domingo, 15 de abril de 2012

O tudo de todos.


    Se em algum momento lhe fosse exigido que descrevesse um ser humano como um todo, você falaria que este ser não passa de muitas células que formam sistemas que funcionam, na maioria dos casos, de forma perfeita entre si, sem tentar explicar isso com uma visão mais ampla, incluindo instintos, história e sentimentos? Muito provavelmente não. Mas porque então temos uma grande tendência a nos referirmos dessa forma, muito minuciosa e reducionista, quando se trata de outros organismos ou objetos?
   Vivemos hoje em uma sociedade que progressivamente se torna mais objetiva, principalmente após a Revolução Industrial. Um ótimo exemplo dessa transformação é o já batido, porém muito apropriado para ilustrar-la é o do sapateiro. O sapateiro antes da revolução era um mestre da confecção do sapato, sabia cortar, costurar, lustrar e tudo que envolve o processo. Conforme o mercado se tornava mais exigente o mestre se viu obrigado a dividir seu trabalho para aumentar seu poder de competição. Com isso o processo se tornou cada vez menos específico, ao passo que já não se conseguia acompanhar o processo como a fabricação de um calçado, e sim várias pessoas realizando trabalhos manuais muito simples.
   Entretanto, e se pensarmos nesta situação de forma mais ampla? E se transferirmos este reducionismo para o meio ambiente, por exemplo? Uma grande floresta não é mais vista como um só “organismo com vida própria”, tão explorado no filme “Ponto de Mutação”, e sim como uma série de organismos constituídos de matéria prima, que pode ser utilizada para produzir novos bens de consumo.
   Obviamente não podemos ser hipócritas, negando a inegável (perdoando a redundância) importância e benefícios da Revolução Industrial, ou da próprio reducionismo, que proporcionou grande avanço para a humanidade. Porém devemos zelar pela manutenção do sentimento que existe entre nós, desde tempos muito inóspitos, de que de alguma forma fazemos parte de um organismo próprio, para que, quem saiba, um dia possamos realmente vislumbrar o funcionamento deste organismo de que fazemos parte.

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