim, seu precursor, Auguste Comte, acreditava que como as forças naturais eram regidas por leis que poderiam ser previstas pelo homem, as forças sociais seguiam essa mesma linha de raciocínio. Mas a relevância desse pensamento não se restringiu somente aos séculos passados, os fundamentos do positivismo podem ser facilmente identificados na sociedade atual, enraizados na forma de pensar e agir de grande parte da população.
Para começar a ilustrar tal realidade, podemos analisar os vários traços positivistas no decorrer da própria história brasileira. Temos já na Proclamação da República uma influência muito forte do positivismo, e como sabemos, o maior reflexo de tal se encontra estampado na bandeira brasileira que contém a frase “ordem e progresso”. O dizer expressa uma das principais ideias da corrente que prega que a manutenção do sistema é essencial para a plenificar a razão, dessa maneira a ordem se torna pressuposto do progresso. Anos após, a ditadura militar, extremamente inserida nesse pensamento, se mostra capaz de atrocidades na tentativa de manter a ordem no país.
No nosso cotidiano as ideias positivistas se encontram em praticamente todos os aspectos de nossas vidas, querendo ou não. A educação, o trabalho, a família e a cultura são exemplos de instituições que, a grosso modo, pregam para uma ordem estática, conservadora, criando determinada moral que será incorporada pela grande parte dos indivíduos, sendo usada como um “molde” para o agir deles. O problema desse mecanismo é que essa moral é incorporada sem questionamentos e tudo que se encontra fora dela, o “anormal”, é visto como uma ameaça para o bom funcionamento da sociedade.

 Tal forma de pensar é extremamente nociva, uma vez que pelo fato do positivismo buscar somente as causas imediatas sem ter muita preocupação com fatores tidos como secundários, seu alcance é curto devido a uma compreensão tão limitada. Com um conhecimento tão restrito, abrem-se espaços para a propagação de preconceitos e noções falsas, numa tentativa constante de combater tudo que está fora da normalidade. Assim os questionamentos e as novas realidades, que precisam de atenção, são duramente reprimidos afim de se conservar pensamentos arraigados na moral coletiva. Devemos então questionar se a felicidade - razão última do positivismo, voltada para o equilíbrio e estabilidade -  será efetivamente alcançada dessa maneira.

Érika Luiza Xavier Maia 1º ano Direito Noturno

Moderação ao analisar o Positivismo

O Positivismo, de Augusto Comte, estabelece, resumidamente, a experiência e observação de fenômenos como fator superior para a ciência. Além disso, busca o conhecimento prático e real, deixando de lado a essência dos fenômenos e suas causas, preocupando-se somente com as leis que os regem. Talvez a mais icônica ideia do Positivismo seja a divisão da evolução do conhecimento humano em três estágios: teológico, metafísico e, por fim, positivo.
Em meio a um contexto de crescentes evoluções sociais e tecnológicas, como o vivido na atual época, é natural que visões que pendam para o lado conservador, de uma forma ou de outra, caiam em desuso e, de certa forma, sejam vítimas de estigmas, sendo tidas como retrógradas e contra o progresso.
Uma vítima desse estigma é, de certa forma, o Positivismo. Embora seja, de fato, creditado por grandes avanços no pensamento filosófico/sociológico, essa corrente é frequentemente retratada como "inadequada" ou "desatualizada" para o momento histórico atual. Contudo, é sábio saber separar o joio do trigo. Deve-se descartar o que de fato pode não ser produtivo para a sociedade atual mas, principalmente, deve-se reconhecer as situações atuais em que o pensamento positivista ainda prova-se útil e, se necessário, mesclá-lo a outros métodos, a fim de obter o melhor avanço possível.
Um exemplo de crítica ao positivismo é a valorização e manutenção das instituições. Ora, não se deve descartar as instituições, como a família, religião ou moral. Foram importantes, e ainda o são. As primeiras sociedades foram formadas a partir de famílias; a religião e a moral estão intrinsicamente ligadas, e foram os fundamentos da ética no passado, a qual mostra-se em necessidade hoje. Então, deve-se moldar tais instituições, aos poucos, adaptando-se para que não sejam motivo de incômodo, mas que continuem sendo forças motriz da sociedade.
Assim, é no mínimo justo dar uma chance a tudo e todos, possuindo uma visão moderada e não simplismente descartando qualquer ideia que não se encaixe em determinada sociedade ou época. Aprimorando tais ideias, não só um extenso trabalho deixa de ser desperdiçado como é possível aprender com o passado.

Tiago Nery Constantino - 1º ano Direito Matutino

Crítica Social à Sociedade que Comte Idealizava

De um período pós formação da ciência moderna, como os postulados newtonianos e as fortes afirmações no que se tangem a busca do conhecimento racional e efetivo, tem-se por emergir, de Augusto Comte, o nascimento de uma forma de estudo a respeito da ciência que estuda a sociedade em si. A física social, filosofia positiva ou positivismo são os nomes ao qual Augusto Comte usava para tratar sobre a sociologia, o estudo da sociedade e suas aplicações.
De cara, no contexto apresentado, é perceptível a busca da explicação de uma ciência exata para uma ciência humana. Assim, é usado um parâmetro para tal. No caso, as leis da física newtoniana, já citado, e os postulados de Copérnico. Nisso, Comte trata as leis do positivismo como Estática e Dinâmica, respectivamente a Newton e Copérnico. Logo, dessas duas leis advém-se o conceito de ordem e progresso, ainda da mesma forma respectiva.
Contudo, para chegar à compreensão plena da sociedade nesse formato é preciso que a própria passe por estágios primeiros antes do positivista. Primeiramente, o estágio teológico é necessário apenas para agir como ponto de partida para a inteligência humana, conhecimentos oriundos do sobrenatural. Em seguida, o estágio metafísico, que é necessário unicamente como de ponte entre o teológico e o positivo.
Tendo a dinâmica como a forma de ação efetiva do movimento humano e embasado em todas essas formas estratificadas de compreensão, o positivismo tem, principalmente, a estática da sociedade firmada nas instituições. Estas são a exemplo, a família, hierarquia, religião e moral. Logo, é possível notar que nas sociedades influenciadas pelos ideais positivistas o padrão de vida torna-se algo mecanizado e pouco liberal no que se tange as ideias do coletivo suprimindo o pensar individual.
A crítica ao positivismo paira nesse fato de ser contra a vontade individual e enrijecer os padrões de vida. Afinal, como é possível padronizar uma sociedade se todos os indivíduos são formados por ideais completamente diferentes uns dos outros? Na sociedade vigente é notório padrões conservadores de ascendência positivista nos diversos âmbitos. Crítica ao que é família, ao que a moral deve englobar, do patriarcado e as diversas hierarquias, que não mais são adequadas ao padrão de vida no século XXI. O positivismo ainda marca a sociedade em castas onde os indivíduos estão pouco suscetíveis a mudanças de vida quando inseridos em uma casta. Ademais, esses ideais conservadores e reacionários são bases ideológicas para a fundamentação de pré-conceitos no mundo pós-moderno, bem como criminalizam ideais novos que buscam uma maior autonomia da dos indivíduos na sociedade. Sendo assim fraco, o pensamento de Comte para o mundo atual e suas complexas dinamizações sociais
Pedro Henrique Lourenço Pereira - 1º ano Direito Matutino 

Desconstrução da ordem para que haja o progresso!




 Em meio ao contexto histórico do Cientificismo, protagonizado por Descartes e Bacon (os quais seriam os precursores da filosofia positiva), a razão ganha o total poder de explicar o mundo, seja este em sua forma física ou social, com o predomínio das Ciências Naturais. Daí surgiria a chamada "física social" comteana, no século XIX, um pensamento sociológico sistematizado, com um objeto de estudo definido (a própria sociedade), conceitos e método científico baseados nas Ciências da Natureza, com a definição de princípios reguladores e leis efetivas/invariáveis para se explicar o fenômeno social. A partir daí surge uma ciência capaz de compreender e solucionar os males da sociedade, principalmente após as Revoluções Liberais do final do século XVIII, a fim de  se restabelecer a ordem e se criar instituições não mais provisórias, mas sim definitivas.  

 A corrente positivista rompe com o espírito teológico e metafísico, estágios históricos de construção do conhecimento considerados imaturos, insuficientes, nos quais a razão não se encontrava em sua máxima supremacia e virilidade. No estado positivo, o homem consegue despir-se do sobrenatural, do transcendental para explicar o mundo à sua volta, é o grau mais evoluído da construção do conhecimento, o amadurecimento final do espírito humano. A filosofia positiva passa a valorizar tudo o que é real, útil e certo. 

 Não há mais, portanto, uma preocupação com as causas mais íntimas e profundas dos fenômenos, mas sim com a sua compreensão a partir do uso da razão e da observação, a fim de se formular as leis gerais e efetivas de explicação do mundo, ou seja, busca-se um conhecimento pragmático acima de tudo. A partir disso, tem-se uma analogia newtoniana dentro do próprio pensamento positivista, sendo as leis da natureza utilizadas na Física aplicadas à Sociologia. A Estática seria o princípio regulador da Ordem, com as suas mais diversas instituições: religião, família, hierarquia, Estado, leis e a moral humana, já a Dinâmica seria o princípio regulador do Progresso, da ação efetiva que levaria ao desenvolvimento humano. 

 É inegável o atual enraizamento e influência do Positivismo nas práticas sociais e políticas brasileiras. Apesar de sua conotação conservadora, ele foi responsável por influenciar o pensamento do Exército brasileiro e desencadear a proclamação da República em 1889. Na contemporaneidade, faz-se necessária a desconstrução de velhos costumes e ideias advindos do senso comum e de modelos institucionais arcaicos, que não mais se adequam à nossa conjuntura social atual, a fim de que se entenda a importância da existência da pluralidade em uma sociedade democrática, livre de preconceitos e de qualquer forma de intolerância.


Juliana Beatriz de Paula Guida - 1°ano - Direito Matutino

A limitação do pensamento positivista



Augusto Comte foi um importante pensador para a filosofia positivista, cuja compreensão torna indispensável uma visão geral sobre a marcha progressiva do espírito humano. Este, por sua natureza, passa sucessivamente por três estados históricos diferentes. O estado teológico ou fictício atribui todos os fenômenos à ação de agentes sobrenaturais, enquanto que, no estado metafísico ou abstrato, tais agentes são substituídos por forças abstratas, entidades inerentes aos diversos seres do mundo. Por fim, no terceiro e definitivo estado, o positivo ou científico, o espírito humano preocupa-se unicamente em descobrir, a partir do uso combinado do raciocínio e da observação, as leis efetivas do universo. Este estágio, também denominado física social, representa a apoteose do conhecimento segundo a filosofia de Comte.
            Esse pensamento caracteriza-se, dessa forma, por tomar todos os fenômenos como sujeitos a leis naturais invariáveis, as quais regem a dinâmica social e devem ser encontradas pela sociologia. Contextualizando essa filosofia para os dias atuais, porém, torna-se clara a limitação da ideia de sujeitar os comportamentos da sociedade a leis universais, visto que a realidade social é caracterizada por constantes mudanças e evoluções que objetivam, principalmente, desconstruir padrões impostos e enraizados. Estes costumam seguir o interesse dos detentores de riquezas e do poder, ou seja, a classe dominante, e, por isso, tentar atribuir leis invariáveis a todas as relações sociais significa impedir que se abra espaço para transformações e oportunidades para aqueles que vivem excluídos e marginalizados. Pode ser estabelecida, portanto, uma relação direta com o conservadorismo que evidentemente ainda ganha força nos dias de hoje. Além disso, a perspectiva positivista de Comte não se preocupa com as causas ou a essência das coisas, mas apenas com a observação direta do que acontece, do que é real. Ao considerar vazia de sentido a investigação das causas dos eventos, ignora-se a importância de reconhecer os problemas estruturais que assolam a sociedade, ou seja, os que estão relacionados a causas mais profundas e que se encontram na base das relações sociais, como a pobreza e a desigualdade social. Assim, observa-se que a premissa comteana de que “somente são reais os acontecimentos que repousam sobre fatos observáveis” deixa de lado a complexidade da dinâmica social.
            De acordo com Comte, a Ordem, ou seja, a estática, e o Progresso, a dinâmica, são as leis invariáveis que regem a sociedade. A estática consiste na aptidão para agir, enquanto a dinâmica se define pela ação efetiva. A ordem, na dinâmica social, é tudo que está presente de forma constante, como hierarquias, a moral, a família, o Estado. No contexto atual ainda é possível observar uma forte influência dessa filosofia, a exemplo do lema “Ordem e Progresso” da bandeira nacional, além de uma tendência em considerar “homens de bem” aqueles que defendem e configuram a ordem, ou seja, os que trabalham. Isso faz com que a sociedade menospreze considerável parcela da população que não compõe a classe trabalhadora, visto que a física social reforça a valorização do trabalho prático e a aceitação dos papéis definidos pela sociedade. Tudo isso, em conjunto, demonstra que apesar da enorme relevância da filosofia positivista criada por Augusto Comte, seu pensamento se mostra limitado e incoerente para analisar a complexidade dinâmica social atual.
Gustavo Garutti Moreira – 1º ano Direito Matutino