domingo, 18 de março de 2012

Aplicações práticas de Descartes no século XXI

     Apesar das obras de René Descartes datarem do século XVII, mais precisamente a obra "Método Científico" datar do ano 1637, suas ideias e conceitos podem, facilmente, serem aplicados na atualidade. Nessa obra, Descartes disserta, entre outros temas, sobre o método da dúvida como princípio fundamental para se alcançar a verdade, assim como a desconfiança em relação ao conhecimento adquirido pelo hábito.
      O método da dúvida é o ponto de partida de sua obra, no qual duvida-se de todos os conhecimentos adquiridos, duvidando até dos próprios sentidos, para assim então, só restar o que for incontestável. Enquanto  o método da desconfiança é utilizado para evitar a crença em conhecimentos previamente concebidos pela sociedade ou conhecimentos ditos "populares".
     Com o crescimento dos meios de comunicação em massa, principalmente da internet, as informações se tornaram de fácil acesso, podendo ser formatadas e publicadas por qualquer um, facilitando a divulgação de informações equivocadas. Assim sendo, é possível aplicar os conceitos de Descartes nessa situação, já que não se pode tomar como verdade qualquer informação obtida por esses meios.
     Ao obter-se uma informação através desse meio é prudente a utilização dos métodos cartesianos anteriormente citados. Aplicando-se o método da dúvida é necessário considerar todo e qualquer dado fornecido pela rede como duvidoso, sendo assim necessita-se  a procura do mesmo dado em outras fontes para certificar-se da sua veracidade, de modo que a informação final se torne o mais incontestável possível.
     Quanto ao método da desconfiança, é possível aplicá-lo no que se diz respeito aos sites considerados "confiáveis", pois, mesmo estes podem conter informações que não condizem com a verdade. Desta forma, qualquer conteúdo destes sites deve passar pelo crivo da desconfiança.
     Logo, é perceptível a importância de conceitos antigos no contexto da atualidade, fazendo-se necessário o estudo e a reflexão a respeito de tais filósofos. René Descartes é um desses filósofos, suas ideias, apesar de serem criadas baseadas numa sociedade Moderna, demonstram um grande poder de aplicação nos dias atuais.

A ferramenta de busca de Descartes

 Mais do que uma obra literária permeada de belas ideias e argumentos por vezes considerados irrefutáveis, o"Discurso do método" de René Descartes é um marco do início do movimento de substituição do misticismo pela razão como forma de obtenção de respostas para as perguntas que se apresentam perante o homem acerca de sua existência.
 Tendo por base uma série de máximas enunciadas pelo mesmo, René Descartes inicia um processo de desprendimento de toda e qualquer verdade que lhe tenha sido apresentada anteriormente,de questionamento e contestação,buscando assim alcançar uma verdade absoluta e incontestável.
 Essa verdade, o akasha pessoal de Descartes, se apresenta como sua máxima "eu penso, logo existo", uma afirmação inquestionável, que prova a eficácia do metodo empregado pelo autor.
 Tal método é o que realmente chama a atenção para a obra, e a torna única. Descartes não se propõe a responder a todas as questões existenciais da humanidade, mas dá ao homem uma ferramenta importante para fazê-lo. O método criado por Descartes liberta o homem das amarras de ideologias, da contaminação de preconceitos, e propõe que o universo seja estudado de um ponto de vista imparcial, tomando por fatos apenas aquilo que se apresentar como fato por si só, e não para atender às expectativas do observador.
 Acaba então por traçar um estilo de vida e de concepção de realidade que ainda podem  ser considerados atuais, para não dizer ideais a todos os seres humanos, pois não prega a abominação a tudo aquilo que não se mostrar absolutamente correto ( como por exemplo algumas normas de convivência social ), mas sim a concientização das falhas presentes nesses preceitos, o discernimento para saber acatar aquilo que se mostra necessário acatar e abandonar o que se mostra desnecessário, e a força de vontade para levar adiante as decisões tomadas graças às duas características apresentadas anteriormente.
 O Discurso do método mostra-se, portanto, uma grande obra não apenas pela revolução de pensamento que causou quando foi concebido, mas também por propor uma linha de raciocínio ainda hoje extremamente adequada para aqueles que buscam obter verdades por si mesmos, e não esperar obtê-las através de terceiros.


Razão e superstição
      
Cada momento histórico influencia e direciona o pensamento dos homens contemporâneos à determinada época. O Discurso do Método, de René Descartes, contextualiza-se na Renascença, período marcado pela priorização da racionalidade em detrimento à superstição e, do antropocentrismo em detrimento ao teocentrismo. Descartes, ao priorizar o método científico orientado pela razão, reflete o pensamento renascentista.
A razão – “o poder de julgar de forma correta e discernir entre o verdadeiro e o falso” – e a dúvida foram as principais ferramentas utilizadas pelo filósofo em sua busca pela verdade, como também o método empírico e analítico. Por isso, a metodologia de Descartes é atual, já que a ciência moderna se utiliza de tais meios para desenvolver suas pesquisas, solucionar problemas e criar novas tecnologias.
Apesar da desconfiança de Descartes em relação ao conhecimento transmitido pelo hábito e ao conhecimento eivado de superstição, é através da observação dos costumes e do estudo de tais conhecimentos que ele distingue o verdadeiro do falso, como se observa nas seguintes passagens da obra: “É bom saber alguma coisa dos hábitos de diferentes povos, para que julguemos os nossos mais justamente e não pensemos que tudo quanto é diferente dos nossos costumes é ridículo e contrário à razão” e “no que diz respeito às más doutrinas, julgava já conhecer suficientemente o que valiam, para não mais correr o risco de ser enganado, nem pelas promessas de um alquimista, (...) nem pelas artimanhas ou arrogâncias dos que manifestam saber mais do que realmente sabem”.
A mudança gerada, pelas idéias de filósofos como Descartes, no pensamento oriundo da Idade Média – influenciado pelo sobrenatural e pela religião - trouxe benefícios para a humanidade na medida em que se obtêm explicações lógicas e verídicas para fatos naturais a partir do uso da razão e na medida em “que é possível chegar a conhecimentos que sejam muito úteis à vida, e que, (...), é possível encontrar-se uma outra prática mediante a qual, (...) poderíamos utilizá-los da mesma forma em todos os usos para os quais são próprios, e assim nos tornar como senhores e possuidores da natureza.” Contudo, não se pode ignorar a importância do conhecimento popular, mesmo que este esteja carregado de misticismo, já que a partir de sua análise crítica originaram-se noções básicas usadas principalmente nas ciências e na medicina. Assim, o conhecimento popular somado à racionalidade, ambos analisados através do método empírico, analítico e racional, deram origem à ciência moderna e suas aplicações no cotidiano.

Diversidade de Opinião

Segundo Descartes, no Discurso do Método, a capacidade do homem julgar de forma correta e discernir entre o verdadeiro e o falso, o que denominamos como bom senso ou razão, é igual em todos os homens. A variedade de opiniões não se justifica pela diferença de racionalidade dos seres humanos, e sim pelos diferentes caminhos considerados com relação a um mesmo assunto.
Por isso, ao discutirmos temas polêmicos como a legalização da maconha, obtemos opiniões tão distintas. A legalização dessa droga tem forte apoio de pessoas influentes, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, não por desacreditarem nos seus malefícios, mas por acreditarem na incapacidade do Estado diminuir seu consumo e coibir seu comércio, que financia o crime organizado; acreditando, assim, que o permitido é menos desejado que o proibido.
Por outro lado, temos os ferrenhos defensores de continuada proibição, pois enxergam que a legalização da maconha, assim como o cigarro, aumentaria grandemente seu consumo e causaria grande perda de vidas, mesmo depois de problematizados seus malefícios, princialmente pelo caráter viciante que essa droga têm.
Não se pode dizer que uma forma de julgar está correta e a outra errada, uma vez que ambas são formas distintas de discernir a situação, pois apenas consideram caminhos diferentes para construir soluções.

Legado Cartesiano

    Em sua obra, O Discurso do Método, de 1637, René Descartes discorre sobre a melhor forma de se atingir a verdade, propondo um método que tem como base a razão. O autor está inserido em um momento histórico de visão teocêntrica, astrologia e alquimia, logo, baseavam-se nos sentidos, no conhecimento vindo de uma força externa.
    Para Descartes, esse tipo de conhecimento não nos seria válido, posto que seja impossível ter-se um conhecimento sólido com bases fluidas. Conclama que o verdadeiro conhecimento emana da razão humana e somente através dela seria possível atingi-lo.
Em seu método, o autor coloca o homem como única possibilidade de entendimento do universo, afirmando que tudo aquilo que busque explicações no campo metafísico deva ser descartado a fim de que não haja confusão e sim a libertação do senso comum. Com isso, há a crítica quanto aos filósofos antigos, os quais, por meio da contemplação e não da ação, explicavam o universo. Para Descartes, os filósofos não propunham uma perspectiva de interpretações, não oferecendo as bases firmes necessárias para o verdadeiro conhecimento; assim, a razão deveria superar os sentidos na busca do mesmo.
    Para o francês, a dúvida era o princípio fundamental do novo método, pois através do questionamento ocorre o processo de confrontação e a capacidade de superação do conhecimento anterior torna-se possível. Em seguida; a clareza, para ter o critério da verdade. E a razão como o caminho para a verdade. Entretanto, mesmo baseando-se no racionalismo, Descartes não rompe totalmente com o cristianismo, visto que coloca Deus como fim último. Nossa inteligência viria de uma inteligência superior, a qual nos tornou capazes de compreender os desígnios de Deus. O autor busca uma explicação racional para a existência divina, dividindo-se entre razão e religião.
    Na medida em que a ciência moderna evoluiu e se transformou ocorreu um processo de racionalização da vida, a ciência passou a ser a resposta, não mais as crenças como explicação para os acontecimentos. Com isso, Descartes nos deixou seu legado, o homem tornou-se um ser hiperracional, crente no que lhe é provado, no método científico.


Pelo Olhar de Descartes

Quem já ouviu falar de René Descartes com certeza o conhece pelas suas incríveis contribuições para as ciências, como a geometria, por exemplo. Não seria uma grande surpresa saber que tal intelectual desacreditava na própria educação que recebera?
Descartes, apesar de estimar muito a eloqüência e, por vezes, reconhecer em parte o valor dado ao que se aprendia nas escolas, mantinha uma opinião de que quanto mais ele tentava se instruir, mais se sentia ignorante. Isso ocorria porque ele acreditava que qualidades como a eloqüência, por exemplo, eram dons de espírito e que apenas um raciocínio ativo seria capaz de auxiliar aqueles que não foram contemplados com tais dons. Descartes não acreditava ser maior ou inferior do que qualquer um de seus colegas de estudo e não alimentava nenhuma esperança de acertar mais do que os outros, já que, segundo sua visão, a base filosófica é vaga e não existe uma única coisa a respeito da filosofia da qual não haja discussão.
Dessa forma, Descartes aprendeu a desconfiar daquilo que lhe era passado com demasiada convicção ou daquilo que lhe era proposto pelo hábito, tentando, assim, provar que a superação da crença nos costumes facilita o trabalho racional e, por conseqüência, a obtenção do conhecimento verdadeiro.

Por: Nicole Santinon

Descartesianos

            Quando se reflete superficialmente sobre a idéia do desenvolvimento da sociedade, tem-se a impressão de que essa está se tornando cada dia mais racional, e ao mesmo tempo humanista, cujo intuito é o aprimoramento social objetivando harmonia e felicidade, ou seja  os exatos preceitos cartesianos. Porém com uma análise do comportamento desse ser social vê-se que não é esse caminho que está sendo traçado atualmente. Enquanto Descartes discursava sobre o profundo estudo de qualquer questão -concomitantemente ao esquecimento de seus preceitos e antigos valores visando um conhecimento verdadeiro sobre o tema, atualmente a sociedade de modo geral não procura esse caminho, o da educação, para alicerçar seus valores e sim o do senso comum, o da idéia retransmitida pela ‘grande mídia’. Outro exemplo é a visão moderada cartesiana, que discursa sobre como o moderado é mais apropriado e leva ao cursa do ‘verdadeiro caminho’, porém apesar do grande desenvolvimento cultural que rege a atualidade, em diversas partes do mundo nota-se as vias extremistas, guiadas por ideologias políticas, religiosas e culturais. Assim como quando analisamos a postura de Descartes sobre pensamentos como o aprendizado com o conhecimento antigo, e perante os diferentes hábitos de diferentes povos –e seu não julgamento - ambas posturas são desprezadas por grande parte da sociedade moderna. Vê-se então que apesar de se imaginar um tipo de andamento rumo à lógica cartesiana, em vários aspectos não ocorre, aspectos fundamentais do método de raciocínio lógico de Descartes. Apesar de não haver uma conclusão obvia ou direta sobre se a sociedade está se tornando cada vez mais cartesiana ou não, é possível levantar discussões sobre o fato de que apesar dos diversos avanços ainda não ocorre prática do método necessário para o desenvolvimento estrutural desejado tanto por Descartes quanto pela sociedade atual.

RAFAELLA SALOMÃO

O racionalismo de Descartes na Idade Contemporânea.




Ao citarmos o movimento racionalista ocorrido na Europa do século XVI, associamos automaticamente suas características com o seu fundador: René Descartes. Apesar de amplamente conhecido pelos seus feitos matemáticos, Descartes foi um grande filósofo e contribuiu diretamente para a formação do pensamento moderno. Mesmo diante de séculos decorridos de sua existência, suas idéias ainda estão presentes na nossa sociedade atual. Como Descartes influencia o pensamento contemporâneo? Ainda somos descartianos?
É fato: o pensamento racionalista inaugurou uma nova maneira de encarar os fatos cotidianos, antes moldados pela Igreja Católica. Os fenômenos, tanto naturais quanto sociais, começaram a ser explicados através de fórmulas e experiências concretas, e não mais pelo lado religioso. Apesar desta mudança, não houve em nenhum momento a ruptura completa entre os dois pensamentos. No “Discurso do Método”, de Descartes, encontramos essa característica: mesmo afirmando a necessidade de um pensamento racional, o autor deixa clara a sua confiança na existência de um Criador, um ser superior aos homens, que daria a estes a capacidade de pensar para existirem (“Penso, logo existo”).
Em continuidade, as idéias do pensador francês influenciaram também nossas relações pessoais e profissionais. No mundo capitalista em que vivemos, é necessário basearmos nossas relações em fatos concretos, racionalizados, para que não soframos as conseqüências negativas que possam existir. Não é possível, porém, sermos descartianos em todos os momentos, já que somos munidos de alma e sentimentos, que entram constantemente em conflito com nossa consciência racional.
Por fim, a obra racionalista de René Descartes é extremamente importante para o mundo contemporâneo, tendo em vista sua influência em nossos atos, desde os mais simples, até os mais complexos, sendo necessário tal pensamento para resistirmos à atual sociedade.

A suposta incoerência de Descartes


René Descartes pregava a razão como caminho para a verdade e fazia uma crítica ferrenha ao chamado "conhecimento sobrenatural", mas nem por isso deixou de pregar a ideia de Deus como grande provedor do conhecimento e da superioridade do homem. Em uma análise superficial, pode-se considerar isso uma incoerência brutal, mas analisando o contexto histórico, compreende-se o porque de tal pensamento ser válido.

O Discurso do Método foi publicado na França em 1637. O Evolucionismo de Charles Darwin, a Relatividade de Albert Einstein, o Big Bang de Georges Lamaître, o Bóson de Higgs procurado pelos pesquisadores do CERN (sigla em francês para Conselho Europeu para Pesquisa Nuclear), nada disso havia sido publicado, e todas as perguntas respondidas por tais estudos, na época em que viveu Descartes tinham uma única resposta: Deus.

Porém, tais descobertas só foram possíveis graças a um princípio cartesiano fundamental: "rejeitar como totalmente falso tudo aquilo em que pudesse supor a menor dúvida". A ciência moderna é fruto do método cartesiano, do empirismo, do conhecimento obtido através da investigação científica e não através do hábito.

Dizer que a crença em Deus de um homem do século do XVII é uma incoerência com relação ao que publicou, não passa da negação dos méritos de um filósofo fundamental para a compreensão do mundo tal como ela é hoje.

Dúvidas restritas

Dentre as muitas ideias e reflexões de René Descartes, uma das mais significativas e contemporâneas certamente é aquela a qual contempla o princípio da dúvida, afinal, ainda hoje é discutida a importância do senso crítico e da análise de questões sociais, apesar de haver alguns dilemas a seu respeito.
O ato de duvidar abordado pelo livro Discurso do Método é retratado com destaque pelo autor, uma vez que faz parte do processo racional de obtenção da verdade e do combate ao engano, à aceitação passiva de conhecimentos por vezes equivocados. Todavia vale ressaltar que a prática de tal ato não é tão eficiente e ideal assim.
A maioria das pessoas é vencida naturalmente pela cultura de massa e acaba por consumir produtos e valores muitas vezes inúteis sem ao menos perceber. Ou ainda, exerce um senso crítico restrito a certos assuntos como, por exemplo, programas de televisão, jornais ou mesmo livros filosóficos.
Para perceber esta restrição basta reparar na opinião emitida pela população jovem sobre novelas. Quase sempre o grupo referido comenta sobre o caráter manipulador da mídia e sobre o quão vazio é o conteúdo das histórias, sendo que o mesmo parecer praticamente se aplica aos jornais televisivos – também considerados como algo sensacionalista por grande parte dos telespectadores. Entretanto, não seriam essas opiniões cômodas e suspeitas, uma vez que parecem críticas e reproduzem argumentos já há muito tempo ditos?E pior, não estaria algum detalhe importante de conhecimento passando despercebido diante de tamanha atitude defensiva?
É muito possível que haja diversos questionamentos e análises a serem feitos sobre a positividade de tais canais de comunicação e é mais possível ainda a existência de vários aspectos relevantes sendo ignorados em decorrência de tal conduta clichê do ser humano.
De qualquer forma, é inegável que o princípio da dúvida e o senso crítico ainda se fazem presentes no século XXI. Também é fato que o seu alcance está limitado, afinal, o homem contemporâneo subestima alguns assuntos e superestima outros, quando, na realidade, deveria manter-se alerta para toda e qualquer informação a fim de captar a verdade sob diferentes ângulos.



  


Preceitos cartesianos para um mundo melhor

Durante a construção de seu conhecimento, não raro o homem deixa-se influenciar por superstições, pré-concepções herdadas socialmente, estigmas, dogmas religiosos, entre outros fatores. Deste modo, ele passa a fazer parte do grupo de pessoas que se guia pelo senso comum. É justamente desse grupo que surgem as falácias ouvidas quase que diariamente – “todos os políticos são corruptos”, “política não presta”, “filosofia não serve para nada” etc.
A ausência de filosofia crítica permite às pessoas que se embrenhem pelo caminho tortuoso, incerto e falacioso das cogitações do senso comum.
Quando o homem do senso comum diz que odeia a Filosofia, está a assinar seu atestado de não reflexão. Ele não possui opiniões formadas por si, apenas as adquire do sistema ideológico vigente, quase que por osmose.
Ao construir idéias próprias e imparciais, atentadas para a realidade histórica, social e política da qual faz parte, o homem está agindo voltado para a práxis, dando os primeiros passos para articular mudanças num mundo tão carecedor delas.
Refletir é necessário para desatar as amarras cegas e cegantes do senso comum. A humanidade deve sair da caverna das ideologias, das pré-concepções, dos costumes inquestionáveis, dogmas e estigmas e enxergar o mundo de modo neutro para, aí sim, construir concepções racionais, verdadeiras, suas e que sejam passíveis de contemporaneização, que sejam mutáveis.
A reflexão, pois, deve ser hábito, porque a Epistemologia, como toda ciência e como o próprio homem, é evolutiva.

A inversão da lógica cartesiana


                            Rene Descartes foi um dos mais importantes filósofos modernos, seguia uma linha racionalista, enquanto o mundo assistia a uma transformação no modo de se interpretar a vida, onde a explicação racional e cientifica, confrontava a explicação religiosa, mítica, que dominava o pensar humano por muitos anos.
                           Na obra Discurso do Método, o filósofo descreve um método cientifico orientado pela razão afim de derrubar todo o conhecimento das gerações passadas, que teria sido constituído de maneira não cientifica, e sim tendo como base os mitos, a passagem de conhecimento entre as gerações e a simples observação e contemplação da natureza.
                           A razão, a qual era para Descartes o caminho fundamental na busca da verdade, assim como a dúvida, que tinha o papel de ser o motor da ciência, foram alguns dos fundamentais elementos para a ruptura do modo de pensar entre a Idade Moderna e a Idade Média, e esses elementos caracterizaram o modo de gerar e entender o conhecimento das gerações futuras dando inicio a uma espécie de “hiper-racionalização”, onde tudo seria explicado pela razão cientifica, chegando a ter um aspecto quase o qual a religião tinha na Idade Média.
                           Esse papel imponente que a ciência e a razão tomaram na Idade Moderna e Contemporânea (o qual gerou a chamada “hiper-racionalização”) deu as pessoas a idéia de que a ciência tornou-se inquestionável , pela sua força baseada em fatos e por estar em constante evolução (representando uma dificuldade para a sociedade em geral de acompanhar e entender o significado de todo o conhecimento adquirido), e por isso, por mais impossível que pareça, a lógica se inverteu, já que a sociedade torna-se cada vez menos critica e racional, cada vez duvida menos, seja aceitando de forma apática todas as recomendações em uma consulta médica, acreditando plenamente nas descobertas extraterrenas ou dando pouco valor as descobertas cientificas por considera-las demasiadamente complexas.

Descartes e o Racionalismo


            Nos períodos anteriores ao Renascimento, a Filosofia baseava-se na interpretação dos fatos por meio da relação entre os sentidos e a natureza, como por exemplo, explicar os fenômenos naturais como sendo advindos de entidades superiores (deuses). Descartes vem junto ao período renascentista questionar essa forma de pensamento e buscar uma melhor maneira para compreender o mundo.

            Primeiramente ele estabelece o princípio da dúvida, ou seja, questionar tudo até que se chegue ao verdadeiro significado daquilo que se está pondo em questão. Deveríamos duvidar até mesmo de nossos sentidos, uma vez que estes podem nos enganar e fazer com que interpretemos de forma equivocada o fenômeno estudado. Para Descartes, em virtude de sermos capazes de duvidar de tudo, a única certeza certamente incontestável é a nossa capacidade de duvidar. Essa capacidade é fruto da razão; portanto, a única certeza que temos, e que nos define enquanto indivíduos é nossa capacidade de pensar. O pensamento existe, e como não pode ser separado do indivíduo, o indivíduo também existe. Ele vai mais fundo ainda, afirmando que da mesma maneira que o homem pode conceber a si mesmo, ele também pode conceber deus, e esta seria uma prova de sua existência: se concebemos um ser perfeito, ele necessariamente existe, uma vez que não existir seria uma imperfeição.

            Descartes também desenvolve o “método racional” que consiste na decomposição dos problemas maiores em menores e na resolução de cada uma das partes por vez, retomando a tradição do racionalismo, cujas origens remontam a Platão e que se funda na ideia de o saber se originar na razão, que antecede e explica todo o real.

Racionalismo e a natureza humana



É inegável que o pensamento Cartesiano em sua maior parte é atual, a racionalização pregada por este no século XVI se faz completamente contemporânea, é notável a comodidade que os frutos advindos da ciência trouxeram ao homem pós-moderno. E apesar de muitos frutos positivos a sacralização da ciência, da razão e daquilo que é calculável não é de todo positiva.

A razão sobre todas as coisas tem subjugado a condição humana, não se pode simplificar um homem apenas por aquilo que ele racionaliza, há infinitas questões dentro do homem que a racionalidade por si só não é capaz de suprir, um homem que apenas sabe ou se importa em computar nada é além de uma máquina, uma máquina deficiente.

É óbvia a existência do desprezo pelo conhecimento não prático na sociedade contemporânea, e um fruto advindo desse desprezo por aquilo que lida com questões subjetivas como a existencialista, é uma geração que não se identifica mais com aquilo que é, com a condição humana.

Desprezar as convicções particulares, o conhecimento adquirido pelo hábito e o aspecto emocional é ignorar as experiências que moldam o humano, é igualar o homem a máquina. Ao lidar com seres humanos é impossível delimitar a razão como único meio de se avançar, o humano é com certeza mais complexo que apenas o seu lado racional.

Rigor e Foco

Se a ciência avançou mais nos últimos séculos do que em toda a história da humanidade, ela deve agradecer a Descartes. O método sobre o qual ele discorre em seu Discurso traz uma rigidez ausente até então e a instituição da dúvida como maior agente científico é revolucionária em uma época em que o mundo se encontrava imerso em certezas.
Mesmo que explicitamente apegado a valores religiosos, a racionalidade e o pragmatismo cartesiano tecem duras críticas às linhas de pensamento anteriores. A filosofia grega é, segundo o autor, fútil, por exemplo. Segundo ele, filosofia por filosofia é mera perda de tempo, pois não possui aplicação prática. O pensamento, a pesquisa, devem ter objetivos, aplicações que auxiliem o homem no cotidiano. É o conceito de tecnologia.
A afinidade do autor com o conhecimento matemático é, não apenas visível, como também, verbalizada. Seu método é como uma equação: fatores como a dúvida, a pesquisa e a análise rigorosas e um objetivo somados resultam em bom conhecimento. Rigor e foco. Segundo Descartes, um problema grande é resolvido com mais eficiência se dividido em vários problemas menores, como na álgebra.
O método é inovador. Traz rigidez matemática à filosofia e direciona o pensamento para a solução dos problemas do homem. Determina a dúvida como geradora, renovadora e aperfeiçoadora da ciência. Mas traz a, virtualmente infinita, especialização do conhecimento que, por mais que produza resultados mais profundos, às vezes impede que o homem enxergue de forma mais ampla seus problemas.

Os aspectos e a transcendência cartesiana

No século XIV, a Idade Média começava a atestar sinais de decadência à medida que cresciam os ideais renascentistas. Dentre eles, destacaram-se a racionalidade, o antropocentrismo, e o empirismo, que vieram se contrapondo às características medievais, como o teocentrismo.

Dentro desse contexto, René Descartes escreveu uma de suas principais obras, o Discurso do Método, na qual o autor transmite vistosamente esse período de mudança de ideais. Tentando encontrar uma explicação racional para a existência de Deus como um ser superior e perfeito, Descartes mostra-se ainda dividido entre razão e religião, buscando conciliar os dois, característica retomada talvez de valores da escolástica, que regiam a filosofia na Idade Média e que contraria o então crescente antropocentrismo.
Outro aspecto marcante na obra de Descartes que retoma a definições renascentistas é o seu apego ao empirismo e às ciências exatas. Estas o atraíam por serem inteiramente racionais (o autor alegava que a razão era o único caminho válido para a verdade) diferente das ciências sociais ou humanas, como Filosofia e Letras, citadas no livro, as quais, para Descartes, eram especulações e com menos utilidade prática quando comparadas, por exemplo, com a Matemática.
Descartes, na apresentação de seu método, foi um inovador de sua época, introduzindo o racionalismo rígido como único modo de se construir a ciência, ao contrário do subjetivismo que dominavam as ciências medievais. Tal método, devido ao empirismo, é tão importante que até hoje rege as ciências exatas, desde o tão utilizado plano cartesiano até sua ideia matriz – a de que o racionalismo é o ponto mais fundamental da ciência.

Luz da razão contra as trevas


A obra Discurso do Método de René Descartes soergue-se como um dos pilares básicos da certeza racionalista, em detrimento do amplo obscurantismo difundido pela Santa Inquisição, no qual dizimou e intimidou inúmeros visionários durante o período medieval. A partir de Descartes, o conhecimento supera sua fase contemplativa do mundo, não se limitando mais a ser infrutífero, mas detêm a razão como seu princípio norteador para a verdade. Apesar das premissas cartesianas advirem de 1637, suas inquietações ainda são pertinentes em pleno século XXI, expondo uma explícita ânsia da humanidade para superar suas limitações e não se estagnar frente ao seu progresso.
O método cartesiano proporcionou um grande avanço às diversas áreas do ensino, tanto que foi incorporado pela ciência moderna, que seria a produção de conhecimentos que não se restringissem mais a um poder sobrenatural ou a superstições, mas direcionados pela razão e experiência. Consiste em quatro etapas: nunca aceitar algo como verdadeiro se não aparentar claro e distinto; dividir a problemática ou dúvida o máximo possível; haver uma gradativa análise, iniciando por preceitos mais básicos até atingir os mais complexos; e por último, a certeza de não omissão de nenhum aspecto do que está sendo duvidado. Descartes enfatiza em sucessivas partes de sua obra que a razão implica em vencer as convicções pessoais, logo conhecimentos adquiridos pelo habito deveriam ser desprezados, alcançando-se verdades científicas.
A síntese da obra pode ser resumida na famosa e amplamente conhecida frase: ”Penso, logo existo”. Descartes ao duvidar sobre a veracidade de todo conhecimento que havia adquirido ao logo de sua existência, concluiu que somente poderia ter certeza que duvidava, sob tal premissa desencadeou um raciocínio lógico: se duvidava, então também pensava, e se pensava, intrinsecamente existia. As contribuições cartesianas no âmbito científico foram e continuam sendo imprescindíveis para os diversos avanços do ser humano, pois a partir desse espírito investigativo do autor, a dúvida instaurou-se na humanidade como uma luz que derrota quaisquer trevas que surjam no seu percurso.

Método Inovador

Com o intuito de apresentar o método pelo qual conseguiu conduzir a razão na busca pela verdade, René Descartes rompeu com a tradição escolástica e apresentou ao mundo uma nova maneira de pensar que ainda se faz atual.
Publicado há mais de três séculos, época em que a ciência era um campo obscuro e as explicações tendiam ao misticismo, o "Discurso do Método" representou uma inovação no campo da filosofia ao adotar uma corrente racionalista, sendo quase tão lógico quanto uma fórmula matemática. Diferente do homem medieval, Descartes voltou o seu pensamento para o próprio ser humano, chegando a conclusão de que para existir é preciso pensar. 
Durante o desenvolvimento do método, o autor se utilizou do príncipio da dúvida, no qual a importância da razão, presente em toda a obra epistemológica, é confirmada como bom senso e necessária para não se ser enganado pelos sentidos.
O que faz do "Discurso do Método" uma obra tão relevante é a sua atemporalidade, visto que o uso da razão para a obtenção do conhecimento é um legado cartesiano presente na vida contemporânea.

Hegemonia da razão? ainda não!

Até o século XVII , o conhecimento era monopólio sobretudo da religião, da feitiçaria, dos mitos, ou de qualquer outra prática não científica. Essa situação foi lentamente se alterando conforme o mundo adotou o racionalismo expresso principalmente no famoso livro cartesiano ''O Discurso do Método'' , o qual foi publicado em 1637. René Descartes inovou ao mostrar que a verdade pode ser alcançada por um método nada místico, a razão. Para alcançá-la ele se utiliza do princípio da dúvida universal , e, assim, duvidando de todos os conhecimentos obtidos e até da sua própria existência, ele elaborou sua famosa máxima: ''penso, logo existo''. Além disso, o Discurso sugeri um modelo aproximadamente matemático para conduzir o pensamento, já que a matemática tem como marca a certeza, a ausência de dúvidas. Com o tempo e com o emprego do racionalismo em várias partes do mundo, a razão emergiu como componente ímpar para a busca da verdade e do conhecimento, em detrimento do misticismo e da religião, embora esses ainda muito influentes. Prova disso é o desenvolvimento cada vez maior da ciência ao longo dos séculos, com invenções que revolucionaram a maneira como vivemos, como por exemplo o veículo automotor e a eletricidade. Mesmo com a atual supremacia da ciência, ainda presenciamos alguns episódios de disputa entre ela e setores religiosos. Exemplo disso é a recente polêmica envolvendo a aplicação médica das células tronco embrionárias. Tais células são como curingas, ou melhor, células neutras que ainda não têm características que as diferenciem como uma célula cerebral ou do músculo, por exemplo. Isso, com certeza, auxiliaria no tratamento de doenças letais e também na cura de milhares de casos sem solução médica. Contudo, no Brasil, a pesquisa científica nessa área  é vetada pela Justiça, sobretudo porque bate de frente na oposição de setores religiosos e organizações anti-aborto que consideram que a vida inicia-se no momento da formação do embrião. Esse caso mostra como a razão ainda sofre uma oposição significativa das práticas não científicas, ou seja, da religião, mesmo depois de passado quase 400 anos da publicação e da influência método cartesiano no mundo.
A evolução ate o ceticismo

Nietzsche diz ‘’Não há fatos eternos, como não há verdades absolutas’’. A nossa sociedade ocidental se firmou através do aperfeiçoamento, e do desenvolvimento das antigas teorias, que ao longo de anos foram desmentidas, ou complementadas, e deram origem ao método cientifico atual, que ainda é passivo de mudança.
O período pré-socrático é repleto de teorias que uniam a razão com o místico, tendo por base a teoria dos 4 elementos onde acreditava-se que tudo derivava da água, do fogo, do ar e da terra. Essa teoria ao longo dos anos foi questionada e deu origem a um novo postulado formulado através da observação da areia, criando-se então a primeira teoria atômica, onde toda matéria seria formada por minúsculos pedaços de matéria, que unidos aos milhares daria a forma que ela tem.
Da mesma forma Descartes rompe com os preceitos de seu tempo, e demonstra por seus próprios métodos que o caminho da ciência ainda que longo deve ser sempre reto, e não deve se desviar do seu próprio fim, desapegando-se assim de qualquer preceito místico, ou de qualquer teoria duvidosa. Firma sua teoria em cima de uma verdade imutável, ao qual chamou de base, e a partir dela consegue desenvolver o método cartesiano, que consiste em 4 etapas.
Sua primeira base era desenvolver seus experimentos obedecendo as leis e costumes de seu país e a toda forma de sua criação, sem tentar intervir nos resultados por proposições próprias. A segunda máxima consistia em se manter firme aos experimentos e as técnicas que ele aceitou utilizar. A terceira era a consciência de que quem deveria ser mudado era sua própria consciência e não as ordens gerais do mundo. Por fim seu quarto principio consistia em se consolidar apenas na razão não sendo influenciado por terceiros. Suas teorias se resumem assim no ceticismo que Descartes assumiu, não manifestando opinião a nada, e se atendo apenas ao seu método e aos resultados que obteria.
Dessa forma a ciência continua a se desenvolver, sempre através do aperfeiçoamento de teorias que são constantemente revistas e muitas vezes contestadas, buscando assim a verdade absoluta, sem a intervenção do místico ou de mentiras, tendo como guia o cartesianismo criado por Descartes.


O desencantamento do Mundo.


          Descartes e seus pensamentos foram sem dúvida de suma importância para o avanço dos conhecimentos antes mistificados e imprecisos. Seu método revolucionou o mundo científico e esse pensador contribuiu para que a humanidade avançasse muito em tão pouco tempo. Porém, a sociedade hoje passa por um processo de desencantamento. A utilização excessiva da razão já foi questionada e a pós modernidade viu em sua formação uma série de golpes contra a razão e a ciência que, por décadas de prosperidade, foram mais importantes que a religião.
          Mas além do desencantamento com a ciência, Darwin com o evolucionismo, por exemplo, e Nietzsche, já golpearam o encantamento em relação a existência de Deus ( que para Descartes era lógica). Nietzsche em livros como “Deus está morto”, se coloca contra religião, contra o cristianismo e ainda afirma que o homem perdeu sua honra e dignidade quando aprendeu a perdoar e seguir os preceitos cristãos. 
          Em contrapartida, Einstein traz uma compreensão física com desdobramentos para as ciências humanas. Sua teoria da relatividade mostra-se uma arma contra o totalitarismo. Ele também traz uma conjugação de ciência e religião, o que provoca uma dúvida: duas visões tão antagônicas poderiam estar juntas? Não seria algo irracional?
          A resposta pode se aproximar de algo como: é impossível enquadrar o mundo e o homem somente na razão. A teoria da complexidade de Edgar Morin que defende que o homem é complexo e que para entendê-lo precisamos recorrer a todas as suas formas de experiência (medicina, religião...) parece dar um pouco de sentido a algo tão abstrato.   
          Fácil seria se tudo coubesse no plano cartesiano com coordenadas que indicassem o que é correto. O mundo não é racional, algumas pessoas podem tentar fazer com que ele o seja, mas elas também estão fadadas a lidar com todos os imprevistos da existência. Há aqueles que encaram a angústia de viver na incerteza, de maneira positiva, outros sedem ao fanatismo e intolerância. Um exemplo foi o atentado ao Wolrd Trade Center em 2001.
          Em meio a tudo isso, alguns acreditam que mesmo com toda a intolerância, o mundo está melhor e menos violento. É o caso do psicólogo Steven Pinker, que traz dados e números que confirmem essa visão. Enquanto céticos acreditam que a sensação de paz que achamos que vivemos hoje, se dá ao medo e a paranóia do que pode vir a acontecer. E tudo isso se junta na incerteza do mundo pós moderno que traz inúmeras controvérsias e infinitas discussões.  

Guilherme Jorge da Silva Gravatin
Direito - 1˚ ano
Diurno

Cartesiano, desde criança!


"O pai de Matilda tinha cabelos pretos que usava repartidos no meio e dos quais tinha muito orgulho.
- Cabelos bons e fortes significam que há um cérebro bom e forte por baixo - ele dizia.
- Como Shakespeare - Matilda comentou certa vez.
- Como quem?
- Shakespeare, papai.
- Ele era inteligente?
- Muito, pai.
- E ele tinha muito cabelo, não é?
- Ele era careca, pai."

                Matilda é a criança prodígio que protagoniza o romance infanto juvenil homônimo escrito pelo britânico Roald Dahl. Trata-se da filha mais nova de um casal repleto de vícios em questões morais, como vigarices financeiras, jogos de azar, dentre outras atitudes certamente reprováveis. Matilda é autodidata e absurdamente cedo aprende a ler; consome avidamente os livros da biblioteca de seu bairro. Como sua habilidade de leitura, também sua capacidade de discernimento do mundo à sua volta é precoce. Logo começa a repudiar o comportamento padrão que a cerca, tornando-se um indivíduo crítico em relação a sua família e escola - seu meio social. Sentindo-se no dever de militar contra os preconceitos, as ideologias vis e as opressões - físicas e psicológicas - Matilda dá início à trama que envolve, em suma, um indivíduo que, por se utilizar de um método racional, rompe com os grilhões do seu meio a fim de revolucionar a consciência dos que a cercam.
                Guardadas as devidas proporções, pode-se certamente afirmar que há um pouco de Descartes na trama de Matilda. Embora para esta a questão moral tenha uma relevância superior do que àquele, ambos parecem ser movidos por um mesmo combustível. Descartes viu-se num universo impregnado por mitos, dogmas e pseudociências. Não sentiu, nos bancos escolares, a solidez que um conteúdo científico transmite. Da mesma forma, Matilda também estava inserida em um contexto de repressão, ideologias infundadas e nos bancos escolares conhecia metodologias absurdas. A superioridade das instituições que cercavam tanto Matilda quanto Descartes era justificada por argumentos infundados, que tinham por objetivo apenas a manutenção do status vigente.
                Matilda rebelou-se. Enquanto seus pais ofereciam-lhe horas de contemplação à televisão como forma de satisfação cultural, a menina foi à biblioteca e desenvolveu, à luz de sua própria razão, seu senso crítico e seu conhecimento do mundo. Era o conhecimento revelado pela emissora que era substituído pela construção autodidata da criança. Descartes, por sua vez, teve audácia semelhante ao rejeitar as pseudociências de seu tempo, e trocou o culto às verdades insofismáveis pelo método científico racional. Matilda ousou questionar a autoridade da sua instituição de ensino, da mesma forma que Descartes rejeitou a ciência que os filósofos ancestrais lhe transmitiam através de seus instrutores.
                Descartes e Matilda são, pois, movidos pelo mesmo sentimento. Esse espírito da busca pela verdade científica e pelo conhecimento racional é, portanto, universal. É por esse motivo que a obra de Descartes faz-se válida por todos os séculos que atravessou: porque romper com dogmas e desvelá-los pela razão é uma atividade constante em todos os tempos. Dahl acaba buscando, com sua obra, despertar esse espírito crítico, latente no ser humano, logo que as crianças possam interessar-se pela leitura.
                A Astrologia, a Religião, dentre outras ciências creditadas na era de Descartes não morreram por completo. Exilaram-se em algum lugar a fim de distanciar-se das mentes que ganharam força suficiente para enfrentá-las. Da mesma forma, no romance de Dahl, Matilda, com a ajuda da habilidade telecinética, conseguiu manter distantes as pessoas que tentaram lhe impor uma ordem irracional, de forma a revolucionar para sempre a vida das pessoas que lhe rodeavam.


Aqui e agora

”But on the planet Earth,/ spinning around its axis,/ revolving around the Sun, revolving around/ the center of the Milky Way galaxy/ in a supercluster of galaxies/ will it ever be you and me/ here and now?” 
The Ernies

     O homem desde os tempos mais antigos trilha em busca de respostas: Quem sou eu? Onde estou? Qual é meu papel aqui? Perguntas que questionam sua própria existência e do mundo à sua volta. Porém muitas respostas parecendo inalcançáveis o levou a busca-las fora de si e tentar explicar através da metafísica, da mágica, dos mitos. Estes e outros métodos por partirem da imaginação e do sobrenatural não poderiam ser comprovadas e muitas vezes levariam ao erro. E por estarem também distantes de nós, tornaria-nos passivos diante do mundo, como marionetes submetidas às vontades divinas.
     Muitos pensadores, principalmente durante o período que ficou conhecido como Iluminismo, buscaram maneiras de se encontrar a verdade, tirando os holofotes desse mundo místico e jogando a responsabilidade de alcançar, entender, organizar e utilizar o conhecimento ao homem. Descartes, um desses pensadores, acreditando que o conhecimento deveria ser construído sobre bases seguras e sólidas, criticava o que advinha do sobrenatural ou dos hábitos, além de criticar a filosofia e todas as ciências que tomavam ela como base. À partir disso formulou um método de estudo científico baseado na razão, que é a peça chave para definir algo como verdadeiro, e na dúvida, onde qualquer coisa que fosse passível dela seria falsa, e a partir disso poderia formar o conhecimento.
     Além disso, quado diz "considerei que não podia mantê-las escondidas sem transgredir a lei que nos obriga a procurar, no que depende de nós, o bem geral de todos os homens" afirma que a busca do conhecimento deve ter como fim o bem-estar e a comunidade entre os homens, o que não se tem como verdade atualmente.
     As razões da pesquisa técnico-científica hoje são, em sua maioria, o lucro e a guerra. São exemplos comuns de desenvolvimento a robótica e da tecnologia nuclear, esta responsável pela criação armas de destruição em massa e aquele pelo desemprego de milhares de pessoas. Não que estes meios devam ser vistos como ruins, pois o que os torna assim é a maneira como são utilizados pelo homem, nesse caso buscando o poder de uns sobre os outros.
     Até hoje nenhuma das questões elementares pôde ser respondida propriamente, e pelo visto o objetivo real da ciência se perdeu em algum momento na história. Nós podemos aos poucos estar deixando de sermos passivos à um mundo metafísico, mas estamos nos tornando marionetes comandados pela vontade de outros homens. Seria o homem ocupando o lugar de deus?     


The Ernies - Here & Now

René Descartes - Dúvidas

    "O discurso do método", obra redigida por Descartes, começa demonstrando a subjetividade do pensar, e por conseguinte questionando o conceito de verdade uma vez que não há como definir o que é ou não correto já que, mesmo de forma inconsciente, todo homem tem sua própria verdade.
    Partindo de tal ponto Descartes se propõe a formular um método que visa organizar essa subjetividade de uma forma mais clara e objetiva de modo que se torne possível um entendimento racional da mesma.
    A dúvida surge como principal ferramenta na busca pela verdade devendo-se então questionar tudo o que de algum modo lhe parecer, mesmo que minimamente, duvidoso e assim não se basear em falsos preceitos.
    Os pontos por ele abordados se mantém contemporâneos uma vez que o questionamento se torna mais e mais importante a medida que a sociedade se demonstra cada vez mais complexa e sem certezas. O questionamento do mundo como é e no que ele foi baseado para a então formulação do que um mundo melhor pode vir a ser.

Descartes e a tentativa do irrefutável.

Colocando em dúvida as faculdades pelas quais o conhecimento é gerado(intelecto, experiências sensitivas e imaginação) e partindo do” eu” como laboratório experimental, o antropocêntrico René Descartes abre margem para que possamos questionar tudo aquilo que transcende o plano físico, desconfiando das experiências até então vividas e do onírico.

Diante de tais duvidas metódicas, agimos como “ceticistas profissionais” , elevando-as ao seu mais alto grau, intitulado de duvida hiperbólica, ao alcançarmos tal proposta nos depararemos com ao menos uma certeza que seja, pondo abaixo tais questionamentos e inviabilizando a possibilidade de uma completude cética.

O axioma “penso, logo existo” , é abortado por Descartes como irrefutável argumento de que mesmo que o conteúdo do pensamento seja falso, o fato de estar pensando não o pode ser. Presume-se então que a duvida eterna é intangível, visto que para efetivar uma duvida tem de se ter uma certeza sobre a mesma.

Sendo assim, dever-nos-íamos fundar nossos argumentos com base na razão prática e cartesiana, para a partir disso torná-los suficientemente verossímeis.

A dificuldade de ser cartesiano


Enquanto que antigamente a alquimia, a astrologia, a magia e a religião eram as melhores formas de conhecimento, Descartes inovou com o seu novo método. Para ele o conhecimento deve ser buscado através da razão, de forma a predominar o antropocentrismo, citando que se o homem é capaz de interpretar tudo que o cerca, também seria capaz de controlar a natureza. Além disso, ele prega o uso de uma razão instrumental, ou seja, o desenvolvimento de um conhecimento que possa se tornar algo prático para modificar o mundo. Porém Descartes afirma que para adquirir esse conhecimento é necessário se desvincular do senso comum, do hábito vivido e dos sentimentos, para que se torne o mais neutro possível. Outro aspecto fundamental para o desenvolvimento de novos conhecimentos, é a dúvida. Pois para Descartes a ciência é motivo para a criação de mais ciência, ou seja, a partir do momento que se duvida de algo, essa questão gerará uma reavaliação, e uma reflexão que pode possibilitar o desencadeamento de uma ideia inovadora.
Descartes desenvolve esse método de conhecimento antes do avanço científico e das descobertas feitas por Darwin e Newton, por exemplo. Porém atualmente apesar de haver explicações científicas para os fatos os horóscopos ainda fazem parte da rotina de muitas pessoas e o uso da magia ou simpatias para atrair e afastar de algo ainda é utilizado, ou seja, a superstição mesmo que não predominantemente ainda faz parte do modo de viver de muita gente. Com a opção de acreditar em explicações teológicas ou científicas, por exemplo, no surgimento do mundo, a sociedade se divide na forma de pensamento.
Outro aspecto que vale ressaltar é a grande dificuldade de se tornar neutro para avaliar algo. Talvez essa barreira seja grande, pois um indivíduo é formado de vivências, e quando ele avalia qualquer fato, a sua opinião é gerada pela sua forma de pensar, que é formada de acordo com as experiências vividas e o caráter adquirido. Pode-se exemplificar essa falta de neutralidade quando se julga atos típicos do passado e culturas diferentes com uma visão de mundo atual. Para exemplificar, há o fato de antigamente garotas que eram ainda adolescentes se casarem com homens mais velhos e gerarem uma família, o que era normal na época, assim como o incesto que muitas vezes era um ato comum. Analisando tais acontecimentos com o modo de visão contemporâneo julga-se como crime a relação com a menor de idade e penaliza-se moralmente o ato de incesto. Mas ainda há exemplos atuais, em que em um mundo ocidentalizado, as pessoas questionam e criticam tradições e critérios de beleza, como o utilizado na África, em que as mulheres usam argolas no pescoço pois julgam ser belo, e até mulheres que fazem escarificações pelo corpo, pois só depois de todo o desenho pronto se torna apta ao casamento.
Assim, pode-se dizer que o método de Descartes desenvolve um pensamento justo sobre como chegar ao conhecimento, porém a neutralidade julgada fundamental por ele, é difícil ou até impossível de ser adquirida por completo. Pode-se concluir também que mesmo depois de tantos anos de avanço científicos, as crenças em algo sobrenatural, ou na magia, ou na astrologia, por exemplo, ainda se faz presente na atualidade.

As consequências da metodologia cartesiana na contemporaneidade

  Descartes, filósofo renascentista, foi um ícone na arte de racionalizar. Rompendo com os dogmas eclesiásticos, tão impostos e tão míticos que já não mais satisfaziam a curiosidade humana e também já não lhe causava tanto medo. Assim, Descartes foi essencial para o desenvolvimento científico e a base do modo de vida na contemporaneidade com o culto à razão e também a ideia de que a divisão de temas e a especialização levariam ao desenvolvimento da ciência e tecnologia com rapidez.
  Essas características, com seus males escusos na época, hoje trazem consequências negativas ao desenvolvimento do ser humano como pessoa, não como cientista. Primeiramente que há coisas não racionalizáveis, pois são imprevisíveis e naturais, e o “cientista” dessa área não capta muito bem sua essência já que está apenas preocupado com padrões. Em segundo lugar, a sociedade inteira acabou engessando-se no formal, ignorando que há ideais, respeito, valores que são atropelados por uma inversão que prioriza papéis sociais e hierarquia. Além disso, o homem torna-se cada vez mais alheio à sua realidade, pois se fala de cultura quem trabalha com ela, fala-se de política os políticos, fala-se de ciência os cientistas. Mas e a pluralidade do homem? E todo os aspectos da sua vida que passam a ser tratados por terceiros e que aquele nem intervém? O homem separa-se de sí mesmo, e este é o problema fundamental dessa constante divisão do mundo em setores. A única função do homem tornou-se ser útil pra sociedade, uma das grandes críticas foucaultiana, que somos agora úteis e dóceis porque desse modo somos muito mais convenientes. 

 Mariana Moretti Ribeiro

O racionalismo cartesiano na construção do hoje


René Descartes, em seu livro “O Discurso do Método”, elabora uma maneira de se chegar ao conhecimento através da razão. Segundo ele devemos ser mais desconfiados para alcançarmos a verdade, já que os sentidos nos enganam; proposição extremamente atual, presente tanto em pequenas ações do cotidiano, como o lembrete da sua mãe de “não falar com estranhos”, quanto nas grandes descobertas técnico-científicas, das quais percebemos que através da dúvida o homem evoluiu, e se não fosse pela desconfiança, talvez, até hoje, nós ainda acreditássemos que os fenômenos da natureza são conseqüências do humor dos deuses.
Por causa desse avanço técnico-científico o novo torna-se velho muito rápido, aumentando a cobiça e a competição entre as pessoas. Mas Descartes já ressalta em seu livro que a única coisa completamente nossa é o pensamento, para assim não desejar algo que não pudesse ter, desligando-se assim das coisas materiais, as quais a sociedade atual se apóia através do consumismo.
Duvidando de tudo Descartes chega a conclusão de que pensa, e se pensa, existe; não sendo um ser perfeito, acredita existir alguma natureza realmente perfeita acima de nós, justificando através da razão a existência de Deus, associando ciência e religião, para a surpresa de muitos. Porém, ainda hoje, ao mesmo tempo em que as pessoas estão cada vez mais desconfiadas, a maioria delas recorre à Deus nos momentos difíceis, imagine então a influência da religião no contexto histórico de Descartes. Isso nos mostra que ele estava bem a frente dos homens da sua época, já que soube justificar o que acreditava sem recorrer à tradição, e sim utilizando a razão. 

Transformações morais do saber – Ciência X Concepções




As horas, dias e anos passam com uma velocidade desnorteante, e assim o mundo vai mudando, assumindo novas formas e cores, acolhendo novas gerações e até espécies, trazendo vida, mas também morte, criando e destruindo. As transformações são naturais, involuntárias e inerentes ao nosso próprio organismo, composição biológica, `a vida, sendo impossível lutar contra isso. Nascemos através do encontro de gametas, que dá origem a um zigoto, e este sofre  consecutivas mitoses até  se  tornar um ser completo;  só este fato demonstra o quanto as modificações fazem parte de nossas vidas, desde a raiz  da vida até seu fim, quando corpos em putrefação se desfazem em matéria orgânica .Ate memo as ciência da matemática, da física e outras, que parecem ter um caráter intensamente estático e exato, estão sempre se renovando e refutando conceitos .  O mesmo ocorre com as nossas opiniões, valores e ideias;  mudam conforme o passar do tempo, adquirem novos aspectos  através da aquisição de novas experiências  e  com a prática da vivência, quando deixam de ser apenas teoria , e adiquirem caráter prático.
Ao analisar alguns trechos da obra de Descartes, percebo o quanto essas transformações estão presentes no seu pensar e,  em extensão, no nosso pensar; pois  a criação de sua filosofia consiste em adotar valores básicos primeiramente , para que posteriormente , se possa trabalhar no desenvolvimento  daquele , através da observação do mundo e da própria contrução de sua filosofia.
Mas o que nos cabe  questionar  é  : Como devemos nos portar  na busca do conhecimento, sem criar uma resistência a essas transformações morais , pois mesmo que a idéia de neutralidade e desvinculação sentimental seja adotada como base no estudo científico moderno, sabemos que, em prática, é muito conflitante conciliar suas próprias convicções à idéias racionalizadas, adotadas como referencial na modernidade. Ao mesmo tempo em que, resistimos em deixar nossas ideias preestabelecidas, por medo de perdermos nossa identidade e nosso “EU”, tememos ser hipócritas e acabar por marginalizados , se distanciando da VERDADE, como se ficassemos cegos por nossas convicções, como que na  ideia de  Nietzsche de que  "As convicções são cárceres.", ou no  mito da caverna de Platao , em que , no caso, nossas convicções seriam as sombras vistas pelos habitantes da caverna, so que para estes,  elas seriam a própria imagem das coisas, e assim acabam por ser  privados do mundo real( da sabedoria). 
Descartes afirma que “não via no mundo nada que continuasse sempre no mesmo estado, e porque, no meu caso particular, como prometia a mim mesmo aperfeiçoar cada vez mais os meus juízos, e de maneira alguma torná-los piores, pensaria cometer grande falta contra o bom senso, se, pelo fato de ter aprovado então alguma coisa, me sentisse na obrigação de tomá-la como boa ainda depois, quando deixasse talvez de sê-lo, ou quando eu parasse de considerá-la tal”. Assim, ao entender a dinâmica do pensar,  consigo ver que nao há necessidade de sentir  culpa, como se estivessemos nos  corrompendo , ao deixar para trás um antigo valor , pois encontramos  um que nos satisfizesse mais , ou porque , com novas percepções,  não o temos  mais por correto. Por não estarmos ligados por um contrato ou algema à esses ideais, não temos obrigações para com eles, estamos assim, livres e abertos para novas visões de mundo, e a novos valores, sendo importante ressaltar aqui a necessidade de utilizar-se  da racionalização para julgar essas novas concepções, antes de torná-las parte nossa , para que , de maneira alguma , nos enganem ou ludibriam.

Jéssica Duquini

A Contemporaneidade e o racionalismo de Descartes


René Descartes, filósofo, físico e matemático francês, introduz em sua obra “Discurso do Método”, um princípio que seria a base de todo o seu pensamento: o principio da dúvida. Por meio dele, o filósofo argumenta ser a razão o melhor caminho para se explicar a construção do conhecimento.
Segundo Descartes, a razão é o único caminho para se chegar a uma verdade clara, por meio do questionamento, problematização e análise dos acontecimentos cotidianos mais simples até os mais complexos. Dessa maneira, as explicações dos fatos por meio de superstição, alquimia, magia e até mesmo pela tradição são altamente criticadas pelo autor, sendo reconhecido como válido somente a ciência e a razão como formas de se chegar a uma verdade absoluta.
Atualmente, com o advento de novas tecnologias e de uma ciência cada vez mais avançada, o racionalismo de Descarte se faz mais do que atual. O uso da razão e dos métodos empíricos analisados pelo autor se faz presente nas inúmeras pesquisas científicas realizadas ao redor do mundo. Mas, apesar do avanço da ciência, ainda existem pessoas que acreditam em superstições, misticismo, poder da lua, horóscopo e até mesmo em cartomantes. Sendo assim, apesar de sua obra ter sido escrita em 1637, ela ainda continua atual e merece discussões até os dias de hoje.

A dúvida cartesiana




O pensamento de Descartes sintetiza muito bem as convicções da Ciência Moderna, baseando a busca pelo conhecimento na razão, partindo do princípio da dúvida. Não se pode negar que é o método mais confiável para obter conhecimento, mas não se pode também confiar plenamente que assim se chegará à verdade.
Isso porque, mesmo que a razão seja mais confiável que os sentidos e a imaginação, citados pelo autor como os meios enganosos de se chegar ao conhecimento, é um trabalho confuso e penoso distinguir claramente aquilo que nos vêm pela razão daquilo que o faz pelas paixões, por exemplo. Pois o critério que Descartes apresenta para concluir que uma idéia é verdadeira é a clareza com que se nos apresenta. E quem há de negar que as convicções trazidas pelas paixões que nos cegam parecem tão verdadeiras e inegáveis quanto qualquer obviedade lógica?
Nesse sentido, enquanto o autor aconselha ter o princípio da dúvida como forma de alcançar a verdade, faria sentido adotar a dúvida como constante, sem a pretensão de chegar a esse fim. Pois é insensato incumbir a nós, humanos, seres imperfeitos, de acordo com sua própria definição, a tarefa de determinar o que é a verdade, posto que para cada indivíduo, em diferentes épocas da vida, existe uma verdade “clara e inquestionável” diferente.
Assim, poderíamos retroceder historicamente, voltando à máxima “só sei que nada sei”, de Sócrates, pois apesar de todos os avanços que se observa na Ciência atualmente, percebemos que conceitos são superados e convicções são negadas a todo instante, demonstrando como estamos distantes do que seria uma verdade absoluta.

À Procura da Racionalidade

A ideia de racionalidade é amplamente abordada por Descartes, demandando grande atenção para os fatores que tornam algo real, diferenciando o que faz parte do campo imaginário das coisas que possuem embasamento científico. Daí a critica feita ao método empregado no ensino da época, que baseava-se em crendices e misticismo, sendo para ele nulo em termos científicos.
Em seu livro, “Discurso do Método”, Descartes expõe a razão como sendo a chave para o desenvolvimento da ciência. Olhando pela nossa perspectiva do século XXI, essa ideia poderia parecer óbvia e ultrapassada porém é importante ressaltar que ela mostrava-se contraria aos preceitos religiosos e do que entendia-se por ciência na época, sendo considerada por muitos como delírio ou heresia.
Apesar de parecerem óbvias a principio, as ideias Cartesianas tornam-se a cada dia mais atuais na sociedade contemporanea, a procura por respostas tanto no meio cientifico quanto no dia-a-dia leva-nos a maiores questionamentos e a uma maior insatisfação com respostas sem provas concretas, o que acaba tornando a vida uma busca incessante por uma racionalidade que talvez seja inalcançavel.
  

Descartes na formação da sociedade atual

Inserido em um mundo dominado pelo obscurantismo religioso, Descartes encontrou na razão um modo para clarear as ideias da população do seu tempo e desvincular a ciência do misticismo. No nosso século, o obscurantismo já foi suplantado pela maioria das pessoas, porém o método cartesiano se propaga com mais intensidade a cada dia.
A cada momento da nossa vida a carga de responsabilidades delegadas a nós aumenta, exigindo maior eficiência e rapidez na sua execução. Cada vez mais cedo, muitas vezes desde a mais tenra idade, somos cobrados acerca da possibilidade de otimizar nossas capacidades. Assim, o pragmatismo e a racionalidade cartesianos se tornam evidentes quando somos induzidos a nos afastar das nossas emoções para nos tornar cada vez mais rentáveis e eficientes.
Apesar da época de publicação da obra de Descartes, ela se torna mais atual conforme nos afastamos do mundo de séculos atrás e nos aproximamos do mundo contemporâneo. Portanto, podemos perceber que Descartes é mais do que uma influência, ele ajudou a formar o mundo póstumo ao seu e, provavelmente, continuará cada vez mais indissociável do modo de vida da sociedade durante as próximas gerações.