domingo, 13 de agosto de 2017

Normalidade em detrimento de “monstros” sociais.

Quatro minutos se passaram e ninguém viu
O monstro que nasceu em algum lugar do Brasil
Talvez o mano que trampa debaixo do carro sujo de óleo
Que enquadra o carro forte na febre com o sangue nos olhos
O mano que entrega envelope o dia inteiro no sol
Ou o que vende chocolate de farol em farol
Talvez o cara que defende o pobre no tribunal
Ou o que procura vida nova na condicional...”

      Os versos acima, provenientes da música “Capitulo 4, versículo 3” do grupo de rap Racionais mc’s, colocam como “monstros” todos os exemplos de pessoas nele citadas. Muitos podem não admitir, mas existe socialmente uma repulsa a essas pessoas, e essa acontece independentemente de exercerem um trabalho legal (“o que vende chocolate de farol em farol”) ou ilegal (“Que enquadra o carro forte na febre com o sangue nos olhos”).  Dessa forma deve se questionar qual o motivo dessa repulsa e do olhar de desgosto aos pedintes na rua e todos os outros exemplos na música.
      Ao ignorar os preconceitos vinculados ao senso comum, pode-se perceber que todas as pessoas citadas na música têm algo em comum. O papel social de todas elas fogem a norma, isto é, são disfuncionais à sociedade, por isso geram incomodo geral, afinal, enquanto alguns estudam a vida inteira para conseguir um trabalho “digno” e assim ganhar seu próprio dinheiro e ajudar a coletividade, esses indivíduos destoam de toda a normalidade com sua forma de vida, quebrando toda a harmonia social existente. Contudo, essa suposta normalidade não existe de fato.
      A lógica positivista, projetada por Augusto Comte, vigente na contemporaneidade pressupõe um ideal de normalidade, e essa foi formada conjuntamente com a ascensão do ideal capitalista e da classe burguesa, portanto, consequentemente, aquilo que é normal e segue os “padrões sociais”, não é naturalmente dessa forma, mas sim forjou-se como tal no decorrer da história, e principalmente naquela que aconteceu após a primeira revolução industrial. Sendo assim, existe, a partir do padrões e normas citadas, uma ordem social que deve ser mantida a todo custo, isto é, o indivíduo, mergulhado nesses ideais, busca sempre a harmonia social, doando parte de seu tempo à coletividade, trabalhando de maneira honrosa e seguindo a moralidade. Assim, nota-se que as pessoas citadas pelo Racionais não contemplam o sistema capitalista e desrespeitam a ordem social e a moralidade forjada a partir desse sistema, por isso geram aversão às pessoas que não conseguem ver além das normas que lhes foram impostas.

      Esse conceito de normalidade aqui citado se encaixa na teoria de Foucault sobre a microfísica do poder, onde o mesmo é uma parte do controle social, haja visto ao influenciar no cotidiano dos indivíduos, e interferir em sua mentalidade faz com que estes passem a participar do controle social. A aversão existente àqueles que não contemplam a ordem social é um grande exemplo da participação da coletividade no controle social. Desta forma a própria sociedade passa a combater os supostos “monstros”, como dito pelo Racionais, em prol da “harmonia social” e, infelizmente, em detrimento de tudo aquilo que é definido como anormal.




Catherine Recacho Loricchio - 1° Ano, Diurno

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