Este é um espaço para as discussões da disciplina de Sociologia Geral e Jurídica do curso de Direito da UNESP/Franca. É um espaço dedicado à iniciação à "ciência da sociedade". Os textos e visões de mundo aqui presentes não representam a opinião do professor da disciplina e coordenador do blog. Refletem, com efeito, a diversidade de opiniões que devem caracterizar o "fazer científico" e a Universidade. (Coordenação: Prof. Dr. Agnaldo de Sousa Barbosa)
domingo, 15 de abril de 2012
Alicerces de um direito sistêmico
Uma vaga noção de tudo, e um conhecimento de nada
O MUNDO, EM NOSSAS MÃOS?
Sociedade mecanicista
A maioria dos políticos pensa como o personagem do filme, vê o mundo de forma pragmática, a utilidade das coisas depende de quão úteis elas serão para a sociedade e por consequência o eleger. Não importa se o progresso de hoje vai trazer problemas para o amanhã. No filme esse problema é exemplificado com a destruição da floresta Amazônica para a criação de pastos a fim de que os lucros sejam revertidos para o pagamento da dívida externa. Tira-se o problema de um ponto para colocá-lo em outro.
De que adianta tanto desenvolvimento tecnológico se a política de sustentabilidade não o acompanha? Ambos devem caminhar juntos e não fragmentados. No Brasil é muito fácil perceber como há conexões nos fatos já que os problemas de saúde pública , de educação e deficiência de transporte público estão relacionados a desvio de dinheiro dos cofres públicos pois há maus governantes sendo eleitos no país.
Solucionar os problemas está muito mais em mudar a forma de vê-los.
A culpa cabe a todos
Descartes e Bacon quando propuseram suas teorias fizeram-no baseados em um mundo muito distante da nossa realidade, o mundo do século XVII. Em uma época em que todos buscavam se libertar da extrema pressão religiosa eles encontraram na ciência pura o melhor método de realizar isso. Porém, nós, em pleno século XXI, frente a todos os acontecimentos ocorridos na História e todos os avanços obtidos pela ciência, não podemos nos furtar de encarar que uma ciência pura, que não se relaciona com a vida, não existe, e que nós somos responsáveis pelo que nossa busca desenfreada pelo progresso acarretou.
Tudo o que nos propomos a fazer gera consequências e temos que saber lidar com elas, sejam elas boas ou ruins. Isso não acontece de forma diferente na ciência, apesar de, na maioria das vezes, os cientistas estarem buscando se aprimorar e trazer benefícios maravilhosos para a ciência e automaticamente para a vida humana, eles tem que encarar o fato de que a ciência faz parte da vida em sociedade e pode proporcionar péssimas experiências à vida humana.
O extremo racionalismo cartesiano que forma nossa sociedade e se expande mais a cada dia pode estar ultrapassado, pois por mais a ciência pura de resultados, estes em confronto as ambições de governos e populações pode gerar o caos no mundo. Portanto, o cientista pode não abrigar toda a culpa, mas não pode se isentar dela.
Independente de quem inventa uma arma de destruição em massa a culpa por sua utilização sempre cabe a todos, pois o cientista a produz, a população exerce pressão sobre o governo para acabar com uma situação que o desagrade e o governo, para não perder votos, utilizar quaisquer artifícios disponíveis para realizar o que acredita ser o melhor para o seu país.
Todos têm sangues nas mãos pelos inocentes que pagam pelas nossas ambições, então temos que começar a nos responsabilizar, começando pelos que produzem a destruição, para transformar nosso mundo em um lugar mais equilibrado.
O tudo de todos.
Conexão com a prática
O novo paradigma
Uma das principais ideias que é combatida por tal método, nascida do pensamento baconiano, referia-se ao uso ilimitado da natureza, a qual, segundo o autor, deveria ser escravizada em benefício da ciência. Atualmente, a crítica é ainda reforçada devido aos problemas referentes ao meio ambiente, como o aquecimento global, que provam a invalidade de tal pensamento, já que a exploração desenfreada da natureza que antes era observada está causando efeitos muito negativos à humanidade. Com esse problema em vista, começou a crescer na sociedade o pensamento da sustentabilidade, que consiste em conciliar o avanço da tecnologia com a preservação do meio ambiente. Assim, vê-se que não é possível avaliar a natureza, por exemplo, apenas sob a égide dos benefícios que sua exploração pode trazer, mas também das consequências naturais e sociais que ela acarreta.
Mas o método holístico também se aplica às ciências humanas, como o Direito, tornando-o muito mais eficiente na função de concretizar a justiça, uma vez que prega uma visão que vai além do imediato, interpretando assim todas as condições sociais ao analisar a ocorrência de um crime, por exemplo. Desse modo, o Direito desliga-se do imediatismo e da visão única apresentada pelas leis, e passa a analisar a sociedade por um aspecto verdadeiramente humano.
Em suma, é esse o ponto de mutação referido no filme, uma maneira que reforma o fazer científico, pregando que o homem deve racionalizar, mas sem expurgar as emoções, que representa assim a mudança no paradigma da ciência objetiva, antes considerada como ideal.
Barreiras Transcendentes
O filme, nitidamente, faz crítica a essa teoria cartesiana, uma vez que, ao analisar-se soladamente os fatos exclui-se detalhes úteis ao entendimento superior destes. Destaca-se tal ideia, a partir dos relatos da personagem Sonia, capaz de enxengar de modo interligado os componentes do ambiente que a cerca. Pois, sob seu entendimento, somos muito mais que partes isoladas a serem observadas separadamente, possuímos conexões com o todo e estas nao devem ser descartadas.
Fazendo alusão ao direito, talvez a teoria holística, defendida pela personagem, adiasse a resoluçao de determinados casos devido as minúcias a serem observadas, no entando proporcionaria um resultado muito mais abrangente sobre o ser estudado, o que poderia levar a resoluções benéficas.
Todos somos elementos de um único sistema, sendo assim, nada mais justo do que o estudo do objeto como parte do todo, ou seja, do objeto juntamente ao meio ao qual esta introduzido, ultrapassando as barreiras da subdivisão. A análise holística, dessa maneira, é capaz de associar as diversas características de um elemento e aprofundar-se em sua complexidade, proporcionando, assim, uma observação mais detalhada das partes.
Giovanna Cardassi dos Santos Yarid
O mundo e a sociedade como um todo, e não como diferentes partes
O filme 'Ponto de Mutação' de Bernt Capra aborda justamente a necessidade de quebrarmos com a visão fragmentadora do mundo e começar a ver o mundo como uma rotina de elementos que estão sempre inter-relacionados. Apesar de ter sido lançado na década de 90, a discussão que o filme provoca não poderia ser mais atual. Os problemas do mundo são encarados como perturbações isoladas no equilíbrio do mundo, porém, a cada dia percebemos que problemas da pobreza ou do desiquilíbrio ambiental só poderão se resolver se chegarmos a raiz, ou seja, se percebermos o que realmente causou esses problemas. Não se resolve o problema da produção de lixo apenas com a coleta seletiva e a reciclagem, uma vez que a quantidade exacerbada de lixo é produto de um padrão de vida que estimula o consumo irracional, o que favorece uma parcela ínfima da sociedade. Logo, o problema do lixo irá se resolver se inexistir a "necessidade" do consumo, tão difundida na sociedade, e outras soluções para o problema que não mude este padrão de comportamento proporcionarão apenas falsas impressões de que a questão está resolvida.
A grande questão de 'Ponto de Mutação' é que a raça humana deve se enxergar como parte de um sistema em que a ação de um indivíduo é capaz de modificar o todo.É verdade que as ações de uma pessoa pode mudar a vida de todas as outras, mas a humanidade ainda acha que isso é muito extraordinário para ser verdade. É preciso que deixemos o individualismo e o materialismo de lado, pois só assim podemos chegar a uma solução para essa sociedade doente e cheia de problemas causados pelos homens, e que agora, não fazemos ideia de como resolvê-los.
Por uma abordagem holística
O pensamento cartesiano em xeque
A integração da nova visão.
No filme "Ponto de Mutação" nos deparamos com uma discussão entre um político, um poeta e uma física; no desenrolar do filme observamos uma crítica ao pensamento de Descartes ao analisar o mundo como uma máquina, enxergá-lo em partes, e a personagem Sonia, uma física desiludida com a ciência atual, traz um pensamento oposto a esse. Para ela o mundo deve ser analisado como um todo, já que a vida não pode ser resumida a partes isoladas, somos muito mais do que isso, não podemos entender o todo estudando separadamente as partes, precisamos compreender suas conecções.
Um organismo não pode pensar somente na sua vida, assim como não podemos pensar em uma parte isolada; esse pensamento individual de esquecimento do ambiente e do próximo nos levou aos problemas ambientais que enfrentamos hoje, ocorrendo nesse ponto uma crítica ao pensamento baconiano de escravizar a natureza. Esse pensamento gerou um progresso que fez o homem enxergar na exploração da natureza uma maneira de solucionar todas as suas dificuldades, porém a raiz dos problemas ambientais que enfrentamos hoje vem dessa visão da natureza.
Somos seres que não vivemos isolados, como dizia Durkheim, os homens precisam uns dos outros, mesmo com as suas diferenças, surgindo daí os tipos de solidariedade; desenvolvemos um pensamento coletivo, interagimos e precisamos dos outros para realizarmos nossas atividades, somos capazes de nos renovar, crescemos, nos adaptamos, não podendo, assim, sermos comparados à uma máquina. Antes de fracionar devemos entender a integração, para assim expandirmos nosso conhecimento e compreendermos os "porquês".
O filme “Ponto de Mutação” foi baseado no livro de mesmo nome elaborado por Fritjof Capra. O enredo, bastante simples se passa em uma conversa com três pessoas que invocam assuntos de grande interesse para o nosso futuro, bem como algumas vertentes filosóficas. A conversa ocorre com o intuito de mostrar os defeitos de nossos pensamentos e a possível correção para os tais, o que levaria a um grande avanço para a sociedade atual e principalmente para as futuras.
A grande crítica do autor é feita ao método cartesiano, aquele que enxerga a realidade (universo, ecossistemas, pessoas) como uma máquina, composta simplesmente por partículas menores, independentes e individuais.
A grande solução para os problemas contemporâneos seria a observação da realidade como um todo, como um sistema integrado, composto por partículas menores que se entrelaçam, se relacionam para formar o todo. Dessa forma o autor mostra a visão de que um problema, mesmo maquiado como uma virtude temporária, pode levar a outros problemas. Da mesma forma, as soluções, que podem ser malvistas pela sociedade inicialmente, podem solucionar diversos problemas, pois eles também se relacionam.
A Ecologia também é uma ideia marcante do texto, utilizada com o intuito de mostrar que os atos maléficos ao meio consequentemente nos prejudicam. Isso porque o nosso ecossistema é formado pela interação dos seres vivos e da natureza. Interação essa sem a qual não viveríamos.
Tais ideais, que buscam uma análise maior da realidade, também devem ser levados às práticas jurídicas. Acontece que uma observação melhor de um crime, por exemplo, pode levar ao descobrimento de sua origem, seus antecedentes, e de sua possível solução. Isso levaria a uma diminuição considerável do número de crimes semelhantes e acarretaria a outras melhoras para a sociedade, já que os problemas, assim como todo o universo, são interdependentes.
José Eduardo Garcia Tavares
Por quem os sinos dobram ?
No man is an island, entire of itself; every man is a piece of the continent, a part of the main; if a clod be washed away by the sea, Europe is the less, as well as if a promontory were, as well as if a manor of thy friend's or of thine own were; any man's death diminishes me, because I am involved in mankind, and therefore never send to know for whom the bell tolls; it tolls for thee.
John Donne
Nenhum homem é uma ilha isolada, em ode à Donne. Somos fragmentos compositórios de um sistema que se interliga por fatores bióticos e abióticos.
Os cartesianos estavam equivocados, fragmentar a ciência é limitá-la e domá-la é, antes de tudo, datar seu fim. Descartes e seus conterrâneos ao proporem uma forma desenvolvimentista da ciência se espelharam nas necessidades e carências de seu tempo. O homem moderno designou-se tal fazendo uso de tais princípios e ao esbarrar-se com a contemporaneidade, onde as demandas foram alteradas e o conceito de pós-moderno faz jus a sua designação de consumo, não repensou em tais conceitos, que já se encontravam enraizados em sua essência.
Evoluir não o é por si só, ninguém há de evoluir sozinho e caso tamanho equivoco ocorra não há função para tal. Devemos repensar a sistemática com a qual olhamos e mundo , sem fragmentá-lo em apêndices irresolutos , mas tratando-o como um todo, zelando por tal holisticamente, uma vez que o conhecimento só é base para que novo conhecimento desponte concomitante com seu tempo e hábil de reconhecermo-nos como iguais e membros de um mesmo espaço indissoluto, afinal, o sino dobra por ti.