terça-feira, 26 de março de 2019

A naturalização racional do racismo.

   A perspectiva de que o conhecimento científico deve ser pautado nos mais altos graus de racionalidade e objetividade- visões de Descartes e Bacon, século XVII- produz efeitos tanto positivos como negativos. Tendo em vista a produção de conhecimento na contemporaneidade pautada em distintas concepções, construções racionais, questões como o racismo e seus reflexos sobre a estrutura social podem ser analisadas a partir dos efeitos de tal visão sobre a perpetuação de ideias, exercícios racionais.
   Tendo em vista que, por muito tempo, discussões acerca da produção de saberes foram restritas a certos grupos detentores de poder e influência, estereótipos foram formados sobre determinados grupos, minorias- alvos de inferiorização e preconceitos. A partir disso, interpretações sobre o racismo hoje devem transcender os limites do tratamento deste como legado histórico, devendo, na verdade, ser interpretado como resultado de uma construção racional dogmática de percepções arraigadas na mente humana ao longo do processo de estruturação social. Visões de inferiorização do negro são, portanto, resultantes de uma formação racional padrão equivocada cultivada no decorrer do desenvolvimento social, científico e cultural.
   Nesse sentido, preconceitos são consolidados através da racionalização de interpretações moldadas por visões limitadas e desprovidas de experiência de exercício de luta por igualdade. Dessa forma, é dada a naturalização do racismo por mera incapacidade de abandono do conhecimento estigmatizado racional impregnado na subjetividade de formação de muitos indivíduos.

   Tais interpretações elencam situações de racismo no cotidiano social e atingem tamanha profundidade, que a regulação de ações por parte de indivíduos alvos desse preconceito torna-se algo também naturalizado- fato retratado em tirinhas de Alexandre Beck, nas quais tal naturalização é ilustrada pela postura de uma criança negra frente a fatos do cotidiano onde reina o racismo.
   Dessa forma, ao se tratar a naturalização do racismo como resultado de um processo racional, perspectivas sobre a concepção de que "a racionalidade sempre busca obtenção objetiva de conhecimento em prol do bem comum" devem ser refletidas. Por conseguinte, combater o racismo e promover a desnaturalização de visões e ações preconceituosas reinantes no cotidiano contemporâneo é essencial para interromper um ciclo doentio de perpetuações um tanto irracionais à humanidade.

Lorena Yumi Pistori Ynomoto- Direito- noturno

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