segunda-feira, 16 de abril de 2012

A mística da Teoria Sistêmica

O filme assistido pelas turmas nas ultimas duas semanas envolve algumas discussões acerca do desenvolvimento da ciência moderna e os rumos de um possível método científico. A avaliação de que a leitura cartesiana e a fragmentação da percepção e do espaço geométrico não dá conta de abarcar todas as possibilidades de conhecimento não é nova entre a comunidade científica. Baruch de Espinosa, filósofo holandês que se dedicou a estudar e compreender a totalidade do cartesianismo já no século XVII.
Na película a personagem feminina defende uma leitura científica que supostamente melhor entenderia o processo de aquecimento global e as novas demandas da relação humano-natureza no séc XXI. A sua proposição sistêmica (ou holística) se coloca como a que verdadeiramente consegue compreender a essência das coisas da realidade.
Não se trata no entanto, somente de uma leitura de que o universo se organiza em sistemas e que busca compreender a realidade do mundo. Essa vertente de análise que vem ganhando força nos dias atuais carrega consigo outras pontuações que devem ser levadas ao cabo da discussão para entendermos melhor onde tais teóricos genuinamente se encaixam.
A lente ocular da holística pode ser muito positiva e bem consolidada no campo das ciências da natureza muito embora traga com si já neste campo uma dose robusta de misticismo. Na avaliação de que a ciência moderna no seu desenvolvimento calou diversas vozes de culturas e produções tradicionais de conhecimento, esta nova vertente científica procura reviver essas vozes e dar-lhes, como fosse uma restituição histórica, o valor científico de fala.
Há, no entanto, um engano fundamental nessa aproximação da ciência com os saberes populares e tradicionais. A fala tradicional tem a função de exercer poder em membros que compartilhem uma comunidade. A modernidade, entretanto, constituiu-se em quebrar ao lado do capitalismo todos os laços tradicionais de comunidade e secularizar esses laços para relações modernas e possivelmente mercadológicas. Neste sentido aquele discurso e a aquela construção tradicional de saberes só tem sentido junto ao seu espaço pré-moderno de relações sociais. Tendo estas relações falidas, não se pode mais restituir este valor tradicional da fala.
E é essa incompreensão que é a contradição fundamental da teoria holística. Ao voltar suas lentes para o conhecimento tradicional, a ciência do séc. XXI descuida-se e desconsidera que a base social que legitimava o valor da cultura tradicional não existe mais. O capitalismo desmanchou as relações sociais pré-capitalistas e a tentativa de parte da ciência de revigorar voz e valor desses tipos de conhecimento não passa de um fetiche místico em vão. O conhecimento tradicional não pode e não deve ter respostas para as questões da pós-modernidade, como aponta Zygmunt Bauman. O caminho da ciência e da crítica cartesiana  está resguardada no presente e no futuro, jamais no pretérito do pensamento humano. 

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