segunda-feira, 16 de abril de 2012

O conhecimento tem limite?

O filme Ponto de Mutação (filme inspirado no livro de Capra) foca sua discussão entre o apoio ao método cartesiano e a critica a esse. A partir do discurso do método cartesiano surgem diversas outros tópicos ao longo no filme, tendo entre os mais interessantes a questão da ética e moral no campo das ciências.

Conforme as informações apresentadas durante a duração do filme vemos o forte embate entre o avanço da ciência ser freado ou não por noções de ética e moral da sociedade atual. Como exemplo usado no filme esta a questão da bomba atômica, questionando se aplicar tamanha pesquisa para fins bélicos é um uso ético para a ciência. Essa discussão não acaba apenas no uso da tecnologia para a construção de armas, mas também para todos os campos das ciências, principalmente para a medicina.

Até onde podemos dar liberdade aos cientistas para se envolverem com os mistérios do mundo? É necessário que o governo e a sociedade imponham limites a ciência ou cabe ao próprio campo desenvolver um limite? São perguntas deixadas em aberto. O filme produzido no inicio da década de 90 criou a pauta que a cada dia vem ganhando mais espaço na mídia.

Vicente SG Videira.

A ditadura da ciência

Um dos pontos mais interessantes no filme Ponto de Mutação é a abordagem do pensamento holístico contrapondo-se ao pensamento mecanicista e ao racionalismo exacerbado preconizados por René Descartes e Francis Bacon.
Descarte defende a fragmentação de cada dimensão daquilo que se quer conhecer e já Bacon é contra a ciência como mero exercício da mente, segundo ele a ciência deve conhecer a natureza para posterior dominação da mesma.
Decorrente do pensamento desses filósofos houve uma supervalorização da ciência que perdura até os dias de hoje. É óbvio que ela nos da muitas, mas não todas, respostas "concretas", apesar de sempre superar essas mesmas, isto é, algo que era a verdade absoluta ontem pode ter sido contestada e desvalidada por uma descoberta ou por um novo estudo. Mas tomar a ciência como senhora de tudo e de todos é demasiadamente perigoso. Afinal ao mesmo tempo em que ela cria remédios, cria armas de destruição em massa. Ou seja, ela tem limites e limitações. Seu principal objetivo é sempre buscar a verdade  e não procurar utilidade ou a felicidade dos homens.
Por isso, em minha opinião, o pensamento holístico pode ser mais acertado e adequado, pois ele permite relações, estabelece pontes entre Ciência, religião, filosofia e arte, o que retira um pouco dessa soberania da ciência. Esse pensamento não vê o ser humano como uma unidade, mas sim como parte de um todo que é a natureza em si. Isso se confirma nas consequências desastrosas que o ideal de tratar a natureza como escrava das vontades humanas tem trazido, como por exemplo, o aquecimento global que interfere na vida cotidiana do próprio homem.
Tomar a ciência como base e fonte de tudo tem transformado o ser humano no pior dos parasitas, não só parasita da natureza através da destruição de florestas, poluição de rios e esgotamento de solos e bens naturais, mas também um parasita de sua própria espécie, pois, tendo a tal ciência como aliada, mata várias pessoas de fome, de sede, por guerras e de doenças cuja cura ou tratamento já foram descobertos.


O filme “Ponto de Mutação” propõe uma reflexão acerca do contraste entre o conhecimento utilitarista resultante de um enfoque fragmentado da realidade (modelo cartesiano) e o conhecimento holístico derivado de uma visão sistêmica.

O primeiro, que propõe a fragmentação do objeto estudado para que se ganhe objetividade em seu entendimento, era defendido, no filme, pelo personagem de um político, o qual percebia a natureza como uma fonte a ser explorada indistintamente para proveito do homem. Já o segundo, que propõe uma visão mais global do objeto estudado, levando-se em conta que há inter-relações entre todo o conjunto de áreas do conhecimento, para além de meras divisões burocráticas, é defendido pela personagem de uma cientista, que entende como conhecimento um enfoque mais amplo, capaz de superar a visão de conhecimento que encara cada coisa como algo individual e independente, sem entender seu papel no todo.

Fragmentar pode, possivelmente, possibilitar um estudo mais profundo de um objeto em si, mas ao fazê-lo perde-se a subjetividade de um todo muito mais complexo, correndo-se o risco de obter conclusões reducionistas, onde se compreende muito da parte e pouco do todo. Por outro lado, aquele que pretende compreender tudo, enxergando cada elemento como pertencente a um conjunto maior, tendo em vista o seu papel no todo, partindo de um foco mais aberto e próximo do real, deve ter em mente que nunca esgotará seu objeto de estudo, pois este é muito amplo e complexo. E, se chegar a achar que já o conhece em todas as suas facetas, estará certamente também com conclusões reducionistas.

A questão é claramente atual, pois vivemos uma época em que já enxergamos nitidamente (por estarmos tão próximos) o ponto de estrangulamento do modo de vida que levamos, onde a relação com o conhecimento e com a natureza é utilitária: esgotamos suas reservas, poluímos suas fontes. E isso nada mais é do que vê-la sob a ótica cartesiana, não enxergando que o Planeta Terra é um sistema que tem seu equilíbrio, onde homem e natureza deveriam conviver em harmonia, mas o lado humano está pesando demais nessa balança.

Pode-se também citar a medicina tradicional ocidental, que cuida de cada parte independentemente, esquecendo-se de que o corpo possui, igualmente ao Planeta Terra, um ponto de equilíbrio próprio, e que seu bom funcionamento depende do funcionamento integrado de cada uma das partes, as quais se influenciam entre si. Por isso, cada vez mais damos atenção às “novidades” do campo medicinal, como o tratamento homeopático e os tratamentos orientais, que enxergam a natureza integrada das funções do corpo humano.

Ao mesmo tempo, o filme aponta para a questão, a meu ver, mais atual, que é o individualismo. É apresentado o contraponto entre a cientista Sonia, que se propõe a entender o todo e suas inter-relações e que, de repente, é questionada pelo poeta sobre si mesma e percebe que enquanto se debruça sobre as questões do mundo, esquece-se de atentar a si mesma, às suas próprias relações mais essenciais, talvez se esquecendo de colocar-se como parte integrante nesse todo complexo. E, por outro lado, o político que enxerga na conversa e na visão moderna de Sonia uma boa oportunidade para sua própria campanha, visando apenas o benefício próprio, exemplificando claramente o olhar cartesiano, que se preocupa apenas com a parte.


Rachel Canto Figueiredo

Interconexões

No filme Ponto de Mutação as três personagens discutem sobre
muitos assuntos, entre eles sobre a conexão dos átomos entre si formando
moléculas, que por sua vez também se conectam a outras moléculas formando estruturas
que dão forma à matéria existente na Terra. O interessante é que, segundo os
físicos, microscopicamente nós somos todos interconectados, tanto com os seres
inanimados como com outros seres humanos.

Macroscopicamente isso também se prova verdadeiro, uma vez que a
humanidade está conectada e assim necessita estar desde que decidiu que viver
em sociedade é mais benéfico e garante maior sobrevivência, permitindo uma
ordem social, ordem esta que também a limita.

Segundo os idealizadores do Contrato Social, este surge pela
necessidade de organizar a conexão existente entre os humanos de uma forma que
esse contato não acabasse em subjugação de um ou de outro. Dessa forma, todos
abrem mão de uma parte de sua liberdade. Esse contrato feito entre os seres que
compõem a sociedade foi responsável por mantê-la relativamente organizada e
segura até a atualidade, porém, provavelmente, só foi aceito devido à
necessidade que o ser humano tem de se conectar.

O Contrato Social, entretanto, não é o único fruto da
conexão ser humano-ser humano, o fato social também o é. Esse fenômeno sociológico
é na verdade uma força coercitiva de padronização dos seres, impondo regras
exteriores e anteriores a eles, de uma forma que pensem serem estas
incontestáveis. As leis do direito são um exemplo dessa força coercitiva.

Dessa forma, as conexões invisíveis da matéria em seus
menores níveis elevam nossa compreensão sobre as visíveis, mostrando-nos que nossa
necessidade de contato deve ser sempre otimizada, uma vez que tenha se pautado
nos últimos tempos no contrato social e no fato social, mas não precise e não
deva permanecer inalterada.

Presos na "Rede"

Presos na "Rede"


O debate que ocorre no filme "Ponto de Mutação", sobre a teoria dos sistemas nos leva a crer que as teorias Baconianas ainda dominam o pensar pós-moderno. Não podemos negar, há fatos que comprovam isso, como discutido em textos anteriores. Contudo há de se admitir que a teoria dos sistemas, não expressando-se de maneira formal como pilar da organização social moderna, mas de facto, está a todo momento modificando nossa vida. Mas como isso ocorre? Estaria então a cientista do filme errada?
A cientista do filme não estava errada ao tecer uma crítica à mecânica e apresentar a teoria dos sistemas como um novo paradigma. A questão é que essa teoria se observa aplicada numa forma que acaba gerando muitos problemas, os quais tentam ser resolvidos com o auxílio da mecânica. A teoria dos sistemas aplicada de facto hoje chama-se globalização financeira informacional.
Ora, vejamos uma definição de teoria dos sistemas "Sistema pode ser definido como um conjunto de elementos interdependentes que interagem com objetivos comuns formando um todo, e onde cada um dos elementos componentes comporta-se, por sua vez, como um sistema cujo resultado é maior do que o resultado que as unidades poderiam ter se funcionassem independentemente. Qualquer conjunto de partes unidas entre si pode ser considerado um sistema, desde que as relações entre as partes e o comportamento do todo sejam o foco de atenção (ALVAREZ, 1990, p. 17)."
Não é justamente isso que os analistas financeiros fazem? Avaliam a conjuntura global a todo o tempo e fazem apostas nas bolsas de valores? Vejamos uma definição de um tipo de derivativo:
"Deve-se entender o mercado futuro como uma evolução do mercado a termo. Você se compromete a comprar ou vender certa quantidade de um ativo por um preço estipulado para a liquidação em data futura. A definição é semelhante, tendo como principal diferença a liquidação de seus compromissos somente na data de vencimento, no caso do mercado a termo. Já no mercado futuro, os compromissos são ajustados diariamente às expectativas do mercado referentes ao preço futuro daquele bem, por meio do ajuste diário (mecanismo que apura perdas e ganhos). Além disso, os contratos futuros são negociados somente em bolsas." (www.bmfbovespa.com.br)
E é claro, como na teoria dos sistemas tudo influi em tudo, efeitos são vistos em vários lugares que modificam e são modificados pelo sistema:
http://www.youtube.com/watch?v=2e1d6yoJWUE
Maravilhas são construídas e sociedades inteiras destruídas, pois não estão mais independentes do resto do mundo. A poluição de uma área irá acidificar lagos a quilômetros de distância. A demanda por um produto irá obrigar o desmatamento em diferentes partes do globo. Fluxo de pessoas e informação a todo o tempo sendo modificado pelas perspectivas do mercado.
Mas ao mesmo tempo esse conhecimento não é utilizado para analisar os efeitos de determinada medida para que essa possa ser sustentável e que o saldo das modificações seja positivo. Em vez disso, permite-se a criação de problemas para a manutenção do sistema e utilizam-se medidas pontuais cada vez mais sofisticadas e especializadas para aplacar os sintomas de forma que não haja a eliminação de um elemento do sistema. A sociedade vive por aparelhos.
Com base no conhecimento dessa condição devemos lutar para que a teoria dos sistemas seja aplicada de forma correta, de forma a diminuir os problemas, e quando estes surgirem, o conhecimento adquirido através do tecnificismo poderá resolvê-los, sempre a partir de uma visão geral.

Raul da Silva Carmo. Aluno do 1º Ano do Curso de Direito Noturno da UNESP Turma 2012-2016.
A holística e o homem atual

No filme "Ponto de Mutação"  duas formas de pensamento extremas se opõe em um longo diálogo a cerca da metologia utilizada nos dias atuais. Há uma forte crítica ao pensamento cartesiano por parte da personagem feminina, esta defende a holística como a melhor forma de compreender o mundo a nossa volta nos tempos atuais.
De fato o pensamento sistêmico tem sido muito difundido por diversos cientistas, que propõem a visão do mundo como um todo, onde os organismo que compõem esse todo possuem uma relação de interindependência entre si.
Esse pensamento tem tomado conta das discussões, principalmente no âmbito da ecologia, porém, na prática ele ainda não foi adotado. Ainda é possível identificar um imediatismo constante na forma de agir do ser humano, que busca o saber e os resultados com mais gana do que nunca, e dessa forma a holística não passa de uma forma quase romântica de ver o mundo, que é de fato muito bonita, mas que no momento não serve aos propósitos do homem contemporâneo.
Para esse homem o método que satisfaz suas necessidades de forma mais rápida e eficaz ainda seria o cartesiano, que se baseia no ceticismo metodológico, ou o baconiano, que se baseia na experimentação regulada pelo raciocínio indutivo. 
A verdade é que o método holístico, por hora, não passa de uma ideia mais bonita, mas que não serve ao ideal do homem atual. 
 



Transformação do mundo Terra-homem para mundo Terra-planeta
Há certas coisas que me intrigam desde que era criança, uma delas seria a exploração da natureza, eu via carros, prédios, fábricas, tudo era concreto, aquele cinza que até me dava náuseas, e então pensava, Onde estão as árvores, o verde, o selvagem, o não industrializado, o realmente natural? A única coisa que restou foram resquícios de uma floresta, de um habitat, de toda uma vida, relações naturais, ou seja, toda a interação, relação, vida-vida. Vida de todos os animais, vida do conjunto em si, conjunto formado por todos os seres vivos, incluindo os homens. Depois comecei a criar certas hipóteses, e se não houvesse o homem, creio que o mundo seria muito mais ele mesmo, sim, o mundo seria mundo, a Terra seria mais Terra. Estranha essa suposição... Nós consideramos a Terra como planeta em que vivemos, o nosso mundo, e por isso ela deixa de ser Terra-planeta e passa a ser Terra-homem, ela é vista apenas como o lugar em que estamos “fadados”(pelo menos por enquanto) a viver e como um meio para a produção de bens materiais.
Pois bem, temos a definição da Terra-homem: um planeta em que temos que viver, produzindo, comprando, sem que haja qualquer equilíbrio em transformar sua matéria-prima, seu ser, em produtos.
Essa é a questão colocada pelo filme “Ponto de mutação”, de Bernt Capra, até quando a visão de mundo vai continuar seguindo essa trajetória de pura racionalidade, e é colocada em questão a visão de Bacon e Descartes, que afirma que devemos conhecer a natureza para poder domina-la, é a busca de uma ciência útil na luta contra a natureza, e essa natureza é vista como diferentes partes e não como um todo, não em relações vida-vida, natureza-homem, o homem faz parte dessa natureza, mas de forma separada, como se fosse até mesmo superior, afinal vivemos no planeta Terra-homem. O filme traz a ideia de que deveríamos evoluir tecnologicamente sob outros paradigmas, encontrando-se ai o ponto de mutação, ruptura, deveríamos pensar sob outros aspectos, outras perspectivas. Há o questionamento da ciência moderna, até onde vai essa capacidade de resolver todos os problemas humanos? E realmente temos tantos problemas que precisam de inovação tecnológica? O problema da fome, da miséria, para ser resolvido não precisaria de tanta tecnologia, trata-se de um problema que atravessa séculos, e continua ai, lado a lado com a tecnologia.

Inexplicavel

O filme “Ponto de Mutação”, de Bernt Capra, traz, dentre muitos aspectos, a contraposição de diferentes pontos de vista a respeito do mundo que vivemos. A sociedade, os acontecimentos e o planeta são analisados de maneiras distintas a partir da formação de cada personagem. Dessas análises, uma que desponta como mais interessante é a discussão de como tudo funcionaria como um sistema.
É interessante como essa questão já evoluiu desde a época que o filme foi feito. Certas questões abordadas no filme como os conceitos de ecossistemas e interdependência são hoje questões de conhecimento básico. No entanto, também sabemos que não se pode estudar um sistema sem antes conhecer cada parte integrante separadamente. São, portanto, conhecimentos complementares.
Sendo assim, é importante observar que o essencial não é escolher qual método é o mais correto, mas sim conhecê-los a fim de formar uma opinião mais abrangente e mais bem fundada. Afinal, nem tudo é simplesmente explicável.


Marina Precinotto da Cruz- diurno

Analogia contemporânea

     O filme "Ponto de Mutação" deixa bem claro um contraste de correntes filosóficas na forma de dois personagens, basicamente. Sonia, uma cientista, tem uma visão de que tudo na natureza e na sociedade está interligado, enquanto Jack, um candidato ao cargo de presidente dos Estados Unidos , crê num mundo mecanicista, no qual a natureza é apenas uma máquina que provém "frutos" para a humanidade.
     A discussão de suas teorias durante o filme é uma analogia ao conflito que vem ocorrendo há algum tempo na sociedade, a visão da natureza como fonte inesgotável de riquezas versus uma ideia de sustentabilidade que  tem noção das consequências que seus atos geram e do dano que isso pode causar. A cientista faz um grande crítica ao modo de viver norte americano, que possui um consumo desenfreado e tem sua vida baseada no capitalismo, entretanto, nesse ponto o candidato à presidência dos Estados Unidos concorda com sua ideia, e ambos tem consciência de que essa realidade é destrutiva. Do lado dela, há uma crítica direta ao "saber é poder" de Bacon, pois essa ideia de conhecimento e poderes cada vez maiores do homem sobre a natureza, também remete ao contexto da sustentabilidade, ou seja, essa máxima de Francis Bacon deixa extremamente explícito o desejo do homem pelo conhecimento cada vez maior, e, já que o poder vem junto dele, o homem não mede esforços para alcançá-lo.
     Um ponto importante do filme é a dúvida de Sonia quanto a capacidade do homem resolver seus próprios problemas na sociedade contemporânea, se a humanidade tendo uma ciência a cada dia mais moderna, é capaz de resolver seus próprios problemas gerados pelas atitudes que visam esse progresso.
     Fica então, um questionamento no final do filme, o que ocorrerá em resposta a essa sociedade que só deseja o progresso desenfreado? Que não mede o poder de suas atitudes quando se trata da natureza e da importância que um impacto sobre ela gera na vida de cada habitante do planeta? A questão, é claramente polêmica, e demonstra o desequilíbrio no qual a sociedade se encontra, e cabe portanto, a todos e a cada um especificadamente, procurar o equilíbrio e uma vida mais sustentável.

A mística da Teoria Sistêmica

O filme assistido pelas turmas nas ultimas duas semanas envolve algumas discussões acerca do desenvolvimento da ciência moderna e os rumos de um possível método científico. A avaliação de que a leitura cartesiana e a fragmentação da percepção e do espaço geométrico não dá conta de abarcar todas as possibilidades de conhecimento não é nova entre a comunidade científica. Baruch de Espinosa, filósofo holandês que se dedicou a estudar e compreender a totalidade do cartesianismo já no século XVII.
Na película a personagem feminina defende uma leitura científica que supostamente melhor entenderia o processo de aquecimento global e as novas demandas da relação humano-natureza no séc XXI. A sua proposição sistêmica (ou holística) se coloca como a que verdadeiramente consegue compreender a essência das coisas da realidade.
Não se trata no entanto, somente de uma leitura de que o universo se organiza em sistemas e que busca compreender a realidade do mundo. Essa vertente de análise que vem ganhando força nos dias atuais carrega consigo outras pontuações que devem ser levadas ao cabo da discussão para entendermos melhor onde tais teóricos genuinamente se encaixam.
A lente ocular da holística pode ser muito positiva e bem consolidada no campo das ciências da natureza muito embora traga com si já neste campo uma dose robusta de misticismo. Na avaliação de que a ciência moderna no seu desenvolvimento calou diversas vozes de culturas e produções tradicionais de conhecimento, esta nova vertente científica procura reviver essas vozes e dar-lhes, como fosse uma restituição histórica, o valor científico de fala.
Há, no entanto, um engano fundamental nessa aproximação da ciência com os saberes populares e tradicionais. A fala tradicional tem a função de exercer poder em membros que compartilhem uma comunidade. A modernidade, entretanto, constituiu-se em quebrar ao lado do capitalismo todos os laços tradicionais de comunidade e secularizar esses laços para relações modernas e possivelmente mercadológicas. Neste sentido aquele discurso e a aquela construção tradicional de saberes só tem sentido junto ao seu espaço pré-moderno de relações sociais. Tendo estas relações falidas, não se pode mais restituir este valor tradicional da fala.
E é essa incompreensão que é a contradição fundamental da teoria holística. Ao voltar suas lentes para o conhecimento tradicional, a ciência do séc. XXI descuida-se e desconsidera que a base social que legitimava o valor da cultura tradicional não existe mais. O capitalismo desmanchou as relações sociais pré-capitalistas e a tentativa de parte da ciência de revigorar voz e valor desses tipos de conhecimento não passa de um fetiche místico em vão. O conhecimento tradicional não pode e não deve ter respostas para as questões da pós-modernidade, como aponta Zygmunt Bauman. O caminho da ciência e da crítica cartesiana  está resguardada no presente e no futuro, jamais no pretérito do pensamento humano. 

Zoom



     Quando existe um foco restrito a apenas uma pequena parte perde-se a noção completa do objeto analisado. isso limita as percepções do conjunto e muitas vezes não permite captar a complexidade do mundo pós moderno.
      Seria mais proveitoso manter uma visão abrangente, tanto no campo da ciência, quanto nos demais. E ligar o pensamento a fins práticos também não é a única forma de utilizar bem a racionalidade.
     Para poder julgar ou qualificar os fatos atualmente é necessário juntar vários ângulos específicos para, como num quebra-cabeça, montar uma imagem completa e fiel.
     Sendo assim, em um mundo cheio de especificações é mais fácil encontrar diversas conexões com o todo, mas particularmente elas não refletem a unidade do seu contexto. 

O desafio do Direito na modernidade líquida








     Em pleno caos da modernidade líquida, a incerteza está presente nas mais variadas questões humanas e mostra que a visão cartesiana, que valoriza o fragmento e se esquece do todo, não facilita na resolução de casos complexos como a desocupação da crackolândia.
     Problemas sociais, como o citado, provocam polêmicas pois muitas são as opiniões sobre o que deve ser feito a respeito. Desocupar com violência ou dar assistência aos dependentes? Em casos assim, o direito deve ser aplicado juntamente com a sociologia, afim de achar uma solução mais humana para a situação. A criminalidade e a marginalização devem ser muito mais previnidas do que combatidas. A prevenção desses desvios sociais evitam esforços e gastos futuros como os com o encarceramento por exemplo. É importante evitar que alguém se torne um dependente de drogas, um ladrão etc.           
     A óptica mostrada pela personagem Sonia do filme “Ponto de mutação” pode ser utilizada pelo Direito para resolver problemas como o exposto anteriormente. Pensando que todos os elementos do universo estão conectados e que é preciso uma visão geral para o entendimento de “um todo”, é possível recorrer a análise dos motivos que levaram esses seres humanos a atingirem o grau tão deplorável de permanecer tanto tempo nas ruas se drogando e se degradando.       
     A limitação da visão cartesiana deixa os seres humanos de mãos atadas para lidar com alguns assuntos da pós-modernidade. O que é concreto hoje? Nada, essa é a resposta que angustia e desafia intelectuais de todas as áreas incluindo do Direito. Havendo pois, uma enorme viscosidade do que é real, a visão cartesiana não da respaldo a questões que acometem diariamente pessoas do mundo inteiro.     
     Em suma, submerso em vários problemas está o homem. O melhor caminho a ser seguido não está claro. Não há hoje apenas uma corrente, escola de pensadores ou filosofia que diga qual é o melhor caminho a ser seguido. A uniformidade dos pensamentos, que já foram utilizados um dia para o entendimento do mundo, não existe mais. O Direito como uma ciência mutável, terá que se adequar a essas mudanças abandonando, talvez, pensamentos de outros séculos.

Overdose

Há pouco mais de um ano, Luciane deu entrada em um hospital passando muito mal. Quando os médicos a atenderam, perceberam a gravidade e logo a internaram. Incapazes de descobrir com certeza o que havia de errado com ela, a transferiram para o Hospital da Clínicas em São Paulo, onde ela veio a falecer semanas depois. Ela deixou três filhos de 18, 15 e 10 anos de idade.
Luciane havia contraído malária, mas malária tem cura. O que não deu a ela chances foi a falta de visão geral dos médicos que negligenciaram o fato de que ela morava há meses na África com o segundo marido, um médico, que por vezes ligou pedindo que a testassem para a doença, uma vez que era comum onde eles viviam. Quando saiu o diagnóstico ela já começava a ter falha dos órgãos e isso, nesse caso em específico, é um péssimo sinal.
É muito prático julgar a atitude dos médicos, mas isso seria repetir a atitude deles: negligenciar o contexto enxergando um problema de cada vez. Ao dar-se um passo para trás, pode-se perceber que a forma com que os médicos agiram é, na verdade, um sintoma de uma doença que agride toda a sociedade. A imersão das pessoas em cientificismo cartesiano trouxe à sociedade uma perda da visão universal sobre os fenômenos humanos. Procura-se em tudo uma utilidade e fragmentam-se todos os problemas em prol do raciocínio lógico.
Overdose de cartesianismo. Transformação do ser humano em máquinas lógicas, que analisam os dados e apontam um diagnóstico com altos graus de certeza. Parece funcional a princípio, contudo a realidade globalizada atual não comporta mais esse pensamento. Todas as formas de organização, de qualquer forma, estão interligadas e o número de variáveis presentes são infinitas. É necessário que se enxergue o conjunto como um todo, dentro do seu contexto para que se possa tomar atitudes efetivas, antes que a doença cause falha dos órgãos vitais. Como a malária de Luciane.
 A BASE ANTES DO TOPO

Analisando os pensamentos dos personagens Sônia Hoffmann e Jack Edwards no filme "Ponto de Mutação", é possível fazer-se uma analogia com as situações sociais.
Nossa sociedade está cada vez mais sistemática, e o conhecimento cada vez mais fragmentado. As pessoas especializam-se em determinado assunto, esquecendo que esse assunto faz parte de um todo bem mais complexo. Os políticos, os cientístas, preocupam-se apenas com uma parte do todo, e gastam todos os esforços apenas com essa parte, não percebendo que será inútil se a estrutura que provocou o problema não for mudada.
Todos os problemas que enfrentamos, fome, miséria, guerra, violência, tudo é gerado por uma única fonte, têm a mesma origem. Se a causa primeira não for mudada, os problemas não serão solucionados, mas, no máximo, maquiados por algum tempo. É preciso rever os valores, as idéias, a estrutura ideológica da sociedade, e como consequência teremos uma solução geral dos problemas.
As pessoas, juntamente com a natureza, vivem em conjunto, fazemos parte de uma só interação. Não adianta tentar solucionar a miséria se não se pensar na distribuição de renda; nem na guerra se não se pensar na ideologia que a causou.
Enfim, assim como afirma a personagem Sônia Hoffmann no filme, tudo está interligado, há uma conecção mútua, e será inútil analisar um problema social separadamente dos outros, já que a raíz causadora permanecerá.

O Inesgotável Estudo Da Estrela Infinita


O filme "Inception" apresenta-nos um grupo liderado pelo personagem Cobb (Leonardo DiCaprio) que invade sonhos de outras pessoas para, assim, obter ou implantar informações no subconsciente de um alvo determinado. Para que o acesso ao nível mais profundo de subconsciência seja possível e, desta forma, o objetivo previamente almejado possa ser realizado, é necessário que o alvo em questão se faça presente em uma grande rede de outros sonhos. Ou seja, o sonho a ser atingido está inserido em outro sonho, que está dentro de outro sonho, e assim segue. Ademais, fatos que ocorrem em qualquer uma das "camadas" de sonhos acaba por resultar em uma gama de efeitos sobre a rede como um todo.
Aos mesmos moldes de formação apresentados pela rede de sonhos em "Inception", o filme "Ponto De Mutação" traz, através da concepção cientificista apresentada pela personagem Sonia, a ideia de que todo universo - seja ele físico, seja ele social - é formado por uma rede infinita de sistemas indispensáveis e interdependentes entre si. Por exemplo, um átomo é um sistema formado por diversos elétrons, prótons e nêutrons - os quais são, cada um dos três, outros sitemas únicos formados por partículas ainda menores -, mas, ao mesmo tempo, faz parte de um sistema de outros átomos, o que forma uma molécula e, desta forma, a rede de sistemas continua. Outro exemplo está na própria sociedade humana, onde cada pessoa realiza suas ações sociais, o que as liga com outras pessoas, formando um grupo, o qual se conecta com outros e, nessa infinidade de ligações e interações de distintas naturezas e funcionalidades, ocorre a formação da sociedade global que se faz presente no mundo contemporâneo.
Além disso, é inegável o fato de que, assim como as camadas de sonhos da rede em "Inception" têm conexões entre si, qualquer sistema de qualquer universo se faz intrinsicamente ligado com a gama completa de outros sistemas - sejam estes mais, menos ou igualmente complexos - e o que acontece neles. Desta forma, faz-se evidente o fato de que nenhum evento pode ser estudado de maneira isolada e, portanto, a visão científica de Descartes se faz demasiadamente imprecisa por seu caráter reduzido e incompleto.
Há, portanto, sempre mais aspectos e fatos a serem analizados a fim de se entender de maneira mais completa a complexidade infinita de toda a rede de sistemas que conhecemos como universo. Assim, faz-se imprescindível que o ampliamento de visão de mundo não se finde.

União de peças ou conjunto indivisível?

No filme Mindwalk, são expostas duas visões extremamente opostas de um fato. A cada momento, Sonia, uma física, se esforça para mostrar que o mundo e seus inúmeros problemas não são apenas pequenas peças defeituosas de um sistema desmontável. Ao mesmo tempo, Jack, um candidato à presidência dos Estados Unidos que foi derrotado, mostra o seu ponto de vista, mais pragmático e objetivo. Mas qual é o limite para tais visões? Em que momento os dois extremos deixam de ser aplicáveis na sociedade e se tornam apenas ilusões?
De acordo com Sonia, toda a sociedade funciona como um único sistema, indivisível, que funciona de maneira única. Não se pode resolver problemas isoladamente, mas sim tomando o todo e fortificando cada parte igualmente, buscando a origem dos problemas, buscando soluções mais permanentes. Até certo ponto, esse pensamento é funcional, mas seria altamente utópico acreditar que não se é capaz de dividir e resolver tais problemas de maneira específica. Numa sociedade regida por tal pensamento, cada fato social seria tema de grandes debates, buscando a verdadeira origem do defeito, o que resultaria sempre em certos "Problemas-chave". Por exemplo, vários fatos, se analisados profundamente, se originam numa má educação, só que não se é possível solucioná-los direcionando toda a atenção para ela.
Da mesma maneira, analisar cada defeito na sociedade de maneira totalmente isolada não se mostra eficiente. Dentro da própria analogia do relógio, que é ver a sociedade e suas partes como engrenagens de um relógio, que trabalham juntos para fazer funcionar, se encontra uma contradição. Não adianta se consertar uma peça quebrada se outra, de essencial importância, também se encontrar com defeitos. Tudo precisa ser analisado de uma maneira única.
Portanto, se pode concluir que o extremismo de cada visão não é compatível com uma civilização tão complexa quanto a atual. Se deve ter como análise uma mistura igual dos dois modos de pensar, para que eles, em harmonia, consigam resolver todos os problemas no mundo de hoje.

O pensamento racionalista desenvolvido por Descartes e outros pensadores influencia a maneira como se estrutura a sociedade e, consequentemente, a política - se considerarmos esta uma consequência da ação de pessoas de um mesmo meio em criar mecanismos para tentar organizar a sua vida social – até os dias de hoje. Porém, nota-se que, atualmente, tal pensamento foi tão valorizado que percebemos uma superespecialização nos estudos das ciências e uma fragmentação do conhecimento adquirido e do pensamento produzido.

Diante disso, vemos que os homens não sabem como agir frente aos problemas para tentar solucioná-los. As decisões tomadas pelos representantes políticos da atualidade buscam a suposta solução para um determinado problema, sem analisar o mesmo como parte de um sistema e sem colocar o homem, também, como apenas mais uma parte de um sistema que envolve todo e qualquer tipo de sociedade e o meio em que se inserem.

Essa visão sistêmica do mundo é apresentada pela personagem Sônia Hoffmann no filme “Ponto de Mutação”, frente ao pensamento cartesiano do personagem Jack Edwards. No filme, a cientista física fala sobre a importância da necessidade de criarmos uma nova maneira de analisar o mundo, para que, desse modo, conseguíssemos solucionar os problemas pelos quais nós passamos.

Esse novo modo de pensar o mundo apresentado por ela faz muito sentido se pensarmos que, além da fragmentação do pensamento derivada da racionalidade cartesiana, a evolução do sistema capitalista pelo qual o mundo passou acentuou a individualidade do homem e a busca por interesses próprios, dificultando ainda mais o desenvolvimento dessa visão de mundo mais ampla e completa e, por consequência, dificultando a solução dos nossos problemas, minimizados, apenas, com medidas tomadas a partir de uma análise restrita.

Com tal realidade, pode-se concluir que, assim como Sônia Hoffmann defende, devemos sempre estar abertos a novas ideias e maneiras de pensar o mundo, pois, dessa forma, poderemos analisar aquilo que se passa nas nossas vidas e evoluir enquanto seres vivos e pensantes, sem estarmos escravizados por apenas uma maneira de pensar, talvez até mesmo ultrapassada, apesar desta já ter sido muito importante e colocada como certa no contexto da época em que foi criada.

Infinitamente Discutível

Atualmente, vive-se em um mundo extremamente globalizado, cercado por meios de comunicação que, de certa forma, integram pessoas e informações, formando sistemas. Assim, formam-se grandes conglomerados inter-relacionados, de modo que a roda da economia, a difusão de valores e o espalhamento das culturas se tornem mais rápidos, bem como outros fatores. Porém, tais vantagens não afetam todos e, consequentemente, surgem as desigualdades sociais, as disparidades socioeconômicas e, mais especificamente, os preconceitos.

Desse modo, o que se vê no filme “Ponto de Mutação”, baseado no livro de Fritjof Capra é uma visão de mundo não idealizada, mas sim criativa, pois mistura a crítica com a ciência, formatando uma opinião que beira os moldes da Filosofia, já que autores como René Descartes e Francis Bacon foram citados no filme. Além disso, pode-se relacionar o filme com a realidade atual, porque, como dito pela personagem Sonia, quase tudo se faz como um grande sistema. Um exemplo específico é o sistema matemático, formado por duas ou mais equações, nas quais as soluções (popularmente chamadas de respostas) podem ser infinitas ou não.

Não obstante, é possível relacionar o filme com a Teoria Evolucionista de Darwin, na qual as transformações nunca param, e, portanto, geram sempre novos ciclos de inovações e adaptações. Estes, por sua vez, são infinitos, já que se renovam ao passar do tempo, assim como os sistemas formados pelas árvores – citados por Sonia – alimentam os seres vivos de modo substancial e também dão o “ar vital” aos mesmos. Percebe-se, de modo intrínseco, que Charles Darwin alertou um sistema infinitamente interdependente, no qual, segundo separações relativamente atuais, existem as Populações, Comunidades, Ecossistemas e a Biosfera.

Logo, através da análise e da observação dos fatos que norteiam o mundo social, cultural, econômico ou até cósmico, nota-se, novamente, uma dúvida em relação aos fins a que a ciência leva. Resta saber se o debate da religião com aquela, vai resultar em uma guerra ideológica eterna ou as partes se reconciliarão para um respeito mútuo. Assim, denota-se de toda a discussão científica no filme e pelos filósofos abordados, que a Física, Química, Biologia, Matemática etc, podem ser usadas, além de um método educacional, para um fim maléfico, como por exemplo as armas biológicas, que assombraram o mundo em determinadas épocas.

O paradigma dos métodos científicos.


A sociedade moderna produz feitos científicos baseada em diferentes métodos, cada um com seus diferentes caminhos e diferentes objetivos. Uns procuram atender a finalidade prática, outros teórica, ou até mesmo intelectual. Porém, as divergências entre seus conceitos levam-nos a pensar sobre qual o certo a seguir, qual seria um “código universal” para a solução de todos os problemas.
No filme Ponto de Mutação (Mindwalk), encontramos essa discussão: seria possível uma única visão sobre os fatos que atingem o nosso mundo? A visão descartiana ainda seria possível? Ao demonstrar a variedade de idéias através dos três personagens, a cientista, o poeta e o político, o filme procura relatar exatamente esse conflito. E não procura somente expô-lo: tem como intuito promover o debate e o envolvimento de seu telespectador.
Focando na idéia principal do filme, é notável sua crítica a cada uma das visões apresentadas. Ora critica o excesso de objetividade da cientista, ora a visão politizada, ora as indagações quase sempre filosóficas do poeta. Tudo isso para identificar, através de imagens e personificações, os vários tipos de caminhos que podem ser utilizados em uma mesma questão.
Temas como a eficácia do método científico, o aquecimento global e até os problemas familiares levam-nos a perceber um pouco de nós mesmos em cada uma dessas partes, fazendo com que nosso envolvimento com a trama seja além de uma simples observação, mas sim uma análise própria e coletiva, na qual somos forçados a pensar sobre nossos próprios atos e planejar suas possíveis conseqüências.
Por fim, podemos extrair do filme um caráter não apenas demonstrativo, mas sim interpretativo da sociedade. Não podemos ser apenas telespectadores de diferentes métodos e visões, mas sim devemos interpretá-la para construir bases sólidas e coerentes para o mundo atual, atuando, assim, como os personagens presentes no filme.

      Paradigma moderno: sistêmico x cartesiano  


      Dirigido por Bernt Capra, o filme "Ponto de mutação" aborda em sua temática central o conceito de sustentabilidade, e a maneira como este é introduzido na mentalidade dos indivíduos. Os protagonistas, apesar de pertencerem a grupos sociais diferentes, estão abertos a novas perspectivas e discutem sobre a importância de analisar as conexões do todo, ao invés de  disseca-lo em subconjuntos. Criticam, desta forma, a maneira cartesiana-newtoniana de lidar com as problemáticas cotidianas e com aquelas de assolam a sociedade contemporânea       A cientista, a fim de embasar sua argumentação, discorre sobre a  falta  de sistemicidade com a qual é tratada a natureza, no filme comparada a um relógio bem construído – quando sã – ou mal feito quando deficiente. Ao seu ver a solução dos problemas consiste em tratar a causa e não as consequências. Ela acredita ainda que os organismos vivos são capazes de auto-regulação, auto-manutenção e auto-transcendência, constituindo um circuito cíclico e, desta forma, tornando impossível compará-los a maquinas, que por sua vez necessitam de manutenção externa e têm funcionamento linear.      É possível, portanto, refletir de maneira holística sobre os resultados do imediatismo humano e a ganância do sistema econômico vigente. Se entendermos que todos os sistemas atuais, seja ele econômico, político, etc, estão interligados e interdependentes fica fácil concluir que a alteração de uma variável é capaz de enrijecer o todo, causando um estresse que leve à consequências irreversíveis.     O ponto de mutação, que intitula a obra, consiste na mudança de paradigma marcada pela ascensão da concepção sistêmica e descensão da concepção cartesiana.
                Cadeia de sucessões


                                                    


      A cena do filme "O curioso caso de Benjamin Button" ilustra claramente as correlações existentes nos acontecimentos da vida; tais correlações não se limitam a um caso de atropelamento, abrangendo, inclusive, a organização da natureza.
      É evidente, pois, a partir de tal corolário, que  a visão cartesiana se mostra um tanto ineficaz, pois sua rigidez não leva em conta as diversas interligações inerentes ao universo. Um cartesiano que presenciasse o atropelamento da cena, por exemplo, atribuiria, analisando o que é racional na situação, que o acidente resultou da distração do motorista somada à de Daisy. Poderia ele, entretanto, chegar a conclusão de que as distrações foram somente a parte de um todo e que o cadarço arrebentado, o caminhão, o presente não embrulhado e todos os eventos anteriores faziam parte de uma teia complexa de sucessões? Não.
     Pode-se concluir, portanto, que  a vida ,e tudo nela contida, precisa de uma observação mais crítica e humana para que um problema social, por exemplo, possa ser resolvido em sua totalidade e não somente na parcela perceptível à razão.
     

 

  Na  atualidade estamos mal acostumados  a ter tudo em maos com muita facilidade e rapidez, temos uma profunda impaciencia em esperar por algo, ate mesmo em coisas simples como aguardar na  fila ou comer; onde recorremos ao “ Fast Food”pois nao podemos perder tempo em algo tao basico como comer . Talvez essa caracteristica seja devido a sobrecarga de afazeres ,o que nos consome o tempo ou ate mesmo um  dos males da  modernidade. Observamos essa tendencia ao imediatismo pratico, na produtividade capitalista, para atender ao mercado consumidor; na politica; no estado e na propria sociedade.Assim o proprio saber se fragmenta , se especializa para atender a essa “necessidade positiva da sociedade industrializada “.
 No filme “ponto de mutacao “  a  ideia sistemica , em oposicao a fragmentacao , e exposta por uma analogia a uma arvore, que nao pode  ser vista como autossuficiente, e sim como dependente dos demais componentes do sistema , por exemplo: a agua trazida pela chuva, os nutrientes do solo por ela absorvidos,os animais que dela se alimentam etc.  A “dissecacao” como metodo de analise nao nos permite  ter ideia do todo ,nos limita, perdemos a capacidade de compreender as demais coisas ,mecaniza o nosso pensar, sendo que nada existe por si so ,pelo contrario ha uma gigantesca interdependencia em tudo , assim um problema nao pode ser resolvido sem que se pense nos outros diversos problemas que o desencadeiam , se nao, conseguiriamos apenas uma resolucao superficial e temporaria. A propria desagregacao diminiu a eficiencia de solucionar um caso concreto ,pois esta resume e simplifica algo complexo,e como tratar um  dos sintomas de uma doenca  e nao cura- la ; mas com o auxilio dos demais saberes e  da pluralidade sera aumentada as chances de  eficiencia aplicavel ao casos  , ja que  estes esta sendo analisado sob diversas opticas e serao mais rigorosamente julgados. Assim contrariando as ideias de mecanizacao do saber so para atender a necessidade moderna, devemos adotar uma postura que insira o contexto de totalidade, pois o isolamento nao atendera a complexidade do mundo em que vivemos .

*meu teclado nao tem acentos nem cedilha

Jessica Duquini 

A ética e o avanço científico.


 O filme ‘’Ponto de Mutação’’ levanta um importante questionamento diante a atual corrida tecnológica com que nos deparamos na atualidade: até que ponto deve ir o nosso avanço científico? E mas importante ainda: deve haver algum controle sobre as descobertas nesse meio? E se sim, quem é capaz de realizar esse controle, a quais fins deve se dirigir?
 Tais perguntas podem parecer descartáveis a uma primeira vista, mas suas respostas podem dizer se há ou não um desastre igual ou pior do que as bombas de Hiroshima e Nagasaki no futuro da humanidade.
 Como explica a personagem feminina do filme, boa parte das pesquisas científicas realizadas nos EUA e no mundo são patrocinadas por exércitos nacionais; uma descoberta aparentemente inocente ou benéfica pode então tornar-se uma arma de destruição em massa.
 Mas isto não deve impedir que pesquisas e descobertas continuem a ser realizadas, mas sim a direção em que elas caminham. O controle sobre o trabalho de cientistas não é a solução do problema, mas sim o controle dos fins a que tais trabalhos são conduzidos.
 Tal controle, porem, só será honesto e ético quando aqueles que controlam e financiam tais pesquisas prezarem para isso. E como nos EUA boa parte das pesquisas científicas é controlada pelo Estado cabe aos cidadãos lutarem por uma maior ética e humanidade no que se utiliza as descobertas científicas. 

Ao passo do tempo

O filme "Ponto de Mutação" utiliza-se de diversas metáforas  no campo das ciências naturais para se referir ás ciências humanas. Composto por analogias entre o funcionamento do universo, a vida primava dos indivíduos e  a própria sociedade, a obra tem como principal abordagem questionar o método cientifico então vigente, por um novo que passa a olhar  para  os processos ao invés de estruturas, ou seja, para sistemas de relações ao invés de partículas isoladas.
Desta forma, o filme tem como objetivo mostrar a saturação do método cientifico Baconiano/Cartesiano na sociedade atual, e a necessidade de ser substituído por um método mais adequado ao presente. Nas primeiras cenas do filme temos a discussão a respeito do "relógio", que serve de gancho para a critica ao pensamento cartesiano( o qual se admite no filme como a visão do homem a respeito do mundo). A metáfora do relógio representa  “espelho” ou “modelo”, onde segundo a visão cartesiana, a natureza nada mais é do que um conjunto de engrenagens e cordas desempenhando cada uma uma função separada. A critica, sustentada pela cientista é de que, ao separarmos e analisarmos separadamente os eventos acaba-se por escurecer a mente do pesquisador a cerca de quais processos levaram a formação de tais fatos,e por fim ultimo causa injustiças e generalização da sociedade e da natureza.
Examinando a realidade como um todo, como um sistema integrado, e não de forma fragmentada e departamentalizada,  pode-se  tanto compreender melhor a causa os problemas (todos inter-relacionados), como, por conseguinte, trabalhar de forma mais eficaz a sua resolução.
Por fim é interessante notarmos que nenhum dos três protagonistas dispõe de uma visão completa a cerca do mundo, e por isso insuficientes. Ao passo que o politico tem uma visão muito simplista e mecanicista, o poeta e a cientista, embora críticos avios da politica, sequer votam, e com sua omissão não melhoram a sociedade existente.



Das Revoluções Científicas

    "Eu acho que enquanto continuar a ver as coisas nessa velha ótica patriarcal, Cartesiana, Newtoniana... Deixará de ver o mundo como realmente é. Você, eu, todos nós precisamos de uma nova visão de mundo..."
Personagem Sonia Hoffman (cientista).


    O filme 'Ponto de Mutação' critica o pensamento científico construído nos últimos séculos por buscar em demasia a especificidade, perdendo-se a ideia do todo e prejudicando assim sua visão do quadro geral. Sugere então, ainda que superficialmente, a mudança para um pensamento denominado 'Holístico', com um foco um pouco mais orgânico e global.
    Talvez mais importante que as sugestões específicas do filme seja perceber que este entrave (onde a antiga visão de mundo já não serve aos fins práticos e colide com novas maneiras de se pensar) é recorrente, ouso dizer cíclico. Pensar o mundo como plano não impedia os homens de plantarem, viverem e 
disseminarem seus descendentes. O mesmo como esfera, porém, deu-nos o poder de orbitar aparatos em torno dele para que melhor pudéssemos plantar, viver e disseminar nossos descendentes. Com então a visão de um universo que independe de nosso planeta como seu eixo principal, modificamos a gama de oportunidades futuras de plantar, viver disseminar nossos descendentes. Ainda que com exemplos superficiais, a estas formas de pensar, ou modelos, chamaremos de Paradigmas*. Entendendo que não haja modelo definitivo como devemos então nos portar perante tais, cada vez mais frequentes, embates entre paradigmas?
    Primeiramente é importante ter para si, como homem consciente de seu contexto histórico, que tais movimentos são voláteis e buscar um modelo que compreenda o máximo possível de observações coerentes sem se ater fortemente a ele. A resposta para a constante mudança de paradigma, vinculada as proezas técnicas de nossa época, é ser a Metamorfose Ambulante de Raul Seixas enquanto alicerçado na pedra fundamental do pensamento cientifico: a busca pelo saber prático.                                            
 [* vide: A Estrutura das Revoluções Científicas (Thomas Kuhn, 1962)]
Desde Bacon e Descartes o modelo de análise exata e a adoção do método científico como principal prisma de visão do mundo geraram o processo de desenvolvimento nunca visto antes. Houve progresso e desenvolvimento. Novas tecnologias surgiam em frequencias cada vez maiores.
O filme: " Ponto de Mutação" debate até onde esse modelo pode ser aplicado e por mais quanto tempo. Positivistas, como Comte, acreditavam que atingido o estágio de desenvolvimento baseado na ciência o homem teria chegado ao ultimo e infinito estágio de aprendizagem.
No entando parece haver uma corrente fluindo contra esse pensamento. Parte desse exemplo é expresso pela linha de racicínio de Sonia (a física), que acredita num modelo baseado em ciclos sistematicos.
Acredito que seja dificil sair do poço racionalista o qual estamos. Ele colaborou muito para o avanço da humanidade durante gerações que agora depositam sua confiança cegamente nesse sistema. Infelizmente as chances de mudança são remotas. O modelo de Sonia tem seus defeitos mas pode ser que seja a hora de mudar as unidades de pensamento do mundo moderno para algo mais abrangente.
Quem sabe as melhorias que isso traria? Como o estabelecimento do desenvolvimento sustentavel, a coleta e a ultilização de recursos de acordo com os ciclos da natureza.
É improvavel, porém seria de grande valor uma mudança da postura de visão de mundo. Por enquanto só se pode imaginar. Esperamos apenas que de tempo sulficiente para acolher novos conceitos que abarquem o que de fato a humanidade precisa.

Sustentabilidade


O mundo nunca mudou tão rápido quanto nas últimas décadas e, muitas vezes, essas mudanças trazem consequências indesejáveis.  A nossa sociedade imediatista contribui para o agravamento dessa situação. Aceitar que nossa sociedade seja imediatista, ou seja, que valoriza apenas o presente, faz com que seja difícil a existência de um desenvolvimento sustentável, isto é, o desenvolvimento que tem como principal característica a preocupação com as consequências do mesmo.
            Diante disso, mudanças se mostram cada vez mais necessárias, uma vez que, tanto a população, quanto o planeta precisam de medidas que valorizem primordialmente a sua manutenção. Todas as formas de ser comportam-se como sistemas, todas interagem buscando o bem comum, logo, prejudicando apenas uma parte delas, o todo seria atingido, direta ou indiretamente.
            É devido a essa interdependência que devemos primar pela sustentabilidade. Talvez esse processo de mutações excessivas pelo qual a humanidade passa não seja o melhor caminho. Talvez nossas ações imediatistas não sejam a melhor opção, pois, caso isso continue, o amanhã será simplesmente insustentável.