Vive-se hoje no diálogo entre Camilo e Dinho. Agrega-se faltas biológicas a entes diferentes, a ponto de que se obrigue as estes carregarem provas de moralidade e que, privando o ato mais lépido, instaure uma sensação de segurança homogênea; a visão monocromática do branco agrada mais. Contudo, induzido aos reais axiomas por Bacon e convencido, por Descartes, ao império da dúvida, notas ficais e impedimentos corriqueiros parecem crassos delitos à razão.
Imbuído de um espírito aventureiro, a busca pela verdade leva o filósofo francês a conhecer todas as arestas de mundo, todas as disparidades de pele, cor e pensamento que o fez viajar em si mesmo e criticar suas próprias bases a ponto de instaurar o império da dúvida. Como se pode existir segundo Descartes? Pela certeza de que a dúvida cria vida, pela espontaneidade do pensar. E se os preconceitos são tão fortes que se questione a moralidade do ser alheio, a lógica de pensar e, portanto, existir cai por terra; o questionamento deve ser privado, para que nele se alcance as arestas, o ser diferente que existe por si só. Notas fiscais atestam a morte do eu, por não haver a busca pelo intrínseco e sim, pelo aparente na face de outrem.
Já em terras britânicas, pode-se absorver a brilhante base da indução, sempre próxima e nunca pré-concebida. A filosofia baconiana instaura que a experiência nua é cega e as noções passadas, néscias. Logo, o senso comum de demarcação de perigo é perigoso em si mesmo, pois se a base experimental está na observação distante do outro, o axioma nunca é perfeito e o preconceito reina. A indução é imperativa, deve-se se sentir de perto uma realidade alheia, pra que simples atos como uma corrida não pareçam disparates à ordem pública.
Ser cartesiano não significa ser exato, significa ser objetivo nos juízos, para que ídolos da tribo humana não ofusquem a razão. Existem inúmeros Camilos no presente, que perdem o direito ao tato da vida pois filósofos teatrais criaram ídolos nos fundamentos da sociedade e tiraram a dúvida da mente social, acreditam sempre estarem certos em seus preconceitos.
Este é um espaço para as discussões da disciplina de Sociologia Geral e Jurídica do curso de Direito da UNESP/Franca. É um espaço dedicado à iniciação à "ciência da sociedade". Os textos e visões de mundo aqui presentes não representam a opinião do professor da disciplina e coordenador do blog. Refletem, com efeito, a diversidade de opiniões que devem caracterizar o "fazer científico" e a Universidade. (Coordenação: Prof. Dr. Agnaldo de Sousa Barbosa)
terça-feira, 26 de março de 2019
A divergência da percepção sobre a realidade gerada pelo preconceito no meio social
As diferentes
experiências nas quais cada indivíduo vivencia em sociedade, promovem distintas
percepções e pontos de vista sobre a mesma realidade. Como já dizia Descartes,
nenhum ser humano tem mais razão que outro, mas mesmo assim há equívocos de
juízo que podem ser gerados por conta das nossas diferenças.
O que é esclarecido por
Bacon, que explicava as distorções da visão sobre a realidade com o que ele
chamava de ídolos, que eram as falsas percepções sobre o que é real, ou as
antecipações da mente. Há várias categorias de ídolos, os da Caverna e o do Foro,
remetem tanto a distorções causadas pela relação do homem com o mundo a sua
volta quanto à própria socialização do homem. O que mostra que Francis Bacon
admite que a vivência em sociedade influencia o homem.
Portanto, o ser humano
está vulnerável à se influenciar com todas as ideias e preconceitos intrínsecos
a sociedade e isso gera a maioria das divergências de vivência na qual um ser
humano está submetido. Já que há um grande abismo de diferença de
oportunidades, experiências e acontecimentos entre quem carrega o preconceito e
quem é vítima do mesmo.
Por isso, na tirinha
apresentada em sala de aula, Dinho e Camilo, mesmo convivendo no mesmo âmbito
social, vivem experiências muito distintas na mesma realidade, pois um é branco
e nunca teve que lidar com o preconceito, já o outro está constantemente
inseguro pela sua condição racial e isso gera as prováveis diferentes percepções
sobre a mesma realidade.
Mais que conhecer, vivenciar.
Bacon, filósofo empirista, formulador do método empírico indutivo, ao tratar sobre os ídolos -fatores capazes de influenciar negativamente a busca científica pela verdade- demonstrou que as experiências individuais são propensas à influenciar as atitudes das pessoas, ainda que de forma subjetiva. Já René Descartes, filósofo racionalista, ao propor o método cartesiano acreditava encontrar na razão a única forma de atingir o verdadeiro conhecimento.
Partindo dessas diferentes concepções, ao analisar as tiras de Alexandre Beck é possível verificar a aplicação da teoria de Bacon acerca da relevância da obtenção do conhecimento através da prática, haja vista que o personagem Camilo ao ver o policial, automaticamente, o ligou a antigas situações por ele vividas, seus familiares e amigos, em virtude da cor de sua pele, relacionando assim a figura do oficial a violência e ao perigo, enquanto Dinho não teve a mesma reação, pois não vivencia o preconceito cotidianamente como seu amigo. Analogamente, na outra tira do autor, novamente é evidenciado a forma que o racismo, recorrente no Brasil, cria no personagem Camilo um conhecimento empírico que o faz criar hábitos que são estranhos a quem, baseado na razão e nas próprias vivências, como Dinho, não sofre com o preconceito.
Nesse contexto, vale ressaltar a teoria de Oracy Nogueira acerca do racismo, o qual afirma que existem duas vertentes dessa problemática, o de origem -preconceito baseado no genótipo- e o de marca -baseado no fenótipo- sendo, segundo o sociólogo, assim como exposto na tira, preponderante no Brasil o racismo de marca, o qual afeta a vida de milhares de indivíduos, como nas situações mostradas pela tira.
Em suma, por meio dos quadrinhos ficou evidente que, embora a razão seja um instrumento de grande importância na formulação do conhecimento, ela não deve ser a única coisa a ser levada em consideração ao analisar o comportamento humano, haja vista que a experiência é capaz de produzir conhecimento de forma igualmente relevante.
Danieli Calore Lalau- Direito Noturno.
Até onde o pensamento pode ajudar
Descartes e Bacon são diferentes em vários aspectos mas ambos se relacionam quando tratam de certa forma sobre a psique humana mesmo que a diferença entre sempre questionar para alcançar a verdade e o controle do pensamento para não deixar que chegue a uma conclusão errada seja muito grande.
Entretanto o melhor dos pensamentos que utilize os mecanismos desses pensadores pode ajudar a ter uma boa vida ? Saber o que um homem representa, seus desejos e vícios tem serventia para quem não pode utilizar esse conhecimento ? A resposta é obviamente NÃO, um exemplo ótimo para retratar essa reflexão é a tirinha de Alexandre Beck "Armandinho" retratando uma coisa cotidiana no Brasil chamada racismo onde em algumas de suas tirinhas o personagem Camilo não tem a possibilidade de ser igual a seu amigo Dinho, podendo usufruir dos mesmo direitos e nem de poder ter seus próprios questionamentos já que há uma imposição clara de sociedade contra o garoto , ele não pode querer pensar além do imposto. Essas limitações que o Camilo tem fazem com que o personagem não possa chegar a experimentar as pesquisas de Descartes em primeira mão no que se refere a ter o direito de trafegar por tantos países a ponto de dizer que a verdade não pode ser obtida dessa maneira, e até mesmo as reflexões sobre ídolos da humanidade se tornam vazias para um menino que precisa só se atentar a sua sobrevivência e que talvez para isso necessite se apegar a um desses ídolos. A desigualdade transcende os tempos e por muito impede a real reflexão da verdade, não há interesse de pesquisa ou de compreensão para aqueles que devem temer os da sua própria especie.
CARLOS EDUARDO T.N.FELIX/MATUTINO
Entretanto o melhor dos pensamentos que utilize os mecanismos desses pensadores pode ajudar a ter uma boa vida ? Saber o que um homem representa, seus desejos e vícios tem serventia para quem não pode utilizar esse conhecimento ? A resposta é obviamente NÃO, um exemplo ótimo para retratar essa reflexão é a tirinha de Alexandre Beck "Armandinho" retratando uma coisa cotidiana no Brasil chamada racismo onde em algumas de suas tirinhas o personagem Camilo não tem a possibilidade de ser igual a seu amigo Dinho, podendo usufruir dos mesmo direitos e nem de poder ter seus próprios questionamentos já que há uma imposição clara de sociedade contra o garoto , ele não pode querer pensar além do imposto. Essas limitações que o Camilo tem fazem com que o personagem não possa chegar a experimentar as pesquisas de Descartes em primeira mão no que se refere a ter o direito de trafegar por tantos países a ponto de dizer que a verdade não pode ser obtida dessa maneira, e até mesmo as reflexões sobre ídolos da humanidade se tornam vazias para um menino que precisa só se atentar a sua sobrevivência e que talvez para isso necessite se apegar a um desses ídolos. A desigualdade transcende os tempos e por muito impede a real reflexão da verdade, não há interesse de pesquisa ou de compreensão para aqueles que devem temer os da sua própria especie.
CARLOS EDUARDO T.N.FELIX/MATUTINO
O racismo velado na sociedade e o pensamento metódico
Foram colocadas como objeto de estudo da semana o personagem "Armandinho" e seu amigo camilo. No primeiro cartum, duas crianças andando de bicicleta. Nada que a racionalidade apontasse como absurda ou incoerente - até o menino Camilo ser questionado sobre a veracidade de ser dono de sua bicicleta. Ao pedir a nota fiscal, o policial induz Armandinho ao questionamento da própria vivência, e gera nele o desconforto de quem não sabe o por que de tal ação. Para Camilo, visto sua experiência de situações anteriores, não usou a razão para questionar o por que de tal indagação, mas lhe entregou logo a nota fiscal. A antecipação do pensamento, vinda do policial, concluiu que o menino podia não ser dono da bicicleta. Nessa situação, diversos pensamentos são confrontados, mas todos levam ao mesmo ponto : todas as pessoas da tira ( Armandinho, Camilo e o policial) tiveram que repensar suas convicções, embasados na sua própria experiência e naquilo que lhes era posto como verdade.
Na segunda tira, Armandinho convida Camilo para correr, mas este nega o convite e diz que não pode já que tem um policial por perto. O estigma do negro na sociedade é a antecipação da mente - em minha opinião - mais cruel e irracional que existe.
A resposta de Camilo " não é seguro para mim" e a imagem de ao lado do policial uma pessoa branca, demonstra a falha do pensamento crítico de toda uma sociedade embasada no senso comum. Seguí-lo é muito fácil- " todo negro é favelado e ladrão"- o desafiador é sair da zona de conforto de uma sociedade de racismo velado e questionar metodicamente como Descartes a autenticidade do pensamento produzido por terceiros. Uma sociedade só se transforma se a razão tiver funcionalidade e ousar discordar do que lhe é imposto como verdade.
Maria Júlia Fontes Fávero- Direito Matutino
Na segunda tira, Armandinho convida Camilo para correr, mas este nega o convite e diz que não pode já que tem um policial por perto. O estigma do negro na sociedade é a antecipação da mente - em minha opinião - mais cruel e irracional que existe.
A resposta de Camilo " não é seguro para mim" e a imagem de ao lado do policial uma pessoa branca, demonstra a falha do pensamento crítico de toda uma sociedade embasada no senso comum. Seguí-lo é muito fácil- " todo negro é favelado e ladrão"- o desafiador é sair da zona de conforto de uma sociedade de racismo velado e questionar metodicamente como Descartes a autenticidade do pensamento produzido por terceiros. Uma sociedade só se transforma se a razão tiver funcionalidade e ousar discordar do que lhe é imposto como verdade.
Maria Júlia Fontes Fávero- Direito Matutino
Facilidade de estar a favor da maré e injustiças
Certa vez, Descartes disse-nos
que deveríamos questionar tudo aquilo que nos parecesse verdadeiro à primeira
vista, já que somos enganados por nossos próprios sentidos. Seguindo a mesma
linha de raciocínio, Francis Bacon relatou que os homens são dotados de ídolos que os levam a uma falsa percepção de mundo. Assim, ambos os filósofos buscaram mostrar
ao homem como sua percepção de mundo pode estar errada e corrompida por
preconceitos e interesses pessoais, além de apresentar-lhe métodos para
solucionar o problema.
Porém, ao analisarmos o passado
histórico e a realidade atual do povo negro, observamos que: apesar de séculos
terem se passado, o homem ainda não conseguiu evoluir até esse ponto. Tomado
pela facilidade “remar a favor da maré”, o homem não questiona comportamentos socialmente
aceitos, que na verdade não passam de comportamentos preconceituosos e
racistas, e que, ideologicamente, servem para manter a sociedade exatamente
como ela é, ou seja, servem apenas para evitar que ela sofra transformações que
prejudiquem aqueles que realmente detêm o poder.
Como um dos exemplos mais
explícitos, temos o estereótipo criado em torno do negro: pensa-se o negro como
um ser humano de classe baixa, desprovido de cultura e na maioria das vezes
criminoso. E o não questionamento desse estereótipo é capaz de criar inúmeras
injustiças, como é o caso da diferença do tratamento policial entre um cidadão
branco e um negro (observado nas tirinhas a baixo), além de ser capaz de manter
a marginalização social desse povo.
Assim, tendo como objetivo o bem comum e a igualdade entre os seres humanos, é necessário que o homem abdique a comodidade de aceitar tudo aquilo que lhe é imposto, e passe a questionar a realidade a sua volta e os ídolos existente nele. Só assim, a humanidade será capaz de formar uma sociedade igualitária e desprovida de injustiças.
Bianca Garbeloto Tafarelo (Direito - Matutino)
A naturalização racional do racismo.
A perspectiva de que o conhecimento científico deve ser pautado nos mais altos graus de racionalidade e objetividade- visões de Descartes e Bacon, século XVII- produz efeitos tanto positivos como negativos. Tendo em vista a produção de conhecimento na contemporaneidade pautada em distintas concepções, construções racionais, questões como o racismo e seus reflexos sobre a estrutura social podem ser analisadas a partir dos efeitos de tal visão sobre a perpetuação de ideias, exercícios racionais.
Tendo em vista que, por muito tempo, discussões acerca da produção de saberes foram restritas a certos grupos detentores de poder e influência, estereótipos foram formados sobre determinados grupos, minorias- alvos de inferiorização e preconceitos. A partir disso, interpretações sobre o racismo hoje devem transcender os limites do tratamento deste como legado histórico, devendo, na verdade, ser interpretado como resultado de uma construção racional dogmática de percepções arraigadas na mente humana ao longo do processo de estruturação social. Visões de inferiorização do negro são, portanto, resultantes de uma formação racional padrão equivocada cultivada no decorrer do desenvolvimento social, científico e cultural.
Nesse sentido, preconceitos são consolidados através da racionalização de interpretações moldadas por visões limitadas e desprovidas de experiência de exercício de luta por igualdade. Dessa forma, é dada a naturalização do racismo por mera incapacidade de abandono do conhecimento estigmatizado racional impregnado na subjetividade de formação de muitos indivíduos.
Tendo em vista que, por muito tempo, discussões acerca da produção de saberes foram restritas a certos grupos detentores de poder e influência, estereótipos foram formados sobre determinados grupos, minorias- alvos de inferiorização e preconceitos. A partir disso, interpretações sobre o racismo hoje devem transcender os limites do tratamento deste como legado histórico, devendo, na verdade, ser interpretado como resultado de uma construção racional dogmática de percepções arraigadas na mente humana ao longo do processo de estruturação social. Visões de inferiorização do negro são, portanto, resultantes de uma formação racional padrão equivocada cultivada no decorrer do desenvolvimento social, científico e cultural.
Nesse sentido, preconceitos são consolidados através da racionalização de interpretações moldadas por visões limitadas e desprovidas de experiência de exercício de luta por igualdade. Dessa forma, é dada a naturalização do racismo por mera incapacidade de abandono do conhecimento estigmatizado racional impregnado na subjetividade de formação de muitos indivíduos.
Tais interpretações elencam situações de racismo no cotidiano social e atingem tamanha profundidade, que a regulação de ações por parte de indivíduos alvos desse preconceito torna-se algo também naturalizado- fato retratado em tirinhas de Alexandre Beck, nas quais tal naturalização é ilustrada pela postura de uma criança negra frente a fatos do cotidiano onde reina o racismo.
Dessa forma, ao se tratar a naturalização do racismo como resultado de um processo racional, perspectivas sobre a concepção de que "a racionalidade sempre busca obtenção objetiva de conhecimento em prol do bem comum" devem ser refletidas. Por conseguinte, combater o racismo e promover a desnaturalização de visões e ações preconceituosas reinantes no cotidiano contemporâneo é essencial para interromper um ciclo doentio de perpetuações um tanto irracionais à humanidade.
Lorena Yumi Pistori Ynomoto- Direito- noturno
Lorena Yumi Pistori Ynomoto- Direito- noturno
Racismo: o intelecto desamparado
"Muito grande deve ser a preocupação para que o intelecto se mantenha íntegro e puro."
Francis Bacon, aforismo LVIII
A decorrente análise sociológica do racismo será feita tomando como base os dizeres de René Descartes e Francis Bacon nas obras 'O Discurso do Método' e 'Novum Organum', dos respectivos pensadores.
"Ao considerar que os nossos sentidos às vezes nos enganam, quis presumir que não existia nada que fosse tal como eles nos fazem imaginar."
René Descartes
"Os sentidos (...) são algo débil e enganador."
Francis Bacon, aforismo L
Através dessa sentença, René Descartes e Francis Bacon - ilustres filósofos - demonstram de maneira certeira sua desconfiança acerca daquilo que provém dos sentidos humanos. Os estudiosos abordam tais vieses do conhecimento como incompletos e até mesmo falhos. Nessa linha de raciocínio, sabido que o preconceito em relação ao negro é algo concomitante à história étnica do Brasil, faz-se entender que o racismo é um desdobramento do intelecto amparado apenas pelas habilidades sensoriais humanas, as quais sem o filtro da razão, proposto por Descartes, nos levam a conhecimentos errôneos tal qual a noção da divergência entre as pessoas pautada na coloração de suas peles.
"O intelecto humano, por sua natureza, tende ao abstrato, e aquilo que flui, permanente lhe parece."
Francis Bacon, aforismo LI
"Aprendi a não acreditar com demasiada convicção em nada do que me havia sido inculcado só pelo exemplo e pelo hábito"
René Descartes
Nessa citação baconiana, podemos tratar o pensamento racista como uma abstração humana criada em prol de um contexto específico. Se considerarmos o sistema escravocrata vigente no Período Colonial brasileiro como o estopim das desigualdades raciais, concluímos ser essa a fonte da abstração preconceituosa que perdura até hoje. Em somatório a isso, em conformidade à afirmação do pensador acima apontado, entende-se (com infelicidade) que a fluidez, isto é, a realização duradoura e naturalizada da escravidão brasileira tornou a suposta inferioridade dos negros uma noção permanente e que vem ultrapassando a mentalidade de inúmeras gerações da nação. O hábito e o exemplo, portanto, fortemente inculcaram o desrespeito contra a pele preta na sociedade brasileira.
Feitas as devidas análises acerca do racismo como um desamparo do intelecto humano e fruto de escassa racionalidade, torna-se viável a interpretação das tiras satíricas apresentadas aos alunos em sala de aula. Ambas as obras estudadas abordam o racismo na atualidade e, principalmente, seu desdobramento nas relações sociais. Deparamo-nos com formas de tratamento discrepantes quando o alvo em questão é negro. Inconscientemente ou não, houve pré-julgamento da autoridade ao dirigir-se às crianças: a desconfiança acerca da legalidade dos atos e posses das personagens negras é ausente quando se trata das personagens brancas ou, até mesmo, amarelas. Isso demonstra claramente a herança histórica envolvendo as etnias constituintes do Brasil. Equivocadamente, infere-se ainda hoje que a cor da pele designa caráter até que se prove o contrário.
Encerro minha postagem com um pedido breve, mas detentor de máxima urgência: igualdade racial!
"Procure, enfim, eliminar, com serenidade e paciência, os hábitos pervertidos já profundamente arraigados na mente. Aí então, tendo começado o pleno domínio de si mesmo, procure fazer uso de seu próprio juízo."
Francis Bacon, prefácio do autor
Marco Alexandre Pacheco da Fonseca Filho
Direito Diurno, UNESP Franca - Turma XXXVI
Estudos de uma sociedade que parou no tempo
A sociedade
continua com suas ideias petrificadas na mente, seja na época de Descartes e
Bacon, seja hoje. O método criado por Descartes, o qual eleva o método, mesmo
que esse seja ainda orientado pela razão acaba por demonstrar que as falsas
ideias existentes são totalmente consumidas pela base teórica da metodologia.
Sendo capaz de
entrar e um conceito de Bacon: “antecipação da mente”, onde os conceitos já
estão fundamentados na mente daquele que utiliza a oratória ou o pensamento
comum social. Como grande exemplo temos a tirinha de Armandinho, a qual nos
gera desconforto por sua veracidade. A população negra não tem a ideia de
segurança que o senso comum tem, pois pelo contrário são os alvos da repressão da
segurança que a sociedade tem idealizada. Além disso, a “antecipação da mente”
na própria polícia que preconcebe a imagem de um meliante como sendo negro,
dessa forma a tirinha acaba por fragmentar-nos a consciência e razão
corriqueira que nos passa pela mente de igualdade e segurança a todos, levando-nos
a reflexão da experiência que Bacon afirma ser necessária para a formação do
pensamento.
Além desta
tirinha, a seguinte, sobre a nota fiscal pedida pelas crianças e na visão do
personagem branco ser algo inconcebível, novamente vemos a experiência se
sobrepondo apenas a razão, pois Camilo (negro) a possuía e apresenta-a da
maneira mais natural esboçada. Desta maneira representando mais um conceito:
“Vontade do mundo”, aquilo que apenas é, acima das vontades e desejos, das
emoções e até mesmo da razão, a vontade do mundo é algo além da simples
explicação. Esta então subjuga o negro a mostrar a nota fiscal para reafirmar
ser dono de um objeto que em tese não poderia ser. Deste modo a experiência se
mostra necessária e até mesmo separada do racional, mostrando que a metodologia
e o Novum Organum se complementam na
tentativa de analisar a sociedade e seu modelo de produção científico e
cultural.
Gabriel Luiz Gonçalves da Silva - direito matutino
Como se conhece a realidade
Foram-nos expostas, em
sala de aula, duas tirinhas do personagem “Armandinho”, do cartunista Alexandre
Beck. A primeira continha uma situação, de início, ordinária. Duas crianças
andando de bicicleta na rua. No decorrer do cartum, surge um policial, que
questiona as personagens acerca da nota fiscal dos veículos com que brincavam.
A segunda discorre sobre uma situação em que as mesmas personagens encontram-se
cogitando apostar uma corrida até uma terceira personagem, mas há um policial
atrás desta última. Contudo, uma das crianças diz que é perigoso para ela
correr até a amiga. A partir daí inicio a minha análise.
Ao procurar uma lógica para a história das duas tirinhas,
nossa mente pode-nos fazer pensar que a requisição do policial e o medo de a
garota correr são acontecimentos desconexos, tratando-se de um exagero cômico
sem nenhum propósito transcendente a isto. Todavia, isto seria uma ideia pronta
criada pela mente, ou como diria Francis Bacon, uma antecipação da mente. Esta
reflexão é transparecida pelas reações de Armandinho, que questiona o policial
sobre qual a necessidade de andar com a nota fiscal de um bem qualquer e
pergunta à amiga o motivo pelo qual não pode correr. Dessa forma, a fala do
personagem aproxima-se de uma análise na qual se deixou a mente ser guiada por
ela mesma, sem fazer uso da experiência.
O
elemento da experiência se faz evidente na ação da outra personagem. Esta é uma
garotinha negra. E diante disto e do fato de ela estar imbuída nota fiscal,
pode-se inferir que ela já havia passado pela experiência de ser abordada pela
polícia e questionada acerca da posse legal de algum bem que portava. Bem como,
ela apresentou medo de correr perto de um policial, o que indica que já passou
por uma experiência de repressão ao fazê-lo. Logo, a garota apenas chegou a
conclusão de que estaria mais bem protegida caso portasse o documento fiscal e
de que seria mais prudente não correr a partir da observação de uma experiência
vivida. Esta mesma forma de se chegar a um conhecimento é defendida por Francis
Bacon, só se chega a uma verdadeira interpretação da realidade a partir da
observação de uma experiência e uma racionalização da experiência.
Julgo
que a partir do método cartesiano, proposto por Descartes, seria mais difícil
para a garotinha chegar a conclusão das decisões que tomou. Visto que este
método se baseia apenas na mente e na dúvida. Isto é exemplificado pelos
questionamentos de Armandinho, uma vez que ele não conseguiu compreender as razões
da amiga agir de maneira diferente da dele através apenas do raciocínio lógico
que possuía.
Enfim,
concluo que a experiência auxilia mais na buscar do conhecimento que o
raciocínio puramente. Ao confrontar estas tirinhas, que tratam da dura
realidade da população negra jovem na sociedade brasileira, permite-se chegar a
ideia de como, por mais que se esforce, não há como saber realmente sobre algo
sem observar, ou no caso da tira, sofrer, o efeito de um fenômeno na prática. O
raciocínio nos permite projetar e criar expectativas sobre algo, porém jamais
nos permitirá conhecer a realidade das coisas.
Luiz Felipe de Aragão Passos - Direito Matutino.
Nota Fiscal e o racismo perpetuado pela sociedade
“Mas
quem ia carregar uma nota fiscal?”
A
situação é inusitada para a personagem Armandinho, afinal, para
ele, carregar uma nota fiscal de uma bicicleta nunca foi necessário,
pois nunca duvidaram de sua palavra. No entanto, para Camilo, a
situação é rotineira devido ao racismo que sofre todos os dias.
O
racismo é resultado de uma falsa percepção da realidade que está
enraizada na população brasileira. Essa falsa percepção é
resultado da antecipação da mente, também chamada de preconceito,
de acordo com o filósofo Francis Bacon. O preconceito impediu que o
policial compreendesse que o questionamento feito às personagens é
infundamentado.
Essa
falsa percepção é chamada de ídolos por Bacon e são
classificados em quatro: Ídolos da tribo, da caverna, do foro e do
teatro. O racismo pode ser considerado resultado dos ídolos da
caverna, os quais vinculam-se às relações estabelecidas pelo homem
com o mundo à sua volta e dos ídolos do foro, que referem-se ao
indivíduo e à influência de suas associações. Ou seja, o racismo
está enraizado na sociedade desde muito antes de sequer nascermos e
é transmitido através de discursos em casa, na escola, no trabalho
criados a partir do senso comum.
Dessa
forma, é possível perceber que ainda hoje, com todo o acesso à
informação, os ídolos ainda influenciam à sociedade a agir de
forma irracional. Esse pensamento pode ser relacionado com a teoria
de René Descartes que buscava, por meio da razão, superar as
superstições e equívocos que a mente humana gerava. Para o
filósofo, a ciência deve ser voltada para o bem do homem e,
portanto, pensar a partir dela, evitaria que o racismo se
perpetuasse.
Assim,
compreender que ainda temos ídolos, que eles afetam nossa percepção
real do mundo e que atitudes como a do policial na tirinha são
recorrentes e completamente influenciadas por um preconceito que
ainda aflige a sociedade, é necessário para buscar sair da bolha em
que vivemos e superar esses ídolos.
Beatriz Falchi Corrêa
Direito diurno
A persistência do racismo a partir de uma sociedade que não vê o negro como igualmente detentor de direitos
"Os
ídolos do foro são de todos os mais perturbadores: insinuam-se no intelecto
graças ao pacto de palavras e de nomes. Os homens, com efeito, crêem que a sua
razão governa as palavras". - Novum Organum, 1620.
"Foi o blindado, mãe. Ele não me viu com a roupa de escola?". - EL PAÍS, 2018
A estruturação do racismo e do papel que cabe ao negro na sociedade parte, em diversos aspectos, de um processo muito similar à criação dos Ídolos do Foro presentes na literatura baconiana. Mais que a reflexão do que teria feito um funcionário do Estado assassinar uma criança uniformizada em uma operação no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, deve-se também questionar o porquê existe uma conformação, por parte da sociedade, de que esse tipo de violação de direitos é comum à população negra.
Primeiramente, é imprescindível resgatar os papéis em que esteve inserido o negro na formação do Brasil Republicano. Após 1888, com a publicação da Lei Áurea, milhares de seres humanos que haviam sido escravizados por anos foram libertos. Sem nenhum tipo de política de assistência ou de inserção nas estruturas sociais, esses antigos escravos e, por conseguinte, seus descendentes, encontraram-se em situação de miséria, empurrados para as periferias dos centros urbanos. Instaura-se, a partir daí, uma dualidade não oficializada na garantia de direitos e aplicação da legislação, uma específica para brancos e outra para negros, mesmo com constituições que visavam a suposta igualdade entre todos os cidadãos.
Considerando aspectos como a repressão policial e a associação da imagem do negro à criminalidade, pode-se racionalizar o racismo ao método cartesiano e compreendê-lo como uma construção histórico-social. Lê-se com frequência nos jornais, por exemplo, noticias sobre roubos. Nos casos em que os criminosos são brancos, encontra-se na manchete palavras como "adolescentes", "jovens" e, em alguns mais pretensiosos, o acompanhamento da classe social, como "média alta" e "alta". Em contrapartida, quando se trata de criminosos negros, as manchetes apontam para expressões como "bandidos" e "ladrões", como se esse tipo de conduta já fosse esperada e estivesse normalizada entre as pessoas negras. Este tipo de retratação, sempre como uma pessoa constantemente perigosa ou culpada, proveniente dessa "experiência" construída pelo racismo, é observada nas tirinhas de Alexandre Beck, nas quais uma das crianças, negra, precisa ponderar cada uma de suas ações e estar sempre atenta aos casos de abuso, sobretudo àqueles advindos de autoridades do próprio Estado (a exemplo da figura do policial).
No final desse processo se obtém uma racionalização do racismo, isto é, a partir da suposta experiência de que os negros são criminosos e estão acomodados com suas posições de subalternidade na sociedade, se estabelece um pensamento de conformidade com a situação, uma vez que, partindo dessa mesma razão, estes estariam submetidos a um outro tipo de tratamento civil e jurídico, o que justificaria os assassinatos de crianças negras nas periferias, os abusos policiais, o estranhamento ao ver negros em cargos de poder e demais situações que evidenciam o racismo no Brasil contemporâneo, ou seja, a não consideração dessa parcela da população como detentora dos mesmos tipos de direitos que os demais cidadãos.
"Foi o blindado, mãe. Ele não me viu com a roupa de escola?". - EL PAÍS, 2018
A estruturação do racismo e do papel que cabe ao negro na sociedade parte, em diversos aspectos, de um processo muito similar à criação dos Ídolos do Foro presentes na literatura baconiana. Mais que a reflexão do que teria feito um funcionário do Estado assassinar uma criança uniformizada em uma operação no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, deve-se também questionar o porquê existe uma conformação, por parte da sociedade, de que esse tipo de violação de direitos é comum à população negra.
Primeiramente, é imprescindível resgatar os papéis em que esteve inserido o negro na formação do Brasil Republicano. Após 1888, com a publicação da Lei Áurea, milhares de seres humanos que haviam sido escravizados por anos foram libertos. Sem nenhum tipo de política de assistência ou de inserção nas estruturas sociais, esses antigos escravos e, por conseguinte, seus descendentes, encontraram-se em situação de miséria, empurrados para as periferias dos centros urbanos. Instaura-se, a partir daí, uma dualidade não oficializada na garantia de direitos e aplicação da legislação, uma específica para brancos e outra para negros, mesmo com constituições que visavam a suposta igualdade entre todos os cidadãos.
Considerando aspectos como a repressão policial e a associação da imagem do negro à criminalidade, pode-se racionalizar o racismo ao método cartesiano e compreendê-lo como uma construção histórico-social. Lê-se com frequência nos jornais, por exemplo, noticias sobre roubos. Nos casos em que os criminosos são brancos, encontra-se na manchete palavras como "adolescentes", "jovens" e, em alguns mais pretensiosos, o acompanhamento da classe social, como "média alta" e "alta". Em contrapartida, quando se trata de criminosos negros, as manchetes apontam para expressões como "bandidos" e "ladrões", como se esse tipo de conduta já fosse esperada e estivesse normalizada entre as pessoas negras. Este tipo de retratação, sempre como uma pessoa constantemente perigosa ou culpada, proveniente dessa "experiência" construída pelo racismo, é observada nas tirinhas de Alexandre Beck, nas quais uma das crianças, negra, precisa ponderar cada uma de suas ações e estar sempre atenta aos casos de abuso, sobretudo àqueles advindos de autoridades do próprio Estado (a exemplo da figura do policial).
No final desse processo se obtém uma racionalização do racismo, isto é, a partir da suposta experiência de que os negros são criminosos e estão acomodados com suas posições de subalternidade na sociedade, se estabelece um pensamento de conformidade com a situação, uma vez que, partindo dessa mesma razão, estes estariam submetidos a um outro tipo de tratamento civil e jurídico, o que justificaria os assassinatos de crianças negras nas periferias, os abusos policiais, o estranhamento ao ver negros em cargos de poder e demais situações que evidenciam o racismo no Brasil contemporâneo, ou seja, a não consideração dessa parcela da população como detentora dos mesmos tipos de direitos que os demais cidadãos.
Luiz Carlos Ribeiro Júnior - Direito noturno
Duplicidade do Estado
A ação de
discernir o verdadeiro do falso pode ser compreendido, segundo descartes, como
a utilização do bom senso ou razão. Considerando a diversidade de costumes, que
implica, em pensamentos por caminhos diferenciados, mas mesmo com esse fator é
possível chegar em um bom consenso o qual esteja com o menor grau de
falsidades, visto que apesar de alguns andarem devagar, porém se forem sempre
pelo caminho retilíneo serão capazes de chegar no mesmo ponto ou até mesmo
avançar mais se comparado com aqueles que correm e se afastam da veracidade.
Assim, de acordo com a tirinha de alexandre beck verifica-se que o personagem
Camilo demonstra uma atitude de razão, visto que esse temo conhecimento do
perigo representado pela autoridade do soldado, isto é, há evidencia do racismo
que impede e causa receio exclusivamente no menino Camilo.
Dessa forma,
a critica esta relacionada com a falsa ideia de proteção prestada pelos
servidores públicos fardados em relação aos cidadãos, pois há discriminação e
desigualdades de tratamentos. Portanto, Armandinho possui uma falsa ideia de segurança,
enquanto Camilo com bom senso consegue constatar o perigo camuflado para si,
como verificado no fragmento de Descartes e sua obra Discurso do Método-
primeira parte “ talvez seja mais do que um pouco de cobre e vidro o que eu
tomo por ouro e diamantes. Sei como estamos sujeitos a nos enganar no que nos
diz respeito, e como também nos devem ser suspeitos os juízos de nossos amigos,
quando são a nosso favor”. Consequentemente, não basta ter o conhecimento formal
dos direitos e deveres descritos como garantias pelo ordenamento do país, mas
verificar a real situação do sistema social, assim como Descartes que
aproveitou o resto da juventude para viajar e analisar as ocorrências de forma empírica
no período o qual viveu; “[....] aprendi a não acreditar com demasiada convicção em nada do que me havia sido inculcado só pelo exemplo e pelo
hábito; e, dessa maneira pouco a pouco, livrei-me de muitos enganos que ofuscam
a nossa razão e nos tornar menos capazes de ouvir a razão”.
Marisa Seiko Endo - direito noturno
Além da preocupação em se alcançar a verdade, para
descartes, também há necessidade do compartilhamento de ideias e informações
entre o Estado e o povo, de forma que a consolidação da confiança mutua seria
capaz progredir a sociedade “[....] julguei que não havia melhor remédio contra
esses dois impedimentos a não ser comunicar com fidelidade ao público o pouco
que já tivesse descoberto...para que os últimos começassem onde os precedentes
houvessem acabado, e assim, somando as vidas e os trabalhos de muitos,
fôssemos, todos juntos, muito mais longe do que poderia ir cada um em
particular”. Entretanto, tal realidade persiste na desconfiança em que o
cidadão precisa provar e defender-se de acusações diretas ou indiretas feitas
pelo Estado, como verificado na seguinte tirinha:
Portanto, a tirinha acima ressalta ideias sofistas em que
nenhum conhecimento é absolutamente seguro e a desconfiança é perene, como foi
apresentado por Bacon em sua obra Novum Organum, “ A lógica tal como é usado
mais vale para consolidar e perpetuar erros, fundados em noções vulgares, que
para indagação da verdade, de sorte que é mais danosa que útil”. Consequentemente,
nota-se que há defasagens no quesito
reciprocidade de confiança e, assim, dificulta a construção continuada do
conhecimento de forma harmônica e publica, visto que, por meio representativo
da tirinha, ao invés do Estado fornecer à informação esse fica colhendo dados
particulares dos cidadãos que além de ser evasivo também demostra o dever do
povo de provar sua inocência.
Marisa Seiko Endo - direito noturno