domingo, 15 de abril de 2012


ENTRE DÉSCARTES, BACON, SARTRE E CAMUS


Ponto de Mutação, filme inspirado no livro de Capra, tenta descrever as divergências geridas pelo embate entre a visão cartesiana e holística de seus defensores.De pouco apelo dramático ou sensacionalista, o filme deixa a desejar em termos de cinematografia ; porém , as questões filosóficas propostas superam a atuação regular dos atores e tornam secundárias a beleza do litoral do Norte da França.
Produzido no começo dos anos 90, período no qual a reflexão referente às implicações éticas da ciência estava na sua infância, sobretudo no campo da genética, assim como a preocupação global com a preservação ambiental , o filme apresenta duas visões principais acerca do uso e da função da ciência. A visão cartesiana sugere o homem como senhor da ciência ,  de forma que essa seja uma ferramenta para o desenvolvimento em seu âmbito tecnológico, econômico e social.Essa visão , portanto, defenderia  a evolução contínua e não ponderada do material inanimado , desde que trouxesse  benefícios concretos à humanidade.Se a visão cartesiana, apresentada primeiramente no filme seria a tese, a visão holística , então , seria sua antítese. A antítese, consequentemente , questiona o parâmetro estritamente utilitarista e positivista empregado por aqueles que controlam  e influenciam as pesquisas cientificas mais significativas.Nesse argumento, dever-se-ia examinar profundamente as implicações sociais,éticas e não materiais da ciência como agentes de transformação e de suas transformações decorrentes de seu processo.

No entanto, é por meios cartesianos que os oradores dos lados filosoficamente antagônicos se encontram. Apesar de discórdias de valores quase que irremediáveis, os espectros distantes se encontram em uma síntese, bem ao estilo cartesiano. A síntese, reconhecida por ambos os argumentos, sustenta que um novo padrão de ciência deveria ser idealizado, um que indicaria novos caminhos de equilíbrio, de sustentabilidade e de harmonia entre a necessidade do desenvolvimento econômico e a as conseqüências ao homem e seu ambiente sujeitos da ação antrópica. O filme, nesse ponto específico, revela sua falha estrutural. Embora a visão alternativa ao pensamento cartesiano proposto nos diálogos seja relativamente coesa, ela é imprecisa por não conseguir traduzir teorias de mudança em propostas efetivas de realização. Sendo assim, por mais que a visão da personagem feminina considere boa parte das dúvidas existências e científicas do homem, falta-lhe instrumentos de praticidade. Assim, a síntese entre a visão cartesiana e a visão holística da personagem feminina é superior, uma vez que um novo modelo de ciência e sociedade sem proposta efetiva de aplicabilidade torna-se ideologia.
O filme, então, abre as portas cognitivas dos curiosos intelectuais e propõe discussões calorosas e provocadoras para aqueles que tenham condições de enfrentar as fronteiras da existência humana e  da ciência. Obra fundamental para apreciadores de Sartre e de Camus; pela superfície vê-se entretenimento, no seu núcleo, filosofia e existencialismo na sua forma pura.


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