sábado, 30 de abril de 2011

O Real e o Ilusório; A Ordem e o Progresso

“O real frente ao quimérico, o útil frente ao inútil, o certo frente ao incerto.” A Filosofia Positivista busca a interpretação daquilo que é concreto. Diferentemente das antigas correntes filosóficas, cria suas leis embasadas na união de diferentes princípios. Por isso, Comte caracteriza o Positivismo como o “amadurecimento do espírito humano”. Carrega, juntamente com os próprios, fundamentos teológicos e metafísicos para um estágio de maior rigor, compondo um pensamento máximo e absoluto de explicação do mundo.

Somos metaforicamente transformados em “órgãos”, formando um só sistema sincrônico. Tal sincronia refere-se à harmonia com que a Sociedade é mantida por aqueles que a compõem. Cada qual é responsável por determinada tarefa, gerando, pois, a ordem da sociedade. Consumada a ordem, origina-se o progresso. Para Comte, o progresso da sociedade é a evolução desta. Diferentemente daquilo que vivemos hoje, esta mudança é gerada de maneira solidária, não representando a “superação” do indivíduo somente. O Positivismo é necessário para ajudar a manter a ordem do sistema, solucionar as patologias e, assim, gerar o bem estar do “corpo”.

Dessa forma, a corrente positivista apresenta quatro propriedades:
- Primeira, o apontamento das leis gerais da sociedade, fundamentado nas “leis lógicas” dos fenômenos (Estática: leis históricas e invariáveis – direitos, deveres, leis, normas – geram ordem; Dinâmica: capacidade de evolução da sociedade – gera o progresso.);
- Segunda, a reforma da educação, visando o encadeamento das diversas ciências (Nova Proposta);
- Terceira, o conhecimento uno, tendo o positivismo como a combinação das diversas ciências;
- Quarta e última, ser o Positivismo a base para o reorganizar social.

Além disso, Comte declara a importância da união da Ciência (ação) e da Técnica (aplicação) para o auxílio da superação da fragilidade fisiológica do homem. Tal fragilidade pode ser exemplificada com a Monarquia vivida no Brasil (1822 a 1889), finalizada com a Proclamação da República, esta, por sua vez, influenciada por ideias positivistas ligados ao lema “Ordem e Progresso”, que passou a ser ostentado na bandeira do país.

O Positivismo de Comte concentra-se “na vida real, ‘afastando-se’ das vãs ilusões”. Procurando o bem estar da sociedade como um todo, buscando as leis do universo para auxílio.

Ídolos da tribo.

Sobre um dos aspectos da obra de Bacon em, BACON, F. Novum Organum, os ídolos da tribo,falsas percepções.

Um modelo para garantir a verdade.

Sobre René Descartes e sua obra (DESCARTES, R. O discurso do método):

http://www.youtube.com/watch?v=H1QdhKszy9o&feature=related

Este outro vídeo fala sobre o que seria o racionalismo que é também abordado por Descartes.

http://www.youtube.com/watch?v=PN7AfFPnm_w&feature=mfu_in_order&list=UL

E então recomendo que assistam um filme chamado 'Poder além da vida' de Scott Mechlowicz, Nick Nolte, Amy Smart e Tim DeKay, o qual aborda situações bastante convenientes à discussão da busca da verdade como forma de conhecimento próprio.

Link do filme online:
http://xnove-filmesonline.blogspot.com/2009/07/poder-alem-da-vida-dublado.html

Pensamento, lição, por fim, desenvolvimento

Ao ler as parte I e III de Auguste Comte (Curso de filosofia positiva e Discurso preliminar sobre o conjunto do positivismo, respectivamente), fica clara a inovação proposta por ele ao citar a sociologia como método e o pensamento humano- dividido em positivo,teológico e metafísico- como formas aplicáveis à diversas sociedades.

A sociologia constituída por Comte é uma ciência abstrata, ele expõe os métodos, o objeto, as divisões necessárias, as leis aplicáveis a todas as sociedades possíveis, aplicando-a na prática.É interessante notar que para Comte a pesquisa das leis faz-se pela observação direta dos fatos sociais e não pela simples dedução de dados metafísicos.

Dessa forma a sociologia deveria orientar-se no sentido de aprimorar e esclarecer aquilo que ele chamava de leis imutáveis da vida, deixando as críticas de lado e deixando de abordar temas já então famosos, como por exemplo, a justiça ou a liberdade.

Agora já na filosofia positiva, Comte nega que a explicação de fenômenos sociais e naturais venha de um só princípio; para ele a física, a matemática, a biologia são caminhos que já atingiram a positividade e por conseguinte são de significativa importância para o aprimoramento social.Ao utilizar essas matérias na prática, vemos que a compreensão da realidade lida, normalmente, com uma relação contínua entre abstrato e concreto, objetivo e subjetivo.Dessa maneira o positivismo fica caracterizado por abranger um leque grande de temas, tais como o relativismo, a preocupação com o conjunto e com o bem público, dentre outros.

É nesse contexto que Auguste Comte diz ser necessário o conhecimento da realidade para prever o que nossas ações acarretarão, melhorando assim a realidade presente.Logo a previsão científica é uma das bases mais importantes do pensamento positivista.Em síntese, Comte aborda na sua obra questões cruciais para o desenvolvimento da sociedade, dizendo o que cabe a cada classe social, bem como propondo uma espécie de física social a ser seguida como parâmetro para o futuro aprimoramento das sociedades.

O positivismo para o mundo

O século XVIII representou um período de grandes transformações na Europa. As revoluções Industrial e Francesa, além de consolidar o poder do capitalismo burguês, criaram novos problemas para a humanidade. Os entraves econômicos e sociais passaram a ser agravados por inúmeros motivos como a superexploração da classe trabalhadora industrial, a insalubridade pública, a falta de planejamento do novo espaço das relações sociais capitalistas - os centros urbanos - entre outros.

Além disso, esse século foi também marcado por intensas evoluções no âmbito científico, promovendo grande racionalismo e o desenvolvimento de inúmeros métodos científicos. A partir desses métodos das ciências naturais foi possível o desenvolvimento de novos instrumentos para o controle e entendimento dos fenômenos sociais.

Diante desse panorama caótico e, ao mesmo tempo, intenso produtor de novas ideias, viveu Augusto Comte. Para ele, os colapsos produzidos pelas revoluções de sua época se tornaram objetos de profunda reflexão e a ‘’paz social’’ só poderia ser restabelecida na medida em que a intelectualidade humana fosse reformada por um sistema de pensamento novo. À esse novo sistema, Comte denominou Positivismo.

Em Curso de Filosofia Positiva, Comte buscou explicar os fenômenos naturais e sociais estabelecendo leis científicas. Uma proposição enunciada de maneira positiva para determinados fatos sociais possuía suas bases na ciência.

Para que o homem fosse capaz de conhecer a realidade, ele deveria passar por três estágios: o teológico, o metafísico e o positivo. O teológico é o estado em que todas as explicações da realidade se encontram no âmbito divino. O metafísico é o estado em que há uma descrença em Deus e o homem passa a reconhecer a sua ignorância diante das leis do mundo e da natureza. No positivo, a humanidade busca respostas científicas para todas as coisas. Este estado de amadurecimento da sociedade é conhecido como Positivismo, que consiste na busca pelo conhecimento absoluto, esclarecendo a natureza e seus fatos a partir de leis.

Comte foi um típico pensador conservador, uma vez que suas ideias contribuíram para a consolidação, desenvolvimento e estabilidade da sociedade capitalista. Para ele, as realizações da sociedade capitalista, como os novos ramos do conhecimento, a industrialização e a urbanização são considerados resultados positivos, enquanto operários e camponeses lutavam contra o sistema e, por serem contrários à ordem estabelecida, colocavam em risco o consenso e a harmonia. A partir dessa análise histórica da evolução social, Comte criou duas categorias fundamentais para uma estrutura social positiva: a estática e a dinâmica.

A estática é responsável pelo ajuste de todos os indivíduos às condições estabelecidas pela sociedade, visando à estabilidade social e garantindo o bem comum. Já a dinâmica seria a responsável pela evolução e transformação das sociedades, conduzindo-as das mais simples às mais complexas e, por isso, identificada como progresso. Ambos movimentos devem coexistir para o bom funcionamento de uma sociedade.

Assim, a estática (ordem) e a dinâmica (progresso), encontradas na bandeira brasileira, evidenciam a contribuição e a influência do pensamento positivista no desenvolvimento de complexos sistemas de governo, pensamentos e leis de extrema importância para a convivência das sociedades contemporâneas. O positivismo é, portanto, uma importante ferramenta para o planejamento da organização social e política.


Enfatizando o concreto

Logo após o fervilhão de idéias do século XVIII, Auguste Comte lança seu “Curso de Filosofia Positiva”. A obra lançada em 1830 nos introduz o conceito do positivismo, uma ideologia que trazia para si a responsabilidade de discutir o que era real, útil, certo, rompendo com muito do que era discutido no metafísico século das luzes.
Comte apresenta a evolução do pensamento humano sob uma nova perspectiva. Ele divide o pensamento em três estados históricos diferentes: o teológico ou fictício, o metafísico ou abstrato, e por fim o científico ou positivo.
No estado teológico, que Comte define como “ponto de partida necessário da inteligência humana”, Deus era tido como o elemento que informava todas as instâncias da vida, no metafísico, que seria um estado transitório para se chegar ao positivo, evolui-se para uma concepção na qual o homem seria capaz de racionalizar sua imaginação. O ápice é finalmente atingido quando o homem se torna capaz observar o concreto e interpretá-lo, rompendo com os dois estágios anteriores. Só assim se alcança verdadeiramento o estado final, fixo e definitivo: o positivismo.
O autor nos diz em sua obra que diversos ramos do conhecimento já se utilizavam do positivismo, entre eles a astronomia, física, química e fisiologia, mas que faltava, no entanto, um ramo dedicar-se a ele: o dos fenômenos sociais. Por isso havia uma grande necessidade de se criar a “física social”, ou seja, a análise dos fenômenos sociais, evoluída até o estágio positivo. Seria essa a “maior e mais urgente necessidade de nossa inteligência”, já que somente após o estabelecimento da física social, a filosofia positiva poderia substituir inteiramente, a teológica e a metafísica.
A física social é definida como parte da física orgânica, já que os fenômenos sociais sofrem influência da fisiologia do indivíduo, e para entendê-la, deve haver um conhecimento prévio das demais ciências, pois a compreensão dos fenômenos se dá dos mais gerais, aos mais complexos.
O positivismo mostra-se anti-socialista e anti-liberal. Comte acreditava que cada classe reproduzia seus próprios membros, e que era necessário manter as pessoas em seus lugares sociais para que houvesse progresso. A mobilidade social como reivindicação permanente seria, então, a principal responsável por imobilizar o progresso, pois todas as funções são necessárias ao sucesso do todo. A ordem era essencial, a sociologia para o autor, serviria para diagnosticar os desvios da ordem.
Auguste Comte cita Descartes e Bacon em sua obra, como precursores da filosofia positiva, como contribuintes ao amadurecimento do espírito humano. Bacon é mais frequentemente citado, já que seu método consistia na observação dos fatos para se alcançar um conhecimento real, máxima que Comte julgava incontestável. No entanto, o autor complementa Bacon dizendo que para entregar-se à observação seria necessária uma teoria qualquer, e que essa teoria não poderia ser confirmada na infantilidade em que se encontrava o espírito humano, daí a importância da evolução ao estado positivo.
É dada importância à teoria por ela oferecer a reflexão necessária para prover a técnica sendo que dessa relação resulta o poder de transformar a natureza. Comte distingue a ciência (reflexão) da técnica (arte, ação, aplicação). A classe dos engenheiros pode ser considerada intermediária, ela faz a ligação entre a ciência e a técnica.
Há quatro propriedades fundamentais na proposta positivista:
- o vislumbramento das leis gerais da sociedade e conhecimento das regras gerais convenientes para proceder de modo seguro na investigação da verdade
- reforma da educação para romper com o isolamento das ciências
- a filosofia positiva teria que exigir a combinação do conjunto de concepções positivas sobre todas as grandes classes de fenômenos naturais
- a filosofia teria que servir de base à reorganização social da sociedade moderna
Comte entende que o problema da sociedade moderna seria a anarquia intelectual, causada pela convivência das três filosofias, sendo que o positivismo seria capaz de por fim à agitação política com uma reforma das mentalidades. Essa reforma se daria por meio de uma educação positiva universal, diferente daquela concebida como se cada pessoa devesse se preparar para uma única profissão exclusiva. A visão de conjunto funciona como a base da sabedoria humana, sabedoria esta tanto ativa (ofícios diversos) quanto especulativa (atividade científica)
A instrução, segundo Comte deveria ser estendida à classe trabalhadora, já que é ela a que menos sentiu a influência do ensino metafísico, e por isso está mais aberta ao ensino positivo. Além disso, a instrução seria melhor percebida entre os operadores que entre os empreendedores, pois o trabalho dos operadores tem “fim mais nitidamente determinado, resultados mais próximos e condições mais imperiosas”, além disso, eles têm um contato mais direto com a natureza.
Depois de alcançarem o saber, a classe trabalhadora o utilizaria como uma forma de lazer, pois o saber metafísico alia-se por sua natureza a todos os trabalhos práticos, tendendo ,assim, a inspirar um certo gosto por ele. Esse lazer iria afastar a classe trabalhadora da anarquia e das ambições materiais, reforçar o gosto pelo trabalho prático, rompendo com a perspectiva de participação da classe trabalhadora no poder politico, que não seria necessária, pois os destinados a participar do poder politico teriam a exigência de cumprir os deveres essenciais a eles destinados.
Comte discorre ainda sobre o papel do catolicismo. Ele o considera importante no que diz respeito à universalização da moral, mas a moral religiosa seria também contrária à essência da vida moderna, pois enquanto na moral católica o objetivo é a salvação pessoal, na visao positiva a sociedade tem um papel à frente do do indivíduo.
Aparecem muito fortes na visao positivista, a solidariedade e a felicidade, por estarem associadas ao bem público. O bem público deve se colocar sempre acima do bem de cada um, o “eu” só existe no positivismo pelo papel que ele desempenha no conjunto. Assim é formada uma moral humana, pois combina a inteligência à sociabilidade.
Dessa forma, Comte nos introduz uma nova ciência, a física da sociedade, que deveria ser estudada, para se livrar do teológico e do metafísico restante entre nós, e conseguir assim uma melhoria concreta da vida social.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

O Positivismo na História

O Positivismo de Comte marcou sua época por propor a busca de leis imutáveis, assim como as leis da física, porém aplicadas à sociedade. A Física Social pretendia analisar os aspectos imutáveis que permeiam a sociedade para então entender as dinâmicas. O positivismo, com sua forma racional e observadora de ver a realidade, seriam, segundo Comte, o estágio mais avançado do conhecimento, desprezando o estado teológico e metafísico.

Para Comte, a ordem era a base do progresso social, apesar de visualizar somente o caos e a anarquia; por isso ele abominava tanto a revolução quanto a democracia. O modelo positivista de regime é republicano, porém estruturado sob a forma de uma ditadura científica. Um dos princípios do positivismo é a separação entre o poder religioso e o poder civil, somente homens esclarecidos e honestos seriam os verdadeiros sacerdotes do saber. Esta sabedoria seria transmitida aos ditadores ilustrados e, estes teriam condições de comandar o Estado e as classes inferiores. A doutrina positivista influiu muito na sociedade brasileira, norteando diversos governos e sendo lema da bandeira nacional.

Comte também defendeu a universalização do ensino primário e o amparo ao proletariado. A educação seria o modo de transformar efetivamente toda a sociedade, fazendo com que os valores positivistas fossem absorvidos. O proletariado seria como uma ‘tabula rasa’ para os ideais defendidos por Comte, pois devido ao seu trabalho manual ser mais tangível como modificador da sociedade, eles possuem maior capacidade de apreender tais valores transformadores.

Toda construção dos operários seria capaz de proporcionar-lhes um deleite equivalente ao das obras de escultura e pintura. Porém, seria demasiado idealista supor que o operariado, sob a luz do positivismo, passasse a ver em seu cotidiano uma fonte de prazer embasada apenas na filosofia do significado de sua obra.

Indubitavelmente, o positivismo se caracteriza como obra fundamental na história científica e sociológica da humanidade. Suas premissas ajudaram na construção do pensamento moderno, porém, parte delas já foi superada pelo novo contexto social no qual nos incluímos.

Individualismo não previsto

Comte retoma, nas "Condições do estabelecimento do regime positivo", o que já havia iniciado no "Curso de filosofia positiva": a aplicação da educação positiva. Para as classes superiores, isso significaria o abandono de sua educação essencialmente metafísica.Já os proletários teriam predisposição à ela, uma vez que não haviam sido educados na metafísica.Nesse aspecto, Comte estaria valendo-se de técnica aplicável aos dias atuais, uma vez que é icomensuravelmente mais simples manipular massas nao instruídas, incutindo-lhes ideias como verdades absolutas.

Isso não significa, contudo, que pretendia elitizar o proletariado munindo-o de intelecto desenvolvido.Representaria, para eles, o seu lazer.Assim, Comte pretende criar uma sociedade conformista, impedindo os proletarios, através do Positivismo, de almejar ascensão social e/ou política, tendo isso como objetivo a manutenção da ordem.Nesse caso, o progresso adviria de forma natural, uma vez que, sem perspectiva de revoluções, a sociedade dispõe de foco e mão de obra adestrada para cumprir seu objetivo.

Complementa a "adestração" defendendo políticas sociais que atendam às reais necessidades da classe proletária , uma espécie de Populismo.Nota-se que essas ideias encontrariam obstáculos à sua aceitação completa, uma vez que na sociedade atual, o benefício próprio e as ambições pessoais estão muitas vezes arraigadas ao âmago humano.Metafísico. O progresso coletivo em detrimento do individual é consideravelmente inviável.Ambos, na conjuntura atual, atuariam em hamonia e, pode-se dizer, resultariam um do outro.

Talvez seja extremo afirmar, como Comte o faz, que a felicidade advem do bem público. O fato é que, cada vez mais, o individualismo, motivado pela competição existente na atual conjuntura socioeconômica por melhores cargos e sálarios, ganha espaço na mente humana, o que deixa as ideias do autor consideravelmente ultrapassadas.

Mãos, cérebro, coração, bile.

Mãos, cérebro, coração, bile. Assim como no corpo humano, cada indivíduo possui funções a serem exercidas no organismo chamado " sociedade ". Alguns são operários, outros médicos e há também empresários, células cujo papel desempenhado é imprescindível na manutenção do corpo social, segundo o Positivismo. Células estas que devem ser "saudáveis", "educadas", " bem alimentadas".

O espírito de competição, característico do modelo capitalista, não tem espaço no pensamento de Augusto Comte: todos devem permanecer exatamente em seus lugares, cumprindo suas respectivas funções, sem almejar categorias "superiores" (visto que todas têm o mesmo grau de importância). Comodismo? Inércia? Não, apenas garantia da ordem para que o progresso seja alcançado. Porém, não um progresso como entendemos hoje ( individual, egoísta), mas sim sinônimo de bem público, ou seja, a verdadeira felicidade. Será que pensamos assim enquanto somos bombardeados com ideias de teor individualista e competitivo? Vemos nas ruas, casas, praças a solidariedade ou tropeçamos nas "misérias sociais" como intitula Comte?Não queremos ser coração quando nos vêem apenas bile?

O trabalho é concebido pelo Positivismo de maneira bem distinta do próprio sentido que o termo carrega (do latim tripallium = dor, sofrimento), sendo visto como "...uma doce diversão habitual..." para Comte. Ele deve ser motivo de orgulho e por meio do conhecimento uno (sem o isolamento da Ciência) cada indivíduo pode compreender sua importância no âmbito social. E nós? "Divertimo-nos" ou nos deixamos consumir pouco a pouco na realização de nossas tarefas sem entendermos quais sementes germinarão com o suor do nosso rosto? Ou melhor, sabemos quem somos verdadeiramente ou simplesmente perdemos a singularidade misturando-nos ao todo?

Em nossos dias, as palavras se avolumam, os dogmas religiosos crescem e, perdidos desde o contexto em que Comte escreve, em meio à metafísica e à teologia esquecemos de observar a realidade que se debruça sobre nós. Apenas ouvimos os gemidos de um corpo (do qual fazemos parte) que não mais anda, arrasta-se.

Ao diabo com o progresso positivista

Bacon e Descartes decerto construíram uma espécie de pensamento que despertou atenções. Se por acaso ele não surtiu efeito em curto prazo, veio a ter respeitável repercussão depois. Note-se pelo desenvolvimento, por Augusto Comte, da filosofia positiva. Na crença de que pouco precisa-se aqui discorrer sobre assuntos mais gerais e elucidativos acerca dela, atenhamo-nos àquilo que podemos retirar de sabedoria, e não mera retórica obscura.
Comte assume o compromisso de discorrer acerca do desenvolvimento do pensamento humano, que teria passado por três momentos, nessa ordem: teológico, metafísico e positivo. Ele afirma que aqueles foram estágios essenciais para se chegar a esse, que é o estágio definitivo do pensamento humano. Ora, como a filosofia positiva funda-se no raciocínio e na observação, parece-nos muito válido que assim o seja. Mas, agora, coloquemos uma simples questão em pauta: é a filosofia positiva capaz de explicar tudo, através dos métodos preconizados por Comte? Ora, veja bem. Alguns conhecimentos podem de fato serem restritos aos seres humanos. Mas não sabemos quais são eles. E por isso não há como dizer até onde podemos estender nosso intelecto. Podem argumentar que o cérebro possui um limite. O contra-argumento seria: e qual é ele? Diriam: o uso de 100% da capacidade cerebral. Sabe-se que usamos apenas cerca de um décimo dessa capacidade. Bem, mas enquanto não for atingido essa capacidade total de processamento, não poderemos saber o que se revela inteligível a nós e o que permanece obscuro.E será que de fato algo permanecerá obscuro? Mas onde queremos chegar é: ainda há espaço para se avançar mais estágios.de pensamento. Mas observe-se: pode-se ainda avançar estágios de pensamento, isso pressupõe que deva-se abandonar os métodos da filosofia positiva para se chegar a uma nova espécie de filosofia, dotada de características únicas e possivelmente, provavelmente, mais inteligentes. Comte deixa claro que ela não abrange todas as ordens de fenômenos, mas parece negar-se que outra filosofia que não a positiva seria capaz de abrange-los por completo. Se algo escapa ao raciocínio apresentado, que seja ignorado. Do contrário, é uma completa arrogância declarar à filosofia positiva uma honra que não lhe cabe. Contudo, que se registre o valor dessa filosofia, não o negamos de maneira alguma. É ela decididamente um marco fundamental e evidente para o avanço das ciências. Apenas deve-se ter cautela quanto à sua completa aceitação.
Comte deixa claro que a sua filosofia busca as leis que regem os fenômenos, e não as causas deles. Para tanto, alega que as causas primeiras e finais, absolutas, não podem ser encontradas. Ora, a isso aplicamos raciocínio semelhante ao último. Ainda não podemos obter noções absolutas, mas negar que jamais poderemos desvenda-lãs causa, no mínimo, inquietação.
No que se refere à preocupação dele com a divisão intelectual do trabalho, é louvável sua idéia de integrar os diversos ramos da ciência positiva, o que seria feito pela criação de uma nova classe de cientistas “especializados em estudar generalidades”, o que parece ser um conceito abstrato, mas de fato é muito claro. Caberia a essa espécie de cientista ligar entre si os conhecimentos produzidos por aqueles homens mais dados ao estudo minucioso de determinado ramo do saber. Tem-se aí o modo de organização necessário para a inventividade sistemática. Surge uma idéia de ciência “utilitária“.
Mas eis que Comte entra numa análise social propriamente dita, e aí temos então a eclosão de algumas idéias estranhas. Comenta sobre a necessidade de reformulação do sistema educacional, que à época, na Europa, era “essencialmente teológica, metafísica e literária”, como escreve. Deveria ser implementada uma educação positiva, de caráter universal, isto é, seriam lecionadas generalidades, não se dispensados “os diversos estudo científicos especiais, que devem suceder à educação geral”, observa. Uma vontade muito adequada, considerando-se o a validade da sua crítica à divisão intelectual do trabalho.
Contudo, quando passa a uma análise social mais generalizada, destaca que a “grande crise política e moral das sociedades atuais provém, em última análise, da anarquia intelectual”, e que ela consiste na “profunda divergência entre todos os espíritos quanto a todas as máximas fundamentais”. Para mudar esse estado das nações, seria necessário “ideais gerais capazes de formar uma doutrina social comum”. Diz que “a desordem atual das inteligências vincula-se, em última análise, ao emprego simultâneo de três filosofias radicalmente incompatíveis: a filosofia teológica, a filosofia metafísica e a filosofia positiva”. Conclui que, pare fazer cessar o estado essencialmente revolucionário das nações à época, uma deveria prevalecer. Para ele, “a filosofia positiva é a única destinada a prevalecer”. Porque “a preferência tão pronunciada que quase todos os espíritos, desde os mais elevados até os mais vulgares, atribuem hoje aos conhecimentos positivos sobre as concepções vagas e místicas anuncia suficientemente a acolhida que receberá essa filosofia, quando adquirir a única qualidade que ainda lhe falta, um caráter de generalidade conveniente.
Do que foi (longamente) exposto, podemos observar, de novo, o caráter arrogante da filosofia positiva. Como ousa Comte dizer que apenas sua filosofia pode prevalecer? Talvez ele e mais uma elite possa louvar completamente essa filosofia, mas que não o diga dos “espíritos mais vulgares”. Alguns homens, possivelmente a maioria, preferem não ouvir a verdade (se podemos chamar o “produto” da filosofia positiva assim), justamente porque ela esclarece. Quantos são aqueles que, atualmente, ainda seguem uma religião? Ousam eles desconfiarem de seu Deus, mesmo não sendo ele uma idéia comprovada? E dessa fé na própria religião, não pode surgir uma cegueira, e provavelmente surge, que tolhe qualquer capacidade de fazer a apreciação de outros conhecimentos que tentam lhes transmitir mas que não são aqueles pregados por sua própria religião? Desse modo, estão mais atentos ao que lhes dita sua “divindade” do que pode lhes ser esclarecido pela ciência. E ainda, consideremos que tudo isso não passe de um pensamentozinho inválido. Lancemos outro: porque há de ser esse progresso material, essa alucinada corrida em busca das inovações, típica da filosofia positiva aquilo que a sociedade mais quer? Não é esse o espírito da filosofia de Comte? Talvez muitos tenham em seu coração a idéia de que sua vida teria sido mais plena de sentido caso pudessem ter uma pequena cabana num campo verde e pontilhado de belas macieiras. Como se nota, não é bem para esse lado que a nossa sociedade altamente desenvolvida tende. Ou discorda o leitor que possivelmente se encontra preso entre quatro paredes cujo único sinal de liberdade vem a ser uma pequena janela que ela mesma vem dar nos limites desprezíveis que suprimem também ao outro que está ali fora essa mesma liberdade? Nunca ansiou por uma vivência mais tranqüila, longe de todo esse dinamismo cosmopolita proporcionado pela ciência? Por isso é que talvez tivesse sido melhor permanecer um bruto, mas um bruto que se sentisse realizado em sua vida. E é então que parece surgir uma vontade intensa de dizer: “ao diabo com a filosofia positiva, ao diabo com o progresso”.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Física Social e o Regime Positivo

Em seu ''Curso de Filosofia Positiva'', de 1830, Augusto Comte apresenta o pensamento positivo ou Positivismo como sendo o estado da virilidade da inteligência do ser humano.Comte declara que as concepções e o conhecimento humano se subdividem historicamente em três estágios.São eles: o estado ''teológico ou fictício'', o estado ''abstrato ou metafísico'' e, por fim, o estado ''científico ou positivo''.Cada um destes estados seria um amadurecimento do próximo, nesta ordem, culminando com a filosofia positiva.O autor defende que era chegado o momento de se abandonar por completo o primeiro e o segundo (para ele um estágio transitório para o positivo).Reconhece, entretanto, que não eram todos os ramos do conhecimento que aplicavam o ideal positivo em sua metodologia.A lacuna era relativa aos fenômenos sociais.Augusto Comte,preocupa-se, então, em tornar positiva a análise social tal como já havia sido feito com outros fenômenos.Havia urgente necessidade de fundar a ''física social'', ou seja, uma ciência social positiva.O positivo preocupa-se com o real, o concreto, o certo e não com a causa e o fim últimos de todas as coisas.O experimentalismo e a idéia de verdade de Francis Bacon são amplamente valorizados, tal como deixa claro o trecho: '' A preponderância da filosofia positiva se afirmou como tal desde Bacon''.As menções a outros cientistas ou pensadores estão presentes em toda a obra; destacam-se, todavia, as referências a René Descartes e às suas propostas e à Isaac Newton.Ambos são valorizados.Quanto ao segundo, seu paradigma da gravidade constituiria um modelo para a ciência moderna.Comte faz severa crítica à psicologia, comparando-a àqueles que, para ele, seriam os estágios primitivos.Defendem-se a observação das leis sociais, fundamentada na lógica dos fenômenos; uma reforma estrutural em todo o sistema de ensino,tornando-o positivo; a integração das ciências na construção de um conhecimento único e uma nova organização social a partir da filosofia positiva.O ideal positivo traria consigo uma homogeinização ideológica que poria um fim à desordem.Ao compreeder-se e ao manter-se a Estática,ou seja, a Ordem, seria possível a Dinâmica, o Progresso, da sociedade como um todo.Vale ressaltar que o Positivismo não desvaloriza a teorização, desde que esta vincule a ciência e a técnica.A técnica aludiria aos pensamentos baconianos de transformação e dominação da natureza.A verdadeira interpretação da natureza só seria possível a partir da ciência positiva.Nas ''Condições De Estabelecimento Do Regime Positivo'', de 1844, Comte discorre acerca da instauração política do Positivismo na sociedade, o que considera seguramente possível.Descreve as instituições de sua época como estreitamente ligadas aos estágios que considera primitivos, sendo caracterizadas pela desordem intelectual.Assistindo as agitações sociais de seu tempo, o autor quer implementar uma revolução mental na sociedade.Defende uma universalização da educação,nos moldes positivistas, aos quais o proleteariado estaria mais predisposto(seria como tábula rasa e estaria mais próximo da natureza).A este último deveria ser dirigido um programa social pelo govervo a partir do qual seu ofício fosse visto como ''doce diversão habitual'' e como o lazer ideal.Haveria, assim, duas ordens de inteligência: os empreendedores e os operadores diretos.O gosto pelo seu trabalho proporcionaria a manutenção da ordem social vigente e a conformação, por parte dos trabalhadores, do seu ''lugar social'', bem como a sua permanência nele.A sociedade positiva deve,assim, ser estamental.A educação valorizaria o trabalho (''a fecunda e salutar apreciação dos diversos deveres essenciais''), mas desprezaria o ócio (''vâ e tempestuosa discussão dos efeitos''), promovendo focalização na realidade da vida e distanciamento das ilusões de mudança.A manutenção da ordem é também verificada na política: ausência do livre exercício direto do poder, mas participação indireta através ''poder moral''.Por ''moral'', Comte entende o espírito de solidariedade a partir do qual há abdicação da mudança de lugar social.Tal preceito tem para ele lugar de centralidade na sociedade positivista, na qual o conceito de felicidade está vinculado ao bem comum (social).Desta forma, ele postula que haverá progresso.

Alicerce na educação

Ausguste Comte, no capítulo de sua obra intitulado "Curso de Filosofia Positiva" divide o conhecimento em três estágios (Teológico, Metafísico e Positivo), os quais correspondem aos períodos pelos quais o desenvolvimento do intelecto humano percorre.
Assim, o autor considera os dois primeiros apenas como insuficientes, defendendo o terceiro como fundamental para a interpretação dos elementos do universo.

No Positivismo, então, Comte baseia seu discurso, centrando suas ideias no príncipio de "Ordem e Progresso", o qual seria a finalidade da ciência.Porém, como ele mesmo reconhece, aplicar essa linha de estudo não é possível, de maneira plena, à "física social". Os fenômenos sociais, por serem inúmeros e tendentes a mudanças não podem ser compilados em um paradigma, como o Newtoniano.

Sua defesa de uma nova classe de cientistas, "preparados por uma educação conveniente" que procure analisar as ciências no que tange aos seus aspectos comuns e nas relações que estabelecem entre si soa falha, uma vez que, embora sjea útil o conhecimento dos padrões a que estão submetidas, parece desconsiderar as particularidades de cada uma, o que pode comprometer sua correta e integral compreensão.

Um aspecto válido apontado por Comte é a reformulação da educação, descartando ou, ao menos, colocando-as em segundo plano, a Teologia e a Metafísica e concentrando os esforços no real, no concreto, no Positivo.Se o objetivo de uma sociedade é, de fato, estabelecer a Ordem e o Progresso, é na educação que encontrará o caminho mais curto.



Do pensamento mecanicista ao sistêmico

O filme " Ponto de mutação", por meio do diálogo entre as personagens, coloca à discussão a visão de mundo sob a ótica cartesiana, representada pelo político, e uma nova percepção , defendida pela cientista.
Descartes introduziu o pensamento de que o mundo funciona como uma máquina, o homem funciona como uma máquina... Desse modo, ao desmontar o todo em pequenas partes, estudá-las e colocá-las novamente juntas seria possível entendê-lo. Entretanto, essa perspectiva mecanicista não cabe no contexto contemporâneo, pois os fragmentos não são independentes, mas interligados.
Para exemplificar sua visão, a cientista traz à reflexão a questão do enfarto: a medicina interventiva desenvolveria corações novos para serem implantados e removeria os enfartados, já a medicina preventiva cuidaria dos procedimentos necessários para evitar a obstrução de artérias. Essa segunda maneira de lidar com o problema é a nova percepção do mundo.
Um ponto relevante da discussão entre as personagens é a dificuldade que as pessoas têm em aderir a uma nova visão. O livro, em que se baseia o flme, foi publicado há algumas décadas, mas ainda hoje estamos como o político, buscando um ponto de partida para começar a resolver os problemas, enquanto deveríamos questionar e perceber que os erros estão na maneira de enxergarmos e julgarmos o mundo.

Mentes reguladas

Não se deve permitir o fluxo contínuo do intelecto. Segundo esse princípio, o filósofo inglês Francis Bacon critica a dialética grega, pautando sua denúncia na premissa de que o uso da mente deve ser contido e regulado. Essa rigidez impede a mente de ser ocupada por falsas convicções, pois os homens tendem a valorizá-las quando funcionam e negligenciam seus erros. Dessa forma, é comprometida a constituição de proposições verdadeiras, as quais devem ponderar os aspectos positivos e os negativos.
Comumente, prendemo-nos às nossas noções e não percebemos suas evidentes limitações, que são as falsas percepções do mundo, as quais Bacon chama de ídolos. Essas impedem chegar à verdade, pois as pessoas costumam pensar, erroneamente, que seus sentidos são "a medida das coisas". Conclui, então, o autor de "Novum Organum", que o método não deve ser refutar os princípios, mas encaminhar os indivíduos aos próprios fatos particulares, para que eles mesmos percebam os equívocos e renunciem às suas noções.
A partir desse ponto, pode-se conseguir o avanço da ciência, firmado na regulação da mente e na experimentação.

Heranças cartesianas

Descartes revela a importância de conhecer os hábitos de diferentes povos e daqueles que viveram nos séculos anteriores, para aprendermos a não considerar tudo aquilo que difere de nossos costumes como inferior ou menos racional. Essa análise pode-se aplicar ao próprio autor, cujo pensamento, embora sofra atualmenete contestações, possui alguns pontos aplicáveis à contemporaneidade.
Dentre eles destaca-se a experiência e a prática como princípios da busca da verdade. A ciência ganhou forte contribuição, haja vista que as especulações dos teóricos precisam ter experimentalmente seu caráter funcional comprovado.
Outro ponto relevante é a contestação da veracidade daquilo que lhe é apresentado. A dúvida é o princípio fundamental do método científico de Descartes, pois para encontrar a verdade refuta tudo o que gera incerteza com intuito de descobrir suas falhas e chegar no incontestável. Esse método deve ser aplicado por todos cotidianamente, considerando a excessiva carga de informações a que somos expostos, as quais exigem precauções quanto à sua autenticidade.
A leitura de textos escritos em outras épocas permite observar algumas questões neles constantes, tais como a busca do conhecimento da verdade. Entretanto, as opiniões de grandes filósofos muitas vezes divergem e dessa forma têm início novas discussões, devendo elas pautarem-se na razão, no bom senso e , claro, na experiência.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

O passado não é só o período que antecede o presente, é também sua fonte.

O Novum Organum é uma obra que vem, influenciada pela corrente de pensamento de sua época, tentar estabelecer um método para a construção da ciência, em contraposição ao modo em que o conhecimento era organizado até então, método esse que podemos classificar como Empirismo..
O Empirismo, embasado principalmente na prática e na experiência, é um legado que persiste até os dias de hoje na ciência, e que foi a doutrina seguida por muitos dos agentes do desenvolvimento científico do renascimento em diante.
Submetendo os conhecimentos anteriores à esse método, Bacon concluiu que muitos deles fugiam da esfera do real ou até mesmo eram falsos. Essa quebra de axiomas antigos, a valorização das ciências naturais e as críticas à efetividade do raciocínio humano quando funcionava ingenuamente foram cruciais para o pico de desenvolvimento científico que seguiu o momento histórico em que vivia.
Mas, apesar de em seu contexto histórico essa filosofia ter sido de suma importância, há também de se levantar questionamentos quanto a ela. Não há também possibilidade de erro no raciocínio humano no processo de experimentação? Não seria o trabalho com casos particulares um cabresto que impede de se enxergar o todo? Tal discussão persiste até os dias de hoje, o que prova a força da teoria desenvolvida na obra, e de sua importância na discussão sobre o conhecimento humano.

domingo, 24 de abril de 2011

Ordem (ou unificação) e progresso

Em "Curso de Filosofia Positiva", Augusto Comte defende que para o progresso das ciências é necessária a existência de um único método de estudo, o qual se iniciaria com a abordagem de princípios gerais e simples e gradativamentente se estenderia a princípios específicos e complexos. Partindo desta ideia, Comte sustenta que filosofia natural se divide nas seguintes ciências(da mais geral e simples para a mais específica e complexa, respectivamente):matemática, astronomia, física, química, fisiologia e física social. Essa divisão apresenta um posto qustionável no que concerne à classificação da astronomia como a segunda ciência menos complexa, uma vez que essa ciência pode ser explicada pela matemática, física química e fisiologia. Isso é exemplificado pelo fato de que os fenomenos astronômicos possuem-além de propriedades explicáveis pela matemática-aspectos químicos, fisicos e fisiológicos, como é o caso dos corpos celestes( que são costuídos por elementos químicos e estão sujeitos às leis da física).
Jà existência de um único método de estudo das ciências revela-se ao mesmo tempo benéfica e utópica. Benéfica na medida em que evitaria no meio ciêntífico discordâncias acerca dos métodos de classificação e da nomenclaturas, permitindo aos cientistas em geral uma noção clara acerca das publicações científicas e do trabalho de outros ciêntistas. Tal noção clara possibilitaria que cientistas de diferentes áreas se auxiliassem para a solução de problemas que demandam conhecimentos em uma pluralidade de âmbitos da ciência. O aspecto utópico da existência de um único método de estudo das ciências decorre do caráter efêmero dos métodos de estudo, sujeitos a mudanças no decorrer do processo histórico. Tal caráter dá margem para que diversos métodos de estudo convivam em um mesmo período, uma vez que as referidas mudanças não se processam instantaneamente.

Curso de Filosofia Positiva - Augusto Comte

Ao estudar a história do conhecimento, Comte chega à conclusão de que esse teve três fases: primeiro, a teológica, depois, a metafísica e, finalmente, a positiva, que seria a ciência de feição experimental e racional nascida, para os ramos do conhecimento da natureza, no séc. 16. Observando que a investigação que tinha o meio social como objeto ainda não se encontrava na fase positiva, e achando que essa forma era superior as demais no que produzia de conhecimento, o autor defendeu a criação de um novo campo de estudo, a física social, que teria como característica o olhar científico sobre a sociedade. Nesse contexto, não sei se estou certo, mas as justificativas divinas e transcendentais do direito natural seriam um exemplo do que Comte via como o domínio dos modelos de pensamento do passado sobre o estudo social.

A seguir, falando da ciência em sentido amplo, o autor diz que o filósofo positivista deveria preocupar-se em desvendar as leis que descrevem os fenômenos (naturais ou sociais) e não os motivos absolutos que são suas causas. Esses, para ele, seriam inalcançáveis ao entendimento humano porque não podem ser observados e, por isso, investigados. Comte também critica a visão pragmática da ciência inspirada por Bacon, para a qual toda investigação deveria, antes de se iniciar, ter no seu horizonte uma descoberta com função prática. Para sustentar sua argumentação, dá exemplos de "descobertas" da ciência pura que, sem destinação prática quando foram produzidas, serviram, às vezes séculos depois, para apoiar inovações que viriam a facilitar a vida humana.

Por fim, é interessante também a crítica que o autor faz à fragmentação do conhecimento científico. Defende, para combatê-la, que a formação do cientista deve passar primeiro pelo estudo dos aspectos mais gerais de todas as ciências para só depois ingressar no estudo apronfudado de um campo específico. Esse modelo de educação parece que foi inpiração para o adotado em muitos países, inclusive o nosso, onde, no ensino médio, o estudante é apresentado às linhas gerais de vários ramos da ciência para que só depois, na universidade, se dedique especificamente a um deles com ênfase diferenciada.

sábado, 23 de abril de 2011

Avante, humanidade!

Sendo o primeiro a utilizar o termo "sociologia", Comte cria mais do que uma teoria. Com sua linguagem rebuscada e inspirado na sua esposa falecida, inaugura uma nova religião, um pensamento que, segundo ele, deveria nortear todos os seres na busca do conhecimento. A religião da Humanidade, está presente até hoje em muitos países, inclusive no Brasil. Seu método de pesquisa, buscando o distanciamento do observador preservaria o objeto pesquisado das influências de valoração. Sua forma de pensar seria submeter a imaginação e a argumentação à observação, fato que demonstra grande influência de Bacon e Descartes. A diferença para o empirismo puro se encontra no fato de que não são analisadas as causas dos fenômenos, apenas suas leis puras.
A filosofia comteana tem como carro-chefe seu conhecido tema, expresso em nossa bandeira: "Ordem e Progresso"; ou seja, buscar sempre o melhoramento contínuo da humanidade aliando estabilidade à atividade. Outro lema do método positivista seria o "ver para prever", no qual fica demonstrada a teoria de que, a partir do momento que acompanhamos um fenômeno e a sua relação com outros fenômenos, somos capazes de prever seu desenrolar, o que nem sempre constitui a verdade, já que sempre nos deparamos com fatos ainda estranhos à ciência, o que abre um leque de possibilidades.
Hoje em dia, a tão criticada filosofia comteana por ser "pouco revolucionária", é muito mais aplicável à economia do que qualquer teoria que busque uma mudança revolucionária pois seria irreal. Buscar a ordem é algo bom, calar o ser humano que é inadmissível. Ordem não é necessariamente equivalente à repressão, um contrato social seguido e aceito por todos não deixa de ser ordem. Seguindo-se esses preceitos, inevitavelmente se encontrará o progresso efetivamente.


sexta-feira, 22 de abril de 2011

Auguste Comte e a Filosofia Positiva.

Em 'O discurso sobre o espírito positivo', Auguste Comte define e explica a filosofia positiva, de forma a expor as condições para o estabelecimento do regime positivo. Sua obra revela a oposição direta e radical da escola positiva, a qual considera bastante orgânica e progressiva, em relação às escolas teológica e metafísica, que segundo Comte, comportam perigo de retrocesso ou de anarquia. Revela que a escola positiva tende, de um lado, a consolidar todos os poderes atuais, sejam quais forem seus possuidores; de outro, a impor-lhes obrigações morais cada vez mais conformes às verdadeiras necessidades dos povos. Para isso, o positivismo exige diretamente o espírito em conjunto e a instituição da classe proletária (ou das classes mais inferiores, sem fazer com que o seu ensino venha a excluir outra classe qualquer); e procura constantemente o afastamento de preconceitos e paixões, por sua vez, inerente aos proletários.
Pode-se dizer que o conhecimento positivo busca "ver para prever, a fim de prover" - ou seja: conhecer a realidade para saber o que acontecerá a partir de nossas ações, para que o ser humano possa melhorar sua realidade. Dessa forma, a previsão científica caracteriza o pensamento positivo.
Adotando os critérios histórico e sistemático, outras ciências abstratas antes da Sociologia, segundo Comte, atingiram a positividade: a Matemática, a Astronomia, a Física, a Química e a Biologia. Assim como nessas ciências, em sua nova ciência inicialmente chamada de física social e posteriormente Sociologia, Comte usaria a observação, a experimentação, da comparação e a classificação como métodos - resumidas na filiação histórica - para a compreensão da realidade social. Comte afirmou que os fenômenos sociais podem e devem ser percebidos como os outros fenômenos da natureza, ou seja, como obedecendo a leis gerais; entretanto, sempre insistiu e argumentou que isso não equivale a reduzir os fenômenos sociais a outros fenômenos naturais (isso seria cometer o erro teórico e epistemológico do materialismo): a fundação da Sociologia implica que os fenômenos sociais são um tipo específico de realidade teórica e que devem ser explicados em termos sociais.
Em conformidade com 'O discurso sobre o espírito positivo', a escola positiva pede apenas, essencialmente hoje, o simples direito de asilo regular nos locais municipais, para aí fazer diretamente com que seja apreciada sua aptidão final para a satisfação simultânea de todas as nossas grandes necessidades sociais, propagando com sabedoria a única instrução sistemática que pode de agora em diante preparar uma verdadeira reorganização, primeiro mental, depois moral e, por fim, política. Sob essas condições, os filósofos positivos buscam a manutenção contínua da ordem interior e da paz exterior, pois vêem nisso, a condição mais favorável para uma verdadeira renovação mental e moral.

sábado, 16 de abril de 2011

Ponto de Reflexão

Em "Ponto de Mutação" Bernt Capra nos imerge no paradoxal mundo da epistemologia através de uma conversa entre uma cientista, um político e um poeta, em uma amálgama característica de Fritjof Capra, autor do romance original.
Em "O Tao da Física" Fritjof Capra estabelece relações entre a filosofia oriental e as novas descobertas da física quântica, em "Ponto de Mutação" a mistura não e menos estranha. A partir de conceitos da física moderna e da teoria dos sistemas, Sônia, a cientista, tenta apresentar a Jack, o político, uma visão de mundo muito diferente da qual não apenas ele, mas também nós estamos acostumados, a visão mecanicista, fundada em conceitos de antigos filósofos e cientistas como Descartes e Bacon.
A nova forma de ver o mundo proposta por Sônia, mais orgânica, propõe novas soluções para os problemas sociais que Jack está acostumado a combater de maneiras tradicionais, buscando estabelecê-los não como peças defeituosas em uma maquina, mas como nós em uma complexa teia de relações.
As opiniões de Sônia são aceitas com ressalvas por Jack, visto que na prática o político enfrenta resistências à sua ação, como lobbys, interesses políticos e problemas no sistema democrático.
Somando-se ao cenário, um castelo francês medieval, Thomas, o poeta, vem dramatizar ainda mais essa quase reflexão do mundo sobre si mesmo.

quinta-feira, 14 de abril de 2011


Já no início do filme “Mindwalk” é fácil perceber a singularidade do tema proposto. O filme gira em torno de uma interessante conversa entre uma cientista, um poeta e um político. Todos os personagens citados já são adultos e viveram algum tipo de crise existencial, talvez causada sonhos ou ideais frustados. De alguma forma essa conversa muda os personagens ao longo do filme.

Dentre os diversos assuntos e campos do conhecimento abordados, a discussão política se destaca. A cientista tenta doutrinar o político com a evolução do conhecimento, partindo de Descartes, ao mesmo tempo que mostra como a política não acompanhou a mesma. Ela afirma que na mente dos políticos o sistema cartesiano, que fraciona os problemas sociais, distorce a visão da real crise social. Então um novo sistema é proposto em oposição, que encara o problema como um todo, acreditando que só serão resolvidos através de um esforço conjunto, fazendo com que uma solução seja mais difícil e infinitamente mais eficaz.

Através dessa discussão, a ideia de que todo o universo está em constante mutação e uma teia de elementos liga as nossas vidas, faz com que surja uma noção cíclica da existência em si. Assim como uma lenda antiga da Europa Oriental, que era de grande valor na alquimia, propunha a mesma ideia na forma de uma serpente ou dragão que morde a própria cauda. Essa lenda representa o eterno ciclo da vida e o ser é conhecido com Uruboros.

Entre as diversas menções de obras feitas pelo poeta, a que mais me identifiquei é a de Lewis Carroll, em que o poeta cita o monstro “Jabberwocky”. Ele faz referência a esse ser que faz parte de um poema nonsense, conhecidos por representar uma confusão mental, para afirmar que alguém mais entenderia a fala da cientista. Apesar disso, o poeta está errado ao afirmar que esse monstro é do livro “Alice no País das Maravilhas”, já que ele só é mostrado na continuação “Alice Através do Espelho e O Que Ela Encontrou Por Lá”.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Bacon e a Internet

Quando Francis Bancon escreveu sobre os de ídolos da mente, certamente não imaginava que os tais bloqueadores da mente humana ganhariam um reforço tão poderoso: a Internet.

Com o advento das redes sociais e aperfeiçoamento dos sistemas de busca, a quantidade de informações disponíveis foi exacerbada. Muitas vezes as informações espalhadas são falsas, ou baseadas no senso comum. Há inclusive os chamados hoax, que são boatos que acabam sendo tomados como verdade pelos receptores, constituindo um exemplo do que Bacon classificaria como "ídolo do foro", que são as falsas noções provenientes da interação entre os seres humanos.

O processo de "cura da mente", como Bacon se refere, pode auxiliar na filtragem dos megabytes de informações aos quais somos expostos todos os dias, nos livrando das inesgotáveis antecipações que são divulgadas através da rede mundial de computadores.

Bacon dizia que "aquele que começa uma investigação repleto de certezas acabará terminando cheio de dúvidas. Mas aquele que começa com dúvidas poderá terminar com algumas certezas". Portanto, muito cuidado com as certezas que o Google traz.

A Revolução Cartesiana

Interdisciplinar, Descartes foi uma figura importantíssima do Iluminismo. Propôs uma ciência prática, clara e acessível. Queria criar um método universal inspirado em seus conhecimentos matemáticos e na razão.
E assim surgiu o método cartesiano, no qual todo conhecimento não fundamentado era simplesmente excluído, restando apenas a verdade. Ou seja, o ceticismo como método científico. Como forma de facilitar a separação entre verdadeiro e falso, Descartes propôs a decomposição do assunto de interesse em partes isoladas, fragmentadas, para que ao se estudar cada uma delas, se obtenha uma conclusão sobre o todo.
Esse método de investigação é o empregado atualmente nas ciências. Os assuntos são estudados de forma bem específica. O cientista não se debruça sobre questões amplas, pois isso dificultaria a sua análise.
Descartes nasceu sob forte influência da Igreja, num sistema feudal. Sua célebre frase "penso, logo existo" quebrou paradigmas da época e sua obra foi fundamental para o desenvolvimento da matemática e da física, através de cientistas como Isaac Newton, que usaram o método cartesiano em suas experiências.
Descartes nasceu sob forte influência da Igreja, num sistema feudal. Sua célebre frase "penso, logo existo" quebrou paradigmas da época e sua obra foi fundamental para o desenvolvimento da matemática e da física, através de cientistas como Isaac Newton, que usaram o método cartesiano em suas experiências.